Não é história de pescador. Acompanhe.
Cheguei de avião em Maceió. A cidade é ajeitadinha. Passei pela região do porto. Ela possui prédios históricos bem bonitos, mas mal conservados. Muitos servem de cortiço – como ocorre em várias cidades brasileiras. No canal, lixo mais lixo levado ao mar.
Triste foi ver, na saída da capital para as praias do sul do estado, uma empresa relacionada ao petróleo no meio de uma região de Mata Atlântica. Aliás, área que a empresa diz conservar ao lado de um afluente gigante.
Na estrada, coqueiro, areia, alagados e buracos. O destino era Piaçabuçu na divisa com Sergipe. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), o povoado nasceu nos tempos de exploração do baixo São Francisco. O local era o ponto preferido pelos que atravessavam o Rio São Francisco, quando viajavam por terra para Pernambuco e Bahia.
“Consta que o português André Dantas, tendo um grupo de homens sob as suas ordens, entre 1660 e 1670, penetrou no Município, em 10 de outubro, dia em que se comemora a conservação de São Francisco de Borja. Com palha de palmeira construiu-se pequena barraca, dando-lhe a forma de igreja, em honra daquele santo. Assim, surgiu o povoado. O nome é antiqüíssimo e vem desde o início do povoamento. Tem origem indígena: ‘piaçava’ (palmeira), ‘guassu’, grande. Foi motivado pela abundância de palmeiras. Em maio de 1882 foi elevado à categoria de Vila, sendo desmembrado do Município de Penedo”.
A cidade de Piaçabuçu é en-can-ta-do-ra. Ela foi cenário de “Deus é Brasileiro”. Ficamos lá um sábado e um domingo. As residências são coladas umas nas outras. Praticamente, todas as casas possuem uma porta e uma janela para a rua.
Como antigamente ocorria em São Paulo, os moradores se sentam às portas de suas casas para ver o movimento e jogar conversa fora. Nas praças, carros com som alto – isso é uma praga – e os adolescentes no entorno. As ruas são de pedras. Nas manhãs, os moradores colocam as gaiolas de passarinhos – pena – para fora de casa. Ou penduram em árvores nas praças ou ao lado da porta da rua.
Como uma boa jornalista, antes de viajar pesquisei sobre a cidade. Li em algum lugar da internet que os pescadores estavam com problemas. Devido às mudanças que o homem tem feito no rio ao longo dele, os peixes estariam escassos.
Lá fui eu tirar a dúvida com os pescadores. Eles me disseram que não tem tanto problema com a pesca. Mas… é na cooperativa de pescadores que pode se fechar os passeios de barco pelo rio até sua foz. Um deles me disse que é mais vantajoso trabalhar com o turismo do que com a pesca. E isso, em outras regiões do Alagoas, vários afirmaram. Muitos, mas muitos mesmo, tiram renda das duas atividades.
Ver o Velho Chico de perto é um sonho mesmo para quem é do Sul do Brasil – como eu. Afinal, ele é uma lenda! A primeira vez que o vi foi em Penedo, após me instalar em Piaçabuçu. Uma cidade repleta de igrejas e casarões históricos, mas muito mal conservados. Mesmo assim, a cidade é linda. São arquiteturas de diversas épocas e estilos. É de lá que saem balsas para Sergipe – que pode ser visto na outra margem do rio.
No passeio de barco pelo rio, que sai de Piaçabuçu, a paisagem muda aos poucos. De florestas com palmeiras, passa-se por mangues, riozinhos que desaguam no Velho Chico, Mata Atlântica, Alagoas de um lado, Sergipe do outro. Até que, aos poucos… Aparece uma ponta branca lá na frente. São as dunas. E as piscinas naturais formadas na maré baixa.
A cor do rio é verde-escuro. E, claro, ele cheira e sua água tem gosto de… rio! No raso, a água é transparente. E mesmo na foz ele é largo. No total, ele possui 2.800 km de extensão e drena uma área de aproximadamente 641.000 km², de acordo com a Administração da Hidrovia do São Francisco.
Como pode observar nas fotos, suas dunas não são altas. E vão embora acompanhando o mar. Fiquei deitada tomando sol em uma delas. Ao deixar o local, já no barco… Uma surpresa. Avistamos um jacaré tomando sol na mesma duna que eu! Praticamente, a 100 metros de onde eu estava. Apenas não o vi antes porque a areia fazia uma curva!
Ele estava tomando sol, com a água batendo em seu peito. Quando descíamos o rio, bem que pensei: “Aqui parece existir jacarés”. Mas… deixei para lá. Até ver esse! Ele era pequeno e se assustou com o barulho do barco. Entrou correndo na água do rio. Até eu pegar a máquina fotográfica… Consegui tirar a foto acima dele já dentro d’água.
Nem os pescadores acreditaram na história que contei. Porque o barqueiro também não viu o jacaré. Tive que provar mostrando a foto. E mesmo assim… Eles olharam desconfiados. Ele era lindinho. Na hora, também lembrei de uma matéria que fiz para o iG sobre crocodilos – e jacarés – em águas salgadas. Comprovei. Leia a matéria aqui. Veja mais fotos deste post ali – detalhe, repare como os nomes dos barcos são filosóficos. Segui minha viagem ainda mais feliz.
muito bacana seu relato!! Eu morro de medo de jacarés. Qdo criança, apareceu um filhote lá em casa. Alguém achou na rua, após uma chuvarada, e deu pra minha avó. Ela o levou para casa e abrigou o bicho num balde grande. Eu me lembro da chegada dele. Bravo! era pequenino, uns 35cm. Como ele estava acuado, batia o rabo pra lá e pra cá até ser depositado no balde. Demorou uma semana, caiu outra chuva grande, encheu o balde e ele fugiu. Imagine o medo que eu tinha de encontrar com ele no quintal? rs. Sumiu. Deve ter ido para o esgoto..rsrsrs.
Excelente... adorei seu relato... rio são francisco é mesmo maravilhoso, muito rico....
Eu eu li um livro chamado: " Os Pequenos Jangadeiros", de Aristides de Fraga Lima, no qual o velho Quinquim tenta matar um jacaré no Rio São Francisco, com a ajuda de três meninos, com um rifle!