A pseudociência do vestibular
Prestei vestibular ontem pela quinta vez, onze anos depois do primeiro e revi algo que permeia a cultura vestibulanda desde pelo menos 1998: a pseudociência do vestibular.
Vocês devem saber ao que me refiro. Os sinais são claros: bombons em cima da mesa, uma garrafinha d’água no chão, alguém que entra na sala finalizando uma maçã, etc.
Existem livros e mais livros sobre o assunto, inúmeras páginas ensinando posições de ioga, receitas para o dia da prova, dizendo que pensamentos de revolta são certeza de reprovação (o que, sendo verdade, eliminaria todo e qualque adolescente logo na porta) e até algumas preces (sim, porque se você não passar, a culpa é sua, se passar, é porque Alá quis).
Algumas coisas são boas realmente, como conselhos de evitar drogas, por exemplo, mas a maioria foi criada e testada somente na cabeça desses gurus e simplesmente não faz sentido, como “dê preferência a ameixas secas”.
As que fazem algum sentido provem do bom e velho bom-senso, como “não só estude, tenha também algum lazer”.
E pouquíssimos são gratuitos. A maioria chama a atenção com “descubra os erros mais comuns em provas e se dê bem” e aponta para um link onde você pode comprar um PDF por apenas R$20,00.
Como eu já disse no uôleo, o que mais existe é terrorismo: gente que nota um traço seu e diz que aquilo é certeza de zero na prova ou que usa o famoso só passa sabendo o que você não sabe, disfarçado em frases como: “O quê!? Você não sabe a fórmula da espaguetificação? Isso é o mais importante para o vestibular!!”
Todo autor e professor tem sua manha infalível que pode ser comprovada nos que foram aprovados e devidamente esquecida naqueles que reprovaram (pois eles não passaram por causa de um erro diferente ou porque não entenderam a manha).
A única vantagem nessa montanha de informação falsa ou inadequada é que o aluno deixa de se preocupar com a prova, migrando o foco da sua apreensão para os rituais que terá de cumprir durante o concurso, numa espécie de (acho que isso caracteriza um pleonasmo) efeito placebo psicológico.
Eles se preocupam tanto em não errar a ordem em que devem comer sua caixa de chocolates que esquecem da prova e relaxam enquanto a respondem, pois ela se torna o objeto que dá alívio de tanta crueldade mental que lhes é imposta pela maneira correta de lembrar dos níveis de energia dos chakras.
Por outro lado, o tempo gasto tentando decorar as piadinhas mnemônicas que professores de cursinhos adoram poderia ser melhor utilizado se preparando intelectualmente.
Talvez até estudando!
Não passa quem sabe a tabela periódica decorada ou quem só comeu alface com margarina enquanto tomava banho com arruda e sal grosso na noite anterior, mas quem sabe o que fazer com os dados fornecidos.
Eu nunca fiquei nervoso ao subir num palco para tocar porque tinha consciência de que sabia as músicas.
E, sabendo, é só subir e tocar.
Se o sujeito está bem preparado e sabe a matéria, ele vai passar.
Desde que não se preocupe em decorar a cor de todos os carros no caminho até o local da prova para ir “ativando o cérebro”. Porque se seu cérebro precisa ainda ser ativado, acho que um hospital seria o melhor destino naquele momento.
Pseudociência de Vestibular existe e no meu ponto de vista faz mal em termos gerais.
Mas talvez o meu ceticismo mais atrapalhe que ajude, então eu vou ficar calado.
Discussão - 10 comentários
Eu nunca tinha pensando seriamente sobre isso! Texto fodástico, parabéns.
A maior pseudociência é o próprio vestibular. Estudos indicam que a posição no vestibular não se correlaciona bem com o desempenho acadêmico, p.e. http://www.congressousp.fipecafi.org/artigos62006/555.pdf
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[]s,
Roberto Takata
Quanta revolta contra o vestibular. Porque você se incomoda tanto com esses rituais? Isso é tão insiginificante. Nunca tinha prestado atenção em nada disso. E não acho que haja esse tanto de gente preocupado com isso como você diz. Aliás, quanto mais pessoas focadas nessas bobagens, melhor para você, pois os seus concorrentes são então uma piada.
