Se você estava ligado nas notícias essa semana, deve ter ouvido alguma coisa sobre o caso do metanol. Mas você sabe o que ele é? Qual é a diferença dele para o etanol? E como ele foi parar nas bebidas? Vem com o Sala V para entender!
Camila Satie Kurihara e Mariana Olimpio de Aquino
ETANÓIS!
Nas últimas semanas, surgiram alguns casos de pessoas intoxicadas pela ingestão de bebidas alcoólicas e que sentiram mal-estar e falta de ar. Houve casos evoluindo para cegueira e casos de óbito [1]. Mas, afinal, qual foi o problema?
Essas bebidas estavam adulteradas com metanol, uma substância tóxica para o nosso organismo. Até agora, não se sabe se a adulteração se restringe às bebidas destiladas – como whisky, gin e vodca, por exemplo – mas essas foram as bebidas em que a presença de metanol foi confirmada até o momento [2].
Durante a fabricação dessas bebidas, pode haver de forma não muito frequente, a formação de pequenas quantidades de metanol. Mas, por ser mais volátil, normalmente é evaporado e descartado no processo de destilação. Para verificar e fiscalizar esse e outros processos da fabricação, deve existir um controle de qualidade. Entretanto, as autoridades ainda não podem afirmar se a presença de metanol nas bebidas aconteceu devido a uma contaminação durante a produção ou se ele foi adicionado às bebidas [3,4]. Devido à quantidade e ao mal-estar gerado, a hipótese de adulteração tende a ser válida.
Álcool é tudo igual?
Mas afinal, qual a diferença entre o etanol (o chamado álcool comum), que está presente nas bebidas alcoólicas, e o metanol, que está causando as intoxicações?
Tanto o metanol (CH3OH) quanto o etanol (CH3CH2OH) são álcoois e a estrutura desses dois compostos são parecidas. Na verdade, a principal diferença é que o etanol apresenta um carbono a mais em sua estrutura, mas os efeitos que eles causam no corpo humano são bem diferentes.
O metanol é prejudicial para os humanos, pois o nosso organismo o transforma em outros compostos tóxicos. Ou seja, quando o metanol é metabolizado em nosso organismo, e isso acontece, principalmente, no fígado pela enzima álcool desidrogenase, ele é transformado em formaldeído (CH3O), mais conhecido como formol – esse mesmo que você pode ter pensado que é altamente tóxico e cancerígeno e é usado, ilegalmente, para alisar o cabelo, por exemplo. Após produzido, o formaldeído ainda é transformado, pela enzima aldeído desidrogenase, em ácido fórmico (CH2O2), o qual é o responsável por causar os problemas do envenenamento[5].
Como alguns desses problemas, podemos citar a acidose metabólica, que é o excesso de ácido no sangue, que, mesmo existindo o sistema tamponante para regular o pH sanguíneo, o desequilibra; e lesões do nervo óptico e danos ao sistema nervoso central, já que o ácido fórmico interfere na atividade das mitocôndrias, que são estruturas celulares muito importantes para o funcionamento das células nervosas e muito presentes nas células dos olhos, podendo gerar cegueira e diversos outros problemas [7,8].
É importante dizer ainda, que o etanol, depois de ingerido, também é transformado pelas mesmas enzimas responsáveis por metabolizar o metanol. Entretanto, os produtos gerados pela transformação do etanol são diferentes e menos nocivos para o corpo humano. Primeiro se forma o acetaldeído (C2H4O), que depois é transformado em ácido acético (CH3COOH) – substância do vinagre que temos em casa – o qual pode ser encontrado dissociado em nosso corpo, na forma de acetato (CH3COO–) que, depois de alguns processos, é convertido em gás carbônico (CO2) e água (H2O), que são eliminados pelo nosso corpo [5].
Porém, vale lembrar que o etanol também possui potencial para causar mal à saúde, pois o corpo é capaz de eliminar os produtos formados pelo etanol, mas em baixas quantidades. Além disso, o etanol afeta o sistema nervoso central, deixando os reflexos lentos, e, a longo prazo, o seu consumo está associado a um maior risco de desenvolvimento de câncer (boca, estômago e fígado) e um dos maiores responsáveis pela gordura no fígado, apenas para citar algumas consequências [6].
Meteram o metanol
A principal linha de investigação é que fábricas clandestinas estariam usando o metanol, que é uma substância ilegal no Brasil, para higienizar garrafas. Segundo o governo de São Paulo, 36% das bebidas destiladas no Brasil são adulteradas. Nos últimos dias mais de mil garrafas já foram apreendidas pela polícia e a Vigilância Sanitária, realizando a análise por meio de testes em laboratório [9].
Nenhuma bebida pode ser considerada segura nesse momento de crise, e as autoridades da saúde recomendam evitar os destilados para evitar qualquer risco.
Mas então como se prevenir? Não há como detectar a substância pelo cheiro, cor ou gosto. Então o ideal é evitar bebidas alcoólicas, principalmente as destiladas. Porém, se acontecer, é preciso estar atento aos sintomas, como dor abdominal, visão adulterada, confusão mental e náusea; que podem sim, ser confundidos com os sintomas de embriaguez. Entretanto, em casos de sintomas fora do comum, recomenda-se procurar ajuda médica [9,10].
Por fim, no último sábado (4), o governo brasileiro anunciou a compra de etanol farmacêutico e fomepizol, que são dois antídotos para o envenenamento com metanol. E serão distribuídos para redes públicas e privadas de atendimento à saúde, para todos os casos de suspeita de intoxicação [11].
Fiquem atentos! Continuem falando sobre ciência.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- Redação TV Globo e G1 SP. Notificações de suspeita de intoxicação por metanol sobem para 52 no estado de SP, segundo balanço da Secretaria da Saúde. G1 São Paulo. 02/10/2025. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2025/10/02/notificacoes-de-intoxicacao-por-metanol-sobem-para-52-no-estado-de-sao-paulo.ghtml. Acesso em: 03 out. 2025.
- Vogado, Milena. Metanol: bares de São Paulo suspendem venda de bebidas destiladas. Metrópoles. 03/10/2025. Disponível em: https://www.metropoles.com/sao-paulo/metanol-bares-sp-suspendem-bebidas. Acesso em: 04 out. 2025
- Toledo, Luiz Fernando. Como o metanol aparece na bebida alcóolica — e por que isso gera lucro para alguns. BBC News Brasil. 01/10/2025. Atualizado em 04/10/2025. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cwyw2kwlpj2o. Acesso em 03 out. 2025
- Souza, Felipe. Erro na destilação pode contaminar bebidas com metanol, aponta especialista. CNN Brasil. 03/10/2025. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/sudeste/sp/erro-na-destilacao-pode-contaminar-bebidas-com-metanol-aponta-especialista. Acesso em: 03 out. 2025
- Freitas, Rossimiriam. Por que o metanol é tão tóxico?. Boletim Eletrônico da SBQ. 02/10/2025. Disponível em: https://boletim.sbq.org.br/noticias/2025/n4300.php. Acesso em: 04 out. 2025.
- Hospital Israelita Albert Einstein. Álcool no organismo: saiba o que acontece e como eliminar. Disponível em: <https://vidasaudavel.einstein.br/alcool-no-organismo/>. Acesso em: 6 out. 2025.
- Valbão, Mariana. Como o metanol afeta o cérebro e a visão?. CNN Brasil. 29/09/25. Atualizado em 30/09/25. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/como-o-metanol-afeta-o-cerebro-e-a-visao/. Acesso em: 04 out. 2025.
- Bassette, Fernanda. Entenda como metanol destrói o nervo óptico e pode causar cegueira. CNN Brasil. 01/10/2025. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/entenda-como-metanol-destroi-o-nervo-optico-e-pode-causar-cegueira/. Acesso em: 04 out. 2025.
- Redação G1, G1 SP. Metanol em bebidas alcoólicas: veja o que se sabe até agora sobre casos de intoxicação. G1 São Paulo. 04/10/2025. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2025/10/04/metanol-em-bebidas-alcoolicas-veja-o-que-se-sabe-ate-agora-sobre-casos-de-intoxicacao.ghtml. Acesso em: 04 out. 2025
- Nunes, Camila; Soares, Juliana. Metanol: O que fazer em casos de suspeita de intoxicação. Governo Federal Ministério da Saúde. 01/10/2025. Atualizado em 02/10/2025. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2025/outubro/metanol-o-que-fazer-em-casos-de-suspeita-de-intoxicacao. Acesso em: 04 out. 2025.
Tenente, Luiza; Vespa, Talyta. Entenda como funcionam os antídotos contra metanol comprados pelo governo. G1. Disponível em: <https://g1.globo.com/saude/noticia/2025/10/04/entenda-como-funcionam-os-antidotos-contra-metanol-comprados-pelo-governo.ghtml>. Acesso em: 6 out. 2025.


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