A neurose do aquecimento global e as consequências na mídia.

Com o andamento da COP-15, amplamente comentada por gente muito mais competente do que eu (vide DiscutindoEcologia, EcoDesenvolvimento, Rastro de Carbono, etc.), vou comentar algo que aconteceu hoje no Twitter.
Olhando uma notícia da Reuters.com indicada por Felipe Rocha, um estudante de graduação em Ecologia de Belo Horizonte, fiquei meio cabreiro.
A notícia: “Exclusive photos: Polar bear turns cannibal” (Tradução: ‘Fotos exclusivas: urso polar vira canibal’)
polar2.jpg

Sim, isso era um filhote, e não, a natureza não é fofa (imagem de Iain D. Williams, Reuters).


Como as fotos são de gosto duvidoso para quem não está acostumado à ‘falta de tato’ da mãe natureza, coloquei aqui a menos agressiva, quem tiver curiosidade, o link para a fonte está logo abaixo, onde tem uma foto bem mais “explícita”.
Gosto à parte, o que me irritou nessa notícia foi o fato de estar com as seguintes TAGs (marcadores para indexação): cannibal | climate change | cub | eat | exclusive photos | polar bear
Canibal? OK. Mudanças Climáticas? OK. Filhote? OK. Fotos exclusivas? OK. Urso polar? OK.
… peraí, MUDANÇAS CLIMÁTICAS?! Segundo QUEM, querida Reuters?!
Isso é uma coisa que me deixa fulo da vida. COP-15 em andamento, a crise do aquecimento global nunca esteve tão em evidência (e com razão, sou totalmente a favor de tudo no sentido de se ‘consertar’ os problemas atuais), e, de repente, TUDO é culpa de aquecimento global.
Ou, claro, de Satanás. Só que isso é outra história, o demônio da vez, nas próximas semanas, são as emissões de CO2.
Mas, como o pouco que lembro de Comportamento Animal da graduação já serve prá me lembrar sempre que ‘a natureza não é fofa’, desconfiei, e dei uma lida com calma em tudo que escreveram na Reuters. E, claro, já saí atrás de outras fontes de consulta.
E não é que na própria página em que estão as fotos do “urso polar canibal” catalogadas como ‘mudanças climáticas’, no SEGUNDO parágrafo, está escrito que um morador local (e líder da comunidade Inuit > esquimós) relatou que o fato de os ursos polares cometerem atos de canibalismo é algo recorrente, e não necessariamente um subproduto do aquecimento do planeta.
Snow_On_Snout_Polar_Bear-1600x1200-799243.jpgEncontrei outra notícia, no NationalPost, que trata justamente desse fato: não gente, os ursos polares não são uns coitados que começaram a comer seus filhotes por causa do derretimento das calotas polares. Algumas coisas ‘feias’ na natureza simplesmente acontecem, e pelos mais variados motivos.
Espero que esse episódio sirva de exemplo para que todos nós prestemos BASTANTE atenção em tudo o que lemos sobre ‘mudanças climáticas’ atualmente.
Aquecimento global é real, extremamente perigoso, e precisa ser encarado (e solucionado) o quanto antes, para o bem de todos os habitantes do planeta (humanos ou não).
No entanto, manipular fatos para aumentar os impactos do aquecimento global é tão errado quanto manipular fatos para negá-lo.
E, claro, torço prá que algo de real saia da COP-15. Apesar de ser pessimista em relação à reunião.
Notícia original > Reuters.com
Notícia do NationalPost
Quer saber mais sobre ursos polares? Sugiro o portal Polar Bears International, tem muita informação interessante.
E sim, este post está indexado como ‘mudanças climáticas’, coé, algum problema?

Derrubando Torres de Marfim – o RNAm vai à Escola!

E-Learning.jpegExistem diferentes motivos para se trabalhar com divulgação científica, dentre os quais se destacam, na minha opinião:

  1. Diminuir o abismo que existe entre os cientistas – produtores do conhecimento – e a população em geral, que muitas vezes têm acesso somente a matérias superficiais que costumam exagerar na simplificação do conteúdo cometendo erros conceituais gravíssimos;
  2. Promover um processo de educação não-formal que, pelo menos idealmente, pode se tornar um fator importante de difusão de conhecimento, de modo acessível a todos.

Claro, ainda estamos a anos-luz de atingir o grau de qualidade/interação/penetração que esperamos das nossas ações junto ao grande público. E, apesar de eu saber que essa não é ideia de todos os divulgadores de Ciência, tenham certeza que eu sou uma das pessoas que sonha em conseguir esses feitos.