Bom texto ^^
Acredito que o ponto chave para se sair bem numa prova de vestibular é muita dedicação de si proprio aos estudos, a cada minuto que passa vamos nos relaxando e esquecendo da dedicação !! Resultado, falta 1 mes pr vestibular, aí vc pensa vou estudar un pouco rezar bastante que consigo...
+ na verdade quem ficou os os .6 meses em casa neim tomou banho de sal grosso ou foi na igreja, provavelmente se naun foi atropelado no dia da prova vai tirar uma melhor nota que vc !!!
XD
esse ano vou me dedicar, até dezembro to na facull federal !!
lol
bela referencia de um vencedor no assunto 😛
nao li todo texto, e como todos teus textos sao otimos eu concordo contigo. mas para que fazer outro vestibular??? bom cada um na sua.... mas escrevo aqui nao como comentario publico, mas como a unica maneira de manter contato com o autor do blog,,,, minha duvida é se tu ja viu ou o que tu acha de um cara que tem no youtube, que tem a famosa técnica do chute... tu concorda com esse video tambem?
@Guilherme, minha revolta vem do fato de jovens serem explorados, gastando dinheiro com livros de rituais inúteis, por exemplo.
Ceticismo também é proteção ao consumidor.
"Aliás, quanto mais pessoas focadas nessas bobagens, melhor para você, pois os seus concorrentes são então uma piada."
Vai ver é por isso que eu sempre passo! =¦¤þ
@Matheus, parabéns pela lucidez!
De nada adianta estudar nos últimos momentos, tendo estudado antes ou não, porque a tensão não deixa o cérebro absorver como deveria (na maioria dos casos) e o volume de material é grande demais para alguns poucos dias.
@Andre, outro vestibular porque apesar de passar nos anteriores eu nunca conclui um curso (que é a parte realmente difícil).
Você pode mandar um email diretamente para mim, no endereço que aparece na aba de "Contato", lá em cima, logo abaixo do banner do blogue. Ou pelo Twitter, onde sou @uoleo.
Eu nunca vi esse vídeo que você diz, mas se for o que estou pensando, não existe técnica para prever eventos aleatórios.
Me mande o link e eu discuto aqui. Valeu!
seu texto eh falho no ponto de vista psicologico. o ritual eh extremamente importante para a medicina, tanto que muitos transtornos obsessivos compulsivos sao baseados na exacerbacao de rituais, q podem ser coisas extremamente simples, como lavar as maos, verificar se fechou as janelas, ate religiosamente complexos. a publicidade tirou extremo proveito destes conceitos nervosos/psicologicos, ao nao ser q vc acredite q a guiness realmente precisa ficar 2 minutos parada antes que se complete o copo, ou, pra citar algo grandioso, o ritual da passagem da tocha olimpica.
o ritual pode ser algo extremamente benefico para pessoas inseguras e em situacoes de stress. pra ser bem simplorio, podemos dividir a resposta ao stress em 2 grupos: o que vai reagir ao estimulo, e o q vai se retrair e esperar tudo acabar. e esta reacao nao eh necessariamente a mais adequada. um estudo da decada de 50 demonstrou que caes submetidos a choques, quando percebiam q nao tinha o q fazer, simplesmente caiam e aceitavam a situacao, perdendo ate mesmo chances de acabar com a tortura. isso inclusive eh uma tecnica de tortura famosa utilizada ostensivamente em locais desumanos como abu ghraib, a quebra da confianca.
estudar pra um evento como FUVEST, ou um concurso com 2000/vaga nao eh algo simples e vc NUNCA estudou o suficiente. a parte "irracional" do cerebro, a q controla emocoes mais "baixas", instintos e fenomenos biologicos, os chamados archi e paleocortex, ocupam mais de 60% do volume do cerebro. nao ache q a irracionalidade nao existe so pq vc conhece apenas o 1/3 do cerebro que se manifesta.
E seu texto é falho de todos os pontos de vista. O que você escreveu não faz o mínimo de sentido.
Em que canal de TV você viu que rituais são importantes para a Medicina?
E o que a Guinness tem a ver com a estória? E a tocha olímpica é importante como ritual para acalmar os competidores, é isso que você tentou dizer?
E esses cães aos quais você se refere como "percebendo" e "aceitando" são sencientes e raciocinam?
Você está seriamente confundindo várias coisas não-relacionadas e não sabe sequer o básico de anatomia cerebral.
Meu conselho para você: pare de beber.