Usando psicologia social para resolver pepinos de verdade

Kurt Lewin

Algumas restrições alimentares foram impostas a muitas pessoas ao longo da segunda guerra mundial. Entre elas, o fornecimento de carnes mais comuns se tornou dificultoso. Olhando para problemas como este, Kurt Lewin, um dos maiores psicólogos sociais de todos os tempos (já falecido), e sua equipe, pensaram em experimentos sobre influência social que poderiam oferecer uma possível solução alternativa para o problema [1]. A elegância de um destes estudos é, sem dúvida, a melhor parte para comentar aqui.

Com o problema no suprimento de carnes, havia uma grande demanda para convencer as pessoas a comerem outros tipos de carne menos usuais, como tripas e rins, o que ofereceria uma alternativa para compensar a falta de fontes de proteínas mais comuns. Lewin e seus colegas perceberam que as mulheres casadas eram a chave para resolver o problema, pois elas é quem decidiam, no final das contas, qual a carne que iria parar na mesa de suas famílias.

Uma maneira mais simples de tentar convencê-las a adotar esta alternativa seria através de palestras, por exemplo. A equipe de Lewin organizou palestras para diversos grupos de mulheres com uma mulher que buscou argumentar sobre as vantagens nutricionais e econômicas de se adotar estas carnes diante da situação que a guerra tinha imposto a elas. Infelizmente, verificou-se posteriormente que poucas das mulheres tinham adotado as novas carnes em suas casas.

Diante disso, e valendo-se de ideias cultivadas na psicologia social sobre decisão grupal e influência social, Lewin e seus colaboradores bolaram o seguinte estudo: ao invés de buscar um convencimento direto por meio de uma palestra, poderia ser mais eficiente fazer com o que as próprias mulheres dos grupos de mulheres que estavam indo às palestras se convencessem (sem perceber) sobre a importância de adotar esta alternativa.

Um "grupo psicológico" pode ser mais poderoso

Visando isso, foram organizados grupos de algumas mulheres para que elas discutissem sobre os problemas que elas estavam enfrentando. Nestes grupos, elas recebiam as mesmas informações que  seriam passadas na palestra, mas sem a pressão inerente à situação social da palestra: elas que deveriam debater sobre as informações. O passo crucial nesta manipulação era feito quando o experimentador pedia para que as mulheres levantassem a mão se elas estivessem pensando em usar alguma das carnes nas suas casas ao longo da semana. O que já se sabia na psicologia social sobre isso é que, quando estamos inseridos em um grupo, temos uma forte tendência a nos conformarmos com os membros deste grupo. Verificou-se que uma proporção dez vezes maior de mulheres levou um dos tipos alternativos de carne para a sua casa, em comparação com as mulheres que assistiram á palestra.

Para Lewin, a situação do grupo de discussão criou um “grupo psicológico”, resultando em maior envolvimento e motivação para decidir a partir das evidências que mostravam as vantagens das outras carnes do que a situação da palestra, que resultava apenas em um “grupo físico”, ou seja, em pessoas dentro de uma mesma sala. Apesar da ênfase constante da psicologia social desta época no poder da “situação social”, Lewin já dava as primeiras dicas para o desenvolvimento posterior da cognição social, enfatizando a importância do “significado psicológico” que determinadas situações sociais induziam nas pessoas. E foi com essa manipulação simples, mas contra-intuitiva, que este e outros estudos de Lewin demonstram como podemos resolver pepinos reais e, por vezes, decisivos, a partir do nosso conhecimento sobre como as pessoas compreendem, interagem e influenciam umas às outras: ou seja, a partir da psicologia social.

Referências:

[1] Fiske, S. T. (2010). Social beings: Core motives in social psychology. New York: Wiley.

Discussão - 1 comentário

  1. Reinerio Ramirez Pereira disse:

    interesante

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