Uma boa definição de ciência

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Card do Massimo, da coleção Skeptic Trumps

Acabo de ler um artigo pelo cientista-tornado-filosofo Massimo Pigliucci sobre o movimento Neo-Ateista. Pigliucci, que é um crítico do movimento, argumenta que a principal diferença entre os ateus clássicos e os neo-ateus, é o que ele chama de “uma virada ao cientismo”. Ele define cientismo como:

“A atitude de considerar ciência como o ultimo critério e arbitro de todas as questões interessantes; ou alternativamente que busca expandir a definição e escopo da ciência para abranger todos os aspectos do conhecimento humano”

Para sustentar essa idéia, Pigliucci leva em consideração os livros publicados pelos autores considerados ícones do neo-ateísmo, especificamente Richard Dawkins, Victor Staiger, Daniel Dannet, Christopher Hitchens e Sam Harris (com quem ele parece ter um problema em particular).

Suas avaliações são justas na sua maioria (pelo menos nos livros que eu li), mas em quase todo parágrafo fiquei estarrecido com algumas afirmações de Pigliucci, principalmente nas suas avaliações dos livros de Sam Harris. Ele chega a afirmar, por exemplo, que não chegamos ao consenso sobre princípios da geometria euclidiana através de nenhuma evidência empírica (no caso ele usa o exemplo de que a soma dos ângulos de um triângulo é sempre 180o), o que me parece em clara contradição de como professores de fato demonstram esses princípios aos alunos em sala de aula*. Outra afirmação intrigante foi a de que o dilema de Eutifron demonstra com sucesso que Deuses e moralidade não tem nada a ver um com a outro, coisa que até onde sei é no mínimo… discutível (mas vou poupar vocês o trabalho de ver um ateu defendendo um argumento para a validade da moralidade divina).

No entanto, a questão que me deixou mais intrigado foi o foco central do artigo, que é a acusação de cientismo por parte dos neo-ateus. Não porque eu discorde dela (em partes), mas porque, ao justificar isso, Pigliucci constrói uma definição de ciência que não parece contribuir para sua tese:

Ciência é melhor concebida como uma família, no sentido Wittgensteiniano, de atividades que tem uma variedade de pontos em comum, incluindo (mas não se limitando a) a realização sistemática de observações e/ou experimentos, o teste de hipóteses, a construção de teorias gerais sobre o funcionamento do mundo, a operação de um sistema de revisão-por-pares pré e pós-publicação, e a existência de uma variedade de fontes de financiamento públicos e privados para projetos que são considerados válidos”

Eu gostei bastante dessa definição, mas como isso exclui necessariamente questões morais, metafísicas ou espirituais me é um mistério. Pigliucci não argumenta com sucesso sobre isso, sendo que o máximo que ele faz é indicar o leitor ao seu novo livro sobre critérios de demarcação em ciência, pseudociência e filosofia. Posso ser só eu, mas não me soa de bom tom deferir um dos principais pontos do seu artigo para um livro, sem maiores explicações.

De forma geral, esse ensaio me decepcionou muito. Durante o artigo todo, e apesar dos protestos do Pigliucci, não pude deixar de ter a sensação que grande parte das suas críticas são motivadas por briguinhas entre áreas acadêmicas, na qual filósofos parecem estar especialmente ofendidos pelo fato de que ciência tem um reconhecimento social maior do que filosofia, que ainda soa como abobrinha para as orelhas do público.

Talvez precisemos de um Big Bang Theory para a filosofia… algo como “The Hume’s club”. Será que a Sony compra?

De qualquer forma, veja o ótimo blog do Massimo, o Rationally Speaking. Vale a pena conferir.

* Pigliucci aqui parece estar adotando uma postura puramente racionalista, onde “verdades matemáticas” são exercícios meramente racionais e não empíricos. Até onde sei, essa posição não é inequivoca dentro da filosófica da matemática. Consigo pensar em pelo menos duas outras linhas que discordariam dessa interpretação.

O que os Pagãos nos deixaram?

“Os pagãos nos deram democracia, cidadania, direitos humanos- na verdade todo o conceito em si de direitos incluindo liberdade de expressão- ciência, medicina, filosofia, lógica formal e matemática. Eles também nos deram uma defesa filosófica de valores morais como filantropia, generosidade, misericórdia e honestidade.

Isso faz acreditar no paganismo racional?”

Richard Carrier, aqui, por volta de 1:30:00.

