Quem gosta de placebo é Bárbara…

O mesmo amigo que ontem me perguntou sobre a montanha invisível me perguntou também: se é sabido que placebo sempre tem efeito positivo, por que os médicos não desenvolvem uma droga que tenha o mesmo efeito, mas sem a enganação?
A resposta: isso que você disse está 100% errado.
Placebos não têm efeitos positivos sempre. Aliás, raramente têm.
Médico não desenvolve droga, quem faz isso são os químicos, bioquímicos e farmacêuticos do mundo.
Os médicos não administram pílulas de açúcar dizendo que são remédios para dor de coluna (quem faz isso são os homeopatas, que são uma ameaça à saúde pública prometendo cura com mágica e não merecem ser chamados de médicos mas de corja). Os placebos são utilizados em grandes testes da indústria farmacêutica antes de uma droga passar a ser vendida ao público e em pesquisas médicas, mas nunca sozinhos. Seria o mesmo que beber um copo cheio de gelo, já que tem o mesmo efeito refrescante de um suco.A melhor maneira de explicar isso é com um exemplo:
Uma droga X está sendo desenvolvida para combater frieira de axila e foram obtidos resultados positivos em ratos, ovelhas, porcos e outros mamíferos e menos importantes que, caso algo dê errado, podem virar uma salsicha ou um hambúrguer do McDonald’s (por favor, isso é uma piada! Grandes cadeias de restaurantes não compram carne de animais de laboratório nem usam carne de minhoca, isso é coisa de teóricos conspiratórios que não têm o que fazer da vida! Inúteis…).
A próxima etapa do processo é o teste em humanos voluntários.
Um grupo de 100 pessoas é escolhido e separado em dois grupos de 50 indivíduos (alguns testes dividem os participantes em mais grupos para concentrações diferentes dos ingredientes ativos).
O primeiro grupo receberá a dose recomendada do remédio, o segundo receberá o placebo, mas ninguém sabe o que está tomando (se for um comprimido, o placebo será um comprimido idêntico ao real, mas sem nenhum ingrediente ativo. Se for injetável, será uma solução salina inerte).
No final do tratamento, todos os sintomas, quadro clínico inicial e final, reclamações dos pacientes e efeitos colaterais que foram devidamente anotados durante o teste serão comparados.
É neste momento que os placebos são importantes.
Se todos (ou uma porcentagem significativa) tiveram dor de cabeça, a cefaléia foi um efeito colateral psicológico.
Se só os do grupo do fármaco tiveram (ou sentiram em números mais significativos que os participantes do outro grupo), foi um efeito colateral causado pela medicação.
Se só os do grupo do placebo reclamaram disso (ou reclamaram mais que os do outro grupo), a medicação pode até ajudar a aliviar dores. O que também constitui um efeito colateral, mas um benéfico.
A administração do placebo atua como um controle, ajudando a identificar e separar os efeitos causados pela droga dos efeitos causados no organismo pelo cérebro, achando que está sendo remediado.
Finalmente, “placebo” é a 1ª pessoa do singular do futuro indicativo do verbo “placere”, latim para “agradar”, e não o imperativo afirmativo do verbo “medicor”, latim para “curar”. É só uma sopinha e um empurrão na rede, não um Tandrilax.
Ah! Bárbara é uma conhecida minha que gosta duma banda inglesa chamada Placebo.
Tadinha…
P.S. Mais sobre o engodo, sacanagem e crime que é a homeopatia futuramente. Aguardem.

Discussão - 1 comentário

  1. Absalão disse:

    Nunca tomei placebo.

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