O que foi a gripe espanhola em 1918


hospital_gripe_espanhola.jpg

Hospital militar no Kansas, fim de 1918.

1918, Primeira Guerra acontecendo na Europa, quando um surto de gripe
atingiu o hemisfério norte todo durante a primavera (deles) em março. Muitas
pessoas foram infectadas, com os sintomas normais da gripe, febre,
calafrios e indisposição. Todos os países tiveram surtos, na Espanha 8
milhões de pessoas ficaram doentes, incluindo o rei Afonso XIII. A maioria dos países não admitia o surto que estava acontecendo, já que isso implicava em soldados fora de combate. A Espanha que até então estava neutra na
guerra não escondeu o que se passava, e a gripe que era chamada de
gripe dos 3 dias começou a ser chamada de gripe espanhola. Rapidamente,
ela sumiu.

Faixa etária e mortalidade da gripe espanhola

Em agosto, outono no hemisfério norte, a gripe voltou. Atacou em todos
os lugares, Ásia, Europa, Américas. Mas dessa vez ela estava diferente.
Estranhamente atacava os jovens, com um pico de infecção entre 20 e 30
anos, enquanto normalmente a curva de idade é um U, atacando mais
crianças e idosos, essa formava mais um W. Os sintomas também estavam
diferentes, além da febre e dor de cabeça, em alguns dias começava a
falta de ar, o rosto começava a ficar roxo, os pés pretos, e em pouco
tempo a pessoa morria afogada, com os pulmões cheios de fluidos. Os
acampamentos militares, cheios de jovens dividindo quartos, foram
atacados em cheio.

Enquanto uma gripe normal mata menos de 0,1% dos doentes, essa matava
até 2,5%. Pode parecer pouco, mas com pelo menos 25% da população americana
doente, o estrago foi enorme, mais de meio milhão de mortos. Essa é a
diferença principal. Enquanto o Ebola mata até 90% das pessoas, infecta poucos, já essa gripe infectou tantos que deve ter matado entre
20 e 100 milhões de pessoas – a
1ª Guerra matou cerca de 9,2 milhões em combate, 15 milhões no total, a
2ª, 16 milhões. Algumas tribos esquimós sumiram do mapa.
 
Faltavam caixões para enterrar as pessoas, e em muitos lugares os velórios eram limitados a minutos, tamanha a procura.

Até hoje não se sabe como a doença se espalhou tão rápido, em questão
de dois meses o mundo inteiro foi atingido, e em muitos casos cidades
distantes tinham surto ao mesmo tempo, enquanto as cidades vizinhas
podiam levar semanas para serem atingidas.

Nos EUA e no Japão, foram selecionados presos para testarem como a
doença era contraída. Não se sabia que era um vírus que causava a
doença. Eles pegavam presos que não tiveram contato com a gripe e após os testes, os presos teriam cumprido a dívida com a
sociedade – comitê de ética também não era tão presente na época.
Borrifavam muco de pessoas doentes no nariz e nos olhos dos presos,
injetavam sangue embaixo da pele e pediam para os doentes tossirem e
espirrarem  no rosto. Nenhum dos presos americanos contraiu a doença. No Japão conseguiram ver que fluidos filtrados eram capazes de infectar as
pessoas, forte indicação de que o agente infeccioso era um vírus (bactérias ficavam retidas pelo filtro), mas não conseguiram repetir os
resultados.

Reencontrando o inimigo

Em 1996, um pesquisador do Instituto de Patologia das Forças Armadas
americanas teve uma idéia brilhante. O instituto de patologia recebia
milhares de amostras militares e civis desde o começo do século 20, analisava e conservava. Taubenberger resolveu procurar amostras de
pulmão de soldados que tivessem morrido de gripe em 1918 preservadas em
parafina. De duas amostras conseguiu isolar genes do vírus da gripe
espanhola. Houve críticas de que o formol poderia ter causado mutações
nos vírus, e surgiu a idéia de que corpos enterrados em terreno
permanentemente congelado também permitissem que outras amostras fossem recuperadas, e comparadas.

Uma pesquisadora americana resolveu escavar um cemitério (vala comum)
norueguês. Em um projeto de meio milhão de dólares, planejou durante 4
anos. Explorou o solo com sondas, montou tendas de contenção biológica,
contratou escavadores especializados e chegou a fotografar a disposição
das pedras no chão para poder devolver tudo no lugar depois. Quando
desenterrou os corpos, eles já estavam bem decompostos e não
encontraram o vírus.

Enquanto ela planejava tudo isso, um sueco de uma universidade
americana chamado Hultin, que já conhecia o Alasca e tinha tentado
encontrar amostras do vírus em 1951, foi sozinho para uma vila esquimó,
escavou um cemitério e consegui amostras muito bem conservadas de uma
mulher esquimó, gastando $ 3200 em uma viagem de 3 dias.

Em breve: o que as amostras revelaram, e qual foi o fim do vírus H1N1 de 1918.

