Resultados de replicação colaborativa em psicologia são otimistas (mas nem tanto)

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Será que os psicólogos já podem comemorar? Só um pouquinho (Foto: Pixabay).

Vem chegando o clima natalino, as festas de ano novo, os fogos de artifícios… mas os psicólogos ao redor do mundo andavam meio para baixo nos últimos meses… sem muitos motivos para comemorar. Isso porque diversas polêmicas acerca da falta de replicabilidade de pesquisas na psicologia e casos envolvendo fraudes em publicações andaram manchando a imagem da área e levantando suspeitas acerca das suas pesquisas (para saber mais sobre isso, ver aqui e aqui). Mas os resultados que acabam de ser divulgados do projeto de replicação ManyLabs (“vários laboratórios”) indicaram que talvez a coisa não seja tão ruim quanto alguns pensaram (e afirmaram). Por isso, agora os psicólogos podem preparar as suas champanhes para o fim do ano e comemorar (só um pouco)! Mas então o que é o tal do projeto e o que ele mostrou?

O projeto ManyLabs foi uma colaboração entre psicólogos do mundo todo visando testar a replicabilidade de pesquisas na psicologia – ou seja, eles queriam saber se, quando outros pesquisadores tentassem repetir um estudo anterior, eles encontrariam as mesmas coisas ou pelo menos algo muito parecido. Já foram publicadas matérias na Scientific American, Nature e Science sobre o assunto, além de um post no blog do Ed Yong e no blog do professor Ronaldo Pilati (que foi o único pesquisador brasileiro e da América do Sul integrante da equipe internacional de pesquisadores do projeto). 

Os 36 pesquisadores envolvidos no projeto queriam testar a replicabilidade de treze efeitos encontrados em pesquisas anteriores. Esses efeitos foram escolhidos com o objetivo de abranger pesquisas feitas em diferentes subáreas da psicologia e tanto estudos antigos quanto mais novos. Cada um dos 36 pesquisadores coletaram dados com diversos participantes, resultando em 6.344 participantes no total oriundos de 13 países diferentes.

Os resultados? A imagem abaixo mostra todos os tamanhos de efeito observados nas diferentes amostras coletadas (mas relax, a imagem não é essencial, vou resumir aqui também). Lembrando que um tamanho de efeito é um indicador da magnitude de associação entre duas variáveis, e quanto maior o tamanho de efeito, mais essas variáveis “super combinam uma com a outra” ou mais influente uma variável é sobre a outra. Em resumo, dos 13 efeitos testados, 10 foram replicados com sucesso – a grande maioria das tentativas de replicação resultaram em dados favoráveis aos dados de pesquisas anteriores. Em outras palavras, quando esses 36 pesquisadores tentaram averiguar se repetindo o que havia sido feito em estudos anteriores eles encontrariam algo parecido, eles acabaram encontrando algo animador – encontraram algo parecido na maioria dos casos!

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Três dos efeitos, entretanto, não se demonstraram tão replicáveis. Da para ver isso na parte debaixo da imagem acima (nas linhas em que está escrito imagined contact, flag priming e currency priming), já que os resultados do manylabs nesses casos, representados pelas bolinhas cinzas e verdes, ficaram todos bem abaixo do xizinho azul, ou seja, a maioria dos tamanhos de efeito observados nas diferentes amostras ficaram abaixo do tamanho de efeito relatado no estudo original. Se você olhar a parte de cima da imagem referente aos primeiros estudos, o xzinho azul está representando um valor abaixo do valor que as bolinhas cinzas e verdes estão representando, o que indica que, nesses casos, nas amostras do manylabs, não apenas foram observados fortes efeitos, como tais efeitos foram mais fortes ainda do que o efeito observado no estudo original! Ou seja, tanto foi possível observar efeitos maiores do que o esperado quanto menores do que o esperado, embora a maioria dos efeitos tenha sido observado de maneira parecida com o observado no estudo original.

Os pesquisadores disponibilizaram todos os dados referentes a esse projeto em um site (clique aqui para ver os dados do manylabs). Eles também vão publicar um artigo sobre essa pesquisa em uma revista científica que já tinha aceitado publicar essa pesquisa independente dos resultados que fossem encontrados, algo conhecido como pré-registro do estudo. Parece, portanto, que a psicologia está com problemas sim e que a ênfase atual em realizar replicações é importante, mas que muitos dos seus achados são replicáveis em diversas culturas e por diferentes pesquisadores!

A moral da história é então que: devemos sim desconfiar dos resultados de pesquisas em psicologia, assim como os resultados de pesquisas na biologia e na medicina, mas existem sim agora evidências a favor da replicabilidade de importantes pesquisas na psicologia e o problema que existe parece também não ser tão bizarro quanto muitos especularam. Mas, para averiguarmos isso melhor mesmo, muuuuuuuitas outras pesquisas ainda precisam ser feitas, embora o projeto do manylabs tenha permitido que os psicólogos fiquem um pouco menos preocupados com a nossa situação e possam respirar um pouco aliviados (por enquanto….)!

Discussão - 1 comentário

  1. […] no blog, nós já falamos algumas vezes sobre a replicabilidade na psicologia (nesse texto aqui, aqui e […]

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