Sono pesado

Ontem à noite, enquanto eu dormia e acordava (exaustão + café + muita coisa na cabeça), eu sofri um fenômeno bizarro, aterrorizante e mais comum do que gostam de admitir.
Paralisia do sono.
Eu parecia estar ouvindo passos e pessoas cochichando, sentia um peso no peito e ondas de arrepio (daquele tipo que começa atrás do pescoço e desce até os braços e joelhos, mas com uma intensidade absurda e, literalmente, em ondas, vários desses em dois ou três segundos).
Apesar da situação horrível em que me encontrava, testei as minhas condições (sou contra entrar em pânico e gosto de estudar minhas próprias reações e capacidade em todas as ocasiões): tentei, mas não consegui, fechar a boca (encostar os dentes) ou a mão (encostar o polegar no indicador), mexer as pernas, focalizar imagens (cada olho estava focado num ponto diferente e foi extremamente difícil abri-los) e uma sensação de mal-estar, impotência e terror me encheu a alma.
Não tentei falar (a possibilidade nem me ocorreu), mas acho que não conseguiria (esse teste fica para a próxima).
Em situações especiais de estresse, eu tenho ataques de sonambulismo (aglutinação de “sono” + “se bulir”), que é algo muito parecido com a descrição clássica de possessão demoníaca.
Eu falo, ajo, interajo e mantenho a memória do ocorrido, mas aquilo não sou Eu.
Meu corpo se move independente da minha vontade, enquanto eu sinto uma sensação de confusão e desconexão, como se estivesse sob o efeito de drogas, mas sem controle da minha vontade.
Mas eu sei que isso é um acontecimento psico-fisiológico. Eu estou interpretando meus sonhos Ao Vivo e Em Cores.
O mecanismo que desliga meu corpo e me deixa quieto na cama enquanto eu sonho que estou cozinhando sem precisar necessariamente me levantar e cozinhar, correndo o risco de me machucar, entra em curto e eu faço o que meu cérebro está criando (ainda bem que a maioria dos meus sonhos envolve um banco de praça comigo sentado nele enquanto leio um jornal).
O contrário foi o que me ocorreu ontem de madrugada. Eu acordei, mas a chavinha que deveria religar minhas habilidades motoras manteve o circuito aberto.
Estava semi-lúcido mas completamente imóvel.
A isso dá-se o nome de Alucinação Hipnagógica (“hipnagogia” é o estado de transição entre o sono e a vigília, ou, o acordar, enquanto “hipnopômpia” refere-se ao adormecer).
Ao despertar, ficamos meio confusos por alguns poucos segundos, mas quando isso é somado a um evento estranho e desconcertante, como a falta de mobilidade, uma alucinação é provocada.
Esse tipo de fenômeno é, muito provavelmente, responsável por relatos de abdução (pessoas que acreditam em visitas extra-terrestres e se impressionam facilmente com estórias do tipo, quando despertas, vão “racionalizar” o acontecimento como um seqüestro intergaláctico), bruxas (daquelas que sentam no peito das vítimas para lhes sugar a saúde), fantasmas (ontem mesmo eu vi um, mas creio ter sido meu cérebro reinterpretando, em uma forma binocular, as sombras e contornos borrados vistos por olhos fora de sincronia um com o outro) e outros casos paranormais (os cochichos que ouvi foram, provavelmente, causados pelo aumento da minha pressão sangüínea devido ao medo e ao consumo exagerado de café antes de dormir, fazendo o sangue passar mais barulhentamente pelos meus ouvidos) e superstições variadas.
Semelhantemente, eu consigo ver sonambulismo confundido com possessão. Eu me sinto possuído; quem me flagra durante um desses eventos enxerga em meus olhos que aquilo não sou eu.
Mas não temam, não sou a encarnação do Mal (e se for, ele está fazendo um péssimo trabalho me convencendo disso e tá bom de procurar outro representante).
Sou apenas um sujeito de carne e osso que não acredita em fadas ou em Papai Noel mas que, às vezes, anda por aí pelas madrugadas agindo e falando coisas estranhas e que, certa vez (ontem), viu fantasmas, sentiu o peso de um ser invisível a pressionar-lhe o tórax e foi imobilizado por uma força macabra.
Tudo isso fruto de um cérebro com a fiação gasta.
Já pensou se eu nunca tivesse ido atrás de uma explicação física para isso? A quantidade de bobagens que eu sairia por aí falando seria tremenda (ainda posso estar errado e falando besteira, mas tenho muita confirmação de alucinações e nenhuma de espíritos zombeteiros).
Por isso que eu gosto de saber das coisas.
E eu não sou esquizofrênico.
Sei disso por causa de uma voz na minha cabeça que sempre me confirma isso (‘sempre’ é exagero; às vezes os gritos de “QUEIME, QUEIME!” encobrem todas as outras vozes).
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