A resposta é (eu espero) óbvia.

Momento “cuteness” + conservação

Recentemente o Zoológico de Toronto liberou imagens dos primeiros passos de um filhote de urso polar que nasceu em 9 de Novembro do ano passado:

[youtube_sc url=”http://www.youtube.com/watch?v=OkfEChXa2V0″]

Segundo um dos leitores do Why Evolution is True, o filhote “é o único sobrevivente de uma ninhada de três. Ele foi tirado de sua mãe Aurora, visto que ela tem um histórico de rejeição de seus filhotes”.

Essa história de me lembrou do Knut, um filhote de urso polar rejeitado pela mãe no zoológico de Berlin. Knut alcançou o status de fenômeno, após ser abandonado pela mãe, em 2006, se tornando o primeiro filhote da espécie a atingir a fase adulta no zoológico em 30 anos.

Knut e seu tratador

Sua carreira chegou a um fim trágico, entretanto, quando em 2011 Knut sofreu um colapso em decorrência de uma encefalite e acabou morrendo afogado em seu recinto.

A vida de Knut não foi livre de controvérsias. Em 2007, o ativista de direitos animais Frank Albrecht disse que criar Knut violava os direitos animais, pois a criação por humanos levaria a distúrbios compartimentais e sofrimento ao animal. Eu honestamente nunca vi evidencias de que animais criados em cativeiro, se bem criados, sofrem, muito menos que sofrer o suficiente para justificar… bem, não cria-los (o que supostamente deixaria só uma outra alternativa). Mas é verdade que a criação por humanos pode impactar negativamente comportamentos essenciais para a espécie, o que pode dificultar, e até inviabilizar, a re-introdução do animal na natureza ou a sua criação em cativeiro.

Então… criar animais em cativeiro é necessariamente ruim? Eu acho que não.

Recentemente eu vi um lindo exemplo no Aquário de Monterey, na Califórnia. Lá eles mantinham diversos animais em cativeiro, inclusive uma albatroz fêmea chamada Makana que, após várias tentativas de recuperação, se mostrou incapaz de ser re-introduzida no meio ambiente (ela possui uma asa fraturada) e hoje é usada para educar os visitantes sobre os perigos da poluição para esses animais.

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Makana se exibindo. Veja ela em ação aqui

Agora o que mais me impressionou foram as lontras-marinhas. Não é apenas pelo fato delas serem incrivelmente fofas:

Nhonhonhonhonho.
Clique aqui para ver uma camera ao vivo.

O mais impressionante, para mim, foi aprender que os animais em exposição eram usadas como babás para lontras orfãs que eram resgatadas pelo aquário. A idéia é simples: lontras órfãs, se criadas por humanos, não poderiam ser re-introduzidas no meio ambiente. Esse era na verdade o caso das lontras expostas. Porém, se um filhote é criado por uma babá, mesmo uma criada por humanos, existe uma chance maior dele ser re-introduzido no ambiente com sucesso. E, de fato, muitas dessas lontras ajudaram a criar diversos animais que foram mais tarde re-introduzidos na natureza. Ou seja, a criação de alguns poucos animais em cativeiro ajudou as populações naturais desses animais. Fantástico!

Claro, isso não significa que todos os zoológicos e aquários são paraísos de conservação ex-situ. Aliás, acho que muitos zoológicos tem uma relação atávica com seu passado, como um local de coleções e curiosidades do mundo animal. Mas talvez, com um pouco de esforço, podemos chegar lá.

Curiosidade: lontras-marinhas adoram mastigar camarões congelados e, depois de uma bela refeição, tirar uma soneca boiando em alto-mar.

2013-11-13 16.01.15

 

É… eu sei. Insuportável não?

“Rolezinho” e os Zumbis de Romero

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Zumbis no shopping.

Zumbis sempre me intrigaram. Ao mesmo tempo que aparentam ser humanos, nada em seu comportamento evidencia isso: são maquinas de matar e comer incessantes, com preferencia especial pela carne humana. São monstros, pura e simplesmente, sem nenhum tipo de sentimento, exceto fome.

Dentro da escala de “coisas que podemos matar sem nenhum tipo de paradoxo moral”, zumbis provavelmente encabeçam a lista. Os jogos de videogame e filmes notaram isso rapidamente. Zumbis nutrem nossa necessidade por violência justificada: você pode explodir a cabeça de um zumbi sem remorsos, mas um vilão, mesmo o pior de todos, pode receber um pouco de compaixão. Afinal, como diria o Batman: “Escória, mas até escória tem família“.

