Veja o coração de uma aranha e o porquê de se estudar isso

aranha por dentro

Eu não sou zoólogo, mas dá pra não se apaixonar pelas aranhas?! Para isso é so olhar essas coisas sensacionais que outro não-zoólogo apaixonado juntou no Rainha Vermelha.

Aqui na BBC tem o vídeo de uma ressonância magnética em uma aranha! Coisa que eu nunca tinha visto antes. E dá pra ver o coração batendo! Sim, aranhas parecem cruéis mas elas tem coração, ou algo que se parece com um.

Não é tao bonito quanto elas por fora, mas ainda sim vale a pena.

Para que estudar o coração da aranha?

Bom, imagine como é dificil definir os batimentos delas: um estetoscópio bem pequenininho e impreciso ou enfiar uma agulha dentro da aranha. Melhor mesmo a ressonância.

Interessante que na reportagem o pesquisador diz que pode ajudar a pesquisa com venenos e “venenos tem aplicação na agricultura como pesticidas”. Isso parece o papo de pesquisador que precisa pôr no projeto algum objetivo intere$$ante economicamente para poder receber dinheiro para a pesquisa.

Mas o mais legal (e aposto que é a real intenção do pesquisador) é que pode-se usar a ressonância no cérebro do bicho, e talvez até estudar seu comportamento por dentro, como é feito em humanos no escaneamento funcional (fMRI), ajudando assim no estudo da evolução do comportamento e da inteligencia.

Computação Natural – Inspirando-se na Natureza para resolver problemas

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[Perca a timidez e mande também seu post para o RNAm. Mande email pela página de contato]

– Post escrito por Daniel Ferrari

Olá para todos, eu me chamo Daniel, sou formado em ciência da computação, fiz meu mestrado em sistemas inteligentes, e atualmente estou tentado fazer doutorado. Fui convidado pelo Rafael para escrever um pouco sobre a área na qual realizo minhas pesquisas: a computação natural; mas primeiro vamos falar rapidamente sobre ciência da computação.

clip_image001A ciência da computação é responsável por estudar algoritmos para resolução de problemas, utilizando o computador como ferramenta no processo. Mas, o que é um algoritmo? O algoritmo é um procedimento detalhado que diz ao computador o que fazer para resolver um problema. Por exemplo, como fazemos para somar os números de 1 a 10? Uma pessoa pode fazer de cabeça ou usar uma calculadora, mas o computador precisa de um procedimento para resolver este problema. Este é um caso simples, mas imaginem a sofisticação do algoritmo do Google para realizar pesquisas tão rápidas e precisas na imensidão e confusão da internet. Este algoritmo é um segredo bem guardado.

Bom, voltando ao nosso assunto, a computação natural é uma linha de pesquisa da ciência da computação fortemente ligada à natureza, utilizando-se de fenômenos naturais como inspiração para desenvolvimento de algoritmos, ou criando algoritmos para simulação destes fenômenos, ou até mesmo usando materiais naturais para realizar computação.

A área que tenho mais contato é a pesquisa e desenvolvimento de algoritmos inspirados na natureza ou bio-inspirados. Aqui, os pesquisadores observam o comportamento dos fenômenos naturais e se utilizam desta observação como inspiração para novas formas de abordagem aos problemas. Como o próprio termo sugere a inspiração não quer dizer que o fenômeno é reproduzido, mas serve como base para novas ideias e pode fornecer diferentes visões de um problema.

clip_image003Para dar um exemplo de como a observação inspira um algoritmo vou falar das formigas. Todos as conhecem, sabem do que são capazes na sua cozinha e como são persistentes, e também podemos ver que são indivíduos simples que executam tarefas complexas. As formigas são capazes, dentre muitas outras coisas, de encontrar o melhor caminho entre uma fonte de alimento e o ninho. Elas realizam esta tarefa através de uma varredura do ambiente que é direcionada pela da comunicação entre as formigas.