O próprio título é menção direta ao conceito da “Torre de Marfim”, que designa um mundo ou uma atmosfera em que intelectuais se envolvem em questionamentos desvinculados das preocupações práticas do dia-a-dia. Fácil perceber o quanto eu sou contra isso, não?

Assim, foi com grande prazer que eu e o Rafael integramos o grupo de convidados do “I Ciclo de Palestras de Biologia” da E.E. Myrthes Therezinha Assad Villela, que aconteceu dia 17/10/2009, em Barueri – SP.

Faz tempo que aconteceu, eu sei, mas achei uma pena não termos comentado nada até o momento. Depois de algumas conversas excelentes que tenho tido com outros educadores, resolvi tirar esse texto da gaveta, e compartilhá-lo com todos.

BarueriGabriel.jpg
Minha palestra sobre células-tronco (foto: arquivo pessoal)

Essa atividade idealizada e realizada pelo Prof. de Biologia Flávio Rodrigues Grassi teve como principal objetivo levar pesquisadores de diversas Universidades (Federais e Estaduais) e Institutos de Pesquisa à Unidade Escolar para expor aos alunos do Ensino Médio um pouco da realidade do meio acadêmico-científico.

Além das nossas palestras, tiraramos dúvidas sobre nossas especialidades, e tentamos abordarar de maneira diferente assuntos do conteúdo programático do ano letivo e para vestibulares.

Foi uma manhã muito interessante, em que pudemos ter bastante contato com uma grande quantidade de alunos que mostrou-se bem interessada, e, claro, com uma grande quantidade de dúvidas que esperamos ter esclarecido. As palestras, e seus respectivos palestrantes, foram:

Animais Peçonhentos.
Biól. André Marsola: Bolsista PAP (Programa de Aprimoramento Profissional) do Laboratório de Artrópodes do Instituto Butantan.

Entendendo as Células-tronco.
M.Sc. Gabriel Cunha: Doutorando em Biologia Molecular da Disciplina de Biologia Molecular/Depto. de Bioquímica da Escola Paulista de Medicina (UNIFESP/EPM).

Alimentos x Câncer
M.Sc. Márcia Miyuki Hoshina: Doutoranda do Laboratório de Mutagênese do Depto. de Biologia Celular e Biologia Molecular da UNESP (Campus Rio Claro)

O que é Câncer?
Biól. Rafael Soares: Doutorando pelo programa de pós-graduação em Biotecnologia da USP

Obesidade e Diabetes Mellitus
Dra. Talita Romanatto: Doutorado em Fisiopatologia Médica pelo Depto. de Clínica Médica da Fac. de Ciências Médicas da UNICAMP, iniciando o pós-doutorado na USP.

Foi um grande prazer participar dessa manhã dedicada à interação cientista-aluno, em que todos pudemos fazer um pouco de divulgação científica in loco, com respaldo imediato do público-alvo. Sem dúvida foi a primeira de muitas e aguardamos ansiosamente novos convites!

Ciência ruim num estalar de dedos? IgNobel prá você!

