Voltando às baratas


Para quê matar um presa e ter que carregá-la até o local desejado, quando se pode fazer uma neurocirurgia e transformar uma presa muito maior em um zumbi, conduzindo-a como se fosse um cachorrinho pela coleira para a morte certa?

A Ampulex compressa é mais uma vespa parasitóide, ou seja, que passa parte de sua vida parasitando outro organismo. Muitas vespas são conhecidas por caçarem grandes presas, como aranhas, para depositarem seus ovos. Quanto mais cedo a presa morre, menos tempo as larvas da vespa têm para se desenvolver. Dessa forma, as vespas desenvolveram venenos que paralizam, mas não matam completamente sua presa. A A. compressa leva isso ao extremo.

Mioooooolos!!
Mioooooolos!!

Sua presa é a barata comum (Periplaneta americana). Ao encontrar uma barata, a vespa vira-a com as patas para cima e a ferroa no tórax. O veneno faz com que ela perca temporariamente o movimento das patas, e deixe de reagir. Este passo é necessário para o procedimento mais delicado que vem a seguir.

Com a barata imobilizada, a Ampulex compressa dá uma segunda ferroada, desta vez por baixo da cabeça da barata. Com a ponta do ferrão, a vespa tateia por alguns instantes até encontrar o ponto certo no cérebro da barata. Lá, libera um coquetel de toxinas que em instantes fazem com que a barata comece a se limpar. A vespa se afasta durante os próximos 30 minutos, provavelmente deixando os neurotransmissores agirem, enquanto a dopamina que liberou mantém a barata ocupada limpando-se.

Ao retornar, algo mudou. Ao invés de carregar a presa como outras vespas, ela simplesmente conduz a barata pela antena como se fosse um cachorrinho. Isso mesmo, a barata não foge nem reage. Na verdade, o metabolismo da barata está bem mais lento agora, ela consome cerca de 60% do oxigênio que consumia anteriormente e simplesmente obedece a A. compressa. Como um zumbi, ela gentilmente é conduzida até a toca da vespa onde terá um ovo depositado no seu abdome. Acompanhe no vídeo abaixo o processo todo:

A larva nascida do ovo começa a sugar a linfa da barata. Assim que cresce um pouco mais, entra dentro da barata e passa oito dias devorando-a por dentro. Após a refeição, forma um casulo (que não tem formato de barata, Igor) e emerge como o Alien, como visto nesse vídeo.

Aparentemente, seus sensores estão na ponta do ferrão. Quando cientistas congelaram o ferrão de uma vespa, ela foi capaz de seguir os primeiros passos de ataque a uma barata, mas demorou muito tempo procurando pelo ponto certo no cérebro e não conseguiu completar o serviço. Quando os mesmos cietistas tentaram reproduzir o efeito do veneno na barata com anestésicos ou retirando os neurônios que são atacados, a barata morreu em cerca de seis dias, já quando a Ampulex compressa faz isso, a barata dura pelo menos oito dias com uma larva se alimentando dela.

Por enquanto só a evolução conseguiu produzir zumbis de maneira eficiente.

Fonte:

Gal, Ram, Lior Ann Rosenberg, and Frederic Libersat. “Parasitoid wasp uses a venom cocktail injected into the brain to manipulate the behavior and metabolism of its cockroach prey.” Archives of Insect Biochemistry and Physiology 60, no. 4 (2005): 198-208. doi:10.1002/arch.20092.


21 responses to “Voltando às baratas”

  1. Hmmm… Estudo publicado em 2005… O tal “coquetel de toxinas” não estaria sendo objeto de análises químicas, nesse interim?… 😈

  2. Vc poderia colocar o paper do Archives of Insect Biochemistry and Physiology no site www.4shared.com/, assim todos teriam a oportunidade de ler o artigo.
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    votei no seu blog !

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