Coisas que não sei – caretas musicais

Apesar de ser mestre no assunto, não sei a causa.
Todo músico que eu conheço (e eu conheço literalmente milhares) faz algum tipo de careta em algum momento enquanto está tocando.
Desde um encolher dos olhos como um míope tentando ler, passando por um imprensar da língua contra a parte interna da bochecha até expressões de dor intensa, durante um solo ou até no decorrer natural da música, todos nós fazemos caretas.
Apesar do fenômeno ser conhecido como guitar face, até cantores e gaitistas têm esse traço em comum.
Como baterista, eu conheço bastante bem minhas caretas, que na maioria das vezes são causadas por simples exerção física ao tocar rápido demais (a maioria dos bateristas também tendem a virar a cabeça para o lado, como tentando apontar o ouvido para a frente do palco na fútil tentativa de ouvir algo além de si mesmo).
Nem minha constante vigilância dos meus próprios atos me garante um conhecimento maior do acontecimento.
O mais próximo que eu consegui chegar de obter uma resposta foi um estudo que li há algum tempo que dizia que, enquanto tocam, músicos desligam a parte do cérebro responsável pela inibição e automonitoramento, mas isso não responde minha dúvida.
Por que fazemos tantas caretas enquanto tocamos?

Discussão - 18 comentários

  1. Paulo Brito disse:

    Mudamos nossa expressão facial quando expressamos sentimentos (alegria, raiva, desprezo e etc) e tocar um instrumento tem muito pouco a ver com simplesmente emitir sons. Um guitarrista de blues, por exemplo, está na verdade "chorando" com a guitarra, ou seja, cantando lamúrias, frustrações, tristesas, só que sem palavras. Me parece bem simples esta questão, na verdade...
    Aliás, aqui está a chave da questão do porque música instrumental é tão pouco popular. A maioria das pessoas não consegue sentir a emoção da melodia se não houver uma letra escancarando o sentimento.

  2. Igor Santos disse:

    Hum, não sei.
    Mesmo quando se está treinando um solo já existente, por exemplo, onde há pouquíssima emoção, as caretas aparecerem. Seja de ouvido, seja direto do papel, as notinhas mais agudas sempre causam um espasmo no pescoço e um repuxar dos lábios.

  3. Luis Brudna disse:

    Para polemizar... a guitarra é um falo?

  4. Igor Santos disse:

    Hehehehehe.
    Se a guitarra é um falo, oboés, fagotes e didgeridoos deveriam ser proibidos para menores.

  5. Chloe disse:

    Olá Igor,
    a idéia que me vem é de expressão mesmo.
    considerando o instrumento como a extensão do instrumentista, o som tirado seria também a extensão da expressão corporal como um todo.
    eu acho lindo o jeito que certos flautistas se movem quando tocam, por exemplo.
    tem gente que se incomoda com as caretas e os movimentos, e até concordo que as vezes é demais.
    mas alguns são de uma delicadeza belissima!
    quanto à observação do Paulo, achei curiosa, pois indo em sentido contrario, tenho muitas musicas em minha preferência, das quais prefiro tirar a letra e ficar só com a parte instrumental.
    tem uma inclusive, que tenho uma dificuldade imensa em ouvi-la com a letra.
    com todo respeito ao autor, prefiro a versão sem as palavras.
    também acho dificil conciliar sons produzidos por fagote e oboé com letras.
    claro que instrumentos normalmente utilizados em concertos ou musica de camara trazem um brilho a mais para as chamadas 'musicas populares', mas neste caso, em geral, o foco é mesmo na letra.
    acho que é só tomarmos cuidado para não deixar que caretas e movimentos extras acabem competindo com o proprio som.
    ( )'s.
    C.

  6. Igor Santos disse:

    Eu tenho também um bloqueio com palavras.
    Dificilmente escuto letras como mensagem textual, a menos que me concentre nisso.
    Para mim, em música tudo é música.
    Isso e o fato de eu não gostar de poesia em geral.

  7. André Souza disse:

    Chloe,
    O arranjo da música conta muito, até para a interpretação da letra Tem certas músicas q, mudando o arranjo, a música muda como um todo.. Só pegar algumas versões de um certo "Richard Cheese" e vc vê isto (A q ilustra melhor o exemplo é a versão da música tema do Friends...).
    Acho q, se vc ouvir a versão original de "pavão Misterioso" (Ednardo), vc chega a enxergar a fábula q é contada na música,enquanto na versão mais "pavoneada" e popular do Ney Matogrosso se perde um pouco disto

  8. Chloe disse:

    Oi André,
    não conhecia Richard Cheese, achei legal, rs...
    tem um cara que participou do American Idol 2009 (não me odeie Igor!), Nick Mitchell, acho que se inspirou no R. Cheese, ; )
    concordo que o arranjo influencia muito e as vezes muda tudo!
    me lembrei dos arranjos do Apocalyptica para musicas do Metallica, dos quais gostei muito mais do que os originais.
    novamente sem a letra...
    mas, sabe que vc falando de 'enxergar a fábula' também me fez lembrar da Mônica Salmaso, gosto muito dos arranjos por ela cantados.
    sempre a considerei uma 'contadora de histórias', quando canta.
    contudo... acho que minha queda maior ainda é pelos arranjos sem as letras, acho que é um vicio comum a quem já fez aulas de instrumentos.
    ( )'s.
    C.

