Índios organizaram cidades, desmataram e também publicaram na Science!

Mas espere aí, índio que constrói cidade ainda é índio? Se formos considerar indígenas como etnia ou população a resposta é sim. Mas eu nem sei por que estou falando disso.
Bom, o fato relevante do post é este que segue (da Folha):

Um artigo publicado hoje no periódico “Science” sustenta que, entre os anos 1200 e 1600, a sociedade xinguana desenvolveu um tipo de urbanismo pré-histórico, comparável a algumas “pôleis” gregas.
“Falar em urbanismo tem um caráter provocador”, admite o antropólogo Carlos Fausto, do Museu Nacional. Ele é um dos líderes da pesquisa, ao lado da lingüista Bruna Franchetto, da mesma instituição, e do arqueólogo americano Michael Heckenberger, da Universidade da Flórida. “Não era, claro, como a Mesopotâmia, mas existe uma sistemática, como se houvesse uma planificação”, continua. “Não são aldeias perdidas na floresta.

Fato curioso 1: neste trabalho da Science, o chefe Afukaká Kuikuro dos cuicuros, tribo que ajudou no trabalho de campo, entrou como autor do artigo. Seria o primeiro índio a publicar numa revista deste gabarito?
Fato curioso 2: a amazônia “intocada” de nossos ancestrais na verdade é mata secundária (que cresce depois de ser cortada) nessa região da cidade indígena. Afinal, aglomerados com 100.000 humanos demandam espaço. Ou seja, quando precisa, índio corta árvore sim. Alguém teria coragem de os recriminar?
Fato curioso 3: Acabamos percebendo desta forma que os índios somos “nozes”, quer dizer,  como nós. E todo antropólogo vai dizer “eu já sabia”. Mas as pessoas em geral relutam inconscientemente em entender este fato: de que a raça humana é uma só; as diferenças entre as populações são mínimas.
Portanto não devemos nos espantar ao descobrir “cidades” feitas por índios, pirâmides antiqüíssimas ou barbáries ainda em tempos modernos. Tudo isto tem sido feito pela mesma jovem espécie, o Homo sapiens, que em 200.000 anos vem usando o mesmo crânio, comportanto o mesmo cérebro, com as mesmas capacidades, possibilidades e limitações.

Deu na nature – mães relapsas/ guerra/ ressaca olímpica/ evolução e câncer/

Muita serotonina para as mamães e caminha quente para os filhotinhos: Serotonina é uma proteína que age em neurônios (por isso chamada de neurotransmissor) e já se sabe q influencia no comportamento e emoções. Agora parece que os pobres e indefesos filhotes de camundongo também dependem dela para sobreviver. Se as mamães que os criam tiverem pouca serotonina, os ninhos feitos por elas (sim, camundongos fazem ninhos) é mal feito e os filhotes morrem de frio. Grande poder que essas proteínas tem, não é mesmo.
Guerra e a ciência na Geórgia: Afora os grandes problemas causados por qualquer guerra, a ciência também sofreu no conflito. Bem no começo de um movimento de incentivo a pesquisa no país, com previsões de investimento na área, o breve conflito já inviabilizou o repasse de verbas. Universidades bombardeadas, áreas de preservação em chamas, pesquisadores estrangeiros saindo do país. Duro golpe.
A ressaca olímpica na pesquisa chinesa: Em carta, os pesquisadores chineses Yijun Chen e Nan Liu rebatem as notícias de aurora tecnológica e científica supostamente estimulada pelas Olimpíadas. Algumas áreas realmente foram favorecidas, como a ambiental, mas outras áreas ficam ameaçadas pelo realocamento de recursos e dificuldades de transporte de reagentes químicos básicos, por exemplo. É, parece que ainda nada do MILAGRE chinês…
A subida ao poder do RNA: Não é a toa que ela dá nome ao blog que vos escreve. Eita molécula arretada, sô. Afinal, se só 1 a 2% do nosso DNA produz RNA que vai virar proteína, por que 80% do DNA produzem RNA que NÃO vira proteína? Outras funções surgem para o RNA, como os miRNA, snoRNA e piRNA, com funções regulatórias vitais para as células e o desenvolvimento do organismo. Surgem então, além dos já conhecidos e tradicionais genes de proteínas, os “genes de RNA”.

Seleção natural e a evolução do câncer: Células tumorais são diversas, formam populações, competem entre si e com células normais; e apenas as mais adaptadas sobrevivem. Usar esses conceitos de biologia evolucionista no estudo do câncer pode trazer maior conhecimento e idéias para tratamentos.

