Estado Laico? Não nesse país!

Faz um certo tempo que não tenho tempo de bloggar, e por isso peço desculpas para os eventuais leitores. O fato é que comecei minhas viagens de coletas de dados, o que tem sugado a maior parte das horas dos meus dias e dos dias da minha semana, isso sem contar que fico sem acesso a um computador a maior parte do tempo durante os fins de semana. No presente momento estou visitando o Museo Argentino de Ciencias Naturales, em Buenos Aires e devo permanecer mais algum tempo por aqui. Apesar de trabalhar todos os dias em Buenos Aires, estou em uma pequena cidade chamada San Miguel e pego o trem todos os dias para o museu. É bastante cansativo, o que limita ainda mais meu tempo e animo.

Entretanto, não pude deixar de notar a-não-tão recente controvérsia a respeito da remoção da frase “Deus seja Louvado” das cédulas de Real. Digo que não é uma controvérsia recente pois, se bem me recordo, tal questão começou quando o procurador do Ministério Público Pedro de Oliveira requisitou que o Banco Central removesse a frase das cédulas de Real. Em resposta a isso, o Banco Central argumentou que o pedido sofria de “vício de origem”, o que é o jeito jurisdiquez de dizer que a você apresentou o papel no guichê errado. Logo em seguida, a LiHS lançou um abaixo assinado que pedia ao orgão correto (o Conselho Monetário Nacional) que a remoção fosse feita. Paralelamente, o Ministério Publico afirmou que iria pressionar o assunto. O quanto tais eventos estão interconectados, eu não sei dizer.

Eu não acredito que tenha muito a contribuir com a discussão. Minha posição é simples: se almejamos um estado laico e igualitário de fato, a remoção é um passo simples. Não engulo argumentos sobre como a frase é um reflexo de nossa história cristã pelo simples fato de que a a frase nem 30 anos tem. Se é reflexo de alguma coisa, é reflexo da nossa democracia engatinhante da década de 80, e tão passível de revisão quanto qualquer lei e decreto feita dentro desse próprio contexto.

Mas o que gostaria de compartilhar é algo que encontrei nas minhas andança por aqui. A foto abaixo é de uma pequena capela que está no meio de uma pista de esportes muito movimentada aqui da vizinhança. A imagem no começo do post é de um Santo que está em seu interior (presumidamente San Miguel).

Capela

Até ai, nada de muito impressionante, exceto pelo que encontrei do outro lado da construção:

“Capela construida e mantida pelo município de San Miguel”
E, caso vocês estejam se perguntando, não há uma sequer menção a Deus nos Pesos Argentinos.
Não sei ao certo o ponto disso tudo, mas achei irônico que um país que tenha passado por um processo de laicização, como a Argentina, o dinheiro público ainda seja usado para construções religiosas. Irônico, mas não inesperado.

Pesquisa sugere relação entre chocolate e Nobel

Um novo artigo publicado no New England Journal of Medicine procurou a associação entre consumo nacional de chocolate e o número de ganhadores do premio Nobel originários daquele país. Segundo o artigo, tal avaliação se justifica pelo fato de que flavonóides, abundantes em vegetais de consumo, são conhecido por apresentar efeitos positivos nas capacidades cognitivas.

Os resultados são impressionantes:

Notem que o Brasil está lá no fundo, sem nenhum Nobel e com um consumo muito pequeno de chocolate.

Segundo os autores:

Existe uma correlação linear significativa (r=0.791, p<0.0001) entre o consumo de chocolate per capita e o numero de ganhadores do Nobel por 10 milhões de pessoa em um total de 23 países.

Para quem não sabe, o coeficiente r de correlação (também chamado de correlação de Pearson) vai de 0 até 1. Ou seja, um valor de aproximadamente 0.8 é bastante alto! Pessoas propõem terapias contra cancer por coeficientes menores.

De qualquer forma, a inspeção do gráfico revela que a Suécia apresenta muito mais ganhadores do Nobel do que o esperado, e isso não passa desapercebido pelos autores:

Dado que seu consumo de chocolate per capta é de 6.4 kg por ano, nós estimamos que a Suécia deveria ter produzido um total de 14 laureados do Nobel, porém nós observamos 32.

e eles especulam quais são as causas  desse grande viés:

Visto que o numero observado excede o esperado por um fator de 2, não podemos escapar a noção que ou o Comité do Nobel em Estocolmo tem algum viés patriótico quando avaliam os candidatos para os premios ou, talvez, os suecos são particularmente sensíveis ao chocolate, e mesmo quantidades minúsculas podem aumentar consideravelmente sua cognição.

Entretanto, pode-se argumentar que “Correlação não implica em causalidade“, o que significa que a presença de uma forte correlação não significa que uma coisa causou outra, ou mesmo vice-e-versa. Os autores estão plenamente cientes disso:

Uma segunda hipótese, de causação reversa- isso é, que uma melhor performance cognitiva estimula o consumo nacional de chocolate- deve também ser considerada. É concebivel que pessoas com capacidades cognitivas superiores (i.e. cognoscência) são mais conscientes dos benefícios do consumo de flavonoides em chocolate escuro e são mais inclinados a aumentar o seu consumo.

e ainda

Que receber o premio Nobel levaria ao aumento do consumo de chocolate em nível nacional parece improvável, apesar de que talvez os eventos celebratórios associados com essa honra singular podem desencadear um aumento generalizado porém transitório.

