Com que frequência o amor romântico dura?

Quanto costuma durar um amor romântico intenso?

É comum pensar que o amor romântico intenso vivido por duas pessoas no início de um relacionamento diminui com o passar do tempo, até que, se o relacionamento durar, o que fica é um sentimento menos intenso e mais fraternal. Existem até aqueles que afirmam que o amor romântico intenso tem inclusive um prazo de validade – normalmente acaba até os dois primeiros anos de relacionamento, e dificilmente dura mais do que isso. Apesar destas afirmações serem difundidas, na verdade temos poucas informações concretas sobre o quão comum é que o amor romântico intenso dure em relacionamentos longos.

Quão frequente é que parceiros amorosos de longo prazo mantenham um amor romântico intenso um pelo outro? Quais aspectos será que determinam a duração do amor romântico – frequência de relações sexuais, ciúmes, companheirismo, time favorito, signo, ascendente do signo? Foi tentando dar respostas parciais a estas perguntas que um grupo de pesquisadores conduziu uma pesquisa publicada este ano (isso mesmo, eu estou falando de um estudo científico sobre o amor!). O que vocês acham que eles encontraram?

ResearchBlogging.org

Antes de dar essa resposta, vou contar rapidamente como eles fizeram a pesquisa. Os pesquisadores queriam saber quão comum era que o amor romântico intenso existisse em relacionamentos longos e quais aspectos eram mais importantes para entender a duração do amor intenso. Se baseando em estudos anteriores, eles pensaram que o amor romântico intenso poderia ser mais comum quando o casal tivesse: um viés cognitivo relacionado a pensar de maneira positiva frequentemente sobre o(a)  seu/sua parceiro(a); pensar mais no parceiro quando ambos não estivessem juntos; carinho (abraços, beijos); mais relações sexuais; passasse mais tempo fazendo coisas novas e desafiadoras juntos. Outras variáveis como a felicidade geral com a vida e dificuldade de se concentrar em atividades por conta de pensamentos sobre o parceiro também foram avaliados.

O ideal para responder à estas perguntas seria coletar os dados com todos os casais do planeta, mas isso seria muito complicado, se não impossível. Quando queremos entender a frequência de algo desta natureza, precisamos contar com partes menores (amostras) daquilo que nos interessa (a frequência do fenômeno na população inteira). Os pesquisadores desta pesquisa queriam ter uma amostra representativa dos Estados Unidos para poder afirmar, com um maior grau de confiança, que os seus dados refletiam um padrão mais geral da população americana também, e não apenas um padrão daquela amostra particular estudada. Para isso, eles contactaram 500 pessoas pelo telefone e os entrevistaram, usando um método chamado de discagem de dígitos aleatórios. Por meio deste método, eles selecionaram participantes de uma maneira menos enviesada do que normalmente é feito na psicologia (embora mesmo este método não seja totalmente aleatório também, já que pessoas sem telefones fixos não tem a chance de ser escolhida para participar do estudo). Dos 500 participantes, 274 eram casados e forneceram os dados sobre a prevalência do amor romântico.

Os resultados superaram as expectativas dos próprios pesquisadores: entre as pessoas que estavam casadas há 30 anos ou mais, 40% das esposas e 35% dos maridos que participaram do estudo relataram sentir um amor muito intenso pelo seu parceiro. Entretanto, os casais que estavam juntos há menos de 10 anos relataram sentir um amor mais intenso, em média, do que casais juntos há mais de 10 anos. As variáveis mais importantes para explicar a duração do amor intenso foram a frequência de pensamentos positivos sobre o parceiro e pensamentos sobre o parceiro quando o casal não estava junto, carinho (beijos, abraços), frequência de relações sexuais, frequência de atividades novas feitas pelo casal e a felicidade geral com a vida (eu sei, você não esperava receber dicas tão boas assim para o seu relacionamento de um bando de cientistas, mas aproveita e anota ai!). Pode ser que esta frequência inesperadamente alta de amor intenso relatada pelos participantes, mesmo aqueles casados há mais tempo, se deva a uma tentativa de passar uma boa imagem, algo que nós na psicologia chamamos de desejabilidade social – a pessoa tenta responder aquilo que normalmente é esperado dela. Entretanto, os pesquisadores responsáveis pela pesquisa acreditam que está não foi uma variável tão importante, pois estudos anteriores demonstraram que a desejabilidade social não costuma se associar a uma aumento considerável em respostas desta natureza, como a satisfação com o casamento, por exemplo.