Viver mais e melhor – é possível?: Este é o sonho de muita gente, inclusive da medicina. Se fossemos vermes ou moscas a coisa já estaria bem mais resolvida. Nesses modelos animais, assim como em leveduras e mesmo em camundongos, o tempo de vida mostra ser manipulavel fazendo alterações nos genes, na alimentação ou tratamento com drogas. Entendendo melhor como isso acontece, e quais as causas das doenças ligadas ao envelhecimento, poderemos responder realmente se é possivel ao homem viver mais, e quanto.

Eutanásia de Bebê… mas bebê-baleia. Tudo bem?

Filhote de baleia abandonado deve ser sacrificado na Austrália

Pobre criaturinha. E não tem outro jeito?
Bom, nessa idade de 4 messes os filhotes só se alimentam de leite materno. Mas vamos extrapolar:

Nos últimos dias, os especialistas analisaram opções para salvar Colin. Uma possibilidade estudada era tentar devolvê-la ao oceano e deixá-la ali sozinha apenas se estabelecesse contato com outros cetáceos e conseguisse uma mãe adotiva.

Imaginem se um barquinho conseguiria driblar um bebê baleia. Eu acho difícil.
E adoção acontece, mas imaginem quanto tempo uma mãe-baleia adotiva levaria para começar a produzir leite. É, má idéia.

Outra opção avaliada pelos especialistas seria criá-la em cativeiro, mas para isso seriam necessários 600 litros de leite por dia e 30 pessoas para alimentá-la durante os 11 meses de lactação.

Pergunta: leite de vaca? Porque não sei de nenhuma ordenha de baleias. E mesmo que pudesse, cairiamos no triste mas real “economicamente inviável”.
A opção escolhida foi a eutanásia.
E então, concorda?
P.S.: piada de humor negro do meu colega Marcos – Se uma tartaruga gigante de galápagos ficasse órfã, ela adotaria um fusca?

A biologia ainda não sabe tudo que está debaixo do nosso nariz

É impressionante, enquanto a gente acha que a biologia está tão avançada, usando técnicas refinadas para criar animais transgênicos, clones e afins, vem esta notícia e nos dá um tapa na cara.
Foi descoberto recentemente um subsistema olfatório em ratos chamado gânglio Grueneberg (GG), que fica na ponta do nariz de ratos e que, pasmem, ninguém sabe pra quê serve!
Algumas dicas começam a aparecer como neste trabalho publicado na Science. Mas eu fiquei chocado em saber que um dos animais mais estudados do mundo ainda tem estruturas a serem descobertas e mesmo descobertas ainda têm que ser caracterizadas, porque não se sabe pra qual sua função.
É, ainda existe muita coisa ainda por ser descoberta, e bem debaixo do nosso nariz.

Deus espaguete é fotografado pela NASA!

imagem: Representação artística da criação do homem pelo deus Espaguete Voador

ATENÇÂO
É a primeira vez na história que um deus é avistado e fotografado pela NASA!!!!
A ceita Pastafariana, criada pelo físico Bobby Henderson (que é mais explicada pelo Rainha Vermelha aqui) passou a ser conhecida quando ele tentou colocar seus ensinamentos  no currículo das escolas dos EUA, seguindo os católicos que queriam implantar o Design Inteligente no ensino americano, como alternativas válidas à Evolução darwiniana.
Diz Bobby: “Concordo com vocês que devemos ter diferentes pontos de vista para que os estudantes possam escolher o que faça mais sentido. O que me preocupa é que eles terão que aprender apenas uma teoria sobre design inteligente… Eu e muitos outros no mundo todo acreditamos que o universo foi criado por um monstro de espaguete voador.” Nada mais justo.
E parece que foi justamente este Espaguete Voador que foi encontrado!
Segundo a NASA, ele é formado por colunas de nuvens de gás sustentados por campos magnéticos emanados de um buraco negro. Coisa fantástica.
Ninguém sabe ainda se este corpo celeste tem o poder de criar mundos ou mesmo seres dotados de inteligência, mas caso isto se confirme, os ensinamentos do Espaguete Voador com certeza irão substituir o design inteligente e mesmo a teoria da evolução em nossas escolas e nossos corações.

Foto da NASA: seria o deus espaguete?

Fonte inesgotável de sangue a partir de células-tronco.

Notícia do New York Times: Cientistas usaram células-tronco embrionárias para produzir sangue – isto pode eventualmente levar à produção contínua de sangue O negativo, que é um tipo sanguineo difícil de achar e o mais versátil para uso pelos médicos.