Este comportamento, em particular, inspirou pesquisadores a desenvolver o algoritmo ACO (Ant Colony Optimization) que pode ser aplicado em problemas de roteamento de veículos. Para eu e você é como encontrar o caminho de casa até o trabalho, para uma empresa é qual é a melhor rota para entregar seus produtos. Pelo dinamismo inerente ao comportamento das formigas, o algoritmo é capaz de se ajustar a obstáculos durante o trajeto, como vias interditadas ou até mesmo tráfego intenso, basta fornecer as informações necessárias.

Existem muitos, mas muitos, algoritmos bio-inspirados alguns famosos e outros nem tanto. Redes neurais artificiais, algoritmos genéticos, sistemas imunológicos artificiais, algoritmos de enxames (abelhas, formigas, morcegos, baratas, etc.), inteligência coletiva, sistemas nebulosos (fuzzy systems), química artificial; estes são alguns exemplos de áreas de pesquisa de algoritmos bio-inspirados.

Utilizar o computador para simular a natureza, podemos dizer que é algo que já estamos mais habituados a ouvir. Os computadores ajudam pesquisadores desta área a compreenderem melhor a natureza, seus fenômenos, suas particularidades e seus perigos. Podemos ver isso em ação no jornal diário com a previsão do tempo, em simulações de furacões, e outras tentativas de se prever o comportamento da natureza. Mas o que mais pode ser simulado e para quê?

A computação gráfica se utiliza de algoritmos para simulação de movimento de animais e desenho de formas. Um dos algoritmos que acho mais interessantes é responsável por simular a movimentação em enxame ou bando (insetos, pássaros, peixes, espermatozoides, etc.) e é conhecido como algoritmo de boids. Este algoritmo possui regras básicas que atuam em cada um dos indivíduos, que na coletividade se comportam com uma massa coesa em continua movimentação. Outra área muito interessante de simulação são os fractais utilizados para desenhar formas naturais como plantas, linhas costeiras, nuvens, montanhas; vejam este vídeo bem interessante sobre o assunto.

Já, a computação com materiais naturais é relativamente nova e tenta “contornar” a Lei de Moore, que já foi comentada aqui anteriormente. Os processadores são feitos baseados em silício e este material tem um limite físico de miniaturização, então os cientistas começaram a pensar em outros materiais e formas para realizar computação. Duas linhas são fortes nesta área: computação molecular e a computação quântica. O conhecimento molecular e quântico não me é tão familiar assim, mas vou tentar passar uma ideia.

clip_image004A computação molecular utiliza técnicas desenvolvidas na biologia molecular para resolver problemas, ou seja, as moléculas são a memória e o processador de um computador. Acredito que a área mais forte nesta linha é a computação com DNA, mas já vou deixar claro aqui que não é, necessariamente, utilizando o DNA. A ideia é usar a base quaternária (A, C, T, G) ao invés da base binária dos computadores, para desenvolver algoritmos, onde as operações são procedimentos de laboratório biol
ógico (PCR, sequenciamento, etc.) e tudo ocorrendo dentro de um tubo de ensaio.

É óbvio dizer que a computação molecular tem muitos desafios a serem superados, como a reutilização das moléculas e até mesmo custo destes procedimentos, mas eu acho que esta área pode ajudar no desenvolvimento de tratamentos mais eficientes, remédios mais eficazes, e até mesmo cooperar na compreensão da interação das moléculas nos organismos. Outro trunfo desta área está no imenso paralelismo das reações moleculares que reduz o tempo de resposta aos problemas que são extremamente complexos.

clip_image006O computador quântico baseia-se na mecânica quântica, devo confessar que é algo tirado de um filme de ficção, já tive algumas aulas sobre o assunto que sempre me deixam um pouco confuso. A ideia é usar átomos (elétrons, fótons, nêutrons, entre outros) para computar, ou seja, ao invés de usarmos os bits tradicionais passaremos a usar os bits quânticos (qubits). O bit sempre é “0” ou “1”, já o qubit pode ser “0” ou “1” ou uma sobreposição. Para tentarmos entender melhor esta dualidade temos o paradoxo do gato de Schrödinger, que diz que um gato em uma caixa com veneno é dado como vivo e morto ao mesmo tempo até que ele seja observado e seu estado definido como vivo ou morto.