Hum… certo… Bom, se a ciência diz, então provavelmente está certo!

Referência

Messerli, F. (2012). Chocolate Consumption, Cognitive Function, and Nobel Laureates New England Journal of Medicine, 367 (16), 1562-1564 DOI: 10.1056/NEJMon1211064

13 Posters fantásticos sobre divulgação científica.

Via buzzfeed.

Abaixo reproduzo 13 posters de divulgação do Museu de Ciências de Vancouver chamado Science World, com suas respectivas traduções.

Com tanto brasileiro indo pro Canadá, eu fico aqui pensando se não poderíamos trazer alguns canadenses para cá.

Todos os anuncios são seguidos do slogan do museu: “Nós podemos explicar”. Eu gostei.

“Mosquitos adoram a cor azul”
“Você engole um litro de catarro todo dia”
“Você pesa menos durante a descida”.
“Balanças foram montadas dentro de elevadores comerciais e residenciais, permitindo que os passageiros testassem esse fato.”

“O coração de uma baleia azul é do tamanho deste carro.”

“Você come 430 insetos todo os dias por um ano”

“Você tem [haeck: aproximadamente] dois metros quadrados de pele”

“Mijo de gato brilha sob luz negra”

“Seu corpo tem carbono o suficiente para encher 9000 lápis”

“Dois medos mais comuns: Palhaços e alturas”
“Tigres usam caixas de areia”
“Você vê melhor quando está assustado”

“Você peida um balão de gás por dia”

“57 gramas de ouro podem cobrir um outdoor”
[haeck: Esse cartaz nunca poderia ser feito no Brasil. Pensando bem, nem mesmo o dos lapis. Ou quem sabe o da caixa de areia…]

Bebês são amorais (e porque publicar seus resultados)

Em 2007, Hamlin e colegas elaboraram um experimento para avaliar a moralidade inata de infantes. Especificamente, esses pesquisadores queriam investigar a capacidade de avaliação social, ou seja, a capacidade de discernir entre indivíduos considerados bons dos indivíduos considerados ruins, algo essencial para a construção de nossas normas morais e de nosso convívio em sociedade.

Este estudo foi desenhado de forma relativamente simples. Os bebês eram expostos a uma cena onde um personagem (a bola rosa com olhos) tentava escalar uma colina. Em um dos casos, o escalador era auxiliado por um ajudante (triângulo amarelo) a subir a colina e no outro caso o escalador era impedido de atingir o topo por um terceiro agente (um cubo cinza).

Caso onde o escalador era auxiliado na sua escalada

Caso onde o escalador era impedido de atingir o topo.

Após as cenas, era dada aos bebês a possibilidade de fazer uma escolha entre dois personagens. Em um dos casos, os bebês podiam escolher entre o ajudante e um personagem neutro, e em outro caso eles podiam escolher entre o personagem neutro e o impedidor. No primeiro caso, os bebês escolhiam preferivelmente o ajudante ao personagem neutro, e no segundo caso, eles preferiam o personagem neutro ao que atrapalha. Isso é impressionante porque mostra que o bebê não apenas prefere “ajudantes”, como também repudia “impedidores”. E tem mais: isso mostra que os bebês conseguiam reconhecer a narrativa apresentada, atribuindo personalidades aos personagens, identificando intenção e objetivo (como isso não é o ponto do artigo, suponho que isso já fosse conhecido, mas achei digno de nota). E tudo isso em bebês de 6 e 10 meses! Bastante impressionante de fato!

Porém Scarf e colaboradores, ao investigarem os vídeos do procedimento experimental de Hamlin e colegas, notaram uma coisa estranha: no caso em que o escalador é auxiliado, ao terminar o seu percurso, ele chacoalha (presumidamente para passar a ideia de satisfação), porém isso não acontece quando ele é impedido de subir. Esses pesquisadores suspeitaram que o que estava acontecendo ali não era uma avaliação social, mas sim uma simples associação: coisas que chacoalham são mais atraentes para bebês e chamam a atenção. Sendo assim, a escolha pelo ajudante seria uma função do chacoalhar do escalador ao fim do percurso, uma hipótese que me parece intuitivamente válida. Afinal, bebês não são criaturas particularmente brilhantes, e todo pai sabe que eles são atraídos por cores fortes, por sons e por movimentos.

Para testar tal hipótese, a equipe de Scarf replicou o experimento, porém agora adicionando o “chacoalhar” seja quando o escalador conseguia chegar ao topo, seja quando ele era impedido de chegar ao topo e retornava ao cume. Cada bebê observava mais de um evento, delimitando 3 tipos de tratamento:

