Evidência de Vida Fora da Terra é Criticada

Após a publicação do artigo no Journal of Cosmology (JOC) que afirmava ter encontrado microfósseis em um meteriorito, comentado no último texto do blog, muitas críticas tem sido feitas ao trabalho de Hoover. Um artigo publicado hoje (08/03/11) na Nature tece uma série de considerações que diminui a credibilidade do artigo e que tentarei resumir os pontos principais a seguir.

Primeiramente, o fato de Hoover ser um cientista da Nasa pode dar alguma credibilidade aparente ao trabalho, porém as aparências enganam e muitas idéias estranhas são cultivadas por pesquisadores da Nasa – Hoover já havia publicado outros artigos anos atrás onde afirmava ter encontrado resultados parecidos em outros meterioritos como os do último artigo, porém que nunca foram replicados por outros pesquisadores além dele.

No artigo, Hoover argumenta que os microfósseis encontrados não deviam ser entendidos como contaminações terrestres mas sim organismos que viveram fora da terra pelo fato destes microfósseis se encontrarem encrustados no interior dos meterioritos, porém especialistas em meteriorito conhecem há algum tempo a natureza porosa do tipo de meteriorito que Hoover analisou (condritos carbonáceos CI) e afirmam que eles são facilmente contamináveis, sendo possível que bactérias alcançem o interior do meteriorito.

O chefe da divisão científica da Nasa, Paul Hertz, publicou um comunicado onde questiona a validade do estudo por não ter passado pela revisão dos pares. Segue trecho do comunicado, de acordo com uma notícia do portal IG:

“A Nasa não pode apoiar um alegação científica que não tenha passado por revisão de pares ou examinada cuidadosamente por outros especialistas qualificados,” afirmou Hertz no comunicado. “Este estudo havia sido submetido ao International Journal of Astrobiology em 2007, porém o processo de revisão de pares não foi finalizado”

Outro trecho da notícia publicada no portal IG mostra o posicionamento do diretor do instituto de astrobiologia da Nasa sobre o artigo de Hoover:

“Ninguém na comunidade científica, em especial entre os pesquisadores que analisam meteoritos, que apóie estas conclusões,” afirmou Carl Pilcher, diretor do Instituto de Astrobiologia da Nasa. “A explicação mais simples para as medições de Richard Hoover é que ele está estudando micróbios terrestres – eles são produto de contaminação das amostras”.

O Journal of Cosmology (JOC) tem um histórico consistente de publicações controversas e especulativas. Como o artigo da Nature aponta, o JOC tem endossado em suas publicações a hipótese da panespermia, onde entende-se que a vida na Terra foi trazida até aqui de outros lugares (hipótese que o artigo de Hoover corroboraria). Uma nota da diretora executiva sênior do JOC afirma que o mesmo irá cessar suas publicações a partir de maio devido à pressão que tem recebido da comunidade científica.

Algumas das revisões já publicadas no JOC sobre o artigo são estranhas e muitas defendem vigorosamente os resultados de Hoover. Rhawn Joseph, por exemplo, afirma que os resultados de Hoover são consistentes, que não existe absolutamente qualquer evidência de que a vida tenha surgido na Terra (“there is absolutely no evidence life began on Earth”) e que a preponderância das evidências indicam que a vida na Terra veio de outros planetas.

Michael H. Engel afirma que temos uma tendência  de querer ignorar ou refutar evidências de vida fora da Terra ao invés de “abraçá-las”, e que isso pode estar relacionado com o nosso medo do desconhecido. Line defende que o artigo possui evidências extraordinárias para suas alegações extraordinárias, parafraseando Carl Sagan, e segue tecendo comentários sobre o resumo do artigo e as imagens apresentadas por Hoover.

Em suma, os autores dos comentários publicados no JOC demonstram grande apoio aos resultados de Hoover e da hipótese da panespermia, apesar de muitos deles não poderem ser considerados experts no assunto a princípio, como Saara Reiman da School of Social and Moral philosophy. Obviamente, muitos desses comentários são absurdos e contradizem várias evidências que temos, da genética à paleontologia, sobre a origem da vida na Terra, que não são poucas. O JOC está explodindo de credulidade e de conclusões muito além do que suas evidências permitem chegar.

Roberto Takata, autor do blog Gene Repórter, expõe argumentos contra os resultados de Hoover a partir dos conhecimentos que possuímos da história do planeta Terra, como no trecho abaixo:

Consideremos então que toda uma diversidade ancestral aportou na Terra, incluindo nossos ancestrais protoeucariotos. Ocorre que o meteorito tem idade que remonta às origens do Sistema Solar. Essa diversidade teria surgido em um intervalo de não muito mais do que alguns milhões de anos. E ficado oculta por bilhões de anos no registro fóssil de nosso planeta. Se as cianobactérias já estavam presentes praticamente desde o início na Terra, por que a crise ou a revolução do oxigênio (ou ainda o Grande Evento da Oxigenação) ocorreria só há uns 2,4 bilhões de anos atrás?

Também existem muitos problemas sobre a idéia de existência de vida em meteoritos, como Roberto Takata destaca nesse trecho:

Os meteoritos CI1 devem ser restos ou de cometas ou de asteroides – não de corpos como planetas ou protoplanetas. Os organismos apontados como parentes próximos dos supostos fósseis como o Titanospirillum velox são móveis – deveria haver água líquida. Cometas são formados basicamente de gelo; quando se aproximam do Sol, o gelo não se liquefaz, mas sublima. Asteroides não são também bons locais em que esperaríamos água líquida em abundância.

Não foi dessa vez que conseguimos documentar empiricamente e conclusivamente a existência de organismos que não os que viveram na Terra, apesar dos esforços insistentes de Hoover ao longo dos últimos anos e de seus colegas “panespermiastas”. Além disso, parece extremamente improvável e infrutífero buscar vida em meterioritos como Hoover tentou. Se existe um ou mais caminhos para identificar esses organismos, não é o que foi usado no artigo publicado no JOC.

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