A dificuldade de trabalhar em escala atômica é controlar e observar estes átomos, o LHC (Large Hadron Collider) já mostra o grande desafio que é trabalhar em escalas tão pequenas, muitos menores que uma célula. Mas mesmo assim, a computação quântica tem atraído muitos pesquisadores através de simulações quânticas nos computadores atuais. Isto é, os algoritmos quânticos estão sendo simulados em computadores de silício permitindo que pesquisadores estudem o software antes do hardware existir. As simulações também ajudam os pesquisadores a pensar como será um computador quântico, sua viabilidade, seu funcionamento, e tudo mais que envolve o desenvolvimento de uma nova tecnologia.

Bom pessoal, isto é a computação natural, uma linha de pesquisa interdisciplinar que buscas novas formas de resolver antigos e novos problemas. Se algum dia você encontrar uma criança observando as formigas ou uma revoada de pássaros, lembre-se de que você pode estimulá-lo a se tornar um pesquisador. Espero ter colocado uma pulga atrás da orelha de alguns, caso queriam saber mais fica a dica de dois livros para iniciação na área: Computação Natural – Uma Jornada Ilustrada e Biologia Digital.

Até a próxima.

Bioinformática: o emprego do futuro.

Bioinformatics logo

Comecei a falar de bioinformática (bioinfo) no post passado, e continuarei falando dela aqui porque não só é uma ótima dica de carreira científica como é uma necessidade científica e social estimular essa carreira pela importância que ela tem e terá no futuro para ampliar nosso conhecimento.

Porque há tantos projetos?

Quando começamos na carreira científica geralmente é assumindo um projeto, de iniciação cinetífica, mestrado ou doutorado direto, e muitas pessoas podem parar por aí por não encontrarem um orientador com projetos que o interessem no momento. Em bioinfo isso não acontece pois os projetos surgem aos borbotões e nas mais diversas áreas, afinal a quantidade de dados que surge é imensa e sempre dá pra tirar algo novo de um banco de dados que já existe, onde a informação está lá, esperando para ser minerada, e novos dados estão sempre surgindo em velocidade cada vez maior, com os novos sequenciadores, por exemplo. Assim, projetos nunca faltarão, e as bolsas junto com eles.

Porque há tão pouca gente?

Esse é o maior gargalo da área: achar bioinformatas. Isso se explica por dois fatos principais: 1- biólogos não gostam de exatas e nem de programação; 2- computeiros até gostam de biologia, mas ganham muito mais em outras áreas como recem-fromados.

Assim, quem cobre esta área são na maioria físicos e matemáticos. Mas há sim computeiros e biólogos, claro, e estes se destacam bem se aprendem o outro lado da moeda bio/info.

O que preciso saber para ser bioinformata?

Hoje em dia, pelo desespero das instituições por bioinformatas, você não precisa de nada, só gostar de pelo menos duas dessas áreas e não chegar a odiar nenhuma delas: biologia, programação, estatística e matemática. Você terá um ano ou dois para aprender o que lhe faltar nessa equação tocando um projeto de mestrado. Mas as áreas de interesse são estas que eu mencionei. Claro que quanto mais preparado você estiver mais chances terá, por isso segue aqui a dica de onde encontrar cursos de especialização de interesse com nosso parceiro Educaedu Brasil.

Uma área nova e promissora

A bioinfo é nova no Brasil, estamos na segunda geração de bioinformatas se considerarmos que o projeto genoma da Xylela foi o que introduziu o Brasil na biologia molecular contemporânea criando a primeira geração de bioinformatas (direta ou indiretamente), tais como Emmanuel Dias-Neto, Helena Brentani, Sandro Souza, Anamaria Camargo e Paulo Oliveira. Esses são só os que eu conheço, mas olhar o lattes deles já pode dar uma idéia das possibilidades da carreira.