  1. No primeiro grupo os bebês viam o evento “ajudado” com chacoalhar e o evento “impedido” sem chacoalhar (grupo “Top” da figura);
  2. No segundo, os bebês viam ambos os eventos com o chacoalhar, tanto quando o escalador era impedido de chegar ao topo, quanto quando ele atingia o topo (grupo “Both)”;
  3. No último grupo os bebês viam apenas o episódio “impedido” com um chacoalhar, e enquanto o não o “ajudado” não apresentava a chacoalhada (grupo “Bottom”).
A previsão dos pesquisadores é simples: se o chacoalhar é o que determina a escolha do bebê, então veríamos que no primeiro grupo, mais bebês escolheriam o ajudante e que no ultimo grupo, mais bebês escolheriam o impedidor, enquanto no segundo grupo, onde existe chacoalhada em ambos os casos, os bebês selecionariam os personagens aleatoriamente. E os resultados são perfeitamente consistentes com tais previsões:
Porcentagem de bebês que escolhem os personagens nos 3 grupos experimentais : Primeiro grupo (“Top”), Segundo grupo (“Both”) e Terceiro grupo (“Bottom”). O tamanho das barras indica a porcentagem de bebês que escolheu um dado personagem, e a cor da barra indica o personagem escolhido: Amarelo- Ajudante; Azul- Impedidor.
Curioso que a proporção de bebês que seleciona o personagem quando há o chacoalho é similar no primeiro e último grupos (da minha parte eu ficaria feliz com umas barras de erro nisso aí). De qualquer forma, a hipótese de associação simples (ou seja “coisas coloridas, que chacoalham e fazem barulho são mais legais”) explica muito melhor os dados do que a de que bebês conseguem atuar em cima de alguma forma primitiva de julgamento moral. Sendo assim, tal capacidade (como vista em seres humanos adultos) seria adquirida em um momento posterior no desenvolvimento, presumidamente por aprendizado social.

Esse tipo de debate é interessante por vários motivos óbvios, mas pelo menos por um não-obvio e bastante importante: divulgação de dados científicos. Tal discussão jamais teria ocorrido se os autores do primeiro trabalho não tivessem divulgado vídeos demonstrando seus procedimentos experimentais, possibilitando o segundo grupo de pesquisadores replicar e testar os seus achados. Por mais que fique a sensação que o primeiro grupo pisou na bola (e pisou), foi sua honestidade que possibilitou a descoberta do erro e do avanço do conhecimento.

Parafraseando Robert Price: Todos os resultados de investigação honesta contém em si as sementes da sua própria destruição. Acho que essa é um ótimo ideal a ser seguido.

Isso, e nunca confiar em bebês, pois eles são um bando amorais. Sempre desconfiei.

Referências

  Hamlin, J., Wynn, K., & Bloom, P. (2007). Social evaluation by preverbal infants Nature, 450 (7169), 557-559 DOI: 10.1038/nature06288

  Scarf, D., Imuta, K., Colombo, M., & Hayne, H. (2012). Social Evaluation or Simple Association? Simple Associations May Explain Moral Reasoning in Infants PLoS ONE, 7 (8) DOI: 10.1371/journal.pone.0042698

Cotas e Discriminação Estatística

Como havia comentado anteriormente, aqui vai um dos minhas muitas opiniões sobre o assunto de cotas raciais e sociais. Minha opinião sobre o assunto já havia mencionada brevemente no guest post do Rony, mas ela não tem muito a ver sobre o assunto que vou expor abaixo.

No post a seguir, meu objetivo é delimitar a metodologia ética baseada em discriminação estatística de Maitzen (1991) e analizar se cotas raciais ou sociais são ou não são éticas. Para frustração de alguns, não entrarei no mérito de se o princípio por trás das cotas é válido (eu acredito que sim, e posso retornar nesse assunto no futuro se achar necessário).

Discriminação estatística

Discriminação estatística refere-se à prática de se valer de características observáveis para extrapolar características não-observáveis que são de interesse para uma dada tomada de decisões.

Por exemplo, quando vamos à feira e apertamos as frutas, não estamos realmente interessados na consistência da fruta (pelo menos não na maioria dos casos). O que estamos normalmente fazendo é nos valendo de uma informação que está disponível (a consistência da fruta), para estimar alguma variável oculta, no caso, se a fruta está madura, verde ou podre. Nesse exemplo, estamos baseando nossa tomada de decisão (comprar ou não a fruta) em uma correlação imperfeita (nem toda fruta dura está verde, assim como frutas podres podem ter uma consistência “boa”), porém que temos como boa o suficiente para a maior parte dos casos. A prática é chamada de “discriminação” pois está relacionado ao ato de diferenciar coisas, e é “estatística” por ser baseada em inferências estatísticas (correlações) sobre tais variáveis de interesse.

Em economia, discriminação estatística normalmente se refere a teorias sobre desigualdade entre gêneros ou etnias decorrente de incompetência dos empregadores em estimar corretamente a capacidade dos empregados, normalmente se valendo de algum tipo de estereótipo. Se todos acreditam que índios são de fato mais preguiçosos, é bem provável que seus empregadores paguem menos a eles. Igualmente, se “mulheres não são boas com números”, elas vão ser consideradas menos capazes e, consequentemente, serão pior remuneradas para realizar trabalhos que envolvem contabilidade, ou engenharia.

Nem todo caso de discriminação estatística é necessariamente danosa: o Estatuto da Criança e do Adolescente assume implicitamente que crianças são indivíduos em formação mental, física e moral, e institucionalizam normas que asseguram que tal desenvolvimento não será prejudicado. Obviamente, isso não é verdade para muitas crianças e adolescentes, mas de modo geral não vemos a aplicação universal do estatuto como injusto.