2009IgNobel.gifMais um texto da nossa série sobre o IgNobel 2009, e, prá começar, temos aqui um exemplo de como o IgNobel não premia somente pesquisas “inusitadas” ou de resultados pouco práticos, como o Rafael comentou em nossa entrevista ao Programa E-farsas. Muitas vezes, o prêmio é dado a um trabalho realmente idiota.
Então, melhor estalar os dedos e começar duma vez!
Ganhador do Prêmio IgNobel de Medicina de 2009, o Dr. Donald L. Unger, um médico de Thousand Oaks (California, EUA), deve ser uma das pessoas mais controladas – ou mentirosas – que eu já ouvi falar.
Por que? Cansado de ouvir sua mãe, tias e outras pessoas sobre os “malefícios” de se estalar as juntas dos dedos, o pequeno Donald, num insight ou não cético teve a brilhante ou não ideia de conduzir um estudo de caso que comunicou ao periódico Arthritis & Rheumatism no ano de 1998.
Nessa comunicação (PDF em Inglês), publicada na seção “Letters” do periódico, afirmou não haver conexão entre o ato de se estalar os dedos e o desenvolvimento de artrite, de acordo com dados coletados durante o espantoso período de 50 anos!
Estalos ocasionais ou espontâneos, como costuma acontecer nos pés e tornozelos depois de levantarmos da cama, são inócuos. Mas se forem repetidos com freqüência, aumentam a produção do líquido interno das juntas, o que pode causar engrossamento, dor e perda de flexibilidade, como afirmou o Dr. Isidio Calich (Faculdade de Medicina da USP) à Super Interessante.
knuckle_cracking.jpgExistem dois tipos de estalo, e, conforme o tipo, podem acontecer danos aos tendões e à cartilagem que recobre a extremidade dos ossos. O primeiro tipo acontece quando esticamos a junta (puxando um dedo, por exemplo, como na imagem da esquerda), o que gera uma espécie de vácuo que faz o líquido no interior das juntas se movimentar com violência (por isso o ruído). O outro tipo é quando dobramos a articulação, no qual o estalo é decorrente do atrito entre as cartilagens dos ossos (como quando apertamos os dedos contra a palma da mão, como na imagem abaixo).
crucking_knuckle.jpg
Agora, se me perguntarem, tenho certeza que o IgNobel veio por causa do desenho experimental do inspirado aspirante a cientista: ele passou 50 anos da vida dele estalando os dedos da mão esquerda duas vezes ao dia. E não fez o mesmo com a mão direita. Bom, “a não ser em casos de distração, ou quando aconteceram estalos espontâneos”… então tá.
De acordo com seus “dados”, no período de “estudos” ele contabilizou ter estalado os dedos da mão esquerda por aproximadamente 36500 vezes (!!!), e não observou nada que indicasse o desenvolvimento de artrite na mão esquerda, além de não observar nenhuma diferença significativa entre os dedos das mãos esquerda (estalada constantemente) e direita (só de vez em quando).
Portanto, segundo nosso querido Dr. Donald (farei um esforço hercúleo para não chamá-lo de pato nenhuma vez, prometo… bom… desconsiderem essa, por favor), os dados que observou corroboraram (adoro essa palavra) os dados de um estudo publicado 25 anos antes por Swezey RL. e Swezey SE., entitulado “The consequences of habitual knuckle cracking.” (West J Med 1973;122:377-9).
Para mim, a cereja do bolo está no final da comunicação, quando o autor sugere que outros “mitos” que ouvimos quando crianças sejam verificados, e dá como exemplo “espinafre te deixa mais forte”, e relata:
macaco-chongas.jpg“This study was done entirely ut the author’s expense, with no grants from any governmental or pharmaceutical source.”

Tradução: “Este estudo foi totalmente custeado pelo autor, sem qualquer tipo de financiamento governamental, ou farmacêutico.”
Só me faltava essa mesmo… por isso, além do IgNobel, ele ganha do RNAm um macaquinho do Chongas, que reflete tudo o que senti ao escrever esse texto.
Quer saber mais sobre esse assunto? Sugiro essa matéria da HowStuffWorks (em Português) e uma página de “perguntas e respostas” do Centro de Artrite do Johns Hopkins (em Inglês).

Entrevista no Programa E-farsas!

Como vocês sabem ou deveriam saber! dia 28/11/2009 nós participamos do Programa E-farsas, transmitido pela JustTV.

Promessa é dívida, então aí vai a a entrevista na íntegra!

Você que perdeu, esqueceu, ou simplesmente tinha mais o que fazer num sábado à noite, aproveite para ver o “casal mais bonito do EWCLiPo” (palavras do Mauro, do Você que é Biólogo) se engraçando com as câmeras!

Uma pena o programa estar com duração limitada a 30 minutos, a conversa realmente estava muito boa, e já estamos com vontade de voltar a gravar com o Gilmar, que, além de ser maior figura, nos recebeu extremamente bem junto com todo o pessoal do estúdio da JustTV.

Divirtam-se então com um bate-papo descontraído sobre alguns de nossos textos, Ciência, e um pouco sobre nossa vida de pesquisador (não falamos só do blog, quem gosta de Caras vai A-DO-RAR!).

Posts citados:

Gravidez, lordose e evolução… curvinhas que fazem a diferença.

O que é mais sustentável: comprar CD ou baixar da net?

Ratos flutuantes: não é feitiçaria, é tecnologia

Bicarbonato de sódio NÃO cura o câncer

Bicarbonato de sódio FUNCIONA contra Câncer

Comentários, críticas, sugestões, elogios? Libere toda a sua fúria nos comentários!

RNAm no “I Foro Iberoamericano de Comunicación y Divulgación Científica” – Quantificando a Divulgação Científica.

