Comportamento Prosocial

Da década de 60 pra cá houve uma retomada crescente da pesquisa sobre o comportamento prosocial, que hoje se estabeleceu como uma linha de pesquisa rica e foco de atenção de profissionais de diferentes áreas como a biologia, antropologia, sociologia, psicologia e neurociências.

O assassinato de Kitty Genovese no início do anos 60 foi um grande destaque na mídia. Voltando para casa após o expediente, no bairro de Queens, em Nova York, ela foi atacada e brutalmente assassinada. O assassinato durou cerca de 45 minutos e ocorreu ao lado de um prédio, onde mais tarde 38 moradores admitiram ter ido à janela por ouvir os gritos de socorro, mas nada fizeram para ajudá-la.

A pergunta era: por que essas pessoas não fizeram algo para ajudar? Várias explicações foram sugeridas, como o fato de Nova York ser uma grande metrópole, o que gerava uma visão desumanizada e indiferente ao sofrimento alheio. Esse acontecimento reaqueceu o interesse no tema de ajuda, e muitos estudiosos se dedicaram ao tema.

Comportamento prosocial é o termo usado para se referir a uma categoria ampla de ações definidas pela sociedade como geralmente beneficientes para outras pessoas (deve haver um benefeciador e um benefeciado) e para o sistema político vigente (ou seja, não tem um caráter universal).

Exemplo do não-universalismo de um comportamento prosocial é a dilaceração do clitóris de mulheres em regiões da África. No entendimento dessas culturas, tal procedimento é feito pelo bem da mulher, que poderia se tornar uma prostituta e ter dificuldade para se casar caso isso não fosse feito. Como o conceito de comportamento prosocial é muito amplo, devemos dividí-lo em três subcategorias de comportamento: comportamento de ajuda, altruísmo e cooperação (Dovidio, Piliavin, Schroeder e Penner ,2006).

O conceito de comportamento de ajuda é uma ação que tem como consequência prover algum benefício ou melhorar o bem-estar de outra pessoa, mesmo que a pessoa que ajude nunca tenha conhecido a pessoa que ajudou, como ocorreu nas doações feitas após catástrofes ambientais, em diferentes países.

Já no altruísmo, a ação é realizada pela pessoa sem a antecipação de recompensas por fontes externas por ter ajudado; ajudar simplesmente com o intuito de beneficiar alguém, sem benefícios para si mesmo, porém podendo envolver custos a essa pessoa. Essa conceitualização é problemática, e muitos ofereceram insights sobre o tema.

Batson propôs que o conceito de altruísmo se focasse nas motivações para o comportamento, e não nas ações em si. Ele afirmou que a diferença mais importante a ser feita era entre preocupações egoístas e preocupações altruístas. Devido à dificuldade de medir a motivação de uma pessoa, torna-se uma tarefa complexa identificar um comportamento altruista. Um exemplo seria o de uma pessoa que entra em um prédio pegando fogo para salvar uma criança que não consegue sair.

A pessoa entrou no prédio por uma preocupação pelo bem estar da criança? Para depois poder ser vista como um herói e reconhecida socialmente? Para se livrar do sentimento de culpa que surgiria caso ela não tivesse feito nada para ajudar? Buscar uma motivação única e causal é um exercício ingênuo, porém será que alguma dessas motivações ocorre primeiro e é mais importante que outras? Os estudos de Batson apontam para o argumento de que, em determinadas situações, a motivação principal para ajudar pode ser melhorar o bem-estar de outra pessoa.

Alguns economistas conceituam altruísmo em termos dos custos do ato para quem o realiza. Biólogos e etologistas geralmente entendem altruísmo como uma ação que aumenta a probabilidade de que parentes geneticamente próximos conseguirão se reproduzir e passar adiante seus genes. O que fica claro desse panorama é que ainda existe uma grande falta de consenso sobre o que é de fato o altruísmo (Dovidio, Piliavin, Schroeder e Penner ,2006).

A cooperação ocorre quando pessoas trabalham em grupo para alcançar um objetivo em comum que irá beneficiar a todos eles. Exemplos disso são equipes de trabalho, times de futebol e grupos de pesquisa. Existem formas de comportamento prosocial mais comuns e sutis no dia a dia de qualquer pessoa.

Uma outra proposta de subcategoria de comportamento prosocial é o comportamento de civilidade, que é um tipo de conduta relacionado a um conjunto de normas sociais implícitas que guiam as interações das pessoas em diferentes situações, podendo ser melhor entendido na prática através da palavra “gentileza”. Exemplos desse tipo de comportamento ocorrem com maior frequência do que os outros tipos de comportamento prosociais, como quando alguém se coloca no final de uma fila, ajuda um idoso a atravessar a rua, segura a bolsa ou mochila de uma pessoa em pé no ônibus ou deixa uma porta aberta para alguém passar.

Tendo em vista a violência e crueldade que observamos hoje em dia no mundo todo, fica clara a nossa necessidade de que as pessoas se tornem mais predispostas a ajudar e cooperar umas com as outras. O comportamento prosocial é fundamental para a regulação das interações sociais e para a boa convivência em sociedade – por isso é tão importante entedê-lo em maior profundidade.

Referências:

Dovidio, J. F., Piliavin, J. A., Schroeder, D. A., & Penner, L. A. (2006). The social psychology of prosocial behavior. New York: Lawrence Earlbaum.

Discussão - 5 comentários

  1. Gilberto Alexandre da Silva Benedito disse:

    Preciso encarecidamente da vossa ajuda, gostaria saber se o Patriotismo, saudacao e felicitacao podem ser considerados como um Comportamento pro social?

  2. André Rabelo disse:

    Olá Gilberto,

    obrigado pelo comentário! Tentando responder a sua pergunta: existem sim outras formas de comportamento prosocial não abordados aqui no texto. Acredito que patriotismo e saudação/felicitação não são tipos de comportamento prosocial. Confesso que não conheço muito os estudos sobre essa temática, mas o patriotismo estaria mais para um termo na linguagem cotidiana que se refere ao nosso viés de favorecimento do endogrupo ao qual pertencemos no nível nacional, já saudações e felicitações seriam comportamentos que realizamos motivados em algum nível por esse viés. Embora não esteja familiarizado com essa literatura, acho seguro dizer que não se tratam de comportamentos prosociais.

    Abraço!

  3. Gilberto Alexandre da Silva Benedito disse:

    Respeitosas saudacoes Andre! Ainda a respects dos comportamentos pro socais, tal como disseste acerca do Patriotismo que pode depender da literature vigente num determinado pais, no dictionario actual de Angola, a palaver a Patriotismo, tem tambem como signification ou sinonimo o sacrificial, logo sendo o sacrificio um Comportamento pro social, leva-me a engender que o Patriotismo tambem seja um Comportamento pro social sempre que sua intervencao e feita com finalidade de beneficiar a patria ou um grupo significativo.

  4. aline disse:

    Pode me dizer um exemplo comum que está diariamente conosco de comportamento prosocial?

    • André Rabelo disse:

      Sim, por exemplo: quando uma pessoa ajuda outra a carregar algo pesado, como compras de supermercado, quando alguém segura a porta de um lugar para que você entre, quando você doa uma quantia de dinheiro para outra pessoa ou quando uma dupla de pessoas cooperam para remar em um lago, todos esses seriam exemplos de comportamentos prosociais.

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