Manifesto contra corte do Ministério de Ciência e Tecnologia.

Muito se falou neste corte de 18% na verba destinada ao Ministério de Ciência e Tecnologia.
Veja um resumão aqui no 100nexo e a opinião do Geófagos.
Também o comentário do Carlos Hotta dizendo exatamente o que havia me chamado a atenção: nos EUA onde se afirma que há crise, foi investido mais dinheiro em pesquisa e tecnologia!
Aqui, onde Lula insiste em dizer que não há crise, resolvem cortar o dinheiro da ciência brasileira.
Vai ser do contra assim lá no Palácio do Planalto, hein!
Segue aqui um manifesto organizado por todos os coordenadores dos Institutos Nacionais de Tecnologia, que dependem desta verba para suas pequisas nas mais diversas áreas.
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Ruas pichadas fazem as pessoas jogarem mais lixo no chão


Passar por um lugar pichado faz com que as pessoas joguem mais lixo na rua. É possível?! Sim, o ser humano está novamente de parabéns. Cabecinha influenciável essa nossa.
Num estudo publicado na Science, realizado por um grupo holandês, foram usados vários experimentos muito interessantes para descobrir a influência do ambiente nas nossas ações.

Um deles foi realizado num beco limpo de pichações e sem lixeiras onde havia um estacionamento de bicicletas. Foi colocado um panfleto inútil em cada bicicleta estacionada, e os pesquisadores ficaram vigiando escondidos. De 77 ciclistas, um terço jogou o panfleto no chão.
No dia seguinte, o mesmo beco foi pichado e repetiram o experimento. E dessa vez dois terços dos ciclistas jogaram o papel no chão!
Mais experimentos legais

Outro experimento realizado foi deixar uma nota de 5 euros meio pra fora de uma caixa de correio. 13% de quem passou pela caixa embolsou a nota, mas com lixo por perto da caixa 23% fizeram isto.
Os resultados confirmam uma tese antiga conhecida como teoria da Janela Quebrada, que sugere que ambientes bagunçados e com pequenos delitos, geram mais desordem e comportamentos criminosos.
Limpar para manter limpo
A confirmação desta tese pode ser de grande ajuda para nosso maior entendimento do comportamento humano, principalmente aplicado a praticas públicas. Afinal, este estudo demonstra, de forma bem direta, que um ambiente desordenado tem um efeito sobre as ações das pessoas ali presentes, o que está de acordo com outro estudo feito por Havard, onde em bairros problemáticos na cidade de Lowel em Massachusetts, ações públicas de limpeza e policiamento, tiveram mais efeito em manter a ordem do que serviços sociais ou imposição da lei.
Resumindo: quando as pessoas observam outras transgredindo normas sociais ou regras, elas ficam mais propensas a violar outras normas e regras, permitindo que a desordem se espalhe.
Vi na Science

Salve a macacada alemã!

Pesquisador e pesquisado em Bremen
Pesquisador e pesquisado em Bremen

Olha a briga. A pesquisa com animais na Alemanha é permitida, mas a cidade de Bremen decidiu que os pesquisadores locais não façam mais seus experimentos em primatas. O pesquisador local, o neurocientista Andreas Kreiter, usa 24 macacos para estudar processos cognitivos. Ele grava a atividade de meuronios no cérebro dos macacos enquanto eestes realizam comportamentos específicos. Isso não pode ser feito em outros animais como camundongos, e é necessário que se utilize eletrodos dentro do crânio dos animais.

Que sempre tem gente querendo proibir esse tipo de pesquisa não é novidade. O que se estranha é que de uma hora para outra se mudem os valores morais e legais. Afinal uma comissão julgadora formada por cientistas e representantes de organizações de bem-estar animal analisou a pesquisa, e deram parecer favorável, dizendo que a pesquisa é cientificamente importante e que estava de acordo com as leis de proteção animal.
E agora o governo da cidade quer proibir a pesquisa dizendo que ela não vai ter resultados relevantes ou em tempo curto e que maltrata os animais. Simplesmente o oposto que disse a comissão ética.

