Cognição Social

A cognição social é um campo da psicologia social que investiga a forma como as pessoas compreendem as outras pessoas e elas mesmas (Fiske e Taylor, 2008). Surgiu do interesse de psicólogos sociais pela psicologia cognitiva, que começaram a utilizar os modelos cognitivos para entender os processos básicos subjacentes às interações sociais. Essa área de pesquisa tem como aspectos básicos:
  • o mentalismo, que confere importância aos processos e representações mentais;
  • a formação, operação e mudança dos processos cognitivos dentro dos contextos sociais;
  • a utilização de métodos, teorias e modelos desenvolvidos em outras áreas pela psicologia social, como a psicologia cognitiva e a neurociência social cognitiva;
  • a aplicação ao mundo real (aplicação à temas como comportamento de ajuda, preconceito, esteriótipos, relacionamentos íntimos e outros).

No decorrer da pesquisa em cognição social, vários modelos de “pensador social” foram utilizados. Nas décadas de 50 e 60 a visão dominante era de que as pessoas buscavam consistência entre suas cognições, e eram motivadas pelas inconsistências entre elas (Fiske e Taylor, 2008).

Essa visão era decorrente de várias teorias criadas a partir das pesquisas em mudança de atitude, predominantes depois da Segunda Guerra Mundial, como a da dissonância cognitiva de Festinger e a teoria do balanço de Heider.

Nessa visão, as pessoas tinham como funcionamento básico a busca por consistência (e.g. Uma pessoa fuma e sabe que isso fará mal a ela. Isso cria uma inconsistência entre suas cognições “fumar faz mal à saúde” e “cuido da minha saúde”. O passo seguinte será no sentido de diminuir ou acabar com essa inconsistência, incluindo uma cognição como “fumar me deixa feliz, e, portanto, tem consequências positivas para minha saúde”). Esse tipo de visão não considerou que certas inconsistências poderiam não ser percebidas como inconsistências pelo indivíduo.

Na década de 70 o ser humano passou a ser visto como um cientista leigo, que busca controle e predição sobre o seu contexto, de forma analítica e racional. O ser humano, de um modo geral, tem uma grande série de limitações que não permitem tanta racionalidade no julgamento e comportamento como essa visão o conferiu. Na década seguinte foi pensado no “avaro cognitivo”, onde os seres humanos seriam muito limitados e usariam atalhos mentais sempre que pudessem no sentido de obter soluções rápidas para seus problemas.

A visão do ser humano como um “tático motivado” predominou nos anos 90, em que o pensador social seria engajado no seu pensamento, tendo à sua disposição múltiplas estratégias cognitivas, que conscientemente ou inconscientemente escolhe entre elas baseado em suas metas, motivações e necessidades.

Nem sempre seremos tão engajados, deliberados ou racionais na forma como agimos ou pensamos, e nesse sentido, a visão de homem com o início do século XXI se modifica novamente, construída a partir de todas visões anteriores, no que foi chamado de “atores ativados”.

O ambiente social daria pistas de conceitos sociais, sem a consciência do indivíduo, e, quase inevitavelmente, também daria pistas de cognições, avaliações e motivações associadas. Nenhuma das visões é vista hoje como completa e correta, mas as observações feitas construiram uma visão mais rica do ser humano, enfatizando diferentes aspectos.

Um dos resultados dessa evolução de pensamento foi o modelo de processamento dual, que se tornou predominante nessa área de pesquisa e visa explicar a diversidade de pensamentos, sentimentos e comportamentos entre as pessoas.

Esse modelo integrador se baseia em um continuum de processamento da informação social que vai de um nível mais automático a um mais controlado, onde múltiplas variáveis irão influenciar o nível de processamento da informação social, e, consequentemente, o comportamento.

Em determinadas circunstâncias haverá um processamento mais automático, resultando em comportamentos onde o indivíduo não deliberou ou tem grande consciência das motivações ou das consequências de realizar tal conduta; em outras, haverá um processamento mais controlado, onde a deliberação e consciência se tornam mais presentes. Para a cognição social, os diferentes níveis de análise são essenciais para o entendimento do ser humano: o cérebro importa e a cultura importa.

Referências:
Fiske, S. T., & Taylor, S. E. (2008). Social cognition: From brains to culture (1 ed.). New York: McGraw-Hill.

Discussão - 8 comentários

  1. [...] idéias principais do filme também podem ser pensadas a partir da pesquisa em cognição social e do paradigma experimental de priming, ja discutidos anteriormente no blog. Os psicólogos sociais [...]

  2. [...] sobre cada detalhe das nossas ações antes de realizá-las. Isso é o que vários estudos em Cognição Social tem investigado nos últimos [...]

  3. [...] do Teste de Associação Implícita (Implicit Association Test), um instrumento muito usado em Cognição Social para estudar preconceito implícito. Além disso, foi avaliado se uma prevalência mais modesta de [...]

  4. [...] social”, Lewin já dava as primeiras dicas para o desenvolvimento posterior da cognição social, enfatizando a importância do “significado psicológico” que determinadas situações [...]

  5. [...] (UCP) abriu um programa de pós-graduação em psicologia, com a área de concentração em cognição social. Foi com muita alegria e entusiasmo que eu e Marcus recebemos esta notícia, assim como alguns [...]

  6. Gostei do resumo muito produtivo!

  7. […] Fontes: About.com: Marketing Research ; Cognição Social […]

  8. […] ao entendimento e previsão de como as pessoas pensam e se comportam. São mais voltadas para a cognição social ou para a chamada psicologia do senso comum (folk […]

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