Ciência e Política no Brasil de 2023

Foto da Posse do Governo Lula, dia 1 de Janeiro de 2023, subindo a rampa com representantes do povo brasileiro

Não é incomum ouvirmos que as instituições democráticas brasileiras são consolidadas e não há risco de golpes contra a democracia. Há, por outro lado, quem aponte que a democracia vem sofrendo ataques desde o questionamento da validade das urnas em 2014 (ou mesmo antes desse evento), por exemplo. Em outros estudos, também se aponta existir a exacerbação de discursos fascistas desde as manifestações de 2013, em nosso país.

Ao longo dos últimos anos, vimos crescer em nosso país movimentos reacionários de direita e extrema-direita, ocupando altos cargos do executivo e legislativo. Direitos políticos, trabalhistas e sociais sendo diariamente questionados e limados do cenário cotidiano. Desde falta de informações seguras na crise sanitária até cortes orçamentários que garantiam preços acessíveis à alimentação (com o desmantelamento dos CONABs, por exemplo) – vimos uma política que agia rotineiramente estabelecendo desigualdade social como parte das políticas públicas em todos os setores sociais.

Eleições 2022

O período eleitoral foi marcado por desinformação e o que se costumou chamar “guerra de narrativas” (por exemplo, nestas reportagens aqui e aqui). No campo institucional público, vimos perfis de redes sociais sendo fechados a fim de que não houvesse quaisquer indícios de comunicação que ferissem a lei eleitoral.

Por outro lado, tanto redes sociais, quanto comícios foram palco de intensa disputa em uma eleição que culminou na vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. Pela primeira vez, desde a implementação da reeleição, o presidente da situação não ganha a eleição em nosso país. 

Durante o período de transição, vimos representantes do atual governo divulgando graves análises de como o Brasil vinha sendo governado. O Relatório do Grupo de Transição foi divulgado de forma pública, no dia 22 de Dezembro de 2022.

A primeira semana do atual governo

Enquanto assistíamos, ao final de 2022, ao ex-presidente Jair Bolsonaro abandonando seu cargo às vésperas da posse do atual presidente, também alimentávamos expectativas acerca do que nos aguardava para a posse do atual presidente Lula da Silva.

Em uma das cerimônias de posse com maior delegação internacional do mundo, o presidente Lula e o vice-presidente Alckmin assumiram o governo, dia 1º de Janeiro, com anúncios de possíveis retaliações de acampados e defensores do antigo presidente. A fuga do ex-presidente, fato sem precedentes na história brasileira, gerou um dos maiores espetáculos de posse e transmissão da faixa a um presidente, com representatividade de diversidade, noticiados no mundo todo como um marco na política brasileira. O simbolismo representando o povo brasileiro entregando a faixa presidencial é, definitivamente, uma das imagens mais impressionantes da história recente.

A primeira semana de governo contou com a posse de 37 ministros, que discursaram ao lado de secretários que os acompanharão nas políticas públicas nacionais. Os discursos dos ministros, amplamente televisionados e transmitidos em canais on-line na internet, foram comentados por especialistas, analíticos, políticos, jornalistas e canais de comunicação diversos. A primeira reunião ministerial teve cobertura pela TV Brasil.

Várias destas personalidades demarcaram a diferença entre governos anteriores – em especial fazendo uma contraposição ao ex-presidente Bolsonaro.

Ressaltamos, nesse sentido, a fala monumental do Ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Sílvio de Almeida: “vocês existem e são valiosos para nós”, referindo-se às pessoas que tiveram seus direitos aviltados nos últimos anos de governo.

Enquanto isso…

Nas redes sociais, o ex-presidente segue comunicando grandes feitos de seu governo. Inclusive com algumas mensagens que podem sugerir que ele ainda é representante do executivo nacional.

Perfil oficial da rede social Twitter Ex-presidente Jair Bolsonaro, com descrição de perfil em que consta ainda o cargo de “Presidente” (captura de tela no dia 09 de Janeiro de 2023)
Captura de tela de um tweet do perfil oficial do Ex-Presidente, datado de 3 de janeiro de 2023, com “anúncio de redução de tarifa” como medida de governo. (captura de tela no dia 09 de Janeiro de 2023)

Os acampamentos de pessoas apoiadoras de Bolsonaro seguiam em frente aos quartéis desde o final das eleições, por todo o país. Ao final de 2022, alguns atos de violência e ameaças foram deflagrados, com busca e apreensão de armas e explosivos em alguns destes acampamentos – em especial na capital brasileira (como nos casos apurados e noticiados aqui e aqui).

Vídeos e prints de mensagens desinformativas seguiam sendo denunciadas, sem sucesso.

8 de janeiro de 2023

Com um silêncio sem precedentes de autoridades policiais – e governador responsável – vimos grupos de bolsonaristas invadir o patrimônio nacional – os prédios dos governos Executivo, Legislativo e Judiciário. Depredação, roubo e destruição aconteceram, enquanto aguardávamos alguma ação incisiva para o que muitos chamavam de “manifestantes”.

Em uma tarde intensa, acompanhamos chocados o ataque terrorista ao patrimônio brasileiro em uma inquestionável ação antidemocrática.

Ao final da tarde, ainda estarrecidos, vimos a ação policial ter início, prendendo os responsáveis pelos atos de destruição dos prédios do governo. Também presenciamos o pronunciamento do Governador do Distrito Federal Ibaneis Rocha, apontando que “não se sabia a proporção” que o evento, que já vinha sendo acompanhado e denunciado, tomaria. O Ministro da Justiça Flávio Dino também se pronunciou oficialmente apontando falha na segurança conduzida pelo governo do Distrito Federal. Em seguida a isto, o Presidente Lula, que estava em Araraquara, assina um decreto, pronunciado publicamente em coletiva à imprensa, com transmissão ao vivo, com intervenção federal até o final deste mês, no Distrito Federal.

O Blogs de Ciência da Unicamp e o Especial Ciência e Política

Não é a primeira vez que o Blogs da Unicamp posiciona-se frente a questões políticas. É com uma imensa tristeza que vemos um ataque violento e terrorista contra nosso patrimônio e a democracia, conquistada com tanta luta, em nosso país. É contra quaisquer atos desta natureza que nos posicionamos e seguiremos nos posicionando.

Mais do que isso, no entanto, é importante que nosso cotidiano seja mais do que um apoio declarado à democracia. Neste sentido, reafirmamos o trabalho e compromisso do projeto, com a ciência e o acesso democrático à informação acadêmica, técnica e científica, abrindo novamente o Especial Ciência e Política para análises e debates acerca da política nacional, pela Rede de Blogueiros do projeto – e pesquisadores convidados. Nosso intuito é aprofundar o debate, possibilitando uma compreensão maior acerca do que vem ocorrendo no cenário contemporâneo, buscando um diálogo com a sociedade.

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Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos são produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foram revisados por pares. Por fim, reitera-se o compromisso Editorial com a qualidade das informações publicadas neste projeto, podendo acontecer revisão do aceite de submissão sempre que observarmos irregularidades e desinformações sendo veiculadas. Os textos publicados são de responsabilidade dos autores e não necessariamente representam a visão do Blogs de Ciência da Unicamp e da Universidade Estadual de Campinas.


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