Faz tempo que eu e o Rafael (ele muito antes, certamente) temos vontade de extrair informações sobre os nossos textos, em especial, sobre os comentários que aparecem em alguns deles.
Aliando esse pensamento ao fato de sermos dois nerds inveterados, nos enfiamos de cabeça em áreas de pesquisa dominadas pelas Ciências Humanas, as Análises de Discurso e de Conteúdo, e tentamos analisar alguns dos comentários presentes no texto que é o ‘carro-chefe’ do RNAm: Bicarbonato de sódio NÃO cura o câncer. Esse texto, publicado em 25 de Novembro de 2008, sempre rende muitos acessos diários, e já está ultrapassando a barreira dos 400 comentários.
Como resultado inicial, apresentamos para vocês o trabalho ‘Argumentação em blogs científicos: uma análise dos comentários’, que foi apresentado na primeira edição do Foro Iberoamericano de Comunicação e Divulgação Científica, que está sendo sediado pela UNICAMP entre os dias 23 e 25 de Novembro de 2009.
LogoForo.jpg
Deixo para vocês partes do trabalho apresentado. A versão final do poster será disponibilizada pelo Rafael (que está perdido por Campinas ainda) em breve.
Considerações Iniciais
Weblogs (blogs) vêm sendo usados cada vez mais por divulgadores de ciência. Uma das características mais interessantes desta ferramenta é a possibilidade de leitores deixarem comentários sobre o texto publicado na rede. Esses comentários permitem entender melhor como o leitor recebe, entende, e sua opinião sobre um determinado assunto.
Objetos de Análise
Neste trabalho, analisamos o conteúdo dos comentários de um texto de blog de divulgação científica que gerou grande discussão.
O texto em questão trata de uma crítica à falta de embasamento científico de um tratamento alternativo de câncer, usando bicarbonato de sódio, que circulou pela internet como um “spam”. A crítica do texto ao tratamento levantou nos comentários várias críticas aos tratamentos usuais baseados em evidência científica, creditando tratamentos alternativos não comprovados.
Principais Argumentos Idenfiticados
Desconfiança da ciência e da medicina atual:
“Quimioterapia é um tratamento cruel. Acaba com a qualidade de vida da pessoa.” “Quantas pessoas morrem deste mal com os ‘tratamentos’ disponíveis.”
“A maior causa de morte nos EUA são causadas pelo uso de medicações.”
Resistência da ciência a idéias novas:
“(…) a teoria da relatividade foi ridicularizada no início e só depois respeitada (…).”
“O meio acadêmico tem seus vícios (…) e nem sempre aceita novidades”.
“Tudo que é simplista é discriminado”
Confiança em tratamentos alternativos:
“A medicina chinesa tem sido testada e comprovada há mais de 5 mil anos” “Enema de café também cura câncer”
“Se o bicarbonato não traz males, bem ele trará”
Confiança em tratamentos alternativos:
“A medicina chinesa tem sido testada e comprovada há mais de 5 mil anos” “Enema de café também cura câncer”
“Se o bicarbonato não traz males, bem ele trará”
Lobby de indústrias farmacêuticas:
“Organizações não querem perder recursos e idéias que surgem fora de suas castas acabam por ser ceifadas”
“Estão mais preocupados com as cifras do que com a saúde pública”
“Industrias farmacêuticas ganham muito dinheiro com outros tipos de tratamento”
Inversão do ônus da prova:
“Quem tem agora que provar que o bicarbonato não cura cânceres são aqueles que contradizem a idéia.”
“Não tem coragem de colocar a cara a risco pra testar a nova idéia e fica criticando”
“Por que não faz alguns testes em laboratório e tente descobrir algo mais profundo[?]”
Além dos argumentos contrários à critica do texto, contabilizamos também pedidos de ajuda, como receitas do tal tratamento, por exemplo.
“Você poderia me fornecer o telefone deste médico?”
“Posso tomar bicarbonato com água?”
“(…) qual a quantidade em gotas a usar por cada copo?”
Os Resultados
Vou deixar por aqui os dois gráficos originados dessa análise, e, em breve, completaremos esse texto com as nossas conclusões.
Graf2Foro.jpg
GrafForo.jpg
Enquanto isso, gostaria de lançar um desafio aos nossos leitores: quais seriam as conclusões que VOCÊS tirariam de uma análise que trouxesse esses resultados? (cliquem nos gráficos para vê-los em tamanho maior)
Aguardamos suas respostas nos comentários!

 

Poster_ForoCampinas

Aguentar as m*rdas da sua mãe tem lá suas vantagens. (se você for um besouro)

Dizem que nada supera o amor de mãe… conhecemos histórias de mães que se sacrificam por seus filhos, lendas de mães que ergueram carros sozinhas para conseguir libertar um filho atropelado e outras histórias do gênero.