O que mudou? A pesquisa, a ética, ou a prefeitura de Bremen que agora é comandada por uma coalizão social democrata + “Partido Verde” alemão?

Vi na Nature

O gene do bom futebol.

Comentando a notícia: Cientista nega existência de “gene de craque de futebol”

Mais uma área caiu na bravata do determinismo genético. Agora até clube de futebol foi atrás de geneticistas para investir em pesquisa e descobrir o “gene do craque”. Assim, as escolinhas de base poderiam incluir testes genéticos para descobrir quem será o próximo Ronaldinho Gaúcho.

Graças a deus, o geneticista Henning Wackerhage tem a cabeça no lugar, e falou que “não há e nem haverá um teste para identificar o próximo Cristiano Ronaldo.”

“Um grande jogador precisa de condições cerebrais, noção de bola, condição física e uma série de coisas nas quais entram em jogo (atentem para o trocadilho “entrar em jogo”) cerca de 500 genes”, diz Wackerhage indicando o impedimento.

Não só isso, meu querido Wackerhage. São 500 genes e treino, muito treino. Afinal, quem disse que a falta de um gene não pode ser compensada com MAIS treino?

Claro que o geneticista não poderia deixar de puxar a sardinha para o seu lado, quando afirma que tendências para esportes menos complexos, como os 100 metros rasos, poderiam ser detectadas no futuro. Só não sei qual critério ele usa para definir um esporte como menos complexo que outro. Cartão amarelo para ele.

E mesmo que tais testes fossem possíveis, não poderiam ser usados por empresas. Muito menos para contratação (como já foi escrito aqui).

Mas que seria desejável um teste genético para selecionar cartolas de futebol, isso seria.

Contaminação de medicação já matou 81. Má fé da China, negligência dos E.U.A.


Heparina, uma droga que serve para afinar o sangue, e é amplamente usada na medicina, principalmente por quem faz hemodiálise, é a pivô desta história macabra.

81 americanos já morreram devido a lotes da droga que estavam contaminados. Acidente? Impossível, pelo número de lotes contaminados (quase um terço). Portanto o FDA (departamento que regula alimentos e medicações nos E.U.A.) já trabalha com a hipótese de contaminação intencional. Parece que a substância contaminante é um equivalente da heparina, só que 100 vezes mais barata.

Subindo na cadeia de distribuição e produção da heparina, chega-se a uma subsidiária chinesa da empresa americana que fabrica a droga. E na busca por descobrir a fonte da contaminação a FDA foi barrada pelo governo chinês: “Se quiserem entrar em nossas fábricas, iremos entrar nas suas também!” é o que dizem.
Inspeções em fábricas estrangeiras é uma praxe no mundo das importações de matéria-prima, mas nem sempre suprem o desejado. Para realizar todas as inspeções necessárias, a FDA gastaria U$255 milhões a mais, anualmente. Este ano ela gastará U$11 milhões.

Fico imaginando com deve ser no Brasil este processo de importação de insumos para saúde. Sinceramente não sei como é, mas eu que não procurei direito ou este tipo de história não interessa a imprensa? Contaminação por produtos importados é algo que nunca aconteceu por aqui? Porque do mesmo jeito que compramos iPods feitos na China, por ser bem mais “balatinho”, também o governo e as empresas compram seus insumos do gigante ex-adormecido. Mas se ele continua fechado da maneira como se mostrou no caso americano, que garantia teremos? Bom, sem querer bancar o hippie pedante, mas já o fazendo, eu digo: é o capitalismo selvagem.

Falando nisso, um adendo “acientífico”:
Em um texto de Slavoj Zizek no caderno Mais!, da Folha de domingo passado, ele fala de um ponto interessante sobre a China. Se economicamente ela der certo, não só ficará o mundo todo dependente dela, mas isto provará que o capitalismo não precisa da democracia para se sustentar. Esta era tida como condição para o capital, mas pode acabar se mostrado desnecessária pelo exemplo Chinês. Acho que a ditadura era assim, não?

