Candiru (ou “o peixe com o qual você não quer se familiarizar”)

Irei a todo custo evitar rimas neste artigo.
Na região amazônica, dois peixes fazem parte da pletora de pesadelos: a piranha e o candiru.
O primeiro é carnívoro predador, atraído por sangue e tem dentes bastante afiados, como mini-tubarões fluviais, enquanto o segundo é um parasita, atraído por uréia e tem um anzol na cabeça.
Unra!
As piranhas matam da maneira clássica, mascando a sua carne até que nada mais sobre a não ser ossos mais ou menos limpos e um cardume de peixes temporariamente satisfeitos.
O Candiru, por sua vez, mata de uma maneira inovadora: agonia.
Não o tipo de agonia que se sente quando Emílio Santiago rima “macho dengoso” com “tá delícia, tá gostoso”, mas algo um pouco maior.
Esse peixe, que é mais grosso do que deveria, se aloja na uretra dos incautos que se aliviam nas águas daquela região.
E por que esse bicho faz essa malvadeza tão grande?
Ele não faz, isso é um acidente. Nem de uretra ele gosta.
O Candiru é um parasita eventual e se liga a peixes para se alimentar de sangue (por alguns minutos por vez apenas). Esses peixes excretam amônia pelas guelras atraindo o pseudovampiro que se liga, usando o seu ferrão/arpão, a uma artéria e tem o sangue prontamente bombeado para dentro de si usando a pressão sanguínea do parasitado. Clever, ay?
Ele faz isso ao sentir o cheiro da amônia dissolvida, assim como as piranhas farejam o sangue e meu cachorro fareja medo (amônia é convertida em uréia nas pessoas e o cheiro deve ser semelhante, mas eu não saberia).
Quando eu disse que nem de uretra ele gosta foi com base no dado da ligação com a artéria. Ele não sabe chupar como um mosquito. Se não houver uma pressão positiva empurrando-lhe sangue goela abaixo, ele não tem como se alimentar. Logo a uretra humana é o prato de sopa para a cegonha.
Não conseguindo beber, o peixe relaxa e tenta sair, mas aí o dono do canal excretor já está correndo louco pela floresta, com seu apêndice seguramente acoplado entre as mãos e chorando.
Se essa imagem não o impedir de mijar na bacia amazônica, eu não sei o que impedirá.
(Faz sentido para mim (e talvez só para mim) que o peixe ache o alvo usando o olfato como os urubus o fazem.
Explico: urubus sentem cheiro de carniça enquanto estão voando numa certa direção. Se o cheiro aumentar, continuam em frente, se diminuir, dão meia-volta. Enquanto estão indo em frente, fazem uma curva para um lado e o processo se repete; se o cheiro aumentar, continuam praquele lado, se diminuir, voltam para o outro.
Eles vão fazendo isso, corrigindo a trajetória aos poucos até que, de repente, estão voando em círculos cada vez menores, sentindo que o cheiro está ali meio para a esquerda e que todos aqueles outros urubus voando na mesma área do mesmo jeito não podem estar errados.
Mas isso demora e ele precisa ser mais rápido. “Ele” que eu digo é o Candiru.
Uma ruma de carniça não vai se mover tão rápido tão cedo, mas o alvo do peixe é móvel e está engajado numa atividade curta e intercalada com vários momentos de não-excreção.)
E quanto à rima?
Por não enxergar muito bem, o peixe entra no primeiro buraco que encontra perto da fonte de uréia.
Às vezes o Candiru entra no buraco errado.

Discussão - 3 comentários

  1. Claudio disse:

    Excelentes esclarecimentos.Já tinha ouvido falar do peixinho em filmes como Anaconda e, no extinto Programa do Ratinho, até apareceu um cara sem pinto, supostamente castrado por ter sido vítima do candiru, mas ninguém se dignou a explicar como e porque o bichinho age, como você o fez.

  2. Andressa disse:

    Ou agonia de lembrar daquele pobre coitado que passou duas semanas com o seu p... entupido! ai =/

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