É importante reconhecer que existem dois aspectos essenciais durante qualquer discriminação estatística. A primeira é o benefício (ou utilidade) que vai se obter com a identificação correta do que é o melhor naquele caso, seja “o melhor” comprar uma fruta madura ou recompensar justamente um profissional (para o manter na empresa, por exemplo). O segundo aspecto é referente ao custo da obtenção de informação a respeito do que de fato queremos medir. Se o empregador é capaz de avaliar quantas vendas foram feitas por cada empregado, e quanto lucro cada um gerou, o seu sexo ou cor de pele é irrelevante para a tomada de decisão (assumindo que o empregador é racional). Porém, se a medida de competência é difícil de se obter, ela pode gerar um custo, o que força o tomador de decisões a pagar esse custo para obter a melhor informação possível para sua decisão, ou se basear em informações (e correlações) imperfeitas, correndo o risco de falsamente recompensar um empregado incompetente ou não reconhecer um empregado valioso.

De forma geral parece sempre pouco razoável assumirmos que temos, no presente momento, informação perfeita sobre qualquer situação que precisamos tomar uma decisão. Sendo assim, quase todas nossas decisões se baseiam em informações (e correlações) imperfeitas. Isso, porém, não significa que seria impossível elevar esse nível de informação mediante a um custo: poderíamos, por exemplo, realizar uma inspeção psicológica e médica em toda criança para investigar qual é o seu grau de desenvolvimento físico, mental e moral, para avaliar se elas ainda podem ser protegidas sob o Estatuto da Criança e do Adolescente. A questão então é: vale a pena pagar o custo pelos benefícios que serão recebidos?

Essa relação entre custo e benefício pode ser entendida como uma função simples:

Figura 1a de Maitzen (1991) modificada.



Onde x é o custo do aumento da informação, e y é o ganho (ou utilidade) que tal informação extra irá nos dar, e r é o valor máximo de ganho que podemos obter, que teoricamente pode nunca ser alcançado (em outras palavras, r é o valor assintótico da função). Visto que sempre é possível aumentar x, precisamos avaliar qual é o valor que nos dá o melhor ganho relativo, e a partir de qual ponto teremos prejuízo se continuarmos investindo (aumentando x). Tal valor é dado pelo ponto E, que é quando a vantagem ganha pelo aumento de informação é igual ao custo pelo aumento de informação (ou seja, onde a tangente da reta é igual a 1). A partir daquele ponto, estaremos investindo muito mais e ganhando proporcionalmente pouco. Analogamente, antes desse ponto, qualquer investimento resulta em ganhos maiores do que o investimento, ou seja, lucro. Assim, apenas vale a pena se valer de discriminação estatística se o aumento do custo do refinamento da informação causa lucro, e não prejuizo.

Tais custos e benefícios não precisam ser entendidos apenas como financeiros (apesar de ser mais prático pensar assim), mas também como sociais. Assim, teríamos que existem custos sociais (financeiros incluso) de se aumentar a informação e benefícios sociais que seriam ganhos em decorrência dessa informações. De um ponto de vista utilitatista, essa seria uma base ética para julgar a validade de políticas públicas baseadas em discriminação estatística. Uma política publica baseada em correlações imperfeitas só seria justa se ela não causa déficit social ou se fosse possível ter um grande ganho social com um pequeno investimento social em obtenção de informações. 

E o que isso tudo tem a ver com cotas universitárias, afinal?

Cotas são ferramentas que suprem diversas expectativas e necessidades ao mesmo tempo. Por exemplo, se cotas são implementadas apenas para aumentar a proporção de certas etnias ou grupos sociais dentro da universidade, então não há discriminação estatística, pois não há uma premissa oculta de que tal etnia é (em média) mais ou menos capacitada. Tais considerações são irrelevantes, se a única preocupação é elevar a diversidade dentro da universidade, ou a participação social de segmentos excluídos. Cotas, como meio de engenharia social, não são foco de críticas ou análises no sentido de discriminação estatística. Porém, quando falamos de equiparação histórica ou de oferecer oportunidades mais justas (que são os argumentos que escuto mais comumente), estamos necessariamente falando de discriminação estatística.


O presente projeto de lei PLC180 estipula que 50% das vagas das universidades estatuais serão destinadas à vestibulandos provenientes de escolas públicas, sendo que metade dessas vagas serão ofertadas para os que tiverem renda inferior à 1,5 salários mínimos, e todas elas serão distribuídas de forma equitativa no quesito racial, obedecendo a proporção racial observada em uma dada unidade federativa (nota: a PLC180 não é perfeita, inclusive no quesito equitatividade racial, mas deixo isso para um possível futuro post). Tanto o critério racial, quanto o de renda podem ambos ser encarados como casos de estimulo à inclusão social: no caso da questão racial é mais obvio, pois o texto especifica explicitamente que o número deve obedecer a proporção na população. Já na questão de renda, apesar de não explicitado, aproximadamente metade da população pode ser enquadrada nessa categoria, o que significa que esse critério também procuraria equitatividade social.

Quanto a tais características serem bons indicativos de capacidade reduzida de performance acadêmica, acredito que o quesito de baixa renda não seja foco de duvidas. Mas seria a questão racial um bom critério? Ao meu ver sim. Recentes dados do IBGE revelam que existe uma desigualdade social na distribuição de renda em diferentes etnias ou grupos raciais.

Exemplo da distribuição de renda per capta (em salários mínimos) por diferentes etnias no Sudeste do Brasil.


Muito tem-se argumentado sobre a imperfeição da auto-identificação para a definição de raça, e estudos genéticos sobre a hereditariedade de diversas pessoas são levantadas como sendo evidência de correlação imperfeita entre raça auto-proclamada e a história genealógica do indivíduo. Porém, do ponto de vista que coloquei acima, tal investigação não é justificada, pois aceitamos a informação imperfeita por consideramos que os custos para a elevação da informação não compensa o ganho social que será obtido. Um motivo para isso é que não é a composição genética do indivíduo que se correlaciona com o fenômenos que queremos observar (defasagem acadêmica), mas a percepção social de grupos étnicos, algo que auto-percepção parece ser muito mais eficiente em avaliar (ou talvez seja a única forma de se avaliar isso).

