Lápis e papel na mão!

Hoje é domingo, cachimbeiro dourado, que inicia uma reação em cadeia, envolvendo militares e insetos coleópteros, que finda na destruição do planeta pelo poder da rima.
Por isso (e por ter passado a noite tomando vinho ouvindo várias línguas serem faladas ao mesmo tempo) o tópico de hoje é mais simples e mais prático.
Não, na verdade nem é. Mas é interessante.
Grafite é feito de carbono. 100% átomos de carbono.
Existem três outras coisas que são feitas de nada além de carbono; carvão mineral (quase a mesma coisa, mas grafite não queima fácil), diamante e fulereno (o nome todo é buckminsterfulereno, uma estrutura artificial, responsável pela formação de nanotubos, um material extremamente versátil e revolucionário que será descrito aqui mais tarde).
O Brasil é o segundo maior produtor de grafita no mundo, sendo deixado para trás pela China (que produz quase dez vezes mais que nós).
Grafite, ou plumbagina, conduz eletricidade (e conduz com gosto; um risco grosso num papel é suficiente para transmitir corrente, portanto não enfiem seus lápis em tomadas) e é um superlubrificante (usando o mesmo princípio físico que possibilita a escrita). Essas duas propriedades fazem com que a grafite (é feminino mesmo, pode procurar no dicionário) não seja recomendada como lubrificante entre metais diferentes, pois a condutividade dos materiais envolvidos causa corrosão galvânica. Tipo uma pilha, mas diferente. Li agora que é especialmente corrosivo em alumínio; até uma marca de lápis numa placa de alumínio pode iniciar o processo de oxidação! Química é massa demais!
Em 1789, um mineralogista alemão chamado Abraham G. Werner (o “G” é de Gottlob, um dos nomes mais legais de falar que já passaram pela minha boca) batizou esse material de “Graphit”, corruptela de “gráphos”, palavra grega que significa “escrever”.
Finalmente me trazendo ao ponto sobre o qual queria escrever.
Lápis.
O que tem dentro de um lápis não é somente grafite, assim como o que tem fora não é um pedaço maciço de madeira.
Grafite em sua forma pura é muito frágil e quebradiço e o processo de transformar pedaços de madeira em lápis sólidos é muito dispendioso (como referência, vide Pica-Pau vs. Lenhador).
Depois de extraído das minas (essa etapa é muito importante, pois fazer e usar lápis dentro das pedras é muito difícil), a grafite é moída junto com argila. Depois que ambas viram pó, água é adicionada e a mistura é batida por um certo tempo (três dias parece ser o padrão). Depois disso a água é retirada, a massa que sobra é secada até endurecer, triturada novamente (mas desta vez já um material diferente do original) e água é reintroduzida até formar uma pasta, que é espremida através de um tubo de metal (como pasta de dentes) e pedaços cortados já no formato adequado. O chumbo-negro (como é chamado o material de dentro de um lápis) é então aquecido até mais ou menos mil graus centígrados para endurecer e ficar uniforme.
A proporção entre grafite e argila muda a “dureza” (marcada por um número + letra escritos no lado dos lápis) da ponta. Quanto mais argila, mais dura a ponta (1H, 2H, 3H, etc.), pois menos grafite está saindo no papel. Quanto menos argila, mais grafite sai, mais macio é o lápis (1B, 2B, 3B, etc.).
E como é que o lápis funciona, afinal?
As moléculas de grafite são achatadas e ficam empilhadas umas sobre as outras. Como pratos guardados.
Quando nós passamos o chumbo-negro num papel, que é mais áspero e mais duro, camadas do material são arrancadas e vão se depositando, formando as letras, desenhos e afins.
Isso só é possível graças à propriedade citada acima, a superlubrificação, que faz com que as camadas escorreguem facilmente umas nas outras. Como uma pilha de pratos lambuzados com óleo sendo passados numa mesa com cola. A cola segura o prato de baixo, que escorrega da pilha, deixando exposto o próximo, e repetindo o processo (analogia um tanto bizarra, eu sei, mas já é hora de almoço e meu olho tá doendo).
Um lápis que risque linhas paralelas horizontais a cada meio milímetro (a média de espessura do traço de um lápis 2H) numa folha de papel A4 (210 por 297 milímetros), de cima a baixo, frente e verso, terá percorrido um quarto de quilômetro!
Eu não sei quanto de um lápis isso gastaria, pois como já disse, meu olho está doendo e eu não estou com humor para experimentar.
E borracha?
A borracha é molecularmente mais pegajosa que o papel, atraindo as moléculas de grafite., mas também é frágil e vai se desmanchando a medida em que é usada.
Borracha foi inventada bem depois do lápis. Antigamente usavam pão seco para apagar os erros (alguns artistas ainda usam essa técnica, pelo que me disseram) mas depois da descoberta da Seringueira, a seiva da planta substituiu a farinha de trigo assada como método favorito de limpar páginas borradas.
Depois, Charles Goodyear (o do pneu) inventou a vulcanização (processo que esquenta a borracha acima de uma certa temperatura, deixando-a mais resistente, similar ao que ocorre com vidro blindex e aço temperado) e melhorou a resistência das borrachas, que ainda eram muito moles e quebradiças
E é por isso que eu só escrevo de caneta…

Discussão - 3 comentários

  1. Sônia Macêdo Victorino disse:

    Oiiiii querido,
    não sei se lhe chamo de querido ou Químico ou Científico ou Maluco, mas só sei que adorei esse artigo sobre o grafita. (uau,nêga louca)
    Oxênte, cê num sabe que qdo eu era pequena (+ moça, já q continuo pequena), comia lápis. Porisso e tantas outras, devo dá choque.
    Sua fã, agora adivinhe. Bjjjs

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