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Estacionamento para bikes parece “as europas”

Noites e manhãs frias em pleno dezembro de verão, casas com arquitetura alemã, pinheiros plantados em passeios públicos, florestas circundado a cidade e estacionamento para bicicletas no centro comercial. A descrição não parece de uma cidade brasileira, não é mesmo? Deixando o gosto duvidoso da arquitetura e da introdução de espécies exóticas de lado, ter um lugar para parar as magrelas no principal centro comercial turístico de Campos do Jordão, no interior de São Paulo, é um mínimo apoio aos ciclistas (foto). Acho civilizado. E o povo usa. Quem vai trabalhar. Quem vai comer ou comprar. Quem é turista. É para todos. As quatro bicicletas da foto tiraram quatro carros das entupidas ruas do badalado “centrinho”. Melhor se exercitar do que ficar dentro do possante meia hora dirigindo a 5 km/h até encontrar uma vaga na rua ou no estacionamento – e dirigir por no máximo 6 quilômetros para chegar ao tal centro, distância da maioria dos hotéis. Todas as cidades brasileiras deveriam ter um lugar destinado às bicicletas nos centros comerciais. Isso, sim, é ser “phyno”.

Obs.: Conhece mais cidades tupiniquins com estacionamento para bikes? Conte aí!

Mergulhando nas águas do vulcão

Ok, título exagerado. A foto acima é do Baños Colina, uma terma de águas que hoje chegam até 60 ºC de temperatura. Ao fundo, como disse nesse post, está o vulcão San José, com suas lavas responsáveis pela água muito quente. Arde a pele mergulhar o pé na piscina mais ao alto – a temperatura diminuía conforme a água corria para as piscinas localizadas mais abaixo. Só vi uma pessoa entrando com o corpo todo na água quentona. Apesar do calor da terma, nosso guia pareceu chateado quando soube qual era a temperatura.

Ele, que há 40 anos nasceu nessa região chilena chamada Cajón del Maipo, acompanha as mudanças do local. São várias, claro. Algumas boas, outras a agregação de valor depende do ponto de vista, sendo sutil a referente às termas. O guia disse que, antes, a temperatura da água chegava até 72 ºC. Existia uma gruta por onde a água brotava e escorria morro abaixo. Quando mais novo, ele contou que gostava de entrar nessa água durante as noites – quase sempre frias.

 

Não sei quando a gruta foi demolida. Construíram essas piscinas sendo cobrada uma entrada – não lembro mais quanto – lá em baixo como pedágio na própria estrada de terra. Devido à distância dos povoados e de outros pontos turísticos mais marcantes, quem mais frequenta as termas são os próprios chilenos. Alguns acampam. Outros fazem churrascos improvisados. Tem até vestiário com chuveiro de água aquecida com o calor da própria piscina mais quente – isso é ecologicamente inteligente (canos dentro da piscina na foto ao lado).

 

Eu queria ter visto como era a gruta. Tive que me contentar em mergulhar naquela água repleta de gesso – o que foi uma experiência única! Você sai branco, “quebrando” e com um cheiro parecido de enxofre. O revestimento das piscinas improvisadas parece um gesso mole, arenoso e denso. Uma indicação de que lá há a matéria-prima para ser explorada. Será que essas termas correm riscos de desaparecer?

Um vulcão para acalentar o dia

Quem acompanha meu perfil no Twitter (@isisrnd) deve ter lido minha emoção ao ver um vulcão pela primeira vez! Estávamos seguindo para o Parque El Morado, no Chile, em dezembro. No caminho, 10 minutos do destino, aparece ao fundo, entre as Cordilheiras, o vulcão San José com seus maravilhosos 5.856 metros acima do mar. Pedi para o guia: “Pare o carro”! Eu precisava descer para apreciar o momento – e tirar foto com meu respectivo e com o frondoso vulcão ao fundo. O que eu não sabia é que nos aproximaríamos mais dele e, aí, sim, veria a boca do vulcão.

Aquela que me encantou primeiro era a falsa cratera. A verdadeira estava mais ao lado esquerdo (clique nas fotos para ampliar). Não é incrível? Depois, relaxei nas termas de águas quentes – de repleta de gesso (!) – graças ao vulcão e com ele ao fundo! Pena que não tive tempo de escalá-lo. E o grandão nem soltou uma fumacinha. “Está ótimo assim”, brincou nosso simpático guia chileno.

