Este post faz parte de uma blogagem coletiva mundial – quando um monte de gente escreve sobre o mesmo tema – chamada Blog Action Day. E o assunto da vez é… água! Mas, para mostrar a importância dela, vou refletir sobre a falta do líquido. Do que acompanhei no Rally dos Sertões – fotos aqui -, em lugares onde água é alucinação.
Falar que o sertão é seco é o como chover no molhado – maõzinha de hã, hã? Bom, partindo dessa afirmação, em um povoado no interior do Piauí, quase divisa com o Ceará, estava conversando com uma moça de cinquenta e poucos anos sobre coisas da vida, enquanto observava, da sacada e da sala de jantar da senhora, os competidores atravessarem a linha imaginária de chegada.
Claro que não pude deixar de perguntar como viver naquela secura toda. E outras mil questões – antes de ser jornalista, sou curiosa. A simpática senhora, oferecendo cafés para os itinerantes, contou que a água é proveniente do armazenado na cisterna – um reservatório de água da chuva. Porém, eles consomem sua agricultura de subsistência, e aí?
Sempre educada, a senhora contou que chove, se não me engano, no segundo trimestre do ano por cerca de dois ou três meses. Um pouco antes dessa época, planta-se o alimento. A água da chuva faz brotar e crescer, principalmente, os grãos. Enquanto isso, a cisterna vai se enchendo do líquido que fornece vida. Depois da colheita, o alimento é armazenado.
O que rendeu dessa única safra deve alimentar a família – avós, filhos, netos e bisnetos – pelo ano inteiro. O mesmo serve para a água da chuva depositada na cisterna. Porém, e quando não chove o suficiente? Nesse momento, os olhos do marido da senhora, cerca de dez anos mais velho que ela, ficaram vermelhos. E lacrimejaram – me segurei para os meus não acompanharem.
“Dá se um jeito”, foi a resposta. Como? Compra-se fiado nas vendinhas, faz-se empréstimos, troca-se. De repente, os filhos que ganham como salário a moeda que intitulamos dinheiro, colaboram. Mesmo assim, apesar da falta de água, eles estavam fortes na casa feita de barro empilhado com as próprias mãos e maior que o meu apartamento na “cidade grande”.
A senhora já esteve em São Paulo. O marido foi operado na cidade e voltariam, ainda este ano, para mais uma cirurgia. Se ela deixaria seu povoado para viver na capital paulista? “Não”, enfático. “Lá há muito trânsito, muitas horas são perdidas”, explicou. “Não deixo minha tranquilidade para viver naquela cidade”. E o consumo exacerbado? E o desperdício de água? E a poluição dos nossos abundantes rios?
Afinal, onde é o sertão? No lugar em que falta água ou entre aqueles que desperdiçam o sinônimo da vida? Deixo a resposta salivar na boca.
Obs.: A foto acima, com água, também foi tirada durante o Rally dos Sertões… Em uma ponte sobre um dos belíssimos rios de água cristalina próximo ao Jalapão, Tocantins.
Que visão deslumbrante e encantadora nessa primeira foto.
Sobre a água: o que mais me entristece é saber que muitos brasileiros continuam vivendo na situação relatada no post, embora o Brasil tenha, sozinho, 10% da água doce do planeta. O Piauí, por exemplo, possui enormes e inexplorados lençois freáticos.
Não falta água nem dinheiro para que a questão da seca no nordeste seja solucionada definitivamente. O que falta é vontade dos donos do poder, como todos sabem.