No mundo animal também temos exemplos notáveis de cuidado maternal, mas um em especial me chamou a atenção: as fêmeas do besouro Neochlamisus platani fazem de tudo para proteger seus filhotes, como construir um casulo. 

De cocô.

(depois de uma pequena pausa para que todos possam dizer “Eeeeeeeca, que nojo!”, voltamos com a programação normal)

casebearingbeetle.jpgTemos aqui mais um caso da “Enciclopédia Bizarra do Mundo Animal”. As fêmeas de N. platani constroem uma carapaça-extra em suas costas que traz dá maiores chances de os filhotes chegarem à vida adulta.

E tem gente que acha que teve uma infância/adolescência de m*rda… (trocadilho infame incontrolável, foi o último… eu acho). Esses besouros servem de exemplo prá qualquer adolescente do tipo “ninguém me entende”, “meus pais não me entendem”. Aliás, imagina se a mãe do Renato Russo fosse uma fêmea de N. platani? “Pais e Filhos” seria uma música completamente diferente ; )

Essas fêmeas encasulam sua cria em uma cápsula feita de suas próprias fezes. Após a postura dos ovos, selam cada um deles em um casulo com formato de sino. As larvas eclodem e fazem algumas modificações na estrutura do casulo, como um furo no “teto”, além de aumentarem o tamanho do casulo com seu próprio excremento. 

Prá finalizar imagine esse besourinho esticando sua cabeça para fora do casulo e fazendo o mesmo com suas pernas: temos aqui um casco semelhante ao das tartarugas, que confere grande proteção ao inseto e serve de “moradia móvel” até a idade adulta.

Além dessa moradia os besouros N. platani têm formas de “tunar” seus casulos protetores. Uma das adições à estrutura inicial são pêlos (ou tricomas) de plantas hospedeiras. Esses tricomas são adicionados ao interior e exterior do casulo e possibilitam uma proteção extra contra eventuais predadores, como foi demonstrado num artigo publicado no periódico Animal Behaviour.

ResearchBlogging.orgOs autores do trabalho apontam que o material fecal é excelente para construção pois combina maleabilidade com baixo custo de “produção” (a não ser que você tenha hemorróidas ou intestino preso), além do reforço do material vegetal não digerido.

O artigo publicado na Animal Behavior testou se o casulo fornecia proteção real colocando larvas de N. platani contra três predadores: um grilo, uma ‘maria-fedida’ (Pentatomideae) e a aranha Peucetia viridans (aranha lince verde). Quando a larva do besouro estava dentro do casulo era muito menos provável que fosse atacada do que quando estava em terreno aberto, desprotegida (quando foi vítima dos 3 predadores). A adição dos tricomas à estrutura fez com que os ataques dos grilos fossem evitados apesar de não ter funcionado contra as marias-fedidas. Mesmo com esses resultados os pesquisadores argumentam que o efeito protetor desse casulo no meio ambiente é realmente grande, o que pode não ser constatado quando se coloca a pobre larva numa placa de Petri de cara com seus predadores.

casulo.jpg

Não é só um casulinho bonito… é forte também 😉

Pensando no que aconteceria no meio ambiente, primeiro o predador precisaria perfurar o casulo, o que não é tarefa fácil. Caso conseguisse, encontraria vários tricomas armazenados no interior… e esses tricomas têm ação irritante, exististindo ao menos mais um inseto (um crisopídeo da ordem Neuroptera) que também usa esse artifício para afastar predadores.

Outro fato que depõe a favor da importância desses casulos são indivíduos preservados em âmbar (lembram do mosquitinho no filme Jurassic Park?) que mostram que esses besouros já construíam esses casulos de material fecal há pelo menos 45 milhões de anos. 

Apesar de que, se eu pudesse fazer uma contribuição na construção desses casulos, usaria material vegetal de eucaliptos e talvez convidasse a aranha vegetariana-que-gosta-de-incenso e usa Macintosh que vi outro dia no Rainha Vermelha, para ajudar numa decoração “odor-free”.

Brown, C., & Funk, D. (2009). Antipredatory properties of an animal architecture: how complex faecal cases thwart arthropod attack Animal Behaviour DOI: 10.1016/j.anbehav.2009.10.010

A encenação da defesa de tese

homertrix.jpg

Defesas de tese. A linha de chegada de toda pós-graduação.

Pode ser mestrado ou doutorado. Pode ser com apresentação ou só entregar a tese escrita. Pode ser sozinho ou com uma banca de 6 ou até mais professores. A sua banca (o júri que avalia se você esta pronto para ostentar o título de doutor) pode ser composta só por amigos ou ter algum inimigo. (sim, cada departamento, mesmo dentro de uma mesma universidade, é diferente.)