Um argumento comum contra a auto-identificação é que pessoas podem mentir durante a realização de vestibulares e outros concursos, o que é verdade. Por esse motivo, qualquer implementação de cota racial que parta deste princípio deve ter agregado um custo da vigilância para possíveis mentirosos, e possivelmente a aprovação de leis que punam os transgressores. Mentirosos e usurpadores devem ser postos em xeque, e o eventual custo social da vigilância e o da punição devem ser adicionados em nossa avaliação dos benefícios sociais que serão derivados desse tipo de política. Analogamente, se o critério não é auto-identificação, mas caracterização por terceiros, devem existir leis que permitam recorrer a decisões mal-feitas, algo que também deve ser contabilizado.

Mas e o critério relacionado a escola de origem? Em um primeiro momento ela pode ser justificada por ser considerada um bom correlato estatístico com baixa renda ou mesmo raça. Porém nenhum desses argumentos se sustenta, moralmente, pois o custo x para a obtenção da informação necessária é baixíssimo. De fato, ele é tão baixo que ele já é incluído no sistema de cotas, de forma que ele apenas funciona como mecanismo de exclusão, principalmente no caso de indivíduos de baixa renda que não vieram de escolas públicas (bolsistas de escolas particulares, ou mesmo indivíduos sem ensino formal) ou membros de etnias discriminadas que estudaram em escolas particulares (e não me parece haver motivo algum para acreditar que eles não sofreram discriminação e não tiveram seu desenvolvimento acadêmico comprometido em decorrência disso). Nesse ponto, ou acreditamos que a escola pública é um indicativo forte de baixo desempenho acadêmico por si só, à exclusão dos outros dois critérios étnicos e financeiros, ou somos forçados a admitir que tal critério é imoral. Se cursar escola pública leva a um baixo desempenho acadêmico (e provavelmente leva), então o estabelecimento desse tipo de cota está apenas endossando uma falha do próprio estado, não muito diferente da lógica do Progressão Continuada, algo que é dificilmente uma solução para qualquer coisa.

Em suma,

  • Não vejo uma boa justificativa moral para a implementação de cotas “sociais” no sentido de conferir cotas a alunos advindos de escolas públicas, sendo que é possível elevar o nível de informação com um custo social proporcionalmente inferior ao ganho social: este esquema de cotas estaria abaixo do ponto E

  •  cotas raciais e as baseadas em renda me parecem plenamente justificadas, desde que explicitamente destinadas a promover a equitatividade, pois agregam a informação necessária para combater o problema social percebido, estando ambas próximas ao ponto E. Isso não significa que tais cotas são perfeitas, mas que, dada nossa percepção do problema, elas parecem ser uma solução adequada, logo ética.

Fonte:
Maitzen, S (1991). The ethics of statistical discrimination. Social Theory and Practice, 17, 23-45 : 10.5840/soctheorpract199117114

6 Sugestões de Filmes

Abaixo reuno algumas sugestões de filmes dos quais os temas orbitam entre religião, ceticismo, crenças e verdade.

Red State

A narrativa do filme circula entorno de uma comunidade de religiosos extremistas radicais. Ao meu ver, o filme é uma farsa, usada para criticar diversos aspectos da sociedade Norte-Americana como religião, armas, homofobia, governo, polícia e política. Dirigido por Kevin Smith, o filme foi negado por todas grandes produtoras até ser produzido e distribuído de forma independente. Após ver o filme, eu pode entender porque ninguém quis produzi-lo.

Bug

O filme narra o encontro de uma mulher solitária e um andarilho desconhecido e seu súbito romance. O filme aborda o caráter potencialmente contagiante de delírios e paranóia, e como a nossa mente pode ser enganada e distorcida.

Sunshine

Não poderia deixar esse filme de fora. Já falei anteriormente sobre ele e não posso reiterar mais: o filme é um dos melhores, e mais menosprezados, filmes de ficção científica dos últimos tempos. Não apenas isso, é um filme que fala sobre questões espirituais de uma forma surpreendente. Ele lida com a relação de dependência e medo que temos com uma força maior e negligente: o Sol. A trilha sonora é parte integral do elenco.

The Ledge

Filme contra a história de um ateu que se apaixona pela mulher de um cristão fundamentalista. O filme foi dirigido por Matthew Chapman, o bisneto de Darwin e ganhou alguma visibilidade por ser um dos poucos filmes no qual o protagonista é um ateu declarado (mais especificamente um neo-ateu). Para os já acostumados com os argumentos dos ateus, algumas falas chegam a ser manjadas, beirando a propaganda, porém acredito que ele reflita uma realidade (por mais manjada que seja) que é interessante ser exposta. Muito se falou sobre esse filme quebrar paradigmas, mas do meu ponto de vista, ele não quebrou nenhum (ou quase nenhum) e por isso ele é bom.