  9. Igor Santos disse:

    Chloe, American Idol é um bom programa, desde que você assista apenas às apresentações depois do corte inicial.
    A primeira fase é só humilhações gratuitas e até durante os finalmente os jurados só existem para se autopromover.
    A música é, em geral, boa.

  10. Milton disse:

    Não lembro de nenhuma gravação onde Jimmi Hendrix fizesse careta. Acho que a questão não está em fazer careta enquanto toca um instrumento e sim em simplesmente fazer careta, jogadores de futebol, basquete, volei e outros esportes também gostam de fazer careta. Lembra do Maradona na copa de 1994? Se fazer careta é divertido, então vamos fazer careta tocando, cantando, jogando e sempre que a situação permitir.
    E aquela do Einstein?

  11. Igor Santos disse:

    O que??
    Hendrix era o rei da língua para fora/queixo pra frente!
    http://www.pastemagazine.com/articles/jimi_hendrix-gal-guitar.jpg

  12. CK disse:

    Essa Chloe que comenta por aqui não se chama por acaso Chloé-Antoine Ya...?

  13. Igor Santos disse:

    Não sei mas agora fiquei curioso.
    Quem é essa pessoa?

  14. Paulo Brito disse:

    Chloe, tem um experimento bem interessante do qual eu mesmo fui cobaia durante anos e gostaria de colocar aqui pra vocês!
    Sou guitarrista, há uns 10 anos. Quando comecei a tocar guitarra, logicamente comecei a prestar mais atenção na parte instrumental das músicas. Hoje, quando eu tento me lembrar de alguma música muito antiga, da qual eu gostava antes de ser músico, só consigo me lembrar da parte instrumental quando não há voz! Ou seja, introduções, solos, pequenas passagens... o resto é só voz! Se eu pudesse ligar minha cabeça num altofalante, você só ouviria voz em 90% dessa música.
    Claro que hoje não é mais assim, inclusive às vezes me surpreendo com alguma parte vocal que eu não percebi em uma música que conheço e ouço há anos, pois hoje me atento muito mais ao instrumental.
    Acredito que seja uma teoria válida para a grande maioria das pessoas, pois a maioria não se torna músico. Ou seja, nosso cérebro está inicialmente mais atento à voz do que qualquer outro tipo de som.
    E voltando ao assunto, quando uma pessoa fala, chora, conta uma piada, ela faz caretas. Independente da linga que ela usa, seja português, inglês, japonês... Músicos usam a linguagem do seu instrumento. Só isso. Simples. Por mais que você conheça de antemão tudo o que vai falar, a expressão facial sempre acompanha a emoção do momento.
    Uma boa comparação do guitarrista fazendo caretas é com atores no teatro. O sentimento em um solo muda tão rapida e frequentemente quanto de atores atuando em uma cena mais emotiva. Isso chama a atenção do público.

  15. Luana disse:

    Quando agente faz essas caretinhas, a impressão que dá é que agente consegue "puxar" a nota melhor... por exemplo, nunca tocamos aquela música, agente ouve mentalmente e faz no instrumento, daí fazemos essa força meio que pra ouvir o que ta dentro da mente, daí a nota vem... é mais ou menos isso... é inevitável, facilita bem...

  16. Matheus disse:

    quer tentar cantar sem fazer careta? Vamo lá galopeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

  17. Carlos Lyra disse:

    Na minha opinião, eu acho que o cerebro faz isso como ponto de referencia. Quem toca algum instrumento sabe que você tem guardado certos movimentos no cerebro de tanto treinar, assim você executa tal movimento sem precisar de muita concentração, como por exemplo, em tal musica você faz um bend na guitarra que chega até nota X, se você repetir varias vezes esse movimento, você "grava" ele no cerebro, e depois faz o mesmo movimento até sem prestar atenção na musica.
    Para o cerebro não confundir esse tal movimento pré definido na sua cabeça com outros varios movimentos, ele adiciona outros movimentos que diferenciam mais uma ação das outras, como batidas de pé, expreções faciais... Espero que entendam, não sou muito bom na interpretação textual, mas acho q da pra entender.

    • Igor Santos disse:

      Então por que não fazemos outros movimentos involuntários quando escovamos os dentes? Ou dirigimos (que é uma atividade muito mais cheia de movimentos especializados que tocar um instrumento)?
      Não faz muito sentido isso.

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