Jornal vs. Internet. Dicas evolutivas para o embate

homem das cavernas betocampos.jpgEsta semana o programa MTV Debate (segunda vez que ele aparece aqui no RNAm) discutiu o futuro incerto da mídia impressa, frente ao mundo digital da internet e seus gadgets, como e-books, i-phones etc. A pergunta era: o jornal e os livros de papel acabam ou não acabam?

E o engraçado foi perceber que a discussão das novas mídias se adequando aos novos tempos nos remete a natureza de nossa própria espécie e a leis que regem o mundo natural. Vamos tentar traçar este paralelo então.

Até agora fomos desenvolvendo de forma bem calma, e se pode pensar até em certa estabilidade. Foi assim no jornalismo desde a década de 20 até recentemente e foi assim por pelo menos 100 mil anos na nossa história como espécie de caçadores coletores nas savanas africanas.

O que mudou? Como reagir?

Tudo estava muito bom até que os tempos mudaram. No jornalismo surgiu a interatividade e a geração de conteúdo pelos não-profissionais do jornal. A interatividade por telefone depois pela internet, os blogs e o twitter. Já na nossa espécie tudo começou talvez pela agricultura, pecuária, formação de cidades e tudo que isto acarreta. Mudanças que nos deram um chute no traseiro e nos fazem andar cada vez mais rápido.

Como nos adaptar a isso? Como preparar os futuros jornalistas para um mundo em rápida mudança? Do mesmo jeito que os organismos têm que estar preparados para ambientes em constante mutação.

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Nos espelhando na evolução do mundo natural podemos achar a resposta. E a resposta é: não há como nos adaptar! Exatamente isto. É impossível nos adaptar a ambientes que mudam. Sempre nos adaptamos ao passado, seja o passado ontem ou milhões de anos atrás.
A sociedade, incluindo aqui o jornalismo, está adaptada ao passado. Sim, porque sofreu as pressões do passado. Suas características refletem o que lhes aconteceu e não ao que está para acontecer. Nossos professores nos ensinam o mundo deles, que já passou.

E dizer que qualquer organismo está adaptado ao seu ambiente é muito arriscado. Ele está sempre contando com a sorte de aproveitar suas adaptações ao passado e fazer que elas funcionem no presente.
E no futuro? Bom, sem bola de cristal fica difícil se adaptar a algo que não aconteceu ainda.

Dica da evolução para a melhor estratégia

Mas a observação do mundo natural pode sim nos dar uma dica preciosa que ajude a lidar com essa confusão do dia-a-dia. E a lição é esta: em momentos de mudanças drásticas, sempre os generalistas se dão melhor.

Organismos hiper-especializados são os primeiros a se extinguirem. Isto explica porque neste momento os jornalistas mais polivalentes estão se destacando. Foi-se o tempo que ter uma coluna semanal na Folha de S. Paulo sobre política externa francesa garantia seu futuro.

Os jornalistas agora têm que ser multi-plataforma, com disse na MTV o professor Cláudio Tognolli. Saber escrever artigos, notas, blogs, twitter, editar imagens e sons. Afinal nunca se sabe qual destas mídias prevalecerá. Claro que se algum entusiasta se hiper-especializar no Twitter, achando que este será o futuro do jornalismo, duas coisas podem acontecer com ele: acertar em cheio e ficar com os louros da vitória, ou aparecer algo melhor que o Twitter e ele ter que vender cachorro-quente na esquina.

Então façamos nossas apostas! E que vença o mais sortudo. Afinal quem apostaria que aqueles bichinhos peludos que andavam por entre os pés dos dinossauros um dia dominariam a Terra?!

Robôs são naturais?

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Aquele robô movido pelo pensamento, noticiado no começo da semana, tem dado o que falar até hoje. Muitas pessoas têm discutido as possibilidades dessa tecnologia. E muita gente tem falado que “isto não é natural”. Ler pensamentos seria algo inaceitável por não ser algo da natureza humana.

Vamos então olhar o mundo “natural”. Temos castelos de cupins, represas de castores e até motéis de pássaros, cujos machos constroem e enfeitam ninhos gigantescos que só servem para acasalar, pois os ovos mesmo são chocados em um ninho funcional construído pela fêmea. Chocante, não? Mas são considerados naturais por terem sido feitos por animais.
Às vezes esquecemos da nossa própria natureza animal (que as vezes pode ser uma animosidade, mas nem sempre).

Tudo que estes animais, castores, pássaros e Homo sapiens, construímos não é por acaso, tem uma orientação biológica e cultural. E a cultura é natural. Os rituais e ferramentas que usamos são um aprimoramento de necessidades biológicas básicas. Dawkins pôs um nome nisso: Fenótipo Estendido. Fenótipo é a característica detectável de um organismo, como a forma, cor, fisiologia e também o comportamento. Se nossas ferramentas influenciam tanto o nosso comportamento, eles são parte de nosso fenótipo, ou seja, da característica natural de nossa espécie.

Facas e robôs: ferramentas que são partes de nós
Tenho fixação por facas. Nada psicótico, porque minha fixação é pela funcionalidade delas. Foram as primeiras ferramentas feitas pelo homem e as mais importantes com certeza. Mais do que a roda ou mesmo o controle do fogo. A humanidade sem facas seria completamente diferente. Seria outra espécie, provavelmente. A faca, portanto, é parte integrante da espécie Homo erectus, e foi transmitida aos Homo sapiens pela cultura: um meme (uma idéia que pode se propagar pela cultura, como um gene).
O arqueólogo Lembros Malafouris até mesmo cunhou o termo “mente extendida”(minha tradução), que trata as ferramentas como extensões da mente, assim como um cego é indissociável de seu bastão, e nossa memória está se fundindo ao google como uma muleta.

Ora, a muito que fugimos das savanas que nos criaram e migramos para cidades ou campos que nós próprios construímos. Viver em apartamentos com geladeira e acesso a internet é natural? É natural para nós, Homo sapiens do século 21. E é muito menos natural viver isolado no mato. Ler pensamentos é natural? Se conseguirmos tal façanha, será natural sim. Agora, se será vantajoso, isso é outra pergunta que só o tempo e a seleção responderão. Afinal, quantas “rodas quadradas” não devem ter sido feitas antes da redonda?