Para acompanhar a história do H1N1 da gripe espanhola em 1918 até a gripe suína de hoje, clique aqui.

Aproveite que você já leu o texto e responda a esta enquete:

Free Blog Poll

Fonte:

gripe.jpgGripe: a História da Pandemia de 1918. Gina Kolata, 2002. 383 páginas.
– Ótimo livro sobre a gripe em geral, descreve muito bem a pandemia de
1918, o evento de 1976 e como o vírus da gripe espanhola foi recuperado
de cadáveres congelados e amostras de pacientes armazenadas. Recomendo.

,

109 responses to “O que foi a gripe espanhola em 1918”

  1. boa noite, atila.
    eu conheci seu blog através do brontossauros lá no antigamente… enfim, recebo por email, sempre gostei, mas nunca tinha comentado.
    essa série sobre gripe(s) me fez sair do grupo de admiradores secretos e passar por aqui, só para agradecer pela informação de qualidade e parabenizar pelo trabalho.
    eu sei, todo mundo sabe, mas é gostoso ouvir mesmo assim.
    ana

  2. Uma pergunta: já li em diversos lugares uma menção a que a gripe teria surgido em um campo de treinamento militar americano (o campo específico varia). Lendo notícias atuais, percebi que essa menção é, atualmente, considerada errada.
    O que há de realmente estabelecido? Afinal, a gripe começou com as aves, com os porcos ou com pessoas?

  3. @ João Carlos e Luiz,
    Vou tentar passar por isso no próximo post sobre gripe espanhola. Preciso ler mais referências antes, já que tem bastante coisa mudando nessa área.

  4. Existe uma contradição entre o gráfico e os dados do texto: você diz que a taxa de mortalidade da gripe era de 2,5%, mas o gráfico indica que mesmo entre os bebês e muito idosos a taxa estava em algo próximo de 2,25%. Comofas//

  5. @Kim,
    Bem notado!! A taxa de mortalidade foi de até 2,5% (alterei no texto), e depende da localidade afetada, e agravantes como pneumonia. O gráfico por idades é dos Estados Unidos, e a taxa pode não ser da mesma amostra. De qualquer forma, dê uma olhada na referência 5 do texto sobre como um vírus é mais letal do que outro, o texto do CDC, foi de lá que tirei a taxa e o gráfico.

  6. Olá Atila,
    Mto interessante esse post.
    Parabéns!!
    Também tenho uma pergunta:
    Não entendi por que os presos não contraiam a doença.
    Até mais

  7. @Fred,
    boa pergunta. Na verdade, nem os pesquisadores entenderam porque isso aconteceu. O mais provável é que estes presos já tivessem sido expostos ao vírus (mas não tiveram sintomas) e desenvolveram imunidade

  8. adorei o contexto…muito importante para mim…
    pois estou fazendo um trabalho e saber tudo com detalhes ajuda bastante!muioto obrigada pela informação super construtiva que poes a nosso dispor..
    um grande abraço!

  9. muito bom esse comentário sobre a gripe espanhola, pois tende a esclareçer numa boa leitura de dois contextos fundamentais para um estudante o que fala sobre a 2° guerra mundial e a pandemia…..

  10. Tenho uma tia avó que faleceu aos dois anos com a gripe espanhola.
    e minha avó contava que era muito triste a morte por essa doença, e que morreram muitos aqui em Pernambuco

  11. poderia me dizer se e possivel, a cripe que temos hoje que e a suina. ser fruto da cripe espanhola, ou ter sido passada para nos numa dessas tentativas de recuperar o virus para pesquiza. sera que ela nao escapou desses pequizados e afectou o mundo novamente ?

  12. Gabriela,
    Se você clicar na categoria Doenças deste post, verá um outro texto meu explicando de onde veio este vírus da gripe suína, e a relação dele com o vírus da gripe espanhola.

  13. Assistí no Discovery Channel o especial sobre a espedição para coleta de material em cadaveres congelados, mortos pela gripe espanhola, mas hoje tentei localizar o vídeo e não encontrei. É muito interessante que os casos da atual gripe H1N1 tenham iniciado no México, um ano após a “exumação” do virus da gripe espanhola. Poderia ter acontecido algum “vazamento” de material dos laboratórios de pesquisa? Isto beneficiaria o fabricante do anti-viral utilizado no tratamento?

  14. @Gilberto,
    A exumação foi feita em 1995, e não vazou. Se fosse este vírus, nós identificaríamos isso pela sequência genética do novo H1N1. E Ela aponta que, ele é relacionado ao H1N1 de 1918, mas também possui genes de outra origem.