Luzes misteriosas na Cordilheira dos Andes

Nem preciso dizer que adoro observar paisagens naturais e fenômenos da natureza – deve dar para perceber de acordo com o que post aqui no blog, não? Gosto de ver as nuvens carregadas de chuva se formarem, a chuva cair, os meteoros passarem, os plânctons brilharem… Esse estado de contemplação esvazia a minha mente, chega a ser uma espécie de meditação – tente também. Bom, como observar as estrelas é uma das minhas pirações preferidas, quando estava, literalmente, no meio da Cordilheira dos Andes, em dezembro no Chile, saí do chalé onde pousava durante a noite para voltar os olhos ao céu.

Reflita comigo: um lugar alto como aquele onde as instituições instalam telescópios deve ter uma boa vista. Era fato. Nunca vi um céu tão estrelado. Lá entendi porque, antigamente, nossos antepassados viam cinturões, ursos, todos os representantes do zodíaco, etc, formados por estrelas. Naquela fresta entre as copas das árvores da pousada e as gigantescas encostas pude observar estrelas com diversas intensidades de brilho e aparentando vários tamanhos. Eram muitas, incontáveis, como as cartas recheadas do céu. Porém, além dessa bela surpresa, meu respectivo e eu tivemos outra tão interessante quanto – se não mais pelo mistério.

 

Enquanto entortávamos nosso pescoço encantados com aquele infinito de estrelas, vimos alguns clarões no céu. Verdade seja dita. Ele percebeu primeiro e chamou a minha atenção. Eu respondi que era impressão. Até que, observando de novo, vimos vários clarões. Não havia barulho como de trovão, nem raios, apenas uma espécie de flash iluminando o céu. Um atrás do outro, espaçadamente – por minuto, uns dois ou três. No dia seguinte, sem falarmos nada sobre o assunto, nosso guia contou em tom de novidade: “Aqui em Cajón del Maipo [a região da Cordilheira], toda noite lá pelas onze horas é possível observar luzes diferentes iluminando o céu”. “Nós vimos!”, dissemos empolgados. “E o que são essas luzes?”, claro que emendei a pergunta.

O simpático chileno não tinha certeza e elaborou uma interessante tese. Para ele, as Cordilheiras com suas montanhas repletas de variados minérios esquentam com os raios solares. Durante a noite, elas liberam o calor dos minérios emanando luzes. Em busca de uma explicação, conversei com poucos amigos pesquisadores e recorri ao Google. Nada. Será que alguém aí conhece a chave desse enigma? Kentaro Mori, do 100nexos, poderá nos ajudar? De qualquer maneira, uma lição óbvia da história: preservar a natureza nos dá a chance de nos encantamos com seus caprichos. Pense nisso e aproveite para pasmar observando o que ela oferece.

Tenha uma boa semana – e aguarde mais posts sobre o Chile, sobre pedaladas em Campos do Jordão (SP), vídeos dos plânctons de São Sebastião (SP) e palmas para o aniversário da cidade de São Paulo!

 

Obs.: As montanhas da foto têm mais de quatro mil metros de altura, pena que não dá para perceber… Estávamos andando de carro no vale. Do lado esquerdo, cerca de 500 metros abaixo de nós corria o rio El Volcán. E, sim, mais para frente era possível ver o vulcão San José. Vou postar foto dele aqui!

Eu acredito em plânctons

Passei o fim de semana offline: fui para o fantástico mundo da praia muito bem acompanhada. Às vezes faz bem para a mente dar um tempo do mundo virtual, quer dizer, real (dia-a-dia)… Ironicamente, lá, em São Sebastião (SP), acabei criando uma certa rotina. Como a maioria dos mortais, vou para a praia durante o dia. À noite, faço companhia aos rasantes dos morcegos. Não. Não é um tipo de mandinga, feitiçaria ou promessa. Depois que vi os plânctons, a praia nunca mais foi a mesma.