E sobram vagas de alto nível para pesquisadores nesta área. O Hospital AC Camargo e o INCOR, ambos hospitais fortes em pesquisa que perderam recentemente seus bioinformatas, têm dificuldade de encontrar alguém para esta posição.

Então meu filho, sente aí e aprenda a programar.

Super-Sequenciamentos de DNA e a lei de Moore

Dia 19 de abril é o aniversário da Lei de Moore que diz, segundo a Wikipedia “…[em 1965] o então presidente da Intel, Gordon E. Moore fez sua profecia, na qual o número de transistores dos chips teria um aumento de 100%, pelo mesmo custo, a cada período de 18 meses. Essa profecia tornou-se realidade e acabou ganhando o nome de Lei de Moore.”

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fig: A evolução dos precessadores e a lei de Moore

Uma profecia e tanto, porque é um ritmo frenético, concorda? Eu ainda lembro quando jogava Space Invaders no meu XT sei-lá-o-que na tela fósforo verde.

O engraçado é que, sem saber do aniversário, eu ouvi sobre a lei de Moore essa semana. Mais do que isso, ouvi sobre algo que anda mais rápido que a lei de Moore: a potência do sequenciamento de DNA.

O RNAm foi convidado para o lançamento da nova tecnologia de sequenciamento da Life Technologies, o Ion Torrent. Muito legal a tecnologia e parece que vai revolucionar a área de sequenciamento mesmo. Se você é da área entre no link caso se interesse, vale a pena (como não sou da área, não vou entrar em detalhes). Só vou dizer uma coisa: essa coisa consegue detectar a mudança de pH gerada pela liberação de hidrogênio quando uma base, A,T, C ou G se liga à fita a ser sequenciada!

Bom, neste evento foi citada a lei de Moore para compará-la com a evolução da tecnologia de sequenciamento. Veja aqui a comparação do custo de um genoma e o custo dos processadores:Sequencing graphs to slides

Isso muda muita coisa. Com sequenciamentos baratos e rápidos, áreas como a epidemiologia vão mudar, e já estão mudando muito. Técnicas como arrays irão aos poucos sumir, dando lugar ao todo-poderoso, direto e inequívoco sequenciamento.

E já tem muita gente no Brasil fazendo muita coisa com sequenciamento. Duas palestras muito interessantes: uma com o pessoal da bioinformática da FioCruz, o Cebio, que oferecem uma estrutura de análise e planejamento de sequenciamento e tem parcerias com vários pesquisadores e empresas; outra coisa interessante é a Rede Paraense de Genômica e Proteômica, da UFPA, um centro com muita estrutura e colaborações, isso tudo fora do sudeste.

Esses dois centros são muito importantes, sabe porque? Porque máquinas como o Ion Torrent estão deixando o sequenciamento cada vez mais fácil, mas o que fazer com aquele monte de letras ACTG? O funil do conhecimento nessa área é a análise, e por isso esse knowhow destes centros vale ouro. Bioinformática vale ouro. É emprego certo porque pouquíssima gente tem o conhecimento necessário (essa é a frase que eu mais ouço ultimamente em todas as áreas no Brasil). Também, precisa entender de biologia, matemática e programação, mas biólogos não suportam exatas, e exatos, bem, até gostam de bio, mas ganham muito mais em inicio de carreira em outras áreas do mercado de trabalho.

Então veremos o que fazer com as toneladas de dados gerados pelos simples, rápidos e baratos sequenciamentos.

O que rolou na ciência HOJE: 14 de Abril

Nobel_Laureates_von_Frisch_Lorenz_Tinbergen.jpgAgora pra não confundir Lorenz com Tinbergen..