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Batman não mata, nunca.

Mas o que isso tem a ver com os “rolezinhos”? Bom, hoje cedo fui ler o editorial na Folha da Elaine Cantanhede, no qual ela aponta diversos paralelos entre os “rolezinhos” e os protestos do ano passado contra as tarifas de ônibus. Ela aponta, entre outras coisas, que antes falávamos de um movimento de classe média politizada (de certa forma) e que, após ser reprimido, explodiu nacionalmente. Segundo Cantanhede, os “rolezinhos” são um movimento análogo, motivados pela alienação dos jovens de classe baixa do mundo consumista e ostentador, exemplificado na figura dos shoppings centers. O ponto central, eu acho, é que a não-compreensão das vontades dos indivíduos em ambos os casos levou a uma atitude do governo que só piorou as coisas, e isso falou diretamente para mim. Apesar de estar envolvido nos protestos contra o aumento das tarifas, e “entender” o movimento, eu não entendo o “rolezinho”. Eu estou de fora. E isso me lembrou de Romero.

George A. Romero é um dos meus maiores ídolos. Foi ele que concebeu essa idéia de zumbi que temos hoje em dia: sem mente, faminto, meio morto e em decomposição, que se arrasta lentamente atrás de suas vitimas. Esse conceito foi lançado inicialmente em seu filme “A Noite dos Mortos-Vivos”, um filme que chocou uma geração ao subverter a narrativa padrão de filmes de terror: “monstros aparecem, matam todo mundo, menos o herói, que mata os monstros e foge com a mocinha”. Não… nada termina bem. Sabe aquele tema comum em histórias de Zumbis, no qual os zumbis são ruins, mas são os humanos que te ferram no fim? Então, Romero começou isso, nesse filme.

Romero ainda explorou outros aspectos da idéia dos zumbis: sendo essas máquinas inumanas de matar, é impossível entender suas vontades (se é que eles tem alguma). Você só precisa se defender, matando de preferência, sempre lembrando que eles não são “gente como a gente”. Em “A Noite dos Mortos-Vivos”, os sobreviventes se escondem em uma casa de subúrbio americano (aqueles bairros onde a classe média vai para fugir da “violência da cidade”), mas na sequência, “A Madrugada dos Mortos-Vivos”, eles se escondem em um Shopping Center. E foi nesse filme que finalmente entendi a mensagem: enquanto a minoria privilegiada se esbanjava dentro do Shopping, a multidão faminta apenas olhavam pelas grandes vitrines. Mas Romero adverte: o equilíbrio é instável. Uma hora a pressão é grande, as portas quebram e os mortos invadem.

E eles invadiram.

Rápidos* pensamentos sobre a contingência do Universo

Acabo de ler o primeiro capítulo de John Loftus no livro The Christian Delusion (que já comentei brevemente aqui). Loftus é o editor e organizador do livro e tem três capítulos na obra. No primeiro deles, Loftus formaliza o que ele chama de o “Teste de Fé do Forasteiro“ (The Outsider Test of Faith, nome do capítulo), que basicamente consiste na idéia que a sua própria crença deve ser avaliada com o mesmo nível de ceticismo e critérios de evidência com os quais avaliamos as crenças dos outros. Ou seja, porque aceitar um milagre vago como confirmação de sua fé pessoal, enquanto os mesmos milagres associados à fés diferentes não são vistos como a confirmação da fé dos outros?

Por essas e outras, Loftus tem ficado famoso por sua retórica e entusiasmo em atacar o cristianismo, especificamente as vertentes evangélicas norte-americanas. Curiosamente Loftus, que é ex-pastor e teólogo, foi um dos estudantes do apologeta William Lane Craig, e é uma das únicas pessoas com a qual ele não quer debater. Loftus parece o exato oposto de Craig: sem nenhuma pompa, com jeito de caipira, bastante inteligente e articulado, porém um desastre em oratória e em debates. Ele é tão ruim, que chega a falhar em responder argumentos que ele ferozmente ataca em seu livro. Porque Craig tem medo dele me é um mistério completo.

De qualquer forma, segue abaixo a parte 1 da palestra, onde Loftus expõem os mesmos argumentos para o Teste.

[youtube_sc url=”https://www.youtube.com/watch?v=g8oJ5LFnsd4″]

O que me chamou atenção, no entanto é que, após a palestra, na parte 7, Loftus é confrontado por alguns alunos (presumidamente cristãos) que perguntam como ele, sendo ateu, explica a existência de um universo contingente. Contingência, pra quem não sabe, é a idéia de que “uma coisa depende de outra”. Por exemplo, se falo que meu mal humor é contingente à quantidade de cafeína que tomo de manhã, quero dizer que meu mal humor depende da quantidade de café que tomei.

De forma geral, tudo que conhecemos no universo é contingente: maçãs dependem da existências de árvores, que dependem de sementes, que dependem de outras maçãs, e assim vai. Essa idéia trás alguns problemas: primeiro, se tudo que conhecemos é contingente então, se fomos seguindo na cadeia de eventos para o passado, nunca chegaremos em um começo, o que implicaria que o passado é infinito, e que o universo sempre existiu. Isso é um problema enorme para qualquer denominação religiosa que postula uma origem miraculosa para o universo. Com um universo eterno, nada de criação e sem criação, nada de criador.

Principio da Razão Suficiente

Para burlar** esse tipo de conclusão inconveniente, filósofos se valem do o que é chamado do Princípio da Razão Suficiente (PRS), um princípio intuitivamente obvio, proposto por diversos filósofos (incluindo Baruch Spinoza), mas popularizado por Leibniz. O princípio afirma que:

Para todo fato F,  deve existir uma explicação de o porque F é o caso

ou

Para toda entidade X, existe uma explicação de o porque X existe

Ou seja, em um universo contingente, tudo que existe pode ser explicado por suas causas. Você pode perguntar: “Porque a Terra existe?”, “Porque a segunda guerra aconteceu?”, “Porque eu gosto de salada?” e todas essas perguntas podem ser respondidas, fazendo referência às causas e situações que permitem que X venha a ser. Tudo perfeitamente compatível com a forma que entendemos o mundo. Nada muito extremo não é?

Mas agora a coisa fica complicada. Algumas proposições não podem ser explicadas fazendo referências às suas causas. Por exemplo: “Círculos são redondos” é uma preposição que não pode ser verificada na realidade, muito menos provada falsa. Ela é verdadeira por si própria (assim como todas as tautologias, por exemplo), ou seja, elas são “necessárias”, verdadeiras independente do universo (algumas vezes chamadas de “incontingentes” ou “absolutas”). A necessidade dessas preposições é vista como a explicação de o porque elas são verdadeiras. Elas não precisam de causas materiais para serem explicadas, dentro do contexto do PRS.

Ok, e onde Deus entra nessa história?

Bom, segundo alguns filósofos, existem entidades que seriam necessárias, ou seja, seriam explicadas pela própria necessidade da sua existência. Como exemplo desse tipo de entidade teríamos números, outros objetos conceituais e, obviamente, deuses (não vou nem entrar no mérito de o porque desse argumento). Deuses, como seres não-contingentes, seriam explicados pela força da própria necessidade de existir: não existiria um mundo possível onde um deus não exista, pois sua não-existência seria ilógica.

Certo… e como isso resolve o problema da contingência para o teísmo? É bem simples: se tivermos um conjunto de todas as causas contingentes do universo (ou seja, o universo que conhecemos como um todo), a adição de uma nova causa contingente não vai ajudar a explicar o conjunto como um todo, pois vai ser apenas mais uma causa contingente para ser explicada por alguma outra causa contingente, e assim ad infinitum. A solução é ter-se uma causa não-contingente, ou absoluta, que possa explicar o conjunto de causas contingentes:

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Desenho ruim e pouco explicativo para dar um “quê” de autoridade

A grande sacada desse argumento é que, visto que ele é válido, ele serve para um universo finito ou infinito: um universo infinito seria uma cadeia de causas infinitas, mas deve ser explicada, como um todo, por algo não contingente e, de preferencia, atemporal.

Então, basicamente, o PRS permite que, tanto em um universos finito quanto infinito, possamos defender, logicamente, a existência dessa causa não-contingente, que muitos podem querer chamar de “Deus”.

A resposta de Loftus

Pra qualquer um com um mínimo de senso crítico, esse argumento levanta várias bandeiras (e eu garanto, existem muito mais bandeiras a serem levantadas). Mas Loftus aparentemente opta por dar duas resposta ao desafio dos alunos.

Primeiro ele pergunta “Assumindo que o argumento [que o universo precisa de algo necessário para explicar sua existência] é válido, o que isso te dá?“, que é um ponto completamente válido. Afinal, o máximo que você tem é a existência de um “algo” necessário que causaria todo o resto. E de fato, físicos como Victor Steinger e Lawrence Krauss argumentam que esse “algo” pode muito bem ser um algo físico, como flutuações quânticas ou o vácuo quântico, coisas consideravelmente mais simples do que uma super-mente super-poderosa e imaterial. Ou seja, isso não prova teísmo, e é bem provável que não disprove o ateísmo também, ao contrário do que o aluno parece pensar.

A segunda resposta de Loftus é “eu não sei“, e aqui ele se complica na resposta. Ele parece focar na idéia de que, ao dizer que Deus fez o mundo, cristãos parariam de recorrer a ciência para saber como isso ocorreu, coisa que o aluno rapidamente o corrige (claro, ele faz uma distinção entre saber que deus fez e saber como ocorreu, o que para mim é falsa, mas isso é outra discussão). Mas acho que aqui Loftus perdeu uma oportunidade de explorar uma das fraquezas do PRS.

Pense assim: imagine o estado da arte do conhecimento à 6 mil anos atrás, quando a cosmologia da época ditava que o universo era constituído da Terra e o Céu, mas que também tivéssemos teólogos tão espertos como os de hoje, propondo coisas como o PRS para “explicar” o universo. Esse pequeno “universo” seria contigente e explicado por Deus AKA “Deus criou aquele universo”. Agora adicione um modelo heliocêntrico, com o sistema solar sendo “o universo”… como fica o argumento? E se você adicionar a via-láctea inteira? E se colocar um cluster de galáxias? E todo o universo visível? Como fica?

Bem, igual, é assim que fica. O PRS é aplicável a todos os universos já concebidos pela humanidade. Visto que o que é o “universo” é um conceito humano em constante expansão, determinado por nossa capacidade de investigar a natureza, o PRS indica que Deus é uma explicação até para os universos errados. E se tem uma coisa que aprendemos em filosofia da ciência é que, se algo explica tudo, ele muito provavelmente não explica nada.

Agora, o que realmente me intriga é: porque diabos William Lane Craig tem medo de debater com o Loftus, um sujeito que se embanana para responder uma pergunta tão simples de um aluno, sendo que ele mesmo já fez um ótimo trabalho em refutar esse mesmo argumento? Pra mim, esse é o verdadeiro mistério.

* Sim, isso foi ironia.

** Eu não sei se o PRS foi proposto “para esse fim”, mas visto que apologetas rotineiramente falam bobagens do tipo “o multiverso foi proposto por cientistas ateus para escapar da criação divina”, eu não fico com um peso grande na consciência.

Castrar um hipopótamo não é tão fácil quanto parece (e não parece nem um pouco fácil)

O problema é simples: temos um dos animais mais agressivos e mortais da terra e queremos mantê-los em zoológicos, sem risco para a vida de tratadores. Solução? Oras, castração! Afinal, se funciona com animais domésticos, deve funcionar com outros animais.

Porém as coisas não são tão fáceis. Como se castrar um animal de mais de 3 toneladas não fosse um problema, os testículos dos hipopótamos são móveis, e tem-se mostrado um grande desafio para os cientistas da castração animal (aparentemente ¬¬).

Isso levou a um desenvolvimento de um procedimento original por um time de cientistas liderados por Christian Walzer, da universidade de Vienna. Esse novo procedimento, adaptado do utilizado em cavalos, permite a localização e remoção dos testículos dos animais. Yei, Science!

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O pior dia da vida de um jovem hipopótamo

Viu, fácil. Agora você só precisa de um guindaste, quantidades obscenas de tranquilizante e uma tesoura.

É, eu sei. De nada.

O porque dos testículos desses animais se movem, como que fugissem de dedos gelados de um urologista, é um mistério. Mas o Walzer tem uma teoria:

Hipopótamos machos realmente brigam- não é apenas uma bravata quando eles bocejam e abrem suas bocas- eles podem atacar o testículo dos rivais com seus dentes.

Agora, nunca vi evidência de que hipopótamos atacam os testículos uns dos outros, mas tanto faz, parece uma ótima ideia! Próximo passo: identificar genes envolvidos para aplicação “biomédica” em humanos.

Já!