Determinismo Nominal

==> Antes de começar o artigo de hoje:
Era para ter escrito isso ontem, mas esqueci.
Eu tenho costume (nem sempre cumpro, mas ultimamente tenho seguido à risca) de passar os domingos sozinho (especialmente anteontem), trancado dentro de casa.
É bom que dá para ler, ouvir música, fazer comida e, mais importante, pensar na vida.
Eu não gosto de acordar cedo, principalmente no começo da semana. Mas, como eu passo o domingo sentindo o peso sombrio e gélido da Solidão, eu acordo com o sol e um pouco mais de vontade, porque sei que estou indo para onde tem gente, já não mais ficarei só.
Ficar sozinho não é bom, principalmente quando existem pessoas que dariam muita coisa para lhe acompanhar.
Trate bem (ou melhorzinho pouca coisa) quem gosta de você, pois isso é um evento raro (estatisticamente, pelo menos, pois somos quase 7 bilhões de pessoas e quantas gostam de você? Quinze, trinta? Menos de 0,00000001%).
Gente é quente, solidão é fria de trincar os dentes.
De volta à programação normal. <===
Dia desses eu falei de Igor Stravinsky, grande compositor russo e que revolucionou (mais ou menos) a música.
Enquanto escrevia aquilo (ainda estou, pois estou escrevendo isto ao mesmo tempo, em outra janela do meu editor de texto), me ocorreu que eu também me chamo Igor e também sou compositor/músico. Ainda não revolucionei nada (só a minha vida, algumas vezes) mas talvez um dia eu chegue lá.
Tem um sujeito aqui na minha cidade chamado Beethoven, que também é músico!
Tenho um tio que divide o nome com um famoso dramaturgo do décimo sétimo século. O que ele é hoje dia? (meu tio, pois o outro cara já deve ter virado nitrato três vezes) Dramaturgo!
E um dos Ministros do STF cujo sobrenome é Direito?
E o nome do arquiteto responsável pela ponte Rialto, em Veneza? Antonio da Ponte!
Um juiz britânico chamado Sir Igor Judge (judge = juiz, em inglês)!!
Scott Speed(speed = velocidade, em inglês), piloto de Fórmula 1!!
Mikhail Tsvet, botanista russo, inventor da cromatografia (técnica de separação de misturas e identificação utilizando cores). Tsvet, ou цвет na grafia russa, significa COR!!
Arsene Wenger, treinador do ARSENAL F.C.!!!
E Wolfgang Wolf, antigo dirigente do VFL Wolfsburg??
!!!!
Não sei vocês, mas eu já estou todo arrepiado!
Coincidência?
Humrum.
Quantos Da Ponte são vendedores de embutidos nas ruas da Silícia? Quantos Speed são funcionários públicos?
E o resto da família do Ministro Direito, todos advogados?
O filho do juiz Judge pode ser carpinteiro?
Eu nunca inventei um helicóptero, por exemplo. Nem nunca toquei um sino ou trabalhei para vampiros.
E conheço vários xarás, nenhum é voador ou músico ou assistente de cientistas malucos.
Conheço pessoalmente um Albert Einstein, que até onde sei é ciclista, e um Kepler, que tenho quase certeza não conhece o movimento dos corpos celestes nem jamais calculou uma constante universal.
Conheço alguns Leonardos e nenhum é engenheiro, arquiteto, escultor, pintor, filófoso ou professor.
Estudei com um Jesus, que não me livrou dos meus pecados.
Um amigo meu estudou com Voltaire, que se formou em Engenharia da Computação.
Quantos Pereira, Carvalho, Oliveira e Pinheiro não são agricultores ou botânicos?
Quantos Ribeiro nunca viram um rio?
Bill Gates (portões, em inglês) criou o Windows (janelas, na mesma língua).
Sharon Stone (pedra) é atriz, não geóloga.
Camila Pitanga e Marília Pêra também.
Fernanda Lima é modelo e Paula Lima é cantora.
Lavoisier Maia é médico e político, mas jamais descobriu um elemento químico nem é português ou da América Central.
Determinismo nominal é uma sincronicidade, ou coincidência significativa.
Ou seja, só existe significado após o fato.
A relação entre nome e função não existe de modo geral, só em casos isolados e quando se pára para prestar atenção.
Outro vício de percepção do tipo “sempre pego a faixa de trânsito mais lenta”.
Quando a minha está andando mais rápido, não lembro de computar o dado, da mesma forma que quando tinha aula de Química Inorgânica com Iara esquecia de registrar que ela não era uma sereia.
Vou finalizar com uma frase que pode ser que seja de Da Vinci mas é bastante provável que não seja. Porém, não importa, a frase é legal por si só de todo jeito.
“Quem discute alegando autoridade não usa a inteligência, mas a memória.”
P.S. Como eu havia dito, vou diminuir minha produção (por motivos diversos). Amanhã farei parte do Carnaval Científico e depois disso, talvez, só volte a escrever na sexta ou segunda (posso jogar uma migalha nos fins-de-semana também, caso me ocorra algo interessante ou eu precise reclamar de algo urgentemente) e continuarei publicando uma ou duas vezes por semana, sempre (provavelmente) no mesmo dia.
Continuem me divulgando, aqui já tem quase 70 artigos (amanhã o número inteira), mesmo que eu não escreva mais todo dia, se uma pessoa começar a me ler hoje, um artigo por dia, só vai ter que esperar uma semana para ler o próximo em setembro!
Até amanhã!

