As Aparências Enganam?

Comumente criamos impressões das pessoas com quem interagimos de forma espontânea, automática, rápida, inconsciente e com mínimo esforço cognitivo (Olivola e Todorov, 2010; Ballew e Todorov, 2007; Carlston e Skowronski, 2005), levando em consideração muitas vezes a primeira coisa que vemos nelas (Hassin e Trope, 2000) , por mais que não seja uma característica importante para fazer o julgamento.

Realizar tal inferência tem a vantagem de rapidamente nos fornecer informações relevantes para saber como interagir e o que esperar das outras pessoas. Apesar da informação inicial servir como parâmetro para avaliar posteriores informações adicionais, a impressão pode ser radicalmente mudada.

Do ponto de vista evolutivo, foi uma característica extremamente adaptativa para a nossa espécie detectar rapidamente ameaças ou oportunidades proporcionadas por outras pessoas, tendo em vista seu grande valor reprodutivo. Evidência disso é o achado de um estudo em que participantes perceberam mais rapidamente e com precisão faces masculinas como bravas e faces femininas como felizes (Becker, Kenrick, Neuberg, Blackwell e Smith, 2007).

Muitos estudos indicam que essas impressões têm um importante impacto nas decisões que as pessoas tomam em importantes domínios como na escolha de parceiros sexuais, na política, nos negócios, na ciência forense e no exército (Olivola e Todorov, 2010). Mas até que ponto essas inferências são eficientes?

As primeiras impressões são muito precisas levando em consideração as poucas informações nas quais elas se baseiam (Vannestem, Verplaeste, Van Hiel. e Braeckman, 2007). Porém a utilização das informações erradas aliadas a um pensamento enviesado pode ter consequências negativas em várias situações, como quando uma mulher pensa ter encontrado o amor de sua vida e ele na verdade só estar interessado em roubar o seu dinheiro.

ResearchBlogging.orgFrequentemente nós não temos consciência das reais causas dos nossos comportamentos. Nos enganamos muitas vezes na ilusão de compreender bem o que influência nossos comportamentos e o porque pensamos o que pensamos. Nisbett e Wilson (1977) chegam a afirmar que as pessoas tem pouco ou nenhum acesso aos seus processos cognitivos. Podemos ficar muito nervosos com alguém aparentemente sem reais motivos para tanta exaltação. Uma racionalização possível de um comportamento dessa natureza poderia se concretizar na frase: “mas ele fez por onde”, quando na verdade o ataque de nervosismo ocorreu devido  um longo período sem se alimentar ou à irritação advinda da falta de sono na noite anterior.

Logo, podemos criar e comumente criamos uma impressão errônea de uma situação devido às nossas limitações perceptivas e cognitivas. Conhecer essas limitações é importante para não nos deixarmos levar pelas dicas mais óbvias da situação e tentar explicar o comportamento naquele momento além do que nós somos capazes, pois isso frequentemente nos levará a um erro.

Referências:

Ballew CC 2nd, & Todorov A (2007). Predicting political elections from rapid and unreflective face judgments. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 104 (46), 17948-53 PMID: 17959769

Becker, D., Kenrick, D., Neuberg, S., Blackwell, K., & Smith, D. (2007). The confounded nature of angry men and happy women. Journal of Personality and Social Psychology, 92 (2), 179-190 DOI: 10.1037/0022-3514.92.2.179

Carlston, D., & Skowronski, J. (2005). Linking versus thinking: Evidence for the different associative and attributional bases of spontaneous trait transference and spontaneous trait inference. Journal of Personality and Social Psychology, 89 (6), 884-898 DOI: 10.1037/0022-3514.89.6.884

Hassin, R., & Trope, Y. (2000). Facing faces: Studies on the cognitive aspects of physiognomy. Journal of Personality and Social Psychology, 78 (5), 837-852 DOI: 10.1037//0022-3514.78.5.837

Nisbett, R., & Wilson, T. (1977). Telling more than we can know: Verbal reports on mental processes. Psychological Review, 84 (3), 231-259 DOI: 10.1037//0033-295X.84.3.231

Olivola, C., & Todorov, A. (2010). Fooled by first impressions? Reexamining the diagnostic value of appearance-based inferences Journal of Experimental Social Psychology, 46 (2), 315-324 DOI: 10.1016/j.jesp.2009.12.002

VANNESTE, S., VERPLAETSE, J., VANHIEL, A., & BRAECKMAN, J. (2007). Attention bias toward noncooperative people. A dot probe classification study in cheating detection Evolution and Human Behavior, 28 (4), 272-276 DOI: 10.1016/j.evolhumbehav.2007.02.005

 

Discussão - 4 comentários

  1. Hugo Dias Perpétuo disse:

    Olá, André. Belo texto. É como diz o poeta alemão Bertold Brecht"Do rio que tudo arrasta,diz-se que é violento.Mas ninguém chama violentasàs margens que o comprimem."

  2. André Luiz disse:

    Obrigado pelo comentário Hugo!Gostei da citação, não conhecia.Seria um ótimo começo para esse texto!um abraço,André

  3. Natasha disse:

    Eu gostei do texto =)But I must admit, eu tava esperando que você explicasse a primeira foto! Hahaha. Fiquei curiosa =)Beijos!

  4. André Luiz disse:

    hahahavaleu pelo comentário Natasha, que bom que gostou.Há mais de uma interpretação para essa imagem (motivo esse que determinou a escolha dela, claro). Pode ser apenas um lenhador pedindo carona, um serial killer buscando uma vítima.. vai saber.. =)beijoss!

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