Reportagem New York Times

Genes e privacidade: lei americana proíbe discriminação genética


Se você fosse dono de uma empresa e pudesse saber se seu empregado possui uma tendência a uma doença grave no futuro próximo, por exemplo, uma chance 20% maior que a média de ter câncer de próstata, você o contrataria?
E se você fosse o empregado, deixaria que fizessem este tipo de exame em você?

Como eu já disse (não só eu, mas a revista Nature também), os testes genéticos vieram pra ficar. Bacana, medicina preventiva usando os genes: se eu tenho o tipo X do gene, posso ter mais chance de ter câncer. Mas infelizmente a coisa não é tão direta assim. Esta é uma visão simplista, e esta informação genética não pode ser usada ainda dessa forma, pois não temos conhecimento de como nossos genes interagem com outros genes, ou com o seu ambiente dentro ou fora das células.

Mas as empresas, principalmente as de seguro, sabem disso? Mesmo se souberem, elas vão se importar em diferenciar tarifas ou contratações? Por essas e por outras que foi votada na câmara dos senadores dos Estados Unidos o Ato de Não-discriminação por Informação Genética. Se assinada pelo presidente Bush (e é quase certo que será), fica proibida qualquer discriminação baseada na informação genética do indivíduo.

Essa segurança legal torna mais fácil conseguir pessoas que se submetam a testes genéticos com fim de pesquisa, pois atualmente poucas pessoas se sentem seguras para abrir seu código genético, mesmo para pesquisadores sérios e com contratos de sigilo firmados. Afinal, todos os dados coletados de pesquisas vão para um computador, e hoje em dia nenhum computador ligado à internet está a salvo de invasões e roubo de dados.

E estes estudos que são necessários para, justamente, aumentar nosso conhecimento na área e, quem sabe no futuro, poder chegar a testes diagnósticos realmente relevantes e seguros.

Bom saber que já se abriu este precedente para proteger as pessoas de seus próprios genes.

links:
New York Times: Genetic Nondiscrimination Bill Clears Congress
Wired: Genetic Nondiscrimination Bill Clears Congress

Células-tronco embrionárias: o que acontece na Alemanha.

É sempre bom saber como essas questões são tratadas pelo mundo. Aqui um apanhado da situação das células embrionárias na Alemanha, pela agência de notícia Deutsche Welle

Bundestag (Câmara dos Deputados) autoriza cientistas alemães a trabalhar com linhas de células-tronco embrionárias mais novas e de melhor qualidade. Igreja Católica critica a decisão.

Alguns cientistas e políticos alemães consideram ultrapassada a lei que restringe o uso de células-tronco embrionárias na pesquisa científica, mas opositores de uma reforma da lei temem abuso de embriões humanos. (13.02.2008)

Em um gesto favorável aos pesquisadores alemães, o Conselho Nacional de Ética recomendou a flexibilização das restrições legais para que cientistas do país possam realizar pesquisas com células-tronco. (17.07.2007)

O que é feito da dignidade humana, na era da engenharia genética? É possível saber “demais”? A DW-WORLD conversou com Wolfgang van den Daele, do Conselho de Ética da Alemanha. (09.12.2005)

Deu na Nature: Definindo o que é “natural”

de Defining ‘natural’, Nature

Pensando evolutivamente é importante estranhar o que não parece natural. Qualquer coisa fora do comum pode ser perigosa. Mas a origem evolutiva desta resposta também garante que ela será guiada mais pela emoção que pela razão.