E tem os prazos pra defender, para juntar a papelada toda, conseguir marcar a data com todos os professores da banca…

Eita estresse!

E por que chama defesa? Ora, não é óbvio? Porque o pós-graduando precisa se defender das flechadas da banca. Perguntas pontiagudas sobre o trabalho da tese ou sobre a área onde ela se encontra. Pode-se rebater com um bom escudo ou desviar no melhor estilo “Matrix” da saraivada de balas que saem das escopetas dos professores.

Ao final de tudo isto, o pós graduando será laureado com a honraria de Mestre, ou Doutor!
Que pompa!

Mas e se o candidato não estiver à altura do título?
E se fez um trabalho meia-boca, ou interpretou os dados de maneira errada, ou se ficar claro que o orientador ou outro aluno é que fizeram todo o trabalho? O que acontece?

cao graduado.jpg

Acontece que ele TAMBÉM será laureado com a honraria de Mestre ou Doutor!
Que bomba!

Pois é meu amigo. Isto é o que acontece nas pós-graduações das melhores e maiores faculdades do Brasil. Não estou falando de qualquer FAFUP (Faculdade de Funilaria e Pintura) da vida não.
Isto acontece na USP, UNICAMP, UNESP, e por aí vai. Digo que ocorre pelo menos na área que eu conheço, a das biológicas.

Em poucas palavras: NÃO SE REPROVA ALUNO NAS DEFESAS!

Exceção parece ser o pessoal de exatas. Lá parece que o pau quebra solto. E parece que em outros países também é diferente (veja um relato no Brontossauros no meu Jardim). Mas nos vários departamentos que eu conheço e ouço falar, ninguém reprova mesmo.

E por que isto acontece? É a velha politicagem. Se eu for professor da banca e descer o pau no aluno que se mostra ruim, posso estar gerando mal estar com o professor que orienta este aluno, ou mesmo baixando o conceito do departamento de pós-graduação, que deixaria de somar mais um doutor formado ali. Situação chata né?

politica-raposas.jpg

Então o que todos os departamentos fazem? Acabam passando todo mundo! E eu já vi cada absurdo que dá até dó.
Claro que isto põe em cheque a qualidade dos doutorzinhos por aí. E também desanima saber que o meu titulo, que será conquistado com tanto suor e lágrimas, terá o mesmo valor deu um aluno medíocre empurrado com a barriga pelo sistema.

Um amigo meu uma vez disse que se colocassem um macaco no departamento “piii…” da USP, depois de 3 anos ele se forma doutor. É só alguém preencher as fichas por ele.
E eu acho engraçado que a maioria das pessoas que vão defender fica nervosa e com medo de não passar. Daí eu pergunto “você já viu ou ouviu falar em alguém que não passou?”, e sempre a resposta foi “não”. Então porque o nervosismo? Não querer fazer feio é uma coisa, mas o seu título já está garantido. Relaxa e goza.

Old_Dragon____by_MichiLauke.jpg

Por isso criei para as defesas de tese o termo “Dragão Banguela”: assusta, mas você sabe que não vai te machucar.

Garrafas, garrafas… briga de bar também é Ciência!

