Sempre quando estou nos ares, literalmente e não em pensamento como gosto de me deixar levar, procuro saber o local que o avião sobrevoa. Primeiro, porque a curiosidade faz parte do meu âmago. E, além das paisagens aéreas incríveis, essa é a chance de visualizar a geografia do nosso belo planeta. Um conhecimento a mais sobre o mundo em que vivemos. Antes de embarcar para o Chile, em dezembro, eu estava ansiosa: queria ver de pertinho a Cordilheira dos Andes! Um acontecimento por si só.
Sem exceção, todo mundo que sobrevoa os Andes fica admirado com sua altura e extensão. Nunca esqueci o que uma amiga comissária de bordo, acostumada com as paisagens aéreas, me disse: “Depois de sobrevoar os Andes, percebemos que um avião pequeno teria muita dificuldade para fazer essa travessia. Seria difícil ele conseguir”. Essas palavras ficaram por cerca de cinco anos no meu imaginário. E, enquanto esse tempo passava, todos os meus amigos – conhecendo minha paixão pela geografia do mundo – voltavam maravilhados desses mágicos minutos sobre a maior cadeia de montanhas do mundo em comprimento. Eu perguntava o porquê. “Parece que o avião vai encostar nelas”, diziam eles.
Observando as fotos, como as que ilustram este post (clique nelas para ampliar), parece mesmo que os Andes estão próximos da aeronave. Mas há uma distância muito grande entre quase encostar nas montanhas e estar perto delas. Apenas voando consegui entender o que todos me diziam. E olhe que não foi fácil, eu apresentava o início dos sintomas de uma infecção intestinal. Tremia com febre. Estava em um tempo paralelo dentro daquele avião lotado com dez fileiras de assentos. Sabe quando você toma vários remédios, alguns contra enjoo, e não se sente nem acordada e nem dormindo? Era nesse limbo que me encontrava. Mesmo assim, tenho certeza que as pontas das montanhas aparecendo na telinha em frente à minha poltrona não eram alucinações.
O avião levava uma câmera na parte de baixo dele. Eu poderia sintonizar o canal dessa câmera na tela em frente ao meu assento. Ao menos seis vezes, naquela câmera que mostrava o horizonte em frente à aeronave, eu vi os picos das montanhas mais altas dos Andes. Toda vez que um pico aparecia, o avião fazia uma leve curva para a direita ou esquerda. Tirei forças da minha curiosidade para ficar em pé no corredor – na ida ao Chile, estava no assento central, na volta, vim na janela (!) – para olhar a infinita cadeia de montanha.
Estou lendo atualmente "Terra dos homens" do Saint-Exupèry, e ele conta exatamente o deslumbro de um amigo ao voar pelos Andes, fazendo o correio aéreo, mas com aviões que não conseguiam superar a altura das montanhas. Ou seja, tinha que achar um caminho entre elas. Lindo!
Deve ser um livro incrível! Boa dica! Quando estava em Cajón del Maipo, um helicóptero sobrevoava uma exploração de gesso procurando espaço entre as montanhas. Parei para comparar o tamanho do veículo com as gigantes montanhas. Assim, dava para ter mais uma ideia da imponência daquele ambiente. É um lugar inesquecível!