Uma Cidade sem Passado


História da vida de uma garota  que investiga o passado oculto da sua cidade e da igreja católica durante o terceiro Reich. Uma comédia muito interessante sobre a busca frustrante pela verdade. Muito interessante ver o quão trivialmente o cinema alemão retrata a ligação entre a igreja (e religião) e o nazismo. Só falta alguem dizer que o cinema alemão também é dominado pelos zionistas… De qualquer forma, o fim me fez lembrar um pouco da Lynn Margulis, por algum motivo.


Vingadores

Oras… tem explosões e super poderes e o Hulk. Precisa dizer mais? Dhã!

Cotas: preparando o terreno

Enquanto termino de preparar meu post um pouco mais estendido sobre cotas universitárias, gostaria de dividir esse documentário muito interessante sobre a questão de cotas raciais na UnB.

Acho que muitos bons pontos são levantados de ambos lados. Enquanto concordo de forma geral que todas as formas de sectarismo são perversos, não posso deixar de reconhecer que tal sectarismo está presente na mentalidade e na nossa cultura, de uma forma ou outra.

Um ponto que me chamam a atenção profundamente nesse documentário é a prevalência de indivíduos brancos combatendo as cotas raciais. Não sei se foi algo intencional dos produtores do documentário, mas é algo que nos faz pensar.

Toda palestra sobre biologia evolutiva…

Original: DarwinEatsCake
Todo seminário sobre Teoria Evolutiva começa da mesma forma:
“A Teoria Evolutiva padrão assume , mas eu irei mostrar que  utilizando uma técnica matemática emprestada da que vocês nunca ouviram falar, chamada .”
É da mesma forma que hipsters começam conversas condescendentes sobre uma nova banda indie que eles acabaram de descobrir, na qual a banda é na verdade Coldplay.

Haeck: Que bom! Agora já sei como começar as minhas palestras.

Encontro improvável (guest post)

Momento do encontro entre hereges na paulista. Esquerda para a direita: Guilherme Tomyshio, Pirulla, Rony, eu e Vivian.  Foi usada uma câmera especial que captura a intensidade da malevolencia, evidenciado pela intensidade do brilho dos olhos. Nota especia para o Pirulla e para a Vivan. 





Segue abaixo um texto elaborado por meu amigo Rony Marques, relatando um encontro ocorrido entre eu, o Pirulla, o Guilherme Tomyshio, a Vivian Paixão, Rhafael Examus. Algo muito divertido que já está virando uma rotina. A pluralidade de opiniões e perspectivas é bastante revigorante e estimulante. Talvez esse seja a verdadeira força de se ter um grupo totalmente heterogênio de pessoas sob o mesmo nome, seja ele “ateus” ou “céticos” ou qualquer coisa assim. 


Claro, eu objetaria à minha representação como um bebado irremediavel, mas é uma representação   precisa o suficiente.




Rony Marques ————————————————

Fim de tarde em uma das principais avenidas de São Paulo, a Paulista. Saio do metrô em direção ao parque Trianon e vejo pessoas andando em uma desordem organizada, passando umas pelas outras, porém sem se trombarem. Passo em frente a uma banca e vejo as notícias, quase cópias umas das outras, nas primeiras páginas dos jornais.

Chego perto do bar que vai ser usado como ponto de encontro e vejo as pessoas com quem me encontrarei sentadas em uma mesa próxima a rua. Não consigo deixar de comparar a cena que vejo com a Ultima Ceia, o afresco de Da Vinci: Um cara com cabelos e barbas longas passando a seus companheiros a bebida. O primeiro a pegar a cerveja é um homem, com cara de uns 30 anos, barba escura e um olhar sarcástico e inteligente, ao mesmo tempo; este dois são Paulo Miranda (mais conhecido como Pirulla) e o Fábio Machado, o Haeckeliano, que, para quem não os conhecem, são biólogos e divulgadores da ciência na internet. Além deles, estava o Rhafael, que se identificou mais tarde como um desocupado por excelência, que na hora, respondia sem qualquer vontade um homem que fazia uma pesquisa sobre cigarros e que eu achei que fazia parte do grupo. Ao lado do Fábio estava Vivian, uma carioca, a mais tranquila deles, porém não menos louca. E, como o último apóstolo, estava Guilherme Tomishyo, um físico da UFSCar e fumante moderado, que a propósito, era o único que estava em pé, fumando. Por fim, para fechar o grupo estava o jornalista que decidiu por em palavras o que aconteceu neste encontro, conhecido por seus pais como Rony e por mim como “Eu”.

Ao me sentar na mesa, Pirulla me apresentou a todos do grupo, que me ofereceram um copo de cerveja antes de sequer perguntarem meu nome. Agradeci, peguei meu copo e me juntei a conversa, depois que o pesquisador intruso foi embora.


Se eu realmente fosse tentar transpor todas as conversas, piadas e frases filosóficas regadas a álcool que foram proferidas ou latidas na mesa do bar, teria de escrever um livro comparado em tamanho e complexibilidade a Ulisses. Por isto, irei resumir a conversa e o número de garrafas de cerveja que bebemos. Além disto, eu não me lembro de tudo o aconteceu na mesa (Não foi amnésia alcoólica, só a conversa que foi muito extensa), então não poderia reproduzir tudo, mesmo que quisesse.


Para começo de conversa discutimos a noite inteira sobre política, ciência e religião, ou seja, tudo o que não se discute em muitas outras mesas de bar. Falamos de críticos e críticas ao ateísmo (Alguém leu Conde ali?) e, também, sobre os ateus “bitolados” e com argumentos rasos. Piadinhas sobre histórias de bebedeiras uns dos outros foram contadas e mais umas três rodadas de cerveja se passaram.

