Mais do que nunca, é tempo de fazer recomendações aos leitores. Dessa vez trago alguns canais do YouTube, um aplicativo artístico e um reality sul-coreano.

Netflix

O JOGO DO DETETIVE": REVIEW DO PROGRAMA DE VARIEDADES COREANO DA ...

O Jogo do Detetive [2018/2019 | 2 temporadas | Coreia do Sul] — Vamos começar pelo ponto fraco: este é um programa que deveria ter um título curioso e instigante, mas O Jogo do Detetive da versão brasileira já entrega tudo: trata-se de uma série de jogos que envolvem detetives. Se fosse só isso, claro, não teria graça. A graça está numa combinação inteligente de jogos mentais e físicos, na boa química do elenco e no formato: esta produção da Netflix sul-coreana é um misto de reality e game show, com uma narrativa híbrida. Isso quer dizer que, embora exista um roteiro, há bastante espaço para os imprevistos. Os jogos que precisam ser resolvidos pelos detetives — jogos de palavras, relações numéricas, decifração de códigos e pistas, dedução e busca de suspeitos — são obviamente planejados pela produção mas só são conhecidos pelo elenco à medida que eles trabalham na solução do caso de cada episódio (cujas durações são bastante variáveis, de 62 a 97 min.) cheio de surpresas e momentos cômicos. Dito isso, podemos passar à apresentação dos detetives e da trama básica do programa.

Uma equipe formada por sete celebridades passa a fazer parte do Projeto D, cujo objetivo é criar super-detetives através da implantação de chips em humanos — algo nobre mas que não dá muito certo e atrai a atenção de figuras obscuras. O líder do projeto é um homem misterioso, identificado apenas como K (Ahn Nae-sang), que reúne os investigadores e passa os mistérios que precisam ser solucionados. Os sete famosos são Yoo Jae-suk (apresentador de TV), Ahn Jae-wook (ator), Kim Jong-min (cantor e apresentador), Lee Kwang-soo (ator), Park Min-young (atriz), Oh Se-hun (cantor, membro do EXO) e Kim Se-jeong (cantora). Embora representem a si mesmo, essas personalidades também interpretam papeis mais ou menos definidos: Jong-min e Kwang-soo formam um par de idiotas, Jae-wook atua como se fosse um ex-agente policial, Min-young, Se-jong e Se-hun são os galãs geniais e Jae-suk tenta atuar como um líder da equipe (muitas vezes sem sucesso).

Entre os casos a ser resolvidos na primeira temporada estão uma morte encenada que se torna real, uma caça ao tesouro na Ilha de Jeju, o assassinato de uma colegial que aparenta enviar mensagens póstumas, uma investigação entre curadores rivais de um museu, o desaparecimento de um mágico pouco antes de seu grande espetáculo e a desaparição do próprio K.  Num dos episódios, a suspeita recai sobre um dos detetives, o que explica o título original, 범인은 바로 너 (beomineun baro neo, literalmente O Criminoso é Você).

Também conhecida como Busted!, essa foi a primeira produção 100% coreana da Netflix e mostra um cuidado especial com as audiências estrangeiras: diferente de outros programas de variedades coreanos, este tem uma tela menos poluída com texto e quando a linguagem escrita aparece, seja para dicas ou pistas para os espectadores, usa-se o inglês. Nesse sentido, a legenda faz um bom trabalho ao adaptar as siglas e pistas envolvidas nos jogos com palavras. Lançada no final do ano passado (com algum atraso), a segunda temporada traz basicamente o mesmo elenco e proposta, mas em episódios mais curtos. Trailer com legendas em inglês:


YouTube

A Capella Science quem disse que arte e ciência não combinam? Pelo contrário: quando as duas se juntam, criam coisas que ao mesmo tempo ensinam e divertem. Um bom exemplo são os clipes deste canal, que usa músicas populares para expor conceitos científicos: o Bóson de Higgs no ritmo de Adele, a ciência da luz inspirada no Rei Leão, um coro natalino sobre animais, exoplanetas com Aladdin, biologia evolutiva de Despacito e bioquímica numa paródia de Ed Sheeran são alguns destaques dos 20 e poucos videoclipes científico-musicais deste canal criado pelo músico nerd Tim Blais — que recentemente passou a fazer lives intituladas “Isolate Together”. Destacamos aqui o vídeo sobre nanorrobôs em ritmo de Havana:


A Matemaníaca — paradoxos, multiplicação de matrizes, caos. A matemática parece ser um tema bastante difícil para apresentar nos vídeos curtos do YouTube, mas Julia Jaccoud tira de letra (e números) esse desafio. Além de explicar conceitos e regras de forma simples (mas sem simplificar demais), a Matemaníaca faz vídeos em que trata de carreiras científicas, dicas sobre o ENEM, o papel das mulheres na ciência e em que propõe desafios lógico-matemáticos. No vídeo a seguir, Ju nos apresenta alguns problemas não-resolvidos da matemática:


