Doping cerebral

Muito tem se falado na mídia internacional sobre estimulantes cognitivos, os chamados nootrópicos, ou “smart drugs”. Seu uso sempre foi muito intenso entre estudantes de faculdade por muito tempo, e agora começam a migrar para outras realidades, onde são necessários longos períodos de intenso foco mental, se incluem aí laboratórios de pesquisa científica. Aqui um artigo recente no New York Times.
Até agora nenhum pesquisador teve sua bolsa revistada ou sua urina coletada, mas mesmo assim a preocupação que tem surgido sugere que uma moda de drogas para aumento da cognição tenha inicio em não muito tempo.

“Apesar dos potenciais efeitos colaterais, acadêmicos, músicos, executivos, estudantes e até profissonais de pôquer têm usado drogas para clarear suas mentes, melhorar sua concentração e controlar suas emoções.”-Baltimore Sun.

O problema está ficando tão sério que existe até uma organização anti-doping cerebral: World Anti-Brain Doping Authority, que ajuda federações a implementar testes de detecção destas drogas, mantém uma lista de substâncias proibidas para uso por acadêmicos e mantém também um código com regras anti-doping. Até mesmo o NIH (Instituto Nacional de Saúde dos EUA, principal órgão financiador de pesquisa de lá) irá adotar tais medidas em colaboração com a World Anti-Brain Doping Authority. Isso inclui testes anti-doping em pesquisadores financiados pelo instituto, tanto no ato da validação do pedido de verba, como a qualquer momento enquanto durar o projeto financiado.

Mas pensemos na diferença do doping esportivo e o intelectual, o que seria importante já que o primeiro parece estar servindo de base para lidar com o segundo. No esporte o que se busca é a paridade, a igualdade na competição. Numa atividade intelectual, a finalidade pode ser mais diversa e talvez mais justificável. Claro que em ocasiões competitivas como vestibulares e concursos o melhor a se fazer seria controlar o uso de drogas como se faz com atletas. Mas fora esta situação, ponderando-se os efeitos colaterais, não há porque impedir o uso de drogas por pesquisadores, músicos e executivos. Claro que todos devem ser alertados, e bem, com relação aos efeitos colaterais, mas onde não há competição cabe a cada um escolher até que limite quer levar seu corpo. Virar noites trabalhando uma vez que esteja empolgado com resultados de sua pesquisa pode ser uma justificativa, e tomar uma pílula para manter a atenção com poucos efeitos colaterais não parece mau negócio.

Poderíamos abrir precedentes e cair na discussão das drogas ilícitas, já que o argumento que usei aqui poderia justificar o uso de drogas como maconha ou extasy. O problema é que a sociedade quer se proteger dessas drogas que alteram em muito o estado de uma pessoa o que pode trazer riscos a outras pessoas. E ainda temos as “drogas” como cafeína e álcool, que vêem agindo como doping intelectual há séculos. Isto tudo só prova que a humanidade ainda não aprendeu a lidar com este assunto.
E logo mais proibirão café, música durante o trabalho e noites viradas no laboratório?

No caso dos cientistas o que está em jogo não é uma querela olímpica vã. Para desenvolver a Ciência, como a ferramenta que ela é para melhor entendermos o mundo, talvez valha tudo sim! Tudo que o pesquisador estiver disposto a fazer por livre e espontânea vontade, levando seu próprio corpo até onde lhe parecer melhor.

Via A Blog Around the Clock

Revista lista sete mitos da medicina que enganam até médicos

Do G1, em São Paulo

“Às vezes, até os médicos se enganam”, dizem os pesquisadores ingleses Rachel C. Vreeman e Aaron E. Carroll em artigo publicado neste fim de semana no “British Medical Journal”, na Inglaterra. Segundo o estudo, muitos dos médicos sabem que precisam atualizar seu conhecimento com freqüência, mas acabam não questionando algumas crenças populares relacionadas à saúde.

Os principais mitos são:

As pessoas devem beber pelo menos oito copos de água por dia
“Não existe nenhuma evidencia médica para sugerir essa quantidade específica”, diz o artigo. Segundo os pesquisadores, o mito pode ter surgido em 1945, depois que o Conselho de Nutrição da Inglaterra passou a recomendar oito copos de “fluidos” por dia. A diferença é que esses fluidos incluíam frutas, vegetais, café, leite e outros líquidos. O estudo lembra que o excesso de água pode ser perigoso.