Contrariamente ao que é difundido, esta pesquisa mostrou que o amor romântico intenso pode ser mais do que um fenômeno raro, na verdade ele pode ser relativamente comum. Entretanto, esta frequência poderia mudar se considerarmos casais de outras culturas. Os pesquisadores da área de psicologia transcultural costumam descrever a cultura norte-americana como um exemplo típico de uma cultura individualista, onde valores de independência e autonomia são mais valorizadas que em uma cultura coletivista, onde valores como a interdependência e a cooperação são mais importantes. Não seria surpreendente se esta frequência fosse alterada consideravelmente caso os dados fossem coletados em um país como, por exemplo, a China, considerado na literatura como um país de cultura coletivista. Para entender de maneira mais ampla quão comum é que o amor romântico intenso dure ao longo dos anos, seria interessante que outros estudos fizessem comparações entre diferentes culturais.

A mensagem que fica deste estudo é que os casais apaixonadinhos por ai não precisam ficar com medo do seu amor intenso se apagar depois de dois anos, pois a data de validade do amor romântico pode durar muito mais do que normalmente pressupomos e a duração depende de uma série de aspectos do relacionamento construído entre duas pessoas.

Referências

O’Leary, K., Acevedo, B., Aron, A., Huddy, L., & Mashek, D. (2012). Is Long-Term Love More Than A Rare Phenomenon? If So, What Are Its Correlates? Social Psychological and Personality Science, 3 (2), 241-249 DOI: 10.1177/1948550611417015

Discussão - 15 comentários

  1. Ricardo JJ disse:

    E Agora me veio uma pergunta que não quer sair da minha cabeça:

    Será que após acabar o amor romântico, o casal pode desenvolvê-lo novamente?

  2. Jovelina Carniel disse:

    Penso que, em busca de igualdade muitas mulheres confundem as coisas. Não condeno a vontade de cada uma em querer a independência. Mas com carinho e muito diálogo de ambas as partes, tudo se resolverá de forma harmoniosa. Tem que haver muita calma e entendimento para um relacionamento ser duradouro. O meu já tem 33 anos e a cada dia esta melhor.

  3. [...] Imagem retirada do blog: http://scienceblogs.com.br/socialmente/2012/12/frequencia-amor-romantico-dura/ [...]

  4. samira disse:

    Penso que, em busca de igualdade muitas mulheres confundem as coisas. Não condeno a vontade de cada uma em querer a independência. Mas com carinho e muito diálogo de ambas as partes, tudo se resolverá de forma harmoniosa. Tem que haver muita calma e entendimento para um relacionamento ser duradouro. O meu já tem 33 anos e a cada dia esta melhor.

  5. sabrina disse:

    muitas pessoas não sabem o significado de amor pra mim e ser feliz do geito que der.,. ou seja sendo rico ou pobre.

  6. Marilza Aparecida Camillo disse:

    O complicado é ser a mulher, sarada, cuidadora e administradora do lar, trabalhar fora, cozinhar bem, ter as unhas esmaltadas diariamente, cuidar da pele, do cabelo, da criança e continuar atraente linda e sensual, para o marido não procurar a “ Bela” enquanto bela, que passar pela sua frente.
    Tem homens que fazem comentário que o corpo da esposa mudou ou as marcas da idade chegou e eles esquecem o interior dessa mulher. Esses são os homens que conquistaram pelo corpo. A conquista à um longo prazo, são as coisas que vem de dentro da alma, não importa que a casca altere, o essencial, nem todos conseguem enxergar mais!

  7. ronaldo alves disse:

    o amor é algo tão espetacular que poucos só conseguiram o conhecer quando de fato passarem pela " escola'' pois se faz necessário!

  8. Amar nada mais é que se entregar de todo coração á aquilo que se quer....

  9. André Nunes disse:

    Interessante, que no meu caso, no tocante aos dois anos de durabilidade mencionados, foi este exato tempo que durou a atração física entre eu e minha ex-mulher. Ainda assim, tocamos pra frente por mais doze anos, porque havia nascido amor entre nós, embora a paixão houvesse ficado para trás. Acabamos por nos separar e ela veio a se arrepender depois, provavelmente por ter percebido que o mundo aí fora não tão é tão acolhedor quanto o lar, propriamente dito. Não nos reconciliamos, embora fosse o desejo dela, porque eu já não me sentia envolvido.

Envie seu comentário

Seu e-mail não será divulgado. (*) Campos obrigatórios.