Dois exemplos: Thomas Beatie, a mulher que trocou de sexo e agora está grávida, gerou reações muito viscerais nas pessoas. Elogios da apresentadora Oprah e de grupos de minorias sexuais, e revolta, até mesmo nojo, de muitas outras. Sendo que estas últimas alegam que isto não é natural. O que não é natural? Desejar ter um filho? Isto é um desejo humano, natural em homens, mulheres e transexuais. Uma mulher querer ser homem? Comportamento sexual invertido não é raro de achar em humanos ou em não-humanos. Apesar da biotecnologia ser capaz de mudar cada vez mais nossa constituição biológica, ela ainda não criou nada “anormal” por definição.


Outro caso é o do doping mental (já discutido neste blog). Estas drogas têm efeitos colaterais, mas nada muito diferente dos efeitos da cafeína. Mas a “anormalidade” dessas substâncias deixa até mesmo os tomadores de café desconfiados. Dizem que os resultados obtidos com as drogas seriam menos válidas por não serem naturais. Mas afinal, o que é natural? Óculos, aparelhos de audição e próteses também não são naturais. E quanto a provas e exames, seriam os cursinhos preparatórios não-naturais? Deveríamos tirar pontos de quem fez cursinho?

O nosso conceito de natural depende de a que estamos acostumados, e vai evoluir com a tecnologia. Durante o descompasso, já que a tecnologia anda muito mais rápido, não podemos nos distrair das verdadeiras questões éticas, que no caso de Beatie seriam a saúde, a segurança e o emocional da criança. Tentar decidir estes assuntos éticos baseando-se em conceitos fluidos seria estupidez, naturalmente.

Comentando: Cientistas criam primeiros embriões híbridos do Reino Unido

da Efe, em Londres via Folha

Cientistas da Universidade inglesa de Newcastle foram os primeiros no Reino Unido a criar embriões híbridos de humanos e animais, afirmou nesta quarta-feira a “BBC”.

De acordo com a emissora, estes embriões, desenvolvidos a partir da inserção de material genético de células epidérmicas humanas em óvulos sem núcleo de vaca, sobreviveram até três dias.

Veja o que já foi escrito sobre o assunto aqui no RNAm.

Células-tronco: Críticas aos dois lados

Votação adiada, e não se sabe ao certo quem foi o vencedor parcial. Mas algumas análises dos argumentos podem ser feitas.

Gostaria de analisar dois argumentos bem sucintamente. Um a favor e outro contra o uso das células em questão.

A favor do uso – o advogado Luiz Roberto Barroso pede a liberação para que as pesquisas tragam esperança a quem tem urgência de tratamentos ainda inexistentes. Sinto informar, mas nem o mais otimista dos pesquisadores pode dar esperanças para quem já precisa de tratamento. Isto terá que esperar anos para se tornar realidade. Haverá muito o que se estudar e testar antes do tratamento ser disponibilizado, coisa que talvez esta geração não veja. Logo, urgência não é um bom argumento.

Contra o uso – argumento recorrente é o de que a célula inicial é um ser humano por ter todas as informações necessárias para a formação de um indivíduo. Caímos aqui na faceta mais controversa da biologia atual que é o determinismo. É como se todo indivíduo, seu físico e comportamento, dependessem exclusivamente da informação genética. A própria biologia do desenvolvimento é que traz os maiores exemplos de que o genoma é apenas parte de um processo muito mais complexo, onde o ambiente não age só ativando genes, mas determinando de forma mais independente e complexa as características do indivíduo.

Conforme o indivíduo se desenvolve, características surgem, ou emergem, de relações complexas. Ou seja, o indivíduo é produto de interações que se originam de outras interações anteriores. Se a questão for potencialidade, deveríamos nos revoltar pelo genocídio de espermatozóides na masturbação masculina (não estou exagerando, até isto já foi usado como argumento. Vide o blog do Marcelo Leite). É claro que isto é absurdo, mas a resposta da ciência para a pergunta “quando começa a vida” é apenas uma: 3,5 bilhões de anos atrás. Além disto qualquer resposta será de julgamento moral.

Para mais informações atualizadas, estou disponibilizando uma parte de meu netvibes especialmente para células-tronco, com vídeos, noticias e blogs.