Herbert & George
– Eu não entendo como o tempo pode ser uma quarta dimensão! Um cubo tem largura, altura e profundidade e pronto! Como justificar uma quarta dimensão?
– Fácil! Pense num cubo.
– Sim.
– Esse cubo pode ser instantâneo?
– Instantâneo? Como assim?
– Pode esse cubo existir por um momento? Um momento tão curto que não pode ser medido em tempo, como frações de segundo?
– Não!
– O cubo só existe porque nós podemos observá-lo durante um certo tempo.
– Faz sentido… Mas como justificar o tempo como ‘dimensão’?
– Pense num termômetro de mercúrio.
– Sim.
– Digamos que de dia a temperatura tenha colocado o mercúrio no alto da coluna, durante a noite, com a temperatura mais amena, o nível caiu e, no outro dia, voltou a subir.
– Certo. Mas o mercúrio apenas sobe e desce, só se move em uma dimensão.
– O mercúrio move em duas dimensões na verdade. De cima para baixo e durante um certo período de tempo.
– Como assim?
– Como uma pessoa andando na rua jogando uma bola para cima. A bola está indo para cima e para baixo e também está se movendo para frente. O movimento total da bola, se posto num gráfico, não será uma linha reta horizontal nem uma linha reta vertical, mas uma onda que sobe e desce a medida em que se descola para a frente.
– Então, no caso do termômetro, o tempo equivale ao deslocamento da pessoa no caso da bola?
– Exato! O gráfico do movimento do nível de mercúrio não é apenas subindo e descendo, é uma onda no mesmo estilo do da bola!
– Mas, diferentemente de nas outras dimensões, no tempo nós só podemos nos deslocar em um sentido.
– Quase!
– Como assim, ‘quase’?
– Nós podemos ir da direita para a esquerda e de frente para trás, mas não somos muito bons em nos deslocar para cima! O máximo que conseguimos é pulando, que não dura muito, ou subindo uma escada! Cair é bem mais fácil!
– Por causa da gravidade!
– Exato! Nós somos seres bidimensionais! Nos deslocamos facilmente na terceira dimensão só em um sentido, para baixo!
– Mas e os aviões?
– Lembre-se, o esforço para nos deslocarmos para cima é tremendamente maior que o esforço que fazemos quando andamos em círculos, por exemplo! E quando caimos, não estamos fazendo esforço! É como se a dificuldade em se subir fosse compensada pela facilidade em se cair, talvez deixando o sistema balanceado, já que fazemos exatamente o mesmo esforço quando nos deslocamos em qualquer direção em um plano!
– E o tempo? Continua fluindo sempre na mesma direção!
– Não, nós continuamos ‘caindo’ sempre na mesma direção temporal! Nos falta descobrir uma maneira de ‘pular’ nessa dimensão, de vencer a ‘gravidade’ temporal!
– Voltar no tempo?
– Isso! O grande problema com isso é um paradoxo.
– Uma pessoa voltar no tempo e matar o próprio avô antes do pai ter sido concebido?
– Não, um paradoxo que funciona em qualquer direção que se vá! Se eu estou me deslocando no tempo, como o tempo passaria pra mim?
– Não entendi!
– Uma viagem através do tempo só pode ser instantânea, ou seja, não pode sofrer ação do próprio tempo! Como eu posso, por exemplo, passar uma hora viajando para o passado? Apesar de estar voltando no tempo, o tempo, do meu ponto de vista, continuaria indo para frente?
– Eu acho que entendi! Seria o mesmo que pular para cima e continuar caindo!
– Exato! Eu estaria, por exemplo, voltando para o ano do meu nascimento enquanto que estaria envelhecendo? Ou me adiantando para o ano do nascimento dos meus tetranetos, após minha própria morte, enquanto que envelheceria apenas uma dia? Se estou voltando no tempo, não deveria, o tempo, do meu ponto de vista, voltar também?
– Então uma pessoa só poderia voltar até o dia em que nasceu?
– É isso que eu penso! E como as experiências adquiridas durante a vida são também dependentes do tempo, uma pessoa que voltaria ao passado, rejuvenescendo, estaria também esquecendo tudo o que aprendeu previamente!
– Viagens no tempo podem já existir, mas ninguém teria conhecimento, incluindo o viajante!
– Seria como rebobinar uma fita! E como se viajaria para o futuro?
– Como o avanço rápido de uma fita?
– Com todos os acontecimentos futuros acontecendo enquanto se viaja?
– Isso!
– E se um desses acontecimentos fosse uma morte súbita e inesperada?
– Seria o fim do viajante!
– Um dos riscos de se cair mais rápido que a gravidade! O impacto é sempre mais forte!
– Exato!
– A viagem no tempo só seria possível e viável para frente e voltando para trás até o momento em que se descobriu a possibilidade da viagem, apagando novamente todo o conhecimento adquirido na ida ao futuro!
– Faz sentido!
– A grande descoberta seria a de uma maneira de se fazer lembrar o que ocorreu se viajando ao passado.
– Seria uma boa!
– Mas como se lembrar de algo que ainda não aconteceu?
– Paradoxo!
– Aí está! É por isso que viagens temporais não ocorrem, e se ocorrem, ninguém lembra!
– Como a morte, ninguém nunca voltou pra contar!
– Exato!
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