Resenha – Raízes do Brasil
“A falta de coesão em nossa vida social não representa um fenômeno moderno. E é por isso que erram profundamente aqueles que imaginam na volta à tradição, a certa tradição, a única defesa possível contra nossa desordem.”
Lançado seis anos antes de Formação do Brasil Contemporâneo, este livro é uma das bases para a compreensão do nosso país. De onde veio? O que come? Como sobrevive?
O historiador Sérgio Buarque de Holanda descreve a situação que nos criou; da falta de hierarquia e “frouxidão da estrutura social” até a formação e longevidade das oligarquias que conhecemos muito bem hoje.
Os problemas, que começaram em Portugal mas que hoje já são bem nossos, explicam muito sobre nossa herança social e o motivo por sermos tão diferentes de países com a mesma idade do nosso (Estados Unidos) e até consideravelmente mais jovens (Austrália).
O volume mostra um pouco como a nossa escravidão (que acompanhou a plantação de cana-de-açúcar que foi escolhida porque tínhamos espaço demais para aproveitar) moldou os rumos das relações entre populações urbanas e rurais séculos depois e detalha as diferenças das mentalidades das maiores potências da época (Portugal e Espanha) e como isso dificultou a formação de uma personalidade brasileira.
“[O] aparente triunfo de um princípio jamais significou no Brasil mais do que o triunfo de um personalismo sobre o outro.“
É um livro fascinante realmente. Eu pensei em incluir algumas frases excepcionais mas percebi que estava sublinhando o livro inteiro. Qualquer página onde o livro for aberto vai ter uma excelente frase que é tão verdade hoje quanto era oitenta anos atrás.
Começa meio lento por causa da linguagem mas rapidamente você se acostuma com o passo e o mundo se abre ao seu redor. É um livro razoavelmente curto (cento e cinquenta páginas de texto propriamente holandiano) com uma leitura agradável.
“É inegável que em nossa vida política o personalismo pode ser em muitos casos uma força positiva e que ao seu lado os lemas da democracia liberal parecem conceitos puramente ornamentais ou declamatórios, sem raízes fundas na realidade.”
Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, relançado pela Companhia das Letras (com Abaporu virado pro lado errado na capa) e a venda em casas do ramo. Recomendo (especialmente para mostrar, ao contrário do que a escola nos ensina, que História pode ser interessante).
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A frase que abre esta resenha e demonstra a ideia nada nova e apropriadamente ultrapassada de que “antigamente era melhor” se torna um tanto quanto comicamente irônica ao longo do livro, salpicado de citações não-traduzidas em francês, espanhol, italiano e, a mais esquisita, uma em latim retirada de um livro em alemão.
É bem estabelecido que “hoje” é sempre a melhor época para se viver, independente de quando esse “hoje” se encontre, mas parece que antigamente o pessoal era mais poliglota.
Discussão - 5 comentários
É interessante a analise de um historiador brasileiro com tais pontos de vista, baseados em sua época de vida, e como o leitor pode se identificar com eles e/ou analisa-los com base nos tempos atuais. É um livro que não pode ser datado, seja pelo assunto ou linguagem, pois carrega pensamentos de uma parte da história nacional.
*No terceiro trecho de citação tem um erro na palavra "conceito".
**Faltou o ano de publicação da obra
Consertei o erro, obrigado.
Não citei o ano da obra porque dei duas dicas com "Lançado seis anos antes de Formação do Brasil Contemporâneo" e "tão verdade hoje quanto era oitenta anos atrás".
Muito bom seu blog. Raízes do Brasil e o Povo Brasileiro de Darcy Ribeiro foram livros importantíssimos na minha formação. Se eu pudesse, indicaria para todos os brasileiros (as), abraços.
Olá Igor,
Aprecio tanto os seus comentários quanto os da Meire. Acho que pessoas como vocês precisavam comentar essa onda de preconceito que o nordeste do Brasil está sofrendo por causa dessas eleições, vindo em especial de alguns que se dizem médicos.
http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2014-10-07/comunidade-medica-prega-holocausto-no-nordeste-em-campanha-contra-dilma-na-web.html
http://www.essesnordestinos.tumblr.com/
Milena, obrigado pela confiança, mas acho difícil eu ou ela nos pronunciarmos neste momento.
Enquanto os macacos continuarem agindo como macacos, não há público para o que temos em mente.