No meio de um assunto, um mendigo que passava por ali, veio pedir uma Coca para nós. Chamamos o garçom e pedimos que ele trouxesse o refrigerante e coloca-se em nossa conta. Até ai, tudo bem, voltamos a nossa conversa e o mendigo começou a falar com o garçom. O problema é que o mendigo mudou de ideia e quis uma Fanta, mas o garçom se recusou a dar, pois nós tínhamos pedido uma Coca. Pronto. Foi só isso para que, sem que nós percebêssemos, uma disputa começasse do nosso lado… A briga foi ficando cada vez mais séria, até o ponto em que se tornou uma rincha entre cidades, pois cada um era de um lugar do nordeste que odiava o outro. Estramos no meio da conversa e pedimos a bendita Fanta, antes que alguém pulasse no pescoço do outro. Cinco minutos depois, vemos o mendigo indo embora, feliz da vida com sua latinha de Fanta, enquanto eu pedia desculpas ao garçom.


Mais umas quatro rodadas de cerveja e alguns bons minutos em filas para poder usar o banheiro, e a conversa entra na questão de cotas raciais, onde o Fábio, confuso pela quantidade de álcool no sangue, já não se lembra mais se é a favor ou contra. Depois de uma breve explicação dos prós e contras, feitas por Pirulla, ele faz uma cara de tanto faz e diz que só houve problema, pois as universidades não “criaram” vagas para negros e sim pegaram reservaram vagas já existentes, então o pessoal sente como se tivesse perdido uma vaga, ou ainda, um direito e por isto que houve tanta confusão. Obviamente ele disse de um jeito um pouco mais confuso e enrolado, mas achei interessante botar isto aqui. Me levanto da mesa e vou ao banheiro no meio de uma conversa sobre acústica, entre o Tomishyo e a Vivian, que é formada em letras e está fazendo uma pesquisa na área de fonoaudiologia, ou algo do gênero. Após quinze minutos em uma fila e várias tentativas, por parte dos homens da fila, de tentar usar o banheiro feminino, desisto e volto para a mesa.

Andando em direção a mesa, percebo que um pequeno grupo de mascaras e suspensórios se junta na esquina da rua, pegam um megafone e começam a discursar sobre o mal da Globo, da televisão, os comunistas, os direitistas, fim do mundo, Illuminatis e Nova Ordem Mundial, não nesta ordem. Esperava que isso acontecesse, afinal, estamos na Paulista; o problema é que o cara só falava besteira e a merda do megafone estava muito alto e eles gritavam próximos da nossa mesa. Fábio, já um pouco alterado, e eu resolvemos levantar e nos aproximar dos mascarados para ouvir o que eles berravam aos transeuntes e as outras pessoas no bar, que os ignoravam quase que por completo. Depois de mais alguns minutos, eles desistem de usar o megafone, tentam falar com algumas pessoas que passavam por ali, mas percebem o fracasso e vão para o bar e pedem algumas cervejas.


Nesta parte da noite Rafael já tinha indo embora e percebemos que já tínhamos falado de quase tudo que era possível: deus, política, sacolinhas plásticas, fim do mundo etc. Então começamos a conversar sobre histórias particulares, que mais lembravam aqueles contos fantásticos de rodas de fogueira. Cada um tinha a sua história mal contada que sempre deixou dúvidas em como aconteceu. A melhor, em minha opinião, foi uma das do Pirulla, que tinha um bom número de histórias estranhas para nos contar. Ele disse certa vez, estava dormindo com sua namorada e de repente ela acordou gritando, “Vai bater, vai bater!”. Ele acordou assustado olhou para ela e alguns segundos depois, dois carros bateram na rua ao lado. A história até que não durou muito, mas passamos uma boa uma hora tentando explicar o que aconteceu. No final, chegamos a “obvia” conclusão de que Leprechauns falaram o que iria acontecer em no ouvido dela.


Passamos então a jogar alguns jogos, como “Eu nunca”, o que rendeu um bom número de piadas, risadas, e, pelo menos, umas três ou quatro garrafas de cerveja e uns pasteizinhos. Está parte foi, talvez, a mais engraçada, pois quase todas as perguntas eram obscenas, mas todos respondiam tranquilamente. Fábio, que uma hora já não conseguia ouvir mais as perguntas ou nem lembrava se tinha ou não feito o que perguntamos, acabou bebendo em todas as rodadas, mas no final das contas ele era quem estava mais são entre todos da mesa.


Por fim, pagamos tudo (principalmente eu e o Pirulla), e saímos do bar, tentando não pagar uma única cerveja que pedimos depois, mas o pessoal ficou com certo peso na consciência e acabamos pagando com algumas moedas os três reais que faltavam.


Fomo embora em direção à consolação, onde eles me deixaram em um ponto de Ônibus em frente ao MASP e foram embora, os quatros loucos, que saíram rindo em direção a rua Augusta, para continuar a as aventuras noturnas. Ainda não sei o que eles fizeram depois que eu fui embora, mas com certeza o pessoal não lembra direito o que aconteceu naquela noite, então o breve relato sobre o encontro termina por aqui.