O que o pesquisador Robert Lanza fez foi usar células-tronco de embriões e cultivá-los com um coquetel de drogas para forças as células a se transformarem em células produtoras de sangue. Se as células fonte forem A, as células sanguíneas serão A. Assim, querendo sangue O seria só usar como fonte células de embriões O.

E parece que a possibilidade de produção é grande, segundo Lanza.

O bom desta terapia é que a célula sanguínea não tem núcleo e só dura 4 messes em funcionamento em nosso corpo. Assim, os riscos para as pessoas que possam vir a receber estas células é menor.

É possível fazer este tipo de transformação celular usando a técnica nova que desdiferencia as células adultas. O que acabaria com o uso das polêmicas células embrionárias.

Como sempre se faz com pesquisas muito recentes, segue aqui o aviso de “VAMOS COM CALMA”. Parece bom, mas temos que esperar pesquisas que testem estas células de sangue em animais e depois em humanos. E isto vai levar um tempo.

Deu na Science: morrer pela ciência e evolução cultural



Morrer pela ciência? – pesquisadores sempre são apaixonados pelo que fazem, mas estariam dispostos a arriscar suas vidas, e as vidas de suas famílias, pela ciência? A pergunta surge pois cientistas estão sendo atacados por usarem camundongos e moscas em suas pesquisas. Bombas incendiárias em casas e carros de pesquisadores, cinco em três messes na Califórnia, mostram o extremismo de organizações de proteção aos animais.
Evolução cultural: Preenchendo a grande lacuna – no livro “On Deep History and the Brain”, o autor e historiador Daniel Lord Smail se propõe a buscar a história da pré-história. Assim ele pretende mostra duas coisas. Primeiro que a idéia de que a história nasce só com a civilização é errada, e segunda, um sistema onde a história cultural incorpore a biologia evolucionista e a neurociência. Para isto são abordados temas como o erro de se pensar que a evolução cultural não é darwiniana e sim lamarquiana, porque a cultura dá a ilusão de evoluir em uma linha direta rumo a um objetivo. Mas muitos aspectos culturais foram adquiridos por pura tentativa, erro e seleção da melhor característica (ou melhor ação, melhor atitude, melhor conceito).
“É um pequeno livro com grandes idéias: a história humana está ligada a tempos remotos por mecanismos fisiológicos que compartilhamos com nossos ancestrais vertebrados, e o ‘progresso’ e a ‘aceleração’ históricos são apenas sucessões de fatos sem direção, resultantes de experimentos culturais.

Anotação de genoma para todos pela Wikipedia


Anotar um genoma é garimpar as sequências repetitivas das quatro letrinhas que formam o DNA, A-T-C-G, de um organismo. E a recompensa do garimpo é achar informação relevante, como sequências de genes e regiões reguladoras. A melhor tática usada para fazer isso, depois que conseguimos seqüenciar o genoma, é comparar a sequência adquirida a outra já mais caracterizada. Por isso é importante a troca de informação entre cientistas de diferentes projetos de seqüenciamento, anotação e caracterização.
Agora até pela Wikipedia é possível trocar informações sobre genes. Pesquisadores montaram um modelo de página na Wiki que interage com vários bancos de dados e permite acrescentar informações sobre genes, assim qualquer pessoa pode colaborar adicionando ou corrigindo as informações referentes àquele gene.
Apesar de os autores do modelo dizerem que a anotação de sequências de mamífero tenha duplicado, e que as informações são relevantes e muito utilizadas, mais tempo deve ser dado para que possamos saber se esta autogestão do estilo wiki vai ser importante para a anotação de genomas.
Notícia na Nature Reviews Genetics
Artigo na PLoS

Campeão paraolímpico pode correr com prótese nas Olimpíadas “normais”. E isso é bom ou ruim?


O sul-africano Oscar Pistorius conseguiu permissão do Tribunal Arbitral do Esporte para disputar os jogos Olímpicos, não só os paraolímpicos (onde ele já havia ganhado ouro em Atenas).
Como ele não obteve o índice para estas olimpíadas, nós não o veremos correndo com suas próteses Cheetah Flex-Foot, mas ele promete treinar para Londres 2012.
Mas imagine a cena: todos os atletas dos 400m se aquecendo, alongando, dando aqueles pulinhos, ajeitando os óculos escuros, quando aparece um cara com próteses em forma de jota invertido e começa a se preparar para a largada. Imaginem o choque no mundo todo assistindo! Seria muito interessante