barfight.jpgImagine o seguinte: você está num bar, e de repente começa uma confusão aqui, outra ali… e a pancadaria se torna generalizada.Quem já esteve nessa situação (como eu) sabe como uma cena (com “c” viu Sasha?) dessas é assustadora… principalmente quando as cadeiras do lugar começam a passar voando sobre a sua cabeça.
Uma coisa que nos acostumamos a ver em filmes é a clássica “cena da garrafada”. Um zé qualquer pega uma garrafa e estilhaça na cabeça do ser humano ou não mais próximo. Em filmes BEM toscos, geralmente o cara se dá o direito de terminar a cerveja da garrafa que vai usar, antes de mandá-la com tudo no cuco de alguém.
Aí vocês pensam “Certo, mas do que diabos você está falando? Briga de bar?”
Sim crianças, briga de bar! Mais especificamente, o estudo que comentarei hoje trata do estrago que uma garrafada bem dada pode causar na cabeça de quem a receber. E, claro, estou falando de mais um texto da nossa série IgNobel no RNAm!
ResearchBlogging.orgO trabalho publicado no periódico Journal of Forensic and Legal Medicine foi realizado na Suíça por uma equipe de pesquisadores especializados em Ciências Forenses. E ele trata justamente do estrago que uma garrafada bem dada pode causar na cabeça de quem a receber.
De acordo com os autores do trabalho (e de qualquer um que já tenha passado por um apuro desses num risca-facas da vida), quando uma garrafa é usada como arma para golpear um oponente, podem acontecer duas situações básicas: ela se quebra e dá origem a um ferimento em forma de corte (que pode ser bastante profundo, dependendo do seu azar/sorte), ou, num caso pior, ela não quebra e causa um sério ferimento em forma de concussão.
garrafa1.jpg
Pensando nessa diferença, os autores investigaram se garrafas de cerveja de 500 ml (humm… ler isso me deu sede) são mais propensas a se quebrar quando estão cheias ou vazias. Na outra parte do trabalho, eles avaliaram se uma garrafada possui energia suficiente para causar uma fratura ao crânio humano.
drop_tower4.jpgPara testar as propriedades de fratura das garrafas utilizadas, os suíços utilizaram um equipamento chamado torre de queda livre (tradução do termo em Inglês drop tower, corrijam-me se eu estiver errado), que você pode ver na imagem ao lado (a setinha branca mostra o local em que a esfera de metal fica armazenada antes de ser lançada na garrafa).
O experimento foi o seguinte: uma esfera de metal de 1kg foi lançada da torre de diferentes alturas (entre 2m e 4m) numa garrafa de cerveja com um molde de argila que simula a área de impacto de uma pancada com uma garrafa, distribuindo a energia do golpe igualmente. Os resultados, claro, foram analisados em seguida.
drop_tower3.jpg

Garrafa pronta para receber o impacto


As garrafas cheias se quebraram em impactos com 30 J (joules) de energia, enquanto as garrafas vazias precisaram de uma energia de 40 J para se partirem na queda. No entando, nas duas situações as quantidades de energia observadas são suficientes para se fraturar um crânio humano.
Sem grandes explicações físicas, em todas as condições experimentais analisadas, foi constatado que as garrafas de cerveja podem fraturar gravemente o crânio humano, servindo como instrumentos perigosos em qualquer disputa física.
Conclusão do artigo: numa briga, tome MUITO cuidado se alguém tiver uma garrafa nas mãos, e, principalmente, pense duas vezes antes de usar uma, agora que você sabe do estrago que o uso desse tipo de “arma” pode causar.
DanielPowell.jpgAliás, se você ainda não se convenceu disso e quer continuar acreditando nos filmes de pancadaria, dê uma olhada na imagem ao lado, retirada de um artigo no site britânico de notícias Metro que descreveu um ataque que um adolescente sofreu de um grupo de imbecis.
Se você tinha alguma dúvida sobre o perigo que trazer uma garrafa prá uma briga pode ter, espero que tenha desaparecido agora… As minhas com certeza desapareceram.
Quanto ao mérito do artigo, entrou na categoria “OK, vocês demonstraram algo meio óbvio, não acham?” então, como vocês já sabem: IgNobel prá eles!
Bolliger, S., Ross, S., Oesterhelweg, L., Thali, M., & Kneubuehl, B. (2009). Are full or empty beer bottles sturdier and does their fracture-threshold suffice to break the human skull? Journal of Forensic and Legal Medicine, 16 (3), 138-142 DOI: 10.1016/j.jflm.2008.07.013

Plagio da reitora da USP. A culpa é de quem?

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disse várias vezes aqui: cientistas não são santos,
certo?

A notícia da Folha assusta pelo alvo. Não só uma cientista,
mas a própria REITORA DA USP, Suely Vilela!

Resumindo a notícia: A pesquisadora e reitora, juntamente
com mais 10 pesquisadores, publicaram um trabalho em 2008 baseado no trabalho
de uma aluna de doutorado. Três das imagens utilizadas e dois parágrafos são idênticos
a um trabalho de 2003 de um grupo da UFRJ. E ainda trocaram as espécies no processo: o paper da UFRJ trata de Leishmania enquanto o da USP trata de Trypanossoma.

O grupo carioca deu o alarme e a USP, em nota da própria reitoria, diz que vai apurar.

Compare as imagens você mesmo:

plágio reitora usp imagem.jpg

A reitora se defende dizendo que a parte dela (sim, um
trabalho pode ser dividido em várias partes) está certa e não tem nada a ver
com as imagens clonadas. A tal aluna não foi encontrada.