1892 – A General Electric Company é criada com a fusão da Edison General Electric Company and the Thomson-Houston Company.[A GE é talvez a maior empresa de tudo-que-se-pode-usar-num-lab-e-fora-dele. Desde aparelhos megacomplexos até reagentes e kits]

1912 – O navio RMS Titanic naufraga por volta das 02h20min após chocar cerca de três horas antes com um iceberg no Atlântico Norte.[“Nem deus afunda este navio” disse o engenheiro. E não afundou mesmo, afinal foi um iceberg]

1923 – A insulina se torna disponível para uso em larga escala por pacientes que sofrem de diabetes. [Era ainda purificada de vacas. Hoje em dia ela é produzida por células transgênicas – muito mais barata e segura por isso.]

Nascimentos:

1452Leonardo da Vinci, artista e cientista italiano [Provavelmente tinha transtorno em déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e mesmo assmi um gênio]

1896Nikolay Nikolayevich Semyonov, quimício russo laureado com o Prêmio Nobel de Química (m. 1986).

1907Nikolaas Tinbergen, ornitólogo holandês, laureado com o Prêmio Nobel de Medicina (m. 1988). [Pai da etologia. E a referência na wiki português é um desgosto.]

Ciência não precisa de democracia

CARACA! Dê uma olhada nessa curva de crescimento em citações de artigos científicos da China e dos EUA.
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O que é mais absurdo, a queda dos EUA ou a subida da China, que até 2013 pode ultrapassar a maior potência científica do mundo?
Não, eu sei o que é mais absurdo: é a prova de que ciência e desenvolvimento tecnológico não dependem de democracia.
Vou tentar dormir com esse barulho.
Vi na BBC

O comportamento é hereditário?

Sim, o comportamento pode ser herdado pelos genes. Calma, relaxe, esse estranhamento vai passar. Se bem que hoje em dia, nessa era pós-genômica, parece que as pessoas não se espantam mais quando ouvem isso de genes controlando comportamentos. Claro que não é exatamente isso que acontece, mas saber que há influencia dos genes nas nossas ações me parece um mistério que vale ser estudado. Como isso acontece?

cachorro feioPrimeiro preciso provar que isso acontece. E veja só, vou provar usando cachorrinhos porque eles são fofos. E porque eles são fofos? Porque nós, humanos, selecionamos os cães fofos, não só os de pêlo macio, mas os companheiros, que nos olham nos olhos, que nos entendem. Nada a ver com lobos, concorda? Mas cães são os lobos selecionados por nós para terem um comportamento compatível às nossas necessidades (ou caprichos). A seleção é feita quando deixamos só os totós bonzinhos cruzarem, e assim os filhotes vão ficando cada vez mais bonzinhos. [Veja este vídeo que mostra com o a seleção pelo comportamento levou a mudanças morfológicas e as raposas selvagens foram ficando com cara de cachorrinhos fofos cuti-cuti]

Incrível como eles podem nos entender mais até do que um chimpanzé. Em um experimento do tipo “em qual copo está a comida”, quando o experimentador aponta para o copo que contém comida, chimpanzés continuam apenas chutando um ou outro, mas os cães entendem e escolhem o copo apontado. Entendem até quando apenas olhamos o copo, sem apontar o dedo. É muita sintonia, ou podemos chamar de co-evolução? [sei que tem um vídeo com esse experimento mas eu não achei. Se você sabe qual é mande o link nos comments]

Mas só isso não é prova suficiente. Somos animais também, mas não cães, então temos que provar a ação dos genes no comportamento de nossa espécie.

Um jeito de fazer isso é ver como doenças psiquiátricas, como esquizofrenia, podem ser herdadas, passadas de pais para filhos. E realmente é isso que acontece com esta doença intrigante, a qual transforma uma pessoa conhecida em outra totalmente diferente, perturbada por alucinações, delírios, apática e acaba mudando o comportamento. Diversos estudos mostraram a herdabilidade desta doença.

Primeiro podemos estudar a familia dos doentes para ver se outros parentes também são afetados e comparar a famílias de pessoas não-doentes (tento não usar a palavra NORMAL, acho que não cai bem, concorda?). Se o doente tiver mais parentes também doentes do que uma família genérica, temos uma pista de que está ligada aos genes. Sabemos que a chance da população geral de ter esquizofrenia é 1%. Se seu avô tem a doença sua chance sobe para 3%; um dos pais ou um irmão sobe apra 10-20% e os dois pais sobe para 40-50%.

