Autor: Flávio Bryk, Fisioterapeuta pela Santa Casa de São paulo (2004) e Mestre em Ciências do Movimento Humano pela UNICSUL, Fisioterapeuta da Seleção Brasileira Feminina de Futebol (2011-2018).
Co-autor: Dr. Fellipe Takatsu.
A articulação do quadril é uma das mais importantes do corpo humano, desempenhando papel fundamental na mobilidade e na estabilidade. Graças a ela, conseguimos andar, correr, sentar, levantar e realizar inúmeras atividades do dia a dia.
O quadril é submetido a cargas elevadas. Para se ter uma ideia, ao caminhar, essa articulação suporta de três a quatro vezes o peso corporal; ao correr, a carga pode ultrapassar nove vezes o peso do corpo. Apesar de impressionante, isso é absolutamente normal: o quadril foi projetado para suportar tais forças. Por isso, a reabilitação fisioterapêutica de qualidade deve preparar o quadril para receber carga — e não simplesmente restringir ou abolir atividades de alta demanda, como esportes.
Neste texto, vamos entender de forma simples alguns conceitos sobre essa articulação e como a fisioterapia pode atuar no tratamento de doenças que a afetam.
O que é a Articulação do Quadril?
O quadril conecta os ossos da pelve ao fêmur — o maior osso do corpo humano. É classificado como uma articulação esferoide, permitindo movimentos em várias direções: flexão, extensão, rotação e abdução.
A cabeça do fêmur, com formato esférico, encaixa-se no acetábulo, uma cavidade da pelve. Entre essas estruturas, uma camada de cartilagem articular atua como “almofada”, reduzindo o atrito e protegendo os ossos.
Além disso, músculos, tendões e ligamentos circundantes trabalham em conjunto para fornecer estabilidade e força, permitindo movimentos suaves. Quando essa articulação é comprometida, tarefas simples podem se tornar dolorosas e difíceis.
Doenças Comuns que Afetam o Quadril
- Osteoartrite (artrose)
Condição degenerativa em que a cartilagem se desgasta, causando atrito entre os ossos. Pode provocar dor, rigidez e dificuldade para caminhar ou realizar atividades diárias. - Bursite trocantérica
Inflamação da bursa — pequena bolsa com líquido que reduz o atrito entre estruturas. Causa dor na lateral do quadril, especialmente ao se movimentar ou deitar sobre o lado afetado. - Síndrome do impacto fêmoro-acetabular (SIFA)
Alteração na anatomia óssea entre fêmur e acetábulo que limita a amplitude de movimento e pode gerar dor, principalmente em atividades que exigem grandes deslocamentos articulares.
Como a Fisioterapia Atua no Tratamento do Quadril
A fisioterapia é essencial para a recuperação e o manejo de doenças do quadril. O plano de tratamento deve ser individualizado, levando em conta a condição do paciente, o estágio da lesão e seus objetivos.
As principais abordagens incluem:
- Controle da dor
Uso de recursos como eletroterapia (TENS), laserterapia, ultrassom terapêutico, calor ou crioterapia para reduzir dor e inflamação, especialmente nas fases iniciais. - Melhora da mobilidade
Exercícios de mobilidade articular, alongamentos musculares e técnicas para flexibilizar a cápsula articular, permitindo movimentos mais livres e com menor sobrecarga. - Fortalecimento muscular
Foco em músculos estabilizadores (como glúteos e abdutores) e dinâmicos, visando equilíbrio de forças e maior proteção à articulação. - Exercícios funcionais
Treinos que simulam movimentos do dia a dia e demandas esportivas, fundamentais para a volta segura às atividades. - Técnicas manuais
Mobilizações articulares e liberação miofascial para melhorar circulação, reduzir tensão e otimizar a mobilidade.
Fatores-Chave na Recuperação
O sucesso do tratamento depende não apenas da intervenção do fisioterapeuta, mas também do engajamento do paciente. Seguir orientações, realizar exercícios prescritos e adotar hábitos saudáveis aceleram o retorno às atividades.
Considerações Finais
O quadril é vital para nossa mobilidade e qualidade de vida. Doenças e lesões nessa região podem ser incapacitantes, mas a fisioterapia oferece estratégias eficazes para aliviar sintomas, restaurar função e prevenir novos problemas.
Se você apresenta dor ou dificuldade para se movimentar, procure avaliação especializada. Com um plano de tratamento adequado, é possível recuperar a funcionalidade e manter uma vida ativa.
Referências
Hoit, G., Prather, H., & Hunt, D. M. (2017). Physical therapy management of femoroacetabular impingement. Current Reviews in Musculoskeletal Medicine, 10(3), 253-262.
Reiman, M. P., & Thorborg, K. (2017). Clinical examination and physical assessment of hip joint-related pain in athletes. International Journal of Sports Physical Therapy, 12(3), 402-414.
Grässel, E., & Muschter, D. (2020). Recent advances in the treatment of osteoarthritis. F1000Research, 9(Faculty Rev), 325.
Byrd JB. (2011). Femoroacetabular Impingement in Athletes. Orthopedic Clinics of North America, 42(2), 225-234.