Além de voltar os olhos para o céu na nostalgia de observar as estrelas dificilmente encontradas na capital paulista – prática mais antiga do que andar para trás e que a poluição luminosa impossibilita, sigo para a beira do mar e chuto a água! Agito bem a água com as mãos. Chuto mais um pouquinho. Remexo a água salgada outro tanto. Tudo na ânsia de ver plânctons (conjunto de minúsculos seres vivos que habitam os oceanos) novamente. Nunca mais encontrei naquela quantidade a ponto deles ficarem na nossa pele e, consequentemente, iluminar perfeitamente a nossa silhueta debaixo d’água. Recentemente, quando dou sorte, uma ou outra luz esverdeada brilha como vaga-lume do mar.

Nesse fim de semana, o que me animou a entrar na água fria do mar durante a noite foram justamente os plânctons! Eles estavam de volta! Em menor quantidade, mas já podiam ser vistos a partir de cerca de um metro de profundidade. Em busca deles, lá fui eu pular as ondinhas até o fundo! É emocionante agitar as mãos na água e luzes acenderem! Aliás, esses serezinhos devem ter um poder mágico, mesmo. Toda vez que aparecem as pessoas que conseguem percebê-los voltam a ser criança, ficam eufóricas e dão risada sem parar. É… O mar é um mistério incrível durante o dia e a noite…

Obs.: A imagem dos plânctons foi retirada do incrível site Cifonauta – fiz uma matéria sobre ele, leia aqui. De volta a São Paulo, realizei uma busca nesse site para ver se encontrava informações confiáveis sobre os plânctons. Eis a cara desse mundo.

Pedalando até o Horto Florestal de Campos do Jordão

Fiquei tão viciada em andar de bicicleta que descartei a possibilidade de passar minha folga do trabalho longe dela. Fiz duas viagens – e trouxe de ambas vários aprendizados para compartilhar neste blog, aguarde. Na primeira, fui para Campos do Jordão bregamente intitulada “Suíça Brasileira” e marketing que, aliás, acaba desmerecendo a belezinha de município. Lindinho, não pela sua arquitetura inspirada “nas Europas”, mas porque está inserido no meio da Serra da Mantiqueira. As paisagens são inspiradoras.

Apesar dos morros que encontramos na cidade e no entorno dela – como era de se esperar de uma Serra -, o lugar é fantástico para quem gosta de pedalar. Possui uma ciclovia plana, uma pequena estrutura – melhor do que o quase nada de São Paulo – para estacionar a bicicleta em frente aos estabelecimentos, ruas calmas no verão, estradinhas de terra e muito ciclista. Vou abordar tudo isso nos posts que veem por aí. Bom, além disso, li que um dos passeios imperdíveis para quem está começando a pedalar era andar de bicicleta no Horto Florestal do município. E aí fui eu.

 

A curiosa teve a belíssima ideia de ir de bicicleta até o Horto. Antes de ir, perguntei para um morador como era o caminho: “Tranquilo, uma reta plana”. Para quem está de carro, né? A avenida – parece rodovia, mas não é – até o parque possui uma leve subida, imperceptível. Como ainda sou café-com-leite na pedalada, penei nos dez quilômetros. Afinal, ainda havia mais trilhas no Horto. Escolhi a trilha da Cachoeira da Galharada – ao final chega-se a ela com direito a estacionamento para bicicletas (foto) – e uma trilha especialmente para bicicletas. As outras são mais indicadas para caminhada.

 

O Horto Florestal vale o passeio: bem cuidado, sinalizado e com atividades para todas as idades. Ele está localizado entre Minas Gerais e São Paulo, se intitulando a maior extensão contígua de pinheiros brasileiros no Sudeste distribuído em vales e morros com altitudes que variam de 1030 a 2007 metros. Agora, se você levar a bicicleta até Campos do Jordão vá pedalando para o parque. O caminho se revelou uma atração à parte. Saiba mais no vídeo acima!

Por que o Rio tem morros?

Essa eu aprendi caminhando na Pista Cláudio Coutinho, na Cidade Maravilhosa – clique aqui para ver um vídeo do passeio e saber mais. O local é repleto de placas com explicações sobre a flora, a fauna e a formação rochosa locais. Duas delas me chamaram muito a atenção, diziam como aqueles morros do Rio de Janeiro “apareceram”. Veja que incrível – a geologia me encanta por proporcionar um contato com o passado remoto: a maioria das rochas cariocas que vemos nos morros se formou há cerca de 600 milhões de anos, durante a época chamada Eon Paleozóica.