Bob Ross — existem professores, inclusive de arte, que ficariam zangados se seus alunos caíssem no sono. Para Bob Ross, porém, isso era quase um elogio. Nascido na Flórida, teve uma carreira militar no Alasca mas se encontrou ao descobrir que levava jeito para pintar (com a técnica conhecida como wet on wet, que trabalha com tintas sempre úmidas) e mais ainda para ensinar a pintar. Nos anos 80 e começo dos anos 90, Ross ganhou fama nacional quando passou a apresentar The Joy of Painting, um telecurso de pintura na PBS (a TV Cultura dos EUA). Com um cenário simples, uma voz suave, telas de temas relaxantes e às vezes até algum animalzinho fofo resgatado por ele, Ross tanto inspirava as pessoas a aprender a fazer arte quanto a se esquivar das más notícias da TV e pegar no sono. Nos últimos anos, as quase 30 temporadas de seu programa de meia hora passaram a ser disponibilizadas em seu canal oficial no YT. Mesmo que os episódios estejam apenas em inglês, não é difícil acompanhar a icônica fala mansa de Ross e entender como sua técnica funciona — dá vontade de começar a sair batendo o pincel por aí. Como é difícil escolher um vídeo só para representar as centenas de episódios disponíveis, deixo aqui um dos últimos que vi:


Centro Storico Fiat — com mais de 100 anos, a FIAT tem uma longa história para contar. Esse é o objetivo deste canal, que embora não seja oficial, faz um excelente trabalho ao divulgar os arquivos de vídeo da fábrica italiana. Ali encontramos anúncios de TV antigos, pequenos documentários sobre o desenvolvimento de alguns modelos e técnicas, filmes de promoção interna para as concessionárias e registros da participação da montadora em provas automobilísticas ou no meio militar. Há, ainda imagens da construção de fábricas, de testes de automóveis e equipamentos, além do dia-a-dia dos funcionários da montadora. Embora seja mais conhecida entre nós pelos carros, especialmente os populares, este canal mostra-nos uma FIAT envolvida em ramos tão diversos quanto a fabricação de caminhões, tratores, utilitários, esportivos e até veículos elétricos e ferroviários. São centenas de vídeos, a maioria dos anos 1950 a 1990, com narração italiana — mas como é uma multinacional, há alguns em inglês, alemão, espanhol, turco, polonês e até português. No vídeo abaixo, um pequeno filme celebra o lançamento do Fiat 500 em 1957, que hoje é um clássico:


Aplicativo

autodesk-sketchbook | Reliable Softwares

Autodesk Sketchbook [App | Android & Windows] — Para fazer ilustrações digitais, você não precisa necessariamente ter um equipamento sofisticado — basta ter um bom smartphone, uma caneta touch e este aplicativo (que tem cerca de 100 MB na versão móvel). Dos mesmos criadores do AutoCAD, o Sketchbook pode ser gratuito ou pago, mas essa diferença já não é muito grande. Desde o ano passado a versão grátis conta com a ampla gama de pincéis da completa: dos tradicionais lápis, borracha, caneta e borracha aos gizes pastel, texturas e famílias para uso artístico ou técnico.

O principal destaque é poder trabalhar com as versões digitais das famosas canetas Copic — usadas por ilustradores profissionais — e sua grande paleta de cores, identificadas por nomes de fácil memorização, como Antwerp Blue, Lightning Yellow ou o verde Malachite. Entre as ferramentas, o Traço Preditivo (que suaviza as linhas) e a Grade de Perspectiva podem facilitar o trabalho do desenhista iniciante. De maneira semelhante ao Photoshop, é possível trabalhar com camadas e diversos métodos de mesclagem entre elas.

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Um exemplo da interface que costumo usar na versão desktop do Sketchbook – nesse caso com uma foto recém-colorizada.

Embora tenha explorado algumas possibilidades de ilustração, o Sketchbook virou minha paixão por permitir fazer facilmente algo que sempre quis aprender: colorizar fotos antigas. Para isso, basta ter uma imagem de boa qualidade, uma caneta touch e saber trabalhar com as camadas. O ideal é que cada cor fique numa camada à parte e, dependendo da iluminação ou textura do objeto, receba um tipo de mesclagem diferente. Vou explicar melhor esse processo em artigo a ser publicado em breve, com alguns exemplos de colorização que já fiz.

Esse tipo de trabalho fica mais fácil na versão Windows do Sketchbook. Além de permitir uma área de trabalho maior e mais zoom nos detalhes, essa versão também conta com uma interface melhor, já que não é preciso ficar abrindo e fechando janelas e pop-ups a todo momento para mudar configurações de cores e pincéis.

Entretanto, por mais que eu adore o Sketchbook, não posso deixar de mencionar alguns pontos fracos. O aplicativo móvel, mesmo em português, só exibe os nomes das cores e algumas informações em inglês. Mesmo que seja grátis, uma tradução incompleta é uma falha imperdoável para uma empresa do nível da Autodesk. A versão para Windows só funciona em arquiteturas x64 (64 bits) — então, se você tem um PC ou notebook mais simples, de 32 bits, melhor desistir.

Mesmo que tenha uma máquina adequada, a usabilidade com mouse pode ser um saco (como, aliás, costuma ser com outros programas do gênero). Nesse caso, é melhor complementar seu computador com uma mesa digitalizadora ou adquirir um notebook híbrido, que tem tela sensível ao toque e pode ser usado com tablet — apesar de mais caro, preferi a segunda opção. Por fim, em tempos de portabilidade e fácil interação ente dispositivos, o Sketchbook deixa a desejar nesse aspecto: não é possível começar um projeto no celular e desenvolvê-lo no computador, por exemplo — mas talvez essa limitação seja exclusiva da versão gratuita.