Acredito na reitora. É muito difícil, em um trabalho com várias
partes, todos os co-autores estarem a par de cada experimento. A culpa recairia
mais em quem era responsável pelo experimento e seu orientador.(Importante aqui é não colocarem um aluno desaparecido do mundo científico como testa de ferro)

Claro que este é mais um caso da fragilidade da ciência, que
na verdade não é diferente de qualquer relação humana: ela depende da confiança
nos colegas.
Mas, feita a besteira, só se pode pedir desculpas ao grupo
carioca e publicar uma retratação na revista onde foi publicada a fraude.

E não faça mais isso, cientista feio!

Gravidez, lordose e evolução… curvinhas que fazem a diferença.

Conselho para os homens: da próxima vez que virem uma mulher grávida se inclinando para aliviar o peso de sua barriga agradeçam, nós teríamos problemas BEM maiores para dar conta de uma gestação.

84010133.jpg

Ahh, se a vida fosse fácil assim…

Você está no RNAm, e hoje falaremos sobre Física. Ou melhor, sobre o Prêmio IgNobel de Física!

ResearchBlogging.orgEm um artigo na revista Nature pesquisadores relataram que a coluna vertebral das mulheres evoluiu de modo a fornecer mais suporte do que a coluna vertebral masculina, provavelmente devido ao esforço-extra durante a gravidez.

Essa observação vale tanto para vocês, mocinhas faceiras, como para as fêmeas de Australopithecus que viviam há mais de 2 milhões de anos, como foi observado em dois fósseis nesse mesmo estudo.

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Australopithecus “normal” em a e grávida em b

Sem esse suporte adicional os músculos das costas precisariam fazer muito mais força para manter a postura ereta. Ao longo dos 9 meses de gestação, todo esse esforço poderia levar a fadiga muscular e eventuais lesões.

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Diferenças entre a mulher “normal” em c e grávida em d e e

Quando nossos ancestrais passaram a andar em duas pernas vários ajustes no esqueleto foram necessários. Nossas vértebras aumentaram em número e largura dando maior suporte a parte superior do corpo e a coluna tornou-se curva na porção inferior das costas de modo a manter os ombros para trás, movendo o centro de massa do corpo acima dos quadris.

Sabem aquela curvinha na base da coluna das mulheres que chama tanto a atenção masculina? Ela tem seus méritos na seleção da melhor postura para garantir uma gestação saudável.

90094449.jpgO peso extra da gravidez muda novamente o centro de massa do corpo para a frente (como acontece quando se anda em quatro pernas) fazendo com que uma mulher seja, em teoria, mais propensa a “cair” para a frente. Assim, os cientistas demonstraram que as mulheres grávidas trazem seu centro de massa de volta aos seus quadris inclinando-se para trás, aumentando a curvatura na base de sua espinha.

Ao medirem o centro de massa de 19 mulheres grávidas, eles descobriram que elas se inclinavam para trás até 28 graus além da curvatura normal da coluna, diminuindo o esforço de torção (ou torque) que o peso do bebê cria em volta do quadril em até oito vezes!

No entanto, essa maior inclinação pode produzir maior stress na espinha: as vértebras são mais propensas a atritar umas às outras, levando a dores nas costas ou mesmo fraturas.

HomemXMulher.jpgOs autores também observaram que a coluna vertebral feminina possui várias características que ajudam a prevenir esse tipo de dano. Enquanto a curvatura inferior da coluna vertebral masculina é formada por 2 vértebras (L4 e L5 no desenho da esquerda), no caso das mulheres temos 3 vértebras (L3, L4 e L5 no desenho da direita), o que ajuda a distribuir a tensão em uma área maior.

Ainda, ocorrem articulações especializadas atrás do cordão espinhal 14% maiores em relação às vértebras masculinas, sugerindo adaptações para resistir a forças superiores. Essas articulações também estão orientadas num ângulo diferente, permitindo maior proteção para as vértebras.

Todos esses fatores fazem com que as mulheres sejam, sem dúvida, mais adaptadas para carregar um bebê. Essas mesmas diferenças encontradas entre machos e fêmeas de Australopithecus certamente foram muito importantes quando o modo de vida era baseado em rotinas de coleta, caça, e, eventualmente, fugindo para não virar comida de predadores maiores ou mais perigosos.

Imagine correr de um lobo, por exemplo, carregando um peso de até sete quilos que ainda te deixa desequilibrado?

É… a vida das mulheres nunca foi fácil. Faz você repensar todas as vezes em que sua mãe te disse “te carreguei por nove meses, seu ingrato!”…

Whitcome, K., Shapiro, L., & Lieberman, D. (2007). Fetal load and the evolution of lumbar lordosis in bipedal hominins Nature, 450 (7172), 1075-1078 DOI: 10.1038/nature06342