COMUNICANDO CIÊNCIA ATRAVÉS DE IMAGENS – PARTE 1

Nesta série de posts, vamos falar sobre ilustração científica, e um pouquinho sobre a importância da arte para comunicação da ciência.

Quando a arte serve aos propósitos da ciência, as prioridades mudam. Agradar ao senso estético do observador é menos importante do que a precisão e a confiabilidade da obra (embora alguns artistas ao longo da história tenham sido geniais o suficiente para atender a ambos os desígnios). O objetivo da ilustração científica é ser útil e acurada – permitindo aos cientistas formular ou demonstrar modelos, teorias e hipóteses. Neste aspecto, a ilustração científica serve de força motriz ao pensamento e à comunicação dos resultados de uma pesquisa. Mas não apenas: as imagens cientificamente embasadas são usadas há séculos para instruir, estimular a preservação da natureza, e para comunicar ciência ao público não especializado.

>> Parte 1: O que é ilustração científica?

Parte 2: Pra quê desenhar se podemos fotografar?

Parte 3: Conclusões e perspectivas

 

O que é ilustração científica?

 

No contexto da grande área de conhecimento denominada  visualização científica, a  ilustração pode ser definida como a representação gráfica de conceitos ou teorias científicas. Ela exige a interpretação e desconstrução de dado conceito, cuja informação será sintetizada e materializada num contexto visual não-dúbio e assimilável. A ilustração científica oferece um detalhamento técnico e comunicativo focado em especificidades, que outras ferramentas (como a fotografia, ou gráficos numéricos isolados) não conseguem fornecer. Ela se distingue da ilustração técnica pois esta última é empregada para descrever visualmente, de forma objetiva e detalhada, os componentes físicos de determinada estrutura ou processo para um público não especializado. Porém, as técnicas de desenho usadas para elaborar uma  ilustração técnica (como o uso de perspectiva, padronização de texturas, traçados e o emprego de legendas informativas) são comuns nas ilustrações médicas e científicas.

 

Atualmente, baseando-se na disponibilidade de cursos de formação, categorias de premiações especializadas e áreas de conhecimento teórico, a ilustração científica pode ser entendida em três grandes áreas:

 

  • Biomédica: concentra imagens científicas produzidas para comunicar, divulgar e explorar conteúdos de saúde, como: estruturas anatômicas, tipos celulares, relações patógeno-hospedeiro. Pode ser interseccionada com ciências químicas e bioquímicas – estruturas moleculares, farmacológicas, nanotecnologia. Deste ramo da ilustração emerge também a linha recente de animadores científicos. Estes últimos utilizam recursos avançados de computação gráfica, criando animações tridimensionais para comunicar conceitos complexos. Na ilustração científica biomédica, podemos citar as famosas ilustrações do médico norte-americano Frank H. Netter (1906-1991) – que construiu ao longo da carreira um vasto acervo de ilustrações – seus Atlas de Anatomia Humana são utilizados nos cursos de graduação na área da saúde até hoje. Elas são aplicáveis no meio educacional, editorial e comercial. 

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  • Naturalista: se refere à ilustrações científicas que descrevem o mundo natural; mais especificamente, ilustram flora (ilustração botânica) e fauna (ilustração zoológica). Esta categoria inclui também ilustrações que explicam e representam o comportamento animal, interações ecológicas dos seres vivos e toda a arte paleontológica e antropológica. É provavelmente a categoria mais conhecida e valorizada, devido a seu valor histórico e material.

 

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  • Astrofísica: agrega as ilustrações voltadas à descrição de fenômenos físicos e astronômicos – que envolvem grande variação de escala e abstração. Tem grande intersecção com a ilustração técnica. Pode incluir imagens de cartografia, meteorologia, física experimental.

 

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Uma quarta categoria que pode ser examinada à parte é a ilustração feita especificamente para fins de comunicação e divulgação científica. Antes que a arte gráfica aplicada à ciência pudesse ser subdividida nas áreas acima citadas, a ilustração foi extensivamente utilizada para comunicar conceitos, observações e informações entre pessoas.

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Considera-se que o primeiro desenho com intenções informativas já registrado data de 15.000 A.C.  e localiza a posição do coração de um mamute dentro de um diagrama estilizado do corpo do animal (Hajar, 2011). Esta pintura rupestre foi localizada no sítio arqueológico de Chauvet-Pont-d’Arc. Como uma categoria que exige menos detalhamento técnico, a ilustração voltada para comunicação científica pode ser mais lúdica e menos rigorosa. Porém, como normalmente envolve a simplificação e descrição de fenômenos complexos ou informações derivadas de uma expertise muito especializada, ela exige conhecimentos amplos da parte do ilustrador, e requer uma mão de obra qualificada para ser produzida. 

Reproduzido de: Hajar R. Medical Illustration: Art in Medical Education. Heart Views : The Official Journal of the Gulf Heart Association. 2011;12(2):83-91. doi:10.4103/1995-705X.86023. Creative Commons Attribution-Noncommercial-Share Alike 3.0

Reproduzido de: Hajar R. Medical Illustration: Art in Medical Education. Heart Views : The Official Journal of the Gulf Heart Association. 2011;12(2):83-91. doi:10.4103/1995-705X.86023. Creative Commons Attribution-Noncommercial-Share Alike 3.0

Próximas postagens da série:

>> Parte 2: Pra quê desenhar se podemos fotografar?

Parte 3: Conclusões e perspectivas


2 comentários

Pra quê desenhar se podemos fotografar? - Colora-ci(ência) · 27 de dezembro de 2019 às 15:00

[…] >> Parte 1: O que é ilustração científica? […]

(SÉRIE) Conclusões e Perspectivas - Colora-ci(ência) · 9 de fevereiro de 2020 às 21:51

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