Sou foda
Muitos homens costumam perceber, erroneamente, interesse afetivo por parte de mulheres até quando este interesse nem existe. Imagine uma situação “típica”: uma mulher que está em um bar procurando o garçom no meio da multidão da, sem querer, “aquela” olhada no “bonitão” que acabou de chegar, achando que encontrou o garçom… pronto. O camarada já pensa: “sou foda!”
Vários estudos demonstram que homens possuem esta tendência de perceber maior interesse sexual por parte das mulheres do que elas realmente têm por eles. Um estudo publicado recentemente na revista Psychological Science replicou esta tendência e foi um pouco mais além: pessoas como o nosso amigo “foda” dos Avassaladores na imagem acima podem ter sido favorecidos evolutivamente, mas mulheres também podem possuir um viés cognitivo na percepção de interesse sexual, porém no sentido oposto.
A equipe liderada pelo veterano da psicologia evolucionista, David Buss, delineou um estudo onde foi avaliado se havia um viés de percepção em mulheres e se haviam diferenças individuais neste viés, tanto em homens quanto em mulheres. Em cada sessão do estudo, 5 homens e 5 mulheres, todos heterossexuais, encontravam-se em um laboratório com várias salas, onde conversavam durante 3 minutos em duplas de um homem e uma mulher, cada casal em uma cabine. Ao final dos 3 minutos, um dos participantes saia da sala e entrava em outra, encontrando outro participante do sexo oposto, e assim sucessivamente. Eles tinham que julgar uns aos outros, logo após a interação, em diversas dimensões de atratividade.
O estudo encontrou evidências de que, no concernente à diferenças individuais, homens mais interessados em relações de curto prazo e que se consideravam mais atraentes apresentavam um viés mais acentuado. Um dos dados mais curiosos é que os homens que as mulheres consideraram mais atraentes no estudo apresentaram um menor viés, ou seja, percebiam menos interesse sexual. No nosso passado evolutivo, homens menos atraentes que erroneamente identificaram interesse sexual em mulheres teriam mais chances de se reproduzir com elas do que homens menos atraentes e que não possuíssem tal viés, pois se sentiriam mais confiantes e se engajariam em mais tentativas de interação sexual.
As mulheres no estudo, por outro lado, apresentaram uma tendência de perceber menos interesse sexual. Os autores argumentam que este viés poderia estar relacionado à vantagens adaptativas como maiores chances de se esquivar do interesse sexual indesejado. Os dados do estudo indicam, portanto, que as mulheres também apresentam um viés, mas no sentido oposto, e que existem diferenças individuais influentes na maneira como este viés influência o comportamento. Mais estudos são necessários para entender se tais vieses também existem em indivíduos com outras orientações sexuais que não a heterossexual.
A percepção errônea de interesse sexual possui implicações sociais consideráveis, pois este viés pode trazer consequências negativas para muitas pessoas (e.g. assédio sexual em ambientes de trabalho). Os dados desta linha de pesquisa indicam que uma comunicação menos ambígua poderia evitar algumas situações constrangedoras. Portanto, fica aqui o alerta para “os fodas”: aquela mulher maravilhosa, naquele barzinho, provavelmente não estava de olho em você!
Referências
Perilloux, C., Easton, J., & Buss, D. (2012). The Misperception of Sexual Interest. Psychological Science DOI: 10.1177/0956797611424162
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