  15. @Claudio,
    A gripe acabou se estabelecendo dentro dos porcos, e entre os humanos a imunidade desenvolvida impediu a gripe de voltar

  16. Olá!!!Sobre a Gripe suína.
    Pois é…Quanto mais tentamos se aprofundar no assunto, mais confusos ficamos.
    Com certeza, a prevenção para qualquer doença, sempre é o melhor caminho.
    Mas me pergunto… O pânico, dá-se por estatísticas de futuros números de pessoas infectadas e mídia, ou a real gravidade de um vírus pouco conhecido,de fácil transmissão e com pouco tempo ou chance de recuperação.
    Acredito eu, na minha ignorância, que se a prevenção é o melhor remédio, porque os estados não fecham as portas dos logradouros públicos, para que não haja tanta contaminação, principalmente na época do inverno?
    Porquê tanta politicagem?
    Onde fica, neste momento a ética dos profissionais, que não se reúnem para dar respostas exatas à população.
    Na verdade, a pergunta que não se cala é: Estamos ou não numa Pandemia???
    Se estamos, o que deve ser feito???
    O que os estudiosos e médicos recomendam???
    Devemos ou não nos preocupar???
    Bom, quero deixar aqui um forte abraço, na esperança de que tudo seja bem orientado, para que os responsáveis pelo conhecimentos de doenças desta grandeza, se manifestem sem medo de replesália, e que pratiquem um Bom trabalho!!!

  17. Foi muito bom este esclarecimento e gostei mais ainda quando citaram a apatia dos médicos em se pronunciarem.
    Afinal, o vírus H1N1 esa se espalhando mesmo e devemos ter cautela mesmo com um resfriado comum.

  18. Bem, acho que foi muito esclarecedor. Entretanto, acho que há uma ligação direta do H3N2, H5N1, H1N1. Bem, as espectativas para os resultados finais da passagem do H1N1 pela população mundial pretendem ser terriveis. Acho, realmente, de confiarmos em nossos especialistas, quem não acredita em Deus, deveria passar a acreditar e ter fé nele

  19. ADOREI SABER SOBRE A GRIPE ESPANHOLA MAIS TENHA CUIDADO ELA AINDA NÃO SUMIU DE 40 EM 40 ANOS SURGI UMA GRIPE NOVA E CADA VEZ QUE ELA VOLTA ELA VOLTA MAIS FORTE ENTÃO TENHA CUIDADO COM ESSA GRIPE QUE TAMBEM ASSA RESPOSTA PODE SER USADA PARA A GRIPE SUINA.
    SABENDO UM POUCO MAIS SOBRE GRIPES.

  20. Achei muito bom esse esclarecimento, porque axilia as pessoas principalmente da area da saude a fazer pesquisa aumentando seu conhecimento.

  21. eu queria saber como foi que surgiu essa gripe (h1 n1)
    por favor pode me responde como é que se surgiu ?
    è essa gripe espanhola tbm
    por favor responde
    …………………………………….
    ass:karina vaz

  22. Segundo conversa com médicos da década de 20 esta é a espanhola modificada e fará o mesmo estrago hoje.
    O que vcs tem a exclarecer

  23. @ Lilian,
    TODOS os vírus mais comuns da gripe humana atual são vinculados ao da gripe espanhola. O que tenho a exclarecer está no link ao final do texto.

  24. achei bem melhor por que esplica detalhadamente e muito imformativo perfeito para pesquisas de escola como no meu casa a professora amou o trabalho eu copiei a m~~ao mas foi tao bom que o tempo passo rapidinho foi maravilhosa a pesquisa ela ´´e muito imformativa

  25. aquilo sim foi uma gripe do caralho matou só 50 milhoes só na Europa matando até o presidente do brasil na epóca Rodrigues Alves, essa gripezinha suina ai não é nada perto da gripe espanhola aquilo sim que foi uma gripe de fode esse alarme da gripe suina ai que esta tendo em todos os meiosde comunicação possiveis é mais uma tatica do nosso ilustre governo para camuflar outros problemas senão muito piores que a gripe suina ,como por exemplo a crise no senado

  26. O artigo mostra que no caso da gripe espanhola, a primeira onda foi até bastante branda, sendo inicialmente até chamada de gripe dos 3 dias. Porem , a segunda onda foi catastrofica.
    Me preocupa saber que a atual gripe tem uma primeira onda muito mais grave que a primeira onda da gripe espanhola. Com sera então a segunda onda?

  27. ACELERADOR, É ISSO QUE TEM NO CARRO DO RUBINHO, ELE VAI SAE CAMPEÃO, DALHE DALHE!!!!!!!!!!!!!!!11
    AGSYASUAHSUAHSUAHSA]
    MASSA , LEGAU, :d TUDO DE BOM :d AUSHAUSHAUSHA ASUHAUSHA

  28. Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim
    Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim
    Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim
    Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim
    Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim
    Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim
    Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim
    Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim
    Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim
    Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim Atchim

  29. eu nem sabia q existia essa gripe até eu olhar o filme crepuscúlo q o ator fala q quasse morreu da gripe espanhola eu acho q a gripe h1n1 de atualmente não e muito diferente da qripe espanhola a gripe suina vinha matando mutas pessoas nem tantas cmo a gripe espanhola o que eu espero que eles apliquem a vacina do h1n1 mais breve possivel pra ñ continua matando. add: meu orkut andy_jota@hotmail.com eo msn:andriele028@hotmail.com

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *