Texto escrito por Cyntia Almeida.
Quem nunca escutou a frase “toma um chazinho que melhora” ou “conheço alguém que usou tal tratamento natrural”, são diálogos muito comuns no nosso cotidiano, mas será que os medicamentos naturais não apresentam perigos? O fato de ser algo natural garante 100% de segurança?
As plantas medicinais são usadas “desde que o mundo é mundo”, como diria o ditado, todos já vimos alguém recomendar, fazer uso ou nós mesmos consumimos, muitas vezes sem procurar saber se os benefícios são reais ou se o uso deste apresenta algum tipo de risco.
Nos últimos anos a ideia de evitar o consumo de química ou então que algo faz mal por ter “química”, é algo que tem incentivado muito o uso de produtos naturais ou de shakes que não apresentam a temida “química”. Para desenvolver esse texto primeiro precisamos combater essa ideia, é importante saber que tudo, absolutamente tudo, o que consumimos possui química, isso inclui as plantas ou os tratamentos naturais, todos eles possuem compostos químicos, que vão reagir de alguma maneira no organismo.
Cerca de 80% da população mundial faz uso de tratamentos com plantas medicinais, devido ao baixo custo e o fácil acesso, afinal está no quintal ou na casa de um conhecido. Além disso, os saberes populares reforçam o uso das mesmas, sendo estes carregados de geração em geração.
No Brasil as plantas medicinais apresentam a mesma miscigenação que a população, segundo a Embrapa, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, as ervas conhecidas no país são resultados da mistura cultural que existe na sociedade, envolvendo desde as plantas conhecida pelos índios que já estavam aqui na chegada dos portugueses, passando pelo conhecimento europeu que vem junto com a colonização, incluindo o conhecimento africano oriundo do período escravocrata brasileiro, e assim por diante, e aumentando conforme novos conhecimentos vão chegando ao território.
Planta é remédio?
Segundo a Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, sim, existem plantas medicinais, e essas são tradicionalmente usadas como tratamentos de determinadas doenças ou para aliviar sintomas específicos, algo que a agência ressalta é que para o uso dessas plantas é preciso conhecer a mesma e saber como cultivá-la, além da maneira correta de colher e a quantidade apropriada para uso, já que o uso excessivo pode apresentar riscos à saúde.
Além do uso conhecido pelo cultura popular, que é passado ao longo dos anos, as plantas medicinais passaram a ser usadas no desenvolvimento de medicamentos pelas indústrias farmacêuticas, no momento que essa erva passa por um tratamento industrial, esse produto, feito com matéria prima natural e sem apresentar substâncias que sejam diferentes do insumo, passa a ser chamado de medicamento fitoterápico. Esse processo apresenta benefícios para o consumidor, garantindo que a planta tenha sido cultivada como deveria, impedindo contaminação no medicamento e assegurando o uso da dosagem correta.
Perigos escondidos.
Apesar de serem naturais, quando não cultivadas e tratadas da maneira correta as plantas medicinais podem apresentar alguns riscos para a saúde. As doenças geradas pelo consumo de ervas alimentares e medicamentosas , conhecidas popularmente como “intoxicação alimentar”, ocorrem devido à contaminação por bactérias, parasitas, toxicidade, metais pesados, além dos perigos que já conhecemos como o uso excessivo de agrotóxicos e dos temidos produtos químicos.
Assim como as plantas alimentícias, as ervas medicinais estão sujeitas a ataques de fungos e parasitas (organismos que dependem de outros para sobreviver, assim retirando nutrientes do hospedeiro e o prejudicando). No entanto, segundo a Embrapa, os produtos usados no combate a essas visitas indesejadas no plantio de alimentos não podem ser usados no medicinal, pois a concentração dessas substâncias, quando se trata de remédios, pode gerar grandes riscos a saúde de quem os consumir, ou seja, a toxicidade dessa proteção é maior para esse caso.
Outro perigo enfrentado por essas ervas é o plantio inapropriado, onde a mesma não consegue se desenvolver corretamente, devido a falta de nutrientes no solo, clima inadequado ou o trato que ela necessita, esses fatores afetam o desenvolvimento e consequentemente seu desempenho. Além desses riscos, existe a ameaça do solo estar contaminado com metais pesados, no cotidiano o ser humano deve consumir uma determinada quantia desses compostos, porém, quando consumidos em excesso os mesmos oferecem riscos à saúde, pois prejudicam o transporte de nutrientes pelo organismo.
Existem ainda os riscos da contaminação biológica, que podem acontecer antes da colheita, devido a água contaminada com bactérias, adubos que são produzidos de maneira inadequadas ou uso de matérias inapropriadas para enriquecer o terreno, sendo que estes podem estar contaminadas por microorganismo patogênicos (expelidos pelas fezes). O possível contágio também ocorre após a colheita por meio da má manipulação humana, que engloba a limpeza mal feita, transporte e embalagens sujas.
A secagem da planta se feita de maneira incorreta, também acaba por prejudicar o consumo das mesmas, pois gera perda da qualidade do produto, ao apresentar uma porcentagem alta de umidade permite o desenvolvimento de microorganismo. Quando realizada de modo inadequado para determinados tipos de ervas ocorre a danificação dos componentes químicos, além da cor, sabor e odor.
Nem tudo está perdido.
Nos últimos anos foram desenvolvidos métodos de controle de pragas para essas plantas com o uso de pesticidas naturais, outro fator que pode ser explorado para evitar e disseminação de parasitas é o plantio espaçado, onde cada muda possui seu espaço, irrigação e fertilização, o que diminui as chances de contaminação. Para o plantio seguro e livre de alteração dos níveis de metais pesados, o terreno deve ser analisado ou então a planta pode ser cultivada em vasos, fazendo uso de terra apropriada para o plantio.
Uso de água com o devido tratamento e sem contaminantes, nesse caso vale ressaltar que é necessária uma boa política de saneamento básico para garantir que todos tenham acesso a água tratada. Outro fator que deve ser levado a sério e realizado da maneira correta é a compostagem dos adubos, evitando assim a presença de microorganismos indesejados.
Quanto mais pesquisas, seguras, testadas e aprovadas pelos órgãos regulamentares sobre plantas medicinais, maior será o acesso confiável da população a esses tratamentos de fácil acesso.
Assim, as plantas medicinais podem ser usadas, porém de maneira cautelosa, com quantias que irão garantir tratamento e não intoxicação, com ervas cultivadas de modo correto e sem riscos de contaminação.
Referências:
FIRMO, W. et al. Contexto histórico , uso popular e concepção científica sobre plantas medicinais. Caderno de Pesquisa. V. 18. n. especial. 2011. Disponível em: <http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/cadernosdepesquisa/article/view/746/2578>
MOREIRA, T. SALGADO, H. PIETRO, R. O Brasil no contexto de controle de qualidade de plantas medicinais. Revista Brasileira de Farmacologia. Julho. 2010. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rbfar/a/Jff79JxJ8RktS6ryT7WDXHj/?format=pdf&lang=pt>
CARVALHO, L. COSTA, J. CARNELOSSI, M. Qualidade em plantas medicinais. Embrapa. Dezembro. 2010. Disponível em: <https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/884897/1/doc162.pdf>
Ministério da Saúde. Anvisa. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC. N. 26. Maio. 2014. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2014/rdc0026_13_05_2014.pdf>
Ministério da Saúde. Anvisa. Medicamentos fitoterápicos e plantas medicinais. Outubro. 2020. Disponível em : <https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/medicamentos/fitoterapicos>


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