Criacionistas: Proponham ou Calem-se

Segue abaixo um video do antigo usuário do youtube cdk007. Nele, ele convida os criacionistas a enviarem artigos científicos revisados por pares que corroborem suas crenças criacionistas. A idéia é, acima de tudo, tentar desmistificar a noção de que a ciência é uma conspiração atéia com o objetivo de avançar algum tipo de ideologia naturalista, anti-menino Jesus, mas sim é uma área séria e sistemática. Não é a festa da uva, onde qualquer um pode se safar dizendo “é apenas minha opinião”.

Cruzei com esse vídeo a primeira vez a tempos, durante a época de discussões no orkut com criacionistas. Na ocasião, um criacionista dizia ter um teste científico em favor do criacionismo, e o vídeo me pareceu extremamente adequado.

Na época ainda adicionei uma proposta minha. Visto que muitos criacionistas acreditam que existe uma conspiração ateia na ciência, eu me comprometi em facilitar o contato de criacionistas tupiniquins com agencias internacionais que financiam (ou pelo menos dizem financiar) pesquisas que tem como o objetivo demonstrar o criacionismo (como o Discovery Institute) ou que tentam integrar aspectos religiosos na ciência (como a Templeton Foundation). Não que eu ache que nada disso é de fato necessário: um criacionista comprometido conseguiria descobrir instituições nacionais que apoiam esse tipo de empreitada e que seriam muito mais comprometidos com os interesses dos criacionistas. Mas a oferta ainda é válida e por isso reitero ela.

Segue abaixo o video e uma transcrição do conteúdo.

Caros Criacionistas,

Ultima vez que conversamos, eu lhes acusei de, acima de tudo, desonestidade intelectual.


Eu disse que vocês não tem nada a oferecer à comunidade científica. No entanto, muitos de vocês continuam a afirmar que não há provas diretas e verificáveis que a Evolução está errada e a Criação está correta: vocês tem alegado que a sua religião não é baseada em fé, mas em provas reais e irrefutáveis.


Vocês afirmam ter provas, bem, aqui está a sua chance: nós somos todos ouvidos.

Ao longo dos anos, seus sites, videos e livros ofereceram centenas, senão milhares de argumentos supostamente em favor da criação e contra a evolução. A unica regra pela qual vocês tem jogado é que vocês assumem que estão corretos até que todos os seus argumentos sejam provados falsos.
Nós mostramos evidências contra argumentos de 1 a 10, vocês oferecem o argumento 11. Nós mostramos evidências contra o argumento 11, vocês oferecem o argumento 12. Com uma quase ilimitada pilha de ignorância de onde constroem seus argumentos, esse processo pode continuar indefinidamente. Mesmo se refutassemos um milhão de argumentos que poderiam ser construidos, vocês ainda assim não aceitariam a derrota, e sim vocês poderiam construir o argumento um milhão e um.
Sendo assim, proponho o seguinte: Vocês afirmam ter provas, observações irrefutaveis, razões lógicas sólidas. Bem, se isso é verdade, então certamente um argumento, apenas um dos milhares que foram propostos poderia sobreviver ao processo de revisão por pares.

O que é revisão por pares? É um processo pelo qual os especialistas de um campo, as pessoas mais qualificadas para avaliar um trabalho, anonimamente revisão revisam um manuscrito antes de sua publicação. É a “revisão por pares” perfeita? Não. Mas pelo menos é um filtro que separa o lixo sem sentido de coisas que provavelmente são verdade.

Na ciencia dizemos “Publique ou morra!”. Todas as ideias devem ser capazes de passar pela revisão por pares ou devem ser descartados. Então, ao invés de copiar e colar o Answers in Genesis, citando Ken Ham, ou “linkando” para o museu da criação, eu peço para um unico trabalho revisado por pares que sustenta a criação e desmente a evolução. 

Agora eu já posso ouvi-los reclamando que a ciencia é uma gigantesca conspiração de ateus odiadores de Deus que esconde todas as evidências contra a evolução. Sim, isso mesmo, uma conspiraçào envolvendo milhoes de pessoas, de todos os países, culturas e religiões, que se estende por mais de um século no passado…

Apenas no meu laboratório temos 3 auto-proclamados cristãos, um judeu, um muçulmano, um sikh dentre 10 indivíduos. Realmente não soa como um bando de ateus odiadores de Deus para mim.
Mas tudo bem, se você ainda quer alegar que nenhum dos seus trabalhos podem passar a revisão por pares por que um auto-proclamado grupo religiosamente diverso de pessoas são, na verdade, todos ateus enrustidos, tudo bem! Eu vou aceitar no lugar de um artigo revisado por pares, um manuscrito que foi apresentado e rejeitado acompanhado pelos comentários dos revisores e editores da revista
De-me o melhor que você tem. Você não pode afirmar que há uma conspiração se nunca submeteu um artigo pra começar. Uma vez que eu receber um artigo revisado por pares, ou um manuscrito rejeitado com comentários dos revisores eu vou linkar para ele na descrição do vídeo.

Vocês são os que clamam ter provas, então Proponham, ou Calem-se.

Se vocês quiserem que suas ideias sejam respeitadas, você precisa jogar segundo um conjunto de regras justas. Até lá, irei continuar a refutar cada argumento criacionista, um por um. Vou continuar a trazer verdadeiros resultados científicos para um forum público. vou continuar a encoraja as pessoas a fazer aquilo que vocês mais temem: Pensar.

Nota: infelizmente o cdk007 parou de produzir videos, mas a sua lista disponível na internet é bastante completa e muito bem referenciada. Vale a pena assistir.