Apenas 10% do cérebro é usado
Normalmente creditada de forma errônea a Albert Einstein, a crença provavelmente surgiu no início do século 20, quando as pessoas queriam incentivar a população a atingir todo seu potencial. Mas ela está longe da verdade segundo estudos recentes. Pesquisas que analisam imagens do cérebro e o metabolismo das células cerebrais apontam para a inexistência de áreas inativas no cérebro.

Cabelo e unhas continuam crescendo após a morte
Impossível. O que acontece, segundo os pesquisadores, é que a pele da pessoa morta se resseca e encolhe, o que faz com que unhas e cabelos fiquem mais proeminentes.

Raspar a cabeça faz o cabelo crescer mais rápido, mais escuro e menos liso
“Fortes evidências científicas negam esta crença”, diz o artigo do British Medical Journal. Um estudo realizado em 1928 de fato comparou o formato de cabelo raspado com o cabelo não-raspado para concluir que ele não cresce mais rápido, nem mais grosso. Os pesquisadores dizem que a aparência de ser mais escuro se dá porque o cabelo mais recente ainda não perdeu cor, o que acontece naturalmente com o tempo.

Ler com pouca luz estraga a visão
É verdade que ler com pouca luz cansa a visão, e pode diminuir temporariamente sua capacidade, mas nenhum estudo encontrou danos permanentes por causa disso.

Comer peru deixa as pessoas sonolentas
O estudo reconhece que muitas vezes as pessoas comem peru e se sentem dessa forma, mas dizem que isso se dá pelo fato de a ave ser normalmente consumida em grandes banquetes e festas, especialmente de fim de ano, acompanhado e álcool e outras substâncias que podem causar sono. O estudo admite que o peru tem triptofano, substância química envolvida no controle do sono, mas diz que a ave tem tanto dela quanto galinhas e mesmo carnes vermelhas.

Celulares podem causar interferência em hospitais
Nenhuma morte foi registrada até agora por causa de interferência de celulares em equipamentos hospitalares, mas de fato já foram reportadas interferências menores e menos sérias. A pesquisa aponta, entretanto, que o uso de celulares pelos médicos melhora o fluxo de comunicação e pode ajudar em seu trabalho de tratar os pacientes.

Com dinheiro e saúde não se brinca.

Em notícia recente, foi divulgado que uma nova droga está funcionando muito bem para o tratamento de câncer, reduzindo em até 75% o tamanho dos tumores em apenas 3 semanas. O que mais chama atenção na noticia, porém, é o fato de que alguém está vendendo esta droga pela Internet. E se ela funciona, qual o problema de comercializá-la, não é mesmo? O problema é que ela ainda não foi testada em humanos!

Não vou discutir a droga em questão na notícia, mas quem trabalha com pesquisa em câncer sabe que existem mil-e-uma substâncias e/ou técnicas que podem reduzir tumores nessa proporção. Mas isto em ratos. Mexer com gente complica um pouco as coisas. Ratos e humanos têm diferenças que não podem ser esquecidas. Primeiro que suas fisiologias não são idênticas, ou seja, o que funciona em um pode não funcionar no outro. Aliás, pode funcionar bem mal. Segundo que homens têm algo que os ratos não têm: advogados. Pessoas que em seu desespero compram um medicamento pela Internet sem a opinião de um médico podem ser as mesmas que processarão uma industria farmacêutica, caso seu antiinflamatório lhes cause um enfarte (caso que ocorreu com o Vioxx).

Um medicamento, para chegar às farmácias, tem que passar por testes e mais testes. São os chamados testes clínicos. Inicialmente uma droga nova é testada em ratos, depois em macacos e aí então se parte para humanos. Começam os testes com no máximo 100 pessoas, não para ver se a droga funciona, mas para ver se a droga não tem nenhum efeito colateral. Acompanha-se de perto os pacientes por um bom tempo até se ter certeza que está tudo bem. Então se passa para mais 1000 pessoas. Ainda aqui o objetivo não é testar a eficiência da droga, mas sim a sua segurança. Após o acompanhamento destes pacientes é que se passa para a outra etapa com mais umas 10 mil pessoas, quando será avaliada a segurança e a eficácia da substância.

Todo esse esforço, tempo e dinheiro se justificam, pois é a segurança dos doentes/consumidores que está em jogo. Além, é claro, da segurança financeira das industrias farmacêuticas. E todos sabem que com dinheiro e saúde não se brinca.
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