Faz tanto tempo que a América nem existia.

Simplificando a história, existiam vários continentes dispersos. Devagarinho, eles foram se juntando, juntando, aglutinando… Até que se uniram em um continente gigante chamado Gondwana. Conforme os continentes colidiam, suas margens se acavalam umas sobre as outras formando uma cordilheira de montanhas (isso lembra os Andes?) e soterrando vastas porções da crosta (“casca” externa da Terra). Era algo lentamente violento.

A pressão e o calor da colisão entre os continentes foram tão intensos que fizeram com que uma rocha que estava lá no fundo da crosta se modificasse e aparecesse. Essa rocha, entre elas a do Pão-de-Açúcar, se chama gnaisse. Segundo indicam as placas da Pista, as gnaisses que vimos em forma de morros cariocas foram formadas há 25 quilômetros de profundidade. A erosão – ação da chuva, vento e mar – das partes mais superficiais da crosta fez com que a gnaisse aparecesse.

Nem preciso dizer que me delicio com essas histórias. Leitor, vamos preservar o que levou tanto tempo para ser esculpido.

Para onde vão os pássaros?

Pareço criança. Aliás,  meus pais sofriam enquanto passava pela fase do “mas por que”… No último feriado, estava em um dos meus locais preferidos do Rio de Janeiro. Ah, o Arpoador… A missão era ver o por-do-sol. Enquanto me esforçava (estava nublado), uma outra coisa chamou a atenção: os pássaros.

Era uma revoada em um fim de tarde, claro. Um bando de ave voltando rumo ao horizonte do alto mar. Fiquei intrigada. Aquela ação trouxe à minha cabeça relações de aves e ilhas que já presenciei. Por sorte, ao meu lado estava Mauro Rebelo, escrevinhador do “Você que é biólogo” e um dos meus guias do Rio de Janeiro. Lancei a dúvida para ele: “Sabe por que os pássaros estão indo embora?”

 

A resposta, caro leitor, era óbvia. O rush no céu se dava na volta para casa. Essas aves dormem nas ilhas, onde também constroem seus ninhos. Já vi isso em outro lugar, acho que em Fernando de Noronha. Lá, as fragatas, também conhecidas por “piratas”, atacam os atobás na volta ao ninho (feito nas ilhas) para roubar a pesca do dia – leia uma matéria bacana aqui.

 

Em seguida, veio outra questão que guardei para mim e agora divido com você. Será que, antes da ocupação desenfreada da Baía de Guanabara, alguns desses pássaros não “moravam” no continente?

 

Clique acima para ver a volta dos pássaros – apesar de não parecer, havia um monte de ave no céu. A gravação foi feita no Aterro do Flamengo e não no Arpoador. Afinal, quem viu meu vídeo sobre os tucanos de São Paulo – aqui – deve ter reparado que filmar aves não é o meu forte.

Pensou em subir o morro do bondinho a pé?

Este post é para quem gosta de apreciar mar, montanha, pássaros, flores, espécies em extinção, tudo junto e misturado. A Pista Cláudio Coutinho, mais conhecida como Trilha da Urca, é um dos meus pontos preferidos no Rio de Janeiro – outros são o Arpoador, Museu da Chácara do Céu, Parque das Ruínas, Aterro do Flamengo, Prainha, Grumari, Lagoa, afe, lista extensa. A trilha une prática de esportes ao ar livre, caminhada ou corrida, com a contemplação de paisagens de tirar o fôlego. O melhor: tudo com a segurança de um terreno do exército.

Seus 2.500 metros podem ser feitos a pé por pessoas de todas as idades, pois o caminho ligeiramente íngreme possui chão de asfalto. Durante o agradabilíssimo passeio, é possível ver pau-brasil recém-plantado e espécies em extinção como, por exemplo, orquídea-da-gávea, bromélia-da-urca, velózia-branca e roxa. Entre os pássaros, podem ser avistados: tiê-sangue, gavião-carijó, saí-azul, sanhaços e tesourão. Claro que os saguis também dão pinta por lá – veja o vídeo com mais informações clicando na primeira imagem deste post.

