Imaginação

Imaginação é a ferramenta que nos possibilita aprender com os erros que nunca cometemos.
Ela nos dá a oportunidade de decidir que uns futuros serão melhores que outros e nós podemos escolher os bons e descartar os maus.
Não preciso mastigar um feixe de carrapichos para saber que isso é uma idéia maravilhosamente péssima.
Eu sei que ser admitido será melhor que ser demitido e que o almoço será melhor que a conta.
E eu sei dessas coisas porque posso utilizar a minha imaginação para vivê-las.
Porém, segundo pesquisas recentes, a imaginação humana (pleonasmo?) não é tão boa em prever a intensidade das nossas sensações e emoções. Temos uma tendência a imaginar que uma reação emocional será bem mais intensa e durará muito mais tempo do que acontece no fim das contas.
Se valendo de um experimento relativamente simples, o grupo usou vários voluntários e os fizeram descrever e quantizar o que achavam que sentiriam quando comesses batatas fritas e depois responderiam o mesmo questionário já com as batatas na boca.
Os pesquisadores descobriram que nenhum dos pesquisados conseguiu prever confiavelmente a quantidade de prazer que sentiria, até poucos instantes antes de colocar as batatas na boca e ainda que algumas das coisas que influenciam as previsões não influenciam o resultado. Por exemplo: se os voluntários estivessem respondendo ao primeiro questionário na presença de chocolate (que a maioria das pessoas acha mais prazeroso que batata frita), o número total de quantidade de prazer seria bem menor, pois as fritas estariam sendo comparadas ao chocolate e as pessoas esperariam que elas não tivessem um gosto tão bom. Contudo, o número final do segundo questionário (pós-degustação) não mudou. Ou seja, a previsão foi influenciada pela visão do chocolate, mas a experiência continuou a mesma.
A pesquisa achou paralelos entre essa experiência em laboratório e coisas que são realmente importantes nas vidas das pessoas (romance, emprego, eleições) e achou que o erro mais comum era a superestimação; se uma coisa ruim acontecesse, as pessoas previram que ficariam devastadas para sempre e, depois daquilo acontecer, não teria sido tão ruim assim.
E vice-versa!
As pessoas também acham que uma coisa boa vai ser estupidamente maravilhosa por muito tempo quando a realidade é mais curta e menos intensa.
De fato, a maioria dos eventos não nos afeta por muito tempo, a maioria das coisas se torna rapidamente irrelevante para o nosso bem-estar emocional.
Muita coisa sobre o nosso sistema emocional nos é desconhecida. Nós humanos não entendemos a velocidade com a qual nos adaptamos. Somos criaturas incrivelmente resistentes e flexíveis, nos adaptaríamos a quase qualquer coisa, mas isso não parece ser algo que sabemos a nosso respeito e costumamos errar nas nossas auto-previsões de adaptação.
Somos também ótimos racionalizadores. Quando algo desagradável acontece, conseguimos enquadrar de uma maneira que faz parecer não tão desagradável assim.
Quando meu cachorro me morde e arranca o tampo do meu joelho, eu adapto minhas idéias e memórias para todas as vezes em que ele foi agressivo comigo, penso na sujeira que ele fazia e eu tinha que limpar, no trabalho que eu tinha para cuidar dele, no tempo e dinheiro que eu desperdiçava com aquele infeliz canino e, racionalmente, fica mais fácil atirá-lo contra a parede sem sentir tanto remorso (essa estorinha é uma analogia fictícia, não há necessidade de ligar para a SPA, tá?)…
Outro exemplo, se eu sou despedido, vou pensar: “Ainda bem! Melhor ficar na rua que continuar trabalhando nessa joça para um retardado complexado, recalcado e afetado que acha que manda em alguma coisa só porque é dono! Melhor sem aparador de respingo de um limpa-fossa que dono de um lugar sem futuro desses!”
Talvez isso seja um mecanismo de defesa, pois assim não ficamos tão mal quando coisas más acontecem.
O líder dessa pesquisa, Daniel Gilbert, recomenda que busquemos nos informar mais para conseguirmos fazer previsões melhores sobre o nosso próprio futuro emocional.
Segundo ele, uma das melhores maneiras de prever como nos sentiremos no futuro é achar outras pessoas que passaram pela mesma coisa e perguntar como elas se sentem, depois do fato experimentado.

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