Resenha – Promoção de Saúde

Hoje faz um mês e cinco dias que recebi esse livro.
O maior motivo para a demora foi a minha dificuldade em conseguir passar dos capítulos iniciais, pois achei a linguagem muitíssimo pesada para um leigo.
Dá para ler, tanto que eu consegui terminar, mas não foi das tarefas mais fáceis (e ainda juntou com uma fase de procrastinação extrema em minha vida, ainda outra razão para o atraso).
Nas minhas notas, que agora consulto, eu escrevi: “tão denso que só pode haver dois ou três exemplares por livraria, caso contrário a gravidade combinada num espaço tão pequeno geraria uma singularidade…” mas vamos ao livro.
Eu sou estranhamente familiarizado com políticas públicas de saúde e já havia lido a expressão “promoção de saúde”, mas nunca tão minuciosamente descrito.
O subtítulo da obra é “a negação da negação”, que não fez sentido algum para mim até eu chegar mais ou menos na metade do volume, quando então tudo se encaixou.
Eu devo admitir que passei exatamente metade do tempo da leitura com a incômoda sensação de que estava lendo um livro de pseudociência e que essa sensação simplesmente evaporava durante a outra metade. Me senti numa gangorra lógica.
Eu posso concluir que o livro não é charlatanismo pela quantidade de vezes que os autores afirmam que aquilo são ideias e que são pouco práticas, mas eu ainda posso estar errado, pois como já disse, essa leitura me causou muita confusão mental.
O esquema é o seguinte: é necessário mudar a maneira de como as doenças são tratadas e os autores (Fernando Lefevre e Ana Maria Cavalcanti Lefevre) propõem uma quebra de paradigma.
Não devemos evitar as doenças ou buscar cura para elas. Devemos, sim, criar um ambiente onde as doenças sequer tem condições de vir a existir.
Uma nota de rodapé que achei particularmente interessante diz o seguinte:

“[D]eslocando o foco para a doença e desenfocando do doente, perde-se o homem como consumidor, que é o modo como ele é fundamentalmente visto no modelo atual, mas recupera-se este mesmo homem como o principal responsável pelos desequilíbrios de todo tipo, que estão na raiz das doenças”

Palavras fortes, eu sei, mas a proposta é interessante: buscar a saúde não como a ausência de doenças, mas como uma relação entre mente, corpo e sociedade.
Ao invés de gastar com tratamento e buscar cura para tuberculose, digamos, a proposta da Promoção de Saúde é eliminar os fatores físicos, psicológicos e sociais que fazem com que a TB continue existindo.
A melhor analogia que consigo fazer é a seguinte: digamos que seja necessário eliminar o dinheiro. Tradicionalmente, tentaríamos inventar esquemas para substituir o conceito de dinheiro ou talvez até tentar criar uma comuna perfeita onde o dinheiro passe a ser desnecessário, mas de alguma forma o dinheiro vai sempre voltar a existir porque o conceito sempre existirá. Porém, se a humanidade desaparecer, o dinheiro desaparece junto com ela pois perderá todo o sentido em existir.
Se não houver “sentido” para uma doença existir, ela vai simplesmente deixar de ser.
Obviamente, cento e sessenta e tantas páginas não podem ser resumidas nessa minha analogia adamsiana, mas eu gostaria de encerrar com mais um trecho do livro:

“[P]arece claro que não pode haver Promoção de Saúde sem participação ativa dos profissionais de saúde e mobilização dos gestores e que para isso é preciso que haja comunicação.”

promocao de saude.jpg
Já nas livrarias ou direto na Vieira & Lent casa editorial.

Discussão - 3 comentários

  1. Igor Santos disse:

    Esqueci de dizer.
    A editora gentilmente me enviou esse livro.

  2. Antonio Matos disse:

    Sou recém-graduado em Fonoaudiologia e estou razoavelmente familiarizado com o termo. Fala-se muito sobre promover saúde hoje em dia, desde a graduação.
    Como você bem traduziu os autores, a promoção vai além da prevenção. Promover saúde é focar na qualidade de vida, no bem-estar no que diz respeito aos aspectos físicos, psicológicos e sociais.
    Gostaria muito de deparar-me com projetos com tais objetivos funcionando em nosso país, mas mesmo os gestores preferem insistir na remediação. A cultura brasileira é ainda muito fundada em esperar acontecer para começar a remediar. Considero pouca a atenção voltada à prevenção no nosso país; penso que a promoção da saúde ainda demorará a ser valorizada.
    (Sempre leio seu blog. Parabéns pelos textos. Abraço.)

  3. Igor Santos disse:

    Obrigado pelas visitas, Antonio.
    O maior problema que eu vejo quanto a implementação é que ainda mantemos a nossa antiga mentalidade de viciado em jogo. Ou seja, é preferível esperar para ver o que vai acontecer, porque pode ser que milagrosamente todos parem de adoecer.
    Isso e nossas políticas de gestão de saúde pública que são ainda muito arcaicas e intervencionistas.

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