Até agora nenhum pesquisador teve sua bolsa revistada ou sua urina coletada, mas mesmo assim a preocupação que tem surgido sugere que uma moda de drogas para aumento da cognição tenha inicio em não muito tempo.
“Apesar dos potenciais efeitos colaterais, acadêmicos, músicos, executivos, estudantes e até profissonais de pôquer têm usado drogas para clarear suas mentes, melhorar sua concentração e controlar suas emoções.”-Baltimore Sun.
O problema está ficando tão sério que existe até uma organização anti-doping cerebral: World Anti-Brain Doping Authority, que ajuda federações a implementar testes de detecção destas drogas, mantém uma lista de substâncias proibidas para uso por acadêmicos e mantém também um código com regras anti-doping. Até mesmo o NIH (Instituto Nacional de Saúde dos EUA, principal órgão financiador de pesquisa de lá) irá adotar tais medidas em colaboração com a World Anti-Brain Doping Authority. Isso inclui testes anti-doping em pesquisadores financiados pelo instituto, tanto no ato da validação do pedido de verba, como a qualquer momento enquanto durar o projeto financiado.
Mas pensemos na diferença do doping esportivo e o intelectual, o que seria importante já que o primeiro parece estar servindo de base para lidar com o segundo. No esporte o que se busca é a paridade, a igualdade na competição. Numa atividade intelectual, a finalidade pode ser mais diversa e talvez mais justificável. Claro que em ocasiões competitivas como vestibulares e concursos o melhor a se fazer seria controlar o uso de drogas como se faz com atletas. Mas fora esta situação, ponderando-se os efeitos colaterais, não há porque impedir o uso de drogas por pesquisadores, músicos e executivos. Claro que todos devem ser alertados, e bem, com relação aos efeitos colaterais, mas onde não há competição cabe a cada um escolher até que limite quer levar seu corpo. Virar noites trabalhando uma vez que esteja empolgado com resultados de sua pesquisa pode ser uma justificativa, e tomar uma pílula para manter a atenção com poucos efeitos colaterais não parece mau negócio.
Poderíamos abrir precedentes e cair na discussão das drogas ilícitas, já que o argumento que usei aqui poderia justificar o uso de drogas como maconha ou extasy. O problema é que a sociedade quer se proteger dessas drogas que alteram em muito o estado de uma pessoa o que pode trazer riscos a outras pessoas. E ainda temos as “drogas” como cafeína e álcool, que vêem agindo como doping intelectual há séculos. Isto tudo só prova que a humanidade ainda não aprendeu a lidar com este assunto.
E logo mais proibirão café, música durante o trabalho e noites viradas no laboratório?
No caso dos cientistas o que está em jogo não é uma querela olímpica vã. Para desenvolver a Ciência, como a ferramenta que ela é para melhor entendermos o mundo, talvez valha tudo sim! Tudo que o pesquisador estiver disposto a fazer por livre e espontânea vontade, levando seu próprio corpo até onde lhe parecer melhor.