 

Agora, a cereja do bolo é a trilha que dá acesso ao topo do Morro da Urca, onde fica a primeira parada do bondinho. Sim, é possível subir os cerca de 220 metros do Morro da Urca com seus próprios pés! O caminho que dá acesso ao topo está sinalizado à esquerda nos primeiros metros da Pista – fique atento. Alguns degraus de madeira improvisados são o começo da árdua subida. Prepare-se.

O caminho exige do corpinho – em alguns trechos, usei até as mãos para me equilibrar devido à inclinação… Para piorar ou aumentar a adrenalina, quando fui tinha acabado de chuviscar. A terra estava molhada e escorregadia. Como o clima entre as árvores é sempre úmido, talvez essa seja uma condição constante do solo.

Durante a subida, estava ansiosa para ver a paisagem. O que não foi possível porque a mata fechada impedia, inclusive, a entrada dos raios solares. De certa maneira, não poder apreciar a Baía de Guanabara aumentou ainda mais a ansiedade, a inquietação, a euforia. O que viria à frente?

Apenas ao chegar quase no topo da trilha é possível avistar parte da Praia de Botafogo (foto ao lado) – o outro lado do Morro, já que o acesso à Pista se dá pelo cantinho da Praia Vermelha, no bairro da Urca (foto à esquerda). Bom, seguindo trilha adentro alguns metros para a esquerda… Tcha-nan! Um portão é a dica de que chegou a primeira parada do bondinho! Cerca de uma hora e pouco de subida, você está na primeira parada do bondinho! Do bondinho!

É emocionante atingir o topo com seu próprio esforço. Lá em cima, a tão almejada vista é de tirar o fôlego – se é que sobrou algum. Vale cada gota de suor. Suspiro.

Obs.: Quem preferir, pode fazer o caminho inverso. Descer o Morro da Urca pela trilha. Ou subir e descer. No meu caso, voltei usando o bondinho como meio de transporte – você pode comprar a passagem só de descida lá em cima, mesmo. Há mais de 15 anos não passeava nele…

Baía de Guanabara contra águas e morros?

Este é um post no estilo: você sabia? Ao menos 15% da Baía de Guanabara, aquela coisa linda circundada por cidades como Rio de Janeiro e Niterói, foi aterrada desde a “descoberta” do Brasil. Uma famosa obra do tipo é o aterro onde está inserido o Parque do Flamengo – delicioso ficar pasmando nele admirando o Pão-de-Açúcar. Bom, apesar de sua beleza, qual o limite para tal ocupação? Há muitas “estórias” para refletirmos sobre as alterações feitas por nós na paisagem.

 

Segundo um pessoal da Fiocruz, localizada no bairro de Manguinhos, antigamente o mar chegava até a avenida Brasil (veja no mapa), umas das vias expressas mais importantes de entrada da Cidade Maravilhosa e que possui a péssima fama de ser perigosa devido aos tiroteios. Também já ouvi e li rumores de que praias como a do Botafogo e Copacabana sofreram com a interferência humana.

 

Talvez a história mais triste sobre aterros na Baía de Guanabara diz respeito ao Aeroporto Santos-Dumont. Existe um bairro, no centro do Rio, chamado Castelo que ainda hoje é conhecido por alguns como “Morro do Castelo”. O local era histórico. De acordo com notícias publicadas em jornais, foi nesse morro que os portugueses, em 1500 e bolinhas, se abrigaram após expulsarem os franceses da cidade (aliás, dizem que o “r” carioca é pronunciado puxado devido ao sotaque francês). Então, foi ali que a cidade se estabeleceu.

 

Assim, vários edifícios históricos foram construídos desde a época dos jesuítas e se mantiveram de pé até o começo de 1900 – entre eles, uma fortaleza que inspirou o nome dado ao morro. Até que, nos anos de 1920, o morro foi ladeira abaixo. Sob o pretexto de melhorar a circulação de ar na cidade para as comemorações do 1º Centenário da Independência do Brasil, o prefeito Carlos Sampaio mandou demolir o local.

 

Aquele montão de terra tirada de lá foi usado, entre outros, para aterrar a área do Aeroporto Santos-Dumont. E, assim, a história literalmente se encontrou demolida. Prédios históricos, acidente geográfico natural, residências, lembranças… ao chão – ou no fundo do mar. Valeu a pena? Como disse meu marido, “parece que as pessoas tentam insistentemente deixar o Rio de Janeiro feio, mas mesmo assim não conseguem”. Tomara.