Uma experiência de Biologia Sintética no ensino médio paulistano.
Pelos caminhos tortuosos que só os bons colegas nos proporcionam, acabei convidado a participar de uma das experiências mais empolgantes dos últimos tempos: uma tarde de apresentações e comentários a respeitos dos TCCs de alunos do colégio Bandeirantes, na Zona Oeste de São Paulo. Até aí, nada que pareça a princípio muito divertido, não fossem as boas surpresas que me aguardavam.
Para contextualizar, o Colégio Bandeirantes possui um módulo de Biotecnologia coordenado pela professora Ana Cristina Camargo de São Pedro para os alunos do segundo ano do ensino médio. Nele são ensinados e discutidos assuntos pertinentes ao tema, inclusive utilizando de artigos e outros materiais científicos bastante novos e, ao fim, os alunos apresentam um projeto de biotecnologia com foco na resolução de um problema do mundo atual.
Nas apresentações, todas com o clima saudoso de “trabalho em grupo” dos tempos de colégio, aparecem projetos motivados por temas como poluição marítima por petróleo, obesidade, doenças genéticas, síntese de produtos complexos e afins. Algo natural visto que a biotecnologia é o santo graal apontado para a maioria dos problemas que até então não fomos capazes de responder satisfatoriamente.
Não vou detalhar todos os 5 projetos, mas um em especial me pareceu bastante interessante: A síntese de Paclitaxel por meio de GMOs. Paclitaxel é um produto quimioterápico cuja principal fonte é um fungo endofítico da árvore Taxus brevifolia, o Taxomyces andreanae, porém já foi encontrada em outros fungos também. A molécula é complexa e já é parcialmente sintetizada em E.coli e leveduras se aproveitando de vias de síntese de terpenos, mas sua síntese completa ainda não é feita em GMOs.
O projeto basicamente consistia na transferência da via metabólica para uma bactéria para produção e posterior purificação em níveis farmacêuticos do produto. Apesar de sabermos que as coisas não funcionam de maneira simples assim, foi bastante interessante a abordagem pela similaridade com coisas que já vem sendo feitas, como a produção da artemisina. Talvez, penso eu, esta seja a estratégia mais segura para utilização de GMOs atualmente: isolamento completo de organismos para a produção de um produto desejado em ambientes controlados.
Após a apresentação dos projetos, vejo os resultados de uma ótima preparação: o nível de detalhamento abarca bioética, biossegurança, designe de circuitos gênicos, discussão a respeito de diferentes chassis e etc. Ainda que às vezes de maneira inexperiente, o que não desabona o esforço, vejo discussões a respeito de diferentes estratégias que conciliem os ônus e bônus das novas abordagens criadas.
Minha contribuição restringiu-se mais a elevar um pouco o nível dos questionamentos éticos, de biossegurança e de propriedade intelectual/comercial que identifiquei nos projetos. Não apenas as pessoas eram novas, mas o assunto em si é novo para a humanidade, o que leva a um nível ainda um pouco superficial das questões que emergem dessa tecnologia. Desta maneira, ainda que de forma restrita, espero ter colocado “bons empecilhos” necessários para a reflexão da bioengenharia em si.
Por fim, saio bastante satisfeito com o que vi. 20 e tantos jovens com o conhecimento suficiente para propagar uma visão menos preconceituosa da biotecnologia, capazes de pensar em projetos e nos desdobramentos dos mesmos, não importando que áreas forem seguir. Espero ainda que, caso algum dos alunos leia este texto, sinta-se orgulhoso do próprio trabalho e motivado a enfrentar o desafio de resolver problemas complexos como os apresentados.
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