Mas autorizar esta participação não foi algo fácil de decidir. Igualdade na competição tudo bem, mas quem disse que a prótese não dá vantagens? Aí seria demais! Se houvesse vantagem sobre os atletas normais, o tribunal proibiria. Foi aí que entraram os cientistas.
Ciência no tribunal
Um grupo de cientistas era contra porque constataram que usando as próteses o atleta usava menos oxigênio que a média. O grupo de defesa alegou que por um percurso maior que o testado a diferença fica insignificante, e que, de qualquer jeito, em corridas de fundo (curtas distâncias) o consumo de oxigênio é irrelevante, já que pela rapidez da prova só usamos nosso metabolismo anaeróbico, que é a liberação de energia rápida. As concentrações de lactato, que é o produto desta liberação rápida de energia no músculo, eram equivalentes às dos atletas normais.
Então, como não dá vantagem, pode usar. Ok.
Bom ou ruim?
Achei um blog que fala sobre como esta decisão é boa para os deficientes, afinal prova que eles podem fazer de tudo e normalmente. Mas o fato de o maior sonho do atleta amputado ser participar das Olimpíadas “de verdade”, acaba rebaixando as Paraolimpíadas, e também pode diminuir a estima daqueles atletas que não tiveram a “sorte” de ter uma deficiência que permita uma prótese eficiente, ficando relegados às Paraolimpíadas.
Talvez na busca pela sua realização pessoal o atleta tenha passado uma rasteira nos seus colegas com necessidades especiais.
Mas o que está feito está feito. E agora, desculpem o trocadilho mas a frase é do próprio Oscar Pistorius, “Agora posso correr atrás de meu sonho”.

Fique sabendo das últimas da Nature e Science

Aproveitando a ida ao ar da nova página do RNAm aqui no Lablogs, iniciarei uma nova seção dentro deste blog que vos fala: “Deu na Nature/ Science”. Sempre que eu receber a Nature ou a Science vou citar os seus destaques, ou seja, o que chamar a MINHA atenção (desculpe quem quer saber sobre dinâmica de fluidos ou metais leves em Marte, estes temas dificilmente serão abordados). Provavelmente um ou outro artigo será discutido posteriormente caso você peça ou eu me sinta capaz de aprofundar.

Muita coisa será simplesmente traduzida, o que eu imagino que já seja uma ajuda para quem não sabe inglês (aliás, nessa altura do campeonato esqueça o inglês e parta logo para o mandarim da China).

Lembre-se que alguns links de artigos podem não abrir por serem restritos a quem paga a assinatura das revistas. Faço minha parte divulgando o conteúdo possível já que você, contribuinte, está pagando a assinatura da USP que estou usando.

Portanto, prepare-se para ficar sabendo sempre o que está rolando de mais novo na ciência mundial!

Nature 14 de agosto 2008

Capa – A produção de energia elétrica é responsável por grande parte das emissões de dióxido de carbono. Mas existem tecnologias para produzir eletricidade sem carbono, como hidroelétricas, marítimas (marés e ondas), nuclear e solar. A equipe de reportagem da Nature tenta responder quanto de energia livre de carbono poderíamos produzir, e se é viável em comparação com o sistema atual de produção. Um guia bem direto, para cada tipo de energia uma análise com custo, capacidade, vantagens, desvantagens e um veredito.

Editorial

Reportagem

Programa de pesquisa ambiental fechado Paralelamente à reportagem de capa, preocupada com as mudanças climáticas, vem a notícia que um programa de estudos climáticos de uma das maiores instituições dos EUA, fechou suas portas. Mas só a parte de ciências políticas, que tinha por objetivo preparar países pobres para mudanças climáticas. Estariam as ciências sociais sendo postas de lado no debate sobre o clima?

Quatro rodas, bom? – Numa brincadeira com o clássico “Revolução dos bichos” (“quatro patas, bom”), este texto trás alternativas para os carros se manterem na estrada, como carros híbridos (elétrico + combustível).

Caso antraz dá força a nova área de pesquisa forense – O ataque com a bactéria antraz em 2001 e o suicídio de um dos suspeitos destes ataques (já comentado aqui no RNAm), gerou um novo campo de investigação forense (ou seja, criminal), que é o rastreamento de microorganismos. Estes estudos, usando seqüenciamentos do genoma, e assinaturas moleculares de proteínas e carboidratos que levaram ao suspeito. Novos ataques ou surtos de doenças podem ser rastreadas agora com mais facilidade.

Autismo: ligações familiares O autismo é uma síndrome do neurodesenvolvimento que possui um forte fator genético. O estudo de filhos autistas de pais que são primos pode ajudar a entender a genética desta síndrome.

Genômica e biocombustíveis – Informações sobre genomas de vários organismos do planeta podem ser importantes para descobrir plantações com maior potencial energético ou microrganismos com maior capacidade de quebrar biomassa de celulose e fornecer biocombustível.