Ainda sim isso não é uma prova definitiva, porque o ambiente é um grande responsável por definir nosso comportamento, e uma característica da família pode ser derivada da criação nessa família, como o fato de eu ser cabeça-dura, que pode ser genético ou só o exemplo do meu pai, do pai dele, todos cabeças-duras. Coisa de família.

Mas como isolar o ambiente pra poder ter certeza da ação dos genes? Em animais a gente pode trocar os filhotes de família, mas em gente isso não pode ser feito por cientistas, mas o cientista pode ir atrás de pessoas separadas de suas famílias pela vida. E o ideal é achar gêmeos. Primeiro comparando gêmeos idênticos, que têm os mesmos genes, e gêmeos fraternos, que são como irmãos comuns. O que se faz é comparar pessoas doentes e ver se seu irmão é doente também. Se gêmeos idênticos tiverem mais irmãos também doentes do que os irmãos fraternos, desconfiamos que há influência dos genes, certo? Afinal todos os irmão tiveram a mesma criação, sendo a única diferença a diferença no genoma. Mas estudo bom mesmo é o de gêmeos idênticos criados por famílias diferentes, porque esses sim tiveram diferentes ambientes e se mantiverem maior taxa de doença entre irmão é porque essa doença é bem genética. O problema é achar tantos gêmeos doentes e criados separados.

Ainda sim existem outros tipos de estudos, como juntar vários doentes e vários não-doentes e sequenciar o DNA deles todos olhando as diferenças. Se uma diferença estiver presente em vários doentes e pouco em não-doentes, achamos um marcador da doença. Isso poderia ser usado para diagnóstico e pode guiar pesquisas para tratamentos.

Mas claro que as coisas não são fáceis assim. Em doenças complexas, como hipertenção e esquizofrenia, não há um gene responsável pelo problema, são vários genes que interagem. As vezes o problema não é nem na sequência do gene, mas sim na sua região reguladora, e por aí vai.

Então o que sabemos até hoje? Que o comportamento é influenciado pelos genes e que o ambiente também influencia o comportamento. Qual dos dois é mais importante? Aí vai do gosto do cliente, porque ninguém consegue responder isso.

Podemos pensar que o ambiente que permite a expressão dos genes, ou que os genes são os responsáveis pelo desenvolvimento na barriga da mãe e isso define as características comportmanetais; mas o ventre materno é um ambiente, e ele influencia o desenvolvimento; mas abuso de drogas tem fator genético mostrados por estudos como os de cima, então é culpa do gene; mas quem tem essa tendência só a desenvolve quando entra em contato com a droga, logo, ambiente; mas a pessoa que tem a tendência na verdade tem a tendência de procurar coisas novas, e por isso entra mais em contato com o mundo das drogas, logo, é o gene;… Será que isso terá um fim? Será que realmente um tem que triunfar sobre o outro?

Bônus: Veja este vídeo do John Cleese sobre o assunto. Genial

 

Leia mais:

Ambiente social e cultural, ou genética? Qual decide nosso destino?

Abuso na infância altera o comportamento e o DNA

Squeeze my balls, baby

Beber com os amigos está no gene?

Pesquisas mais importantes em câncer: as malignas células-tronco, o genoma e a imunologia.

Cancer novidades

Nesta semana a famosa revista Nature Medicine lançou um número com foco em câncer, e mostra o resultado de uma pesquisa que perguntou aos pesquisadores da área de câncer quais os trabalhos mais importantes dos últimos dois anos (2008-2010) [está em inglês mas tem conteúdo livre]. É importante saber o que esse pessoal acha importante porque essas pesquisas, mesmo que bem básicas ainda e na sua maioria longe de se tornarem tratamentos para uso da população, vão moldar o futuro do combate a essa doença.

Veja aqui os temas mais quentes na opinião dos pesquisadores.

