A Origem – O Filme

O filme A Origem foi lançado em 2010 nos cinemas brasileiros. Na história, um espião treinado tem uma equipe que troca informações por dinheiro. O interessante é como essas informações são obtidas: diretamente dos sonhos de outras pessoas.Na época do filme existe uma tecnologia capaz de manipular e penetrar no sonho de outras pessoas, sem que essas percebam que estão sonhando.O espião então recebe uma missão muito difícil: implantar uma idéia na cabeça de uma pessoa. A trama  toda gira em torno dessa  tarefa.

É muito difícil não pensar em Freud ao ver um filme como esse, onde nos sonhos os protagonistas tem acesso ao subconsciente das pessoas, qu apresentam suas defesas, repressões e idéias.

Quando Freud propôs que grande parte do nosso comportamento tem determinantes inconscientes e motivações que desconhecemos, ele antevia, sem os meios adequados, muito do que a neurociência, psicologia cognitiva e psicologia evolucionista vêm descobrindo.

No filme, para implantar a idéia na mente de uma pessoa o espião precisaria alcançar os níveis mais profundos do inconsciente da pessoa. Para se aprofundar, ele sonhava dentro do sonho. Em seguida, sonhava que estava sonhando dentro de um sonho, e assim por diante. O fim do filme deixa uma interrogação no ar, pois não podemos saber se desde o início o espião estava sonhando o tempo todo ou ele finalmente havia acordado.

As idéias principais do filme também podem ser pensadas a partir da pesquisa em cognição social e do paradigma experimental de priming, ja discutidos anteriormente no blog. Os psicólogos sociais vêm “implantando” idéias na cabeça das pessoas  desde a década de 1990, dentro de laboratórios, de forma muito mais simples e sem precisar da tecnologia esdrúxula utilizada no filme.

Porém implantar uma idéia específica e complexa como “devo procurar sócios para minha empesa” é mais complicada, talvez sendo necessária toda aquela parafernália. A idéia convergente é que o processamento das informações em nível inconsciente tem um papel muito importante em nosso comportamento, talvez maior que o da consciência, e são facilmente influenciáveis. Sidarta Ribeiro, importante neurocientista brasileiro, escreveu sobre a ciência por detrás deste filme “aqui“.

Um conceito importante no filme é o de que uma idéia é o vírus mais resiliente que existe. Essa afirmação tem um paralelo interessante com a teoria dos memes, proposta inicialmente por Richard Dawkins (1976) em seu livro O Gene Egoísta, e posteriormente explorada por Daniel Dennett, Susan Blackmore, Robert Aunger e outros pesquisadores na área da psicologia evolucionista.

A teoria propõe simplificadamente que um meme é a unidade básica cultural que transmite informações e idéias de gerações para gerações. Susan Blackmore (1999) propôs que assim como o gene está para a genética, o meme está para a cultura. A cultura seria transmitida para um indivíduo através de bits de informação, processo que consolidaria uma certa estabilidade no padrão cultural de um grupo, mas onde a inserção de novos memes poderiam alterar a cultura.

O conceito de meme ainda carece de maior clareza e precisão, pois falha ao se tornar vago e incipiente muitas vezes. O interessante é perceber que o conjunto de memes que o espião tenta implantar é feito, mesmo que dentro de um sonho com a outra pessoa, sugerindo a ela algumas idéias de forma sutil, algo parecido com como esse processo deve ocorrer no mundo “real” (fora do sonho).

Talvez a única necessidade de estar em um sonho para conseguir implantar a idéia seja que um dos personagens da trama consiga se transformar no tio da pessoa que eles querem implantar a idéia, porém quem sabe com um certo investimento financeiro no bolso desse tio tal idéia poderia ser sugerida também, de forma mais simples e sem estar num sonho.

Referências:

Blackmore, S. (1999) The Meme Machine. Oxford University Press, Oxford.
Dawkins, R. (1976) The Selfish Gene. Oxford University Press, Oxford.

Discussão - 2 comentários

  1. Eduardo Rodrigues disse:

    Esse filme ganharia mais riqueza sobre uma interpretação de Jung....até mais do que Freud. Na minha humilde opinião...

  2. Cara acho que se fosse para a idéia partir do tio na vida real, molhar o bolso dele, não teriamos filme...
    Mas vamos olhar por outro angulo o filme agora, imaginando que todo o filme seja o sonho de outra pessoa, tentando redimir o ator principal da morte de sua mulher, fazendo com que ele retorne a realidade.
    Em varios pontos do filme é posto em duvida sobre o que é sonho e o que é real..

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