Discussão - 4 comentários

  1. dunha disse:

    Legal é que se eu juntar as duas fases da postagem – quer dizer, amigos (um dos antídotos para a solidão) e peculiaridades dos nomes – posso fazer o mesmo com quase todos os meus camaradas, ainda que forçando um pouco a barra, claro (e reconheço!).
    Para começar, não vou redundar sobre o bloGAYro porque já foi citado Stravinsky, sobre o qual não posso deixar de considerar: chega nem aos pés de um Mahlerzinho na hora do rush em Natal.
    Tem E. Honda (dizem ser Edmond, para mim é Eduardo), que é gordo, mas não deve ter uma moto.
    Tem Isaac Cortez, cuja cortesia já foi confundida com outros trejeitos nos tempos do banheiro da ETFRN (mas, “só de noite”).
    Tem Alberto Batista, que AiNDA não batiza, mas já catequiza.
    Tem Diego, que não joga bola como Maradona, nem faz justiça como um Zorro. Mas, em compensação, não cheira, nem é mascarado.
    Tem Lineu que, embora seja da família Paiva, já teve que pedir muito remédio (meu limão, meu limoeiro).
    Tem Mário, que é Segundo, pois já existe um Primeiro, descendente do Zero... Tutti buona gente.
    Tem Michael Enders que, segundo o wikipedia, pode ser um trompetista ou um pianista... mas, pessoalmente, acho que o “nosso” só toca mesmo sanfona (Salve, Gonzaguinha!).
    Tem Leonardo Mello, que nunca me melou – Graças a Deus! – mas vive às voltas com o mel de uma tal abelhinha do quiosque.
    E tem Keyboy, mas o nome dele – na verdade – é Rodrigo... Keyboy é DE MENTiRA!!! (sacaram?! Keyboy e Mentira... uaca, uaca, uaca)
    Tem Olavo Olavo que, apesar de ter o nome dobrado, não é dono nem de meio camarão.
    E, finalmente, tem Nazianzeno que, se eu escrevi certo, deve lembrar uma igreja, coisa da qual – penso eu – ele nunca passou perto.
    Se esqueci de alguém, não leve a mal, provavelmente seu nome é sem graça... só isso.

  2. dunha disse:

    Esqueci de mencionar que Eduardo é Marinho e tem couro de peixe. 😛

  3. Igor Santos disse:

    Muito ótimo comentário!
    Eu evito utilizar nome dos meus amigos (me deixaram com medo de processo) nos meus artigos, mas ficou um de fora.
    É mais um trocadilho anglo-lusófano, mas não é mais forçado que achar que Michael Douglas é viciado em sexo:
    "Apesar da falta de sobrenome, ele não é filho de goiamum, mas é de mil, son..."

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