Teoria do bocejo
Os neurônios-espelho são células neurais especializadas que nos fazem imitar comportamentos inconscientemente.
Resumidamente.
Mais explicadamente:
Descobertos vinte anos atrás pelo neurofisiologista italiano Giacomo Rizzolatti enquanto estudava cérebros de macacos, esses neurônios ajudam as pessoas (e outros animais) a se identificar e empatizar com as emoções dos outros como se elas fossem suas próprias.
A estória contada diz que descoberta foi feita enquanto um membro da equipe de sua equipe estudava, em um macaco, uma área do cérebro chamada F5, responsável por planejamento, seleção e execução de tarefas. O símio estava lá, na dele, quietinho, até que o cientista na sala com ele esticou o braço para pegar alguma coisa. Quando isso se deu, ele ouviu um barulho repentino vindo do computador que analisava as ondas cerebrais da criatura, indicando atividade naquela parte do cérebro que estava sendo monitorada, como se o bicho tivesse esticado o braço para pegar o que quer que tenha sido o alvo da pegada.
Essa atividade registrada deu indicações de que o macaco estava imitando, mesmo sem precisar se mexer, apenas em seu cérebro, o que viu o pesquisador fazendo.
De toda forma, a existência dessas células já foi provada independentemente (o melhor tipo de prova) e ajuda a explicar o porquê de sentirmos o que outras pessoas estão sentindo (empatia é a palavra)
Segundo o neurocientista da UCLA, Marco Iacoboni, Ph.D, (especialista também em Estimulação Magnética Transcranial, a versão 2.0 de Sincronização Cerebral, o tema da minha dissertação na faculdade!), essa habilidade de entrar em mente alheia teve um papel importante no desenvolvimento da sociedade e cultura.
Ele acredita que esse traço, obviamente herdado pelo processo evolutivo natural, nos ajudou a socializarmos mais facilmente (quando vejo alguém sorrindo ou chorando, eu sei instintiva e instantaneamente o que aquela pessoas está sentindo, nem tanto por entender suas reações, mas por estar eu mesmo experimentando suas emoções, o que fortalece meus laços com ela) e a aprender através de exemplos, otimizando nosso desenvolvimento por evitar um processo dispendioso de erro-e-acerto pelo qual passaríamos se os neurônios-espelho (ou similares) não existissem. E isso tudo sem precisarmos agir!
Nosso cérebro se encarrega de viver aquilo que vemos sem nos dizer explicitamente.
As ligações neurais que disparam quando eu chuto uma bola são as mesmas que disparam quando eu vejo um jogador na TV chutando uma bola.
Eu não tenho as conexões que me fariam girar três vezes no ar em três eixos diferentes, por isso não entendo como um ginasta ou mergulhador ornamental consegue fazê-lo.
Outra coisa interessante que eu ouvi Dr. Iacoboni dizer é que a culpa de viramos a cara quando vimos um pedinte ou um sem-teto de modo geral, é desses neurônios. Ao ver alguém em dificuldade (inclusive social), nós sentimos o que aquela pessoa está sentindo e isso nos é desagradável, por isso tentamos não olhar para não causar desconforto em nós mesmos.
Funções cerebrais de ordem superior, no entanto, conseguem anular esse mecanismo, o que nos permite guerrear outros por discordarem das nossas crenças políticas ou religiosas sem muito peso na consciência. Oba!
Quanto ao bocejo, eu criei (responsabilidade é assumidamente minha) um paralelo que aparenta fazer sentido.
Mas não faz. As células-espelho são discretas e não se mostram. Nós sentimos mas não fazemos.
Logo, minha teoria do bocejo não durou sequer um parágrafo completo.
Vou continuar tentando…
Discussão - 4 comentários
Mas se ver um mendigo nos faz virar a cara por conta das células-espelho, porque ver alguém bocejando (uaahhhhh...) não tem a ver também?
Eu tinha escrito uma explicação bem grande, mas vi que não explicava coisa alguma.
Na verdade, eu não sei. Pode ser que o bocejo seja causado pelos tais neurônios, mas aí já é pergunta de vestibular...
Minha resposta agora é: reflexo.
Na universidade, num momento de tutorial estudando se o bocejo seria contagioso, ficamos com algumas dúvidas e certezas acerca do assunto. Compreendemos que o bocejo seria na verdade um reflexo orgânico, uma manisfestação cerebral na tentativa de fazer com que o corpo captasse mais ar, consequentemente, mais oxigênio, para melhorar a perfusão cerebral.
Por outro lado, não conseguimos compreender porque uma pessoa boceja em seguida ao ver uma outra bocejando ( e eu só de ler o assunto já estou bocejando a algum tempo). Ainda sim acho essa teoria das células-espelho interessantíssima como via explicativa do assunto. Abraço
Wagner, eu li alguns estudos em que pessoas foram deixadas em ambientes ricos em oxigênio (até 100% de O2) e outros em ambientes com CO2 elevado e, tanto a frequência quanto a duração e a intensidade dos bocejos foi a mesma.
Eu li outra pesquisa (mas só uma, não sei se foi replicada) que sugeria que a quantidade de ar absorvida por um bocejo é a mesma de uma inspiração funda normal.
Talvez o reflexo inicial de oxigenar o cérebro esteja presente, mas a mistura dos gases não influi no processo, como piscar os olhos mesmo usando óculos de proteção.
Quando eu bocejo, me sinto 0,5%mais calmo. Talvez uma endorfinazinha de leve esteja sendo liberada?
E bocejo não é sinal de sono também porque bocejamos mais (geralmente) assim que acordamos e durante a manhã e não logo antes de dormir ou durante a noite.