  • Células-tronco de câncer – Já a algum tempo se sabe que apenas algumas células de um tumor têm a capacidade de se multiplicar. Isso é uma faca de dois gumes: ruim porque, mesmo que se mate muitas células e o tumor reduza de tamanho, se alguma ou mesmo uma só dessas células sobrarem elas podem formar o tumor novamente; mas também é bom porque reduz o nosso alvo, afinal só precisamos matar essas células-tronco do câncer.

A pergunta então é “quantas e como são estas células?”, e foi justamente um trabalho nessa área que recebeu mais citações na pesquisa entre os especialistas. Antes se achava que as células-tronco seriam apenas 0,1% das células de um tumor, mas Elsa Quintana e colaboradores descobriram que em tumores sólidos, no caso um melanoma, 25% das células têm capacidade de formar um tumor. Assim parece que o número é bem maior do que se pensava e varia em tipos de tumor e mesmo de um indivíduo para outro.

  • O genoma do câncer – A ideia não é nova: “já que o câncer acontece por causa do acúmulo de defeitos no DNA das células, vamos sequenciar e ver o que mudou”. O que acontece é que isso é muito caro e os resultados demoram a aparecer. Hoje em dia as técnicas de sequenciamento estão melhorando e vários alvos terapêuticos já foram encontrados, como genes e fatores de risco como o cigarro que aumentam as chances de gerar um tumor. Mesmo assim essa abordagem divide opiniões de especialistas.
  • Corrigindo os erros – Algumas tentativas de tratamento que chegaram a ser testadas em humanos mostraram resultados não esperados (BRAF e PARP). Até mesmo drogas que funcionaram em cultura de células e em animais, quando passam para humanos acabam tendo o efeito contrário do desejado. Estudar os porquês disto tem trazido informações interessantes, e não impedem que os testes em humanos continuem e se aperfeiçoem. Por isso é interessante até mesmo gerar resistência a células tumorais in vitro para entender como superá-la.
  • Imunologia e microambiente – Usar anticorpos específicos contra tumores é uma terapia já muito usada, mas o que ainda não se sabe muito é como o ambiente do tumor  e o sistema imune do doente realmente interagem com o tumor e como suas células, afetam essas células tumorais. Trabalhos nesta área também foram muito citados na pesquisa, e esta área parece estar adquirindo a visibilidde que merece.

Infelizmente a grande maioria das pesquisas apontadas pelos estudiosos estão em estágio muito experimental e longe de aplicação. Imagino que isto acontece porque leva-se muito tempo para levar idéias novas para testes em humanos, fazendo com que quando algo chega ao humano já não é tão novidade e novas descobertas chamam mais a atenção dos pesquisadores. Possivel também que poucos pesquisadores clinicos (clínico = em humanos) tenham respondido a pesquisa e tenha prevalecido a opnião dos pesquisadores básicos. De qualquer forma é por aí que caminhará a ciência e a medicina do câncer.

 

Vi na Nature Medicine – A close look at cancer

A solução da violência é uma questão metafórica

Stop_The_Violence____by_thymeismatter

“Pare com a violência ou eu te mato”

Qual a solução para a violência? Depende de qual metáfora você usar para ela. Se quiser que as pessoas votem por soluções mais agressivas é só classificar a violência como uma “besta” ou um “monstro”. Mas se quiser que elas votem por “tratar” a violência com ações mais amplas, é só usar a palavra “vírus” no seu texto.

Simples assim. É o que pode ser visto nesse estudo na revista PLoS ONE que usou 253 pessoas. Elas tinham que dar soluções para a violência depois de ler um texto sobre o tema. Metade dos textos continha a palavra “beast” e a outra metade “virus” como metáforas da violência. Dos que leram a besta, 71% deram soluções severas, enquanto que os que leram o vírus se dividiram em 54% com solução severa e 46% com tratamento, como melhorar a economia.

Será que o ser humano é assim tão voluvel como pluma ao vento?

Olha aí a responsa de jornalistas, professores e, ahan, divulgadores de ciência.

 

Vi na Science Now