Afinal, por que #somostodosmacacos?

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A não ser que você estivesse morando em uma caverna nos últimos dias, você ficou sabendo da controvérsia sobre a campanha #somostodosmacacos, que está bombando nas redes sociais. Afinal, se eu sei e faço doutorado (o mais próximo de uma caverna uma caverna que podemos ter nos dias de hoje), então você sabe.

Mas aqui vai a recapitulação: Daniel Alves, jogador do Barcelona, há temos vem sendo hostilizado pela torcida espanhola, que o chama de “macaco”, uma alusão ao seu tom de pele. No último jogo de seu time, uma banana foi atirada contra Alves, que a pegou e comeu:

[youtube_sc url=”https://www.youtube.com/watch?v=VzNNOYSWk2M”]

Não muito depois disso, o jogador Neymar, seu colega de time, foi ao twitter e ao instagram protestar

Isso acabou resultando em uma campanha maior que motivou muitos outros famosos a postarem fotos deles mesmos comendo bananas sob o hashtag #somostodosmacacos, em protesto ao racismo e em suporte ao Daniel Alves.

Eu confesso que vejo essa campanha como positiva, apesar de alguns protestos. Ela me parece ter uma motivação nobre (independente da sua eficácia) e parece estar tendo grande adesão, apesar de se basear em uma concepção rejeitada por 33% da sociedade brasileira, a teoria evolutiva, o que talvez nos dê possibilidades de elucidar e esclarecer um pouco essas ideias.

Mas mesmo ignorando a massa criacionista e seus “pensadores” que estão fechados, a priori, à argumentação e a evidencias, ainda existem muitas pessoas que não entendem o motivo pelo qual seriamos macacos ou talvez até discordem, argumentando que mesmo que tenhamos descendentes comuns, nós somos diferentes demais para sermos considerados macacos.

Essa, na verdade, é uma resposta frequente dentre evolucionistas contra a afirmações de criacionistas de que eles não descendem de macacos. “Nós não descendemos de macacos. Nós e os macacos temos um ancestral comum”, costumam dizer. Mas essa afirmação é um erro, pois só pode ser proferida tendo em vista uma concepção errada da relação de parentesco entre humanos e outros animais, ou uma concepção errada de como classificamos espécies em biologia.

Mas então, porque somos macacos?

Primeiro temos que entender como classificamos espécies em biologia. O Rodrigo Véras, do Evolucionismo.org já fez um ótimo trabalho em explicar esses conceitos nesse mesmo contexto. Vá até