Do-it-yourself biologists (DIYbio) e a ciência cidadã

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Neste momento, em algum lugar dos Estados Unidos, da Inglaterra ou até da Índia, algum biólogo sintético amador está realizando um experimento na sua cozinha ou garagem. Nos últimos dois anos, entusiastas da biologia molecular têm se juntado para montar organizações de biologia sintética amadora, como o DIYbio (do-it-yourself biology), em que os membros se reúnem em pubs e barbecues para discutir os últimos experimentos realizados nas suas próprias garagens. Há quase seis meses tenho participado das discussões desse grupo, que apresentam conteúdo refinado e objetivo sobre o desenvolvimento de microscópios de 10 dólares, espectrofotômetros, centrífugas de furadeiras ou liquidificadores, construções de diferentes kits com E. coli modificada, chegando até a sequenciadores de DNA caseiros.

Inspirados pelos grandes avanços realizados em garagens pelos fundadores de atuais gigantes da informática, os também chamados biohackers pretendem revolucionar a ciência através de experimentos e idéias não-convencionais aplicados a biologia sintética.

Este movimento também se caracteriza pela chamada ciência cidadã (minha tradução de citizen science), em que os cidadãos ativamente participam no papel de desenvolver a ciência e as novas tecnologias. Além disso, a ciência cidadã estimula o apoio da população à ciência, o desenvolvimento do pensamento científico nas pessoas, além de introduzir novas idéias de diferentes disciplinas ao assunto. Utilizando a Internet como plataforma, um simples projeto de ciências pode envolver dezenas, centenas e milhares de pessoas de diversas formações no mundo dispostas a criar algo novo e interessante.

Porém, junto com o crescimento da ciência cidadã, tem também aumentado a preocupação do governo americano e do FBI a respeito do que os biohackers estão fazendo. Por incrível que pareça, agentes do FBI têm comparecido a reuniões do DIYbio para entender o que as pessoas estão fazendo e qual a possibilidade de utilização das ferramentas para o bioterrorismo. A comunidade DIYbio teme que o foco constante em possíveis atividades terroristas desvie a atenção dos tópicos importantes relacionados com biossegurança: como o descarte de bactérias geneticamente modificadas, normatização/legalização de laboratórios caseiros e equipamentos de segurança mais acessíveis e baratos.

Muitas vezes o que tem acontecido é que não existe nenhum tipo de norma ou lei que fale a respeito de laboratórios caseiros para a utilização de bactérias geneticamente modificadas.

Eu acho incrível o que está acontecendo neste momento. Não só está ocorrendo uma explosão de conhecimento e técnicas no mundo científico, mas também a população está cada vez mais interessada em fazer parte dessas descobertas e fazer da ciência um exercício cotidiano.

Ledford, H. (2010). Garage biotech: Life hackers Nature, 467 (7316), 650-652 DOI: 10.1038/467650a

Editorial, Nature (2010). Garage biology Nature, 467 (7316), 634-634 DOI: 10.1038/467634a

Discussão - 6 comentários

  1. Débora Parrine disse:

    O que também é legal do grupo de e-mails do DIYbio é que você pode discutir e pegar dicas de protocolos com pessoas que estão acostumadas a fazer experimentos da forma mais rudimentar possível, e por isso, habituadas a encontrar soluções baratas pra probleminhas chatos de serem resolvidos. Não que isso seja exclusividade do DIYbio, mas como eles são "cientistas de garagem", as soluções são mais interessantes.

  2. Otto Heringer disse:

    Sensacional isso, parece até surreal. Fazer da ciência um exercício cotidiano...
    Essa organização é puramente amadora ou é mais um hobby de profissionais do ramo!?
    Bem, de qualquer maneira é interessatíssimo. Ótimo post!

    • Valeu! Existem dois lados, aqueles que encaram apenas como um hobby e aqueles sabem que o hobby pode se transformar em algo extraordinário. O fato de você não estar em uma empresa, universidade ou qquer outra instituição de pesquisa, te dá uma liberdade incrível e são exatamentes esses meios não-convencionais de fazer ciência que é o diferencial da synbio caseira. Abraço!

  3. Marianna disse:

    Interessante como em alguns lugares do mundo as pessoas estão tão envolvidas com a synbio que até trabalham com isso de forma amadora, e em outros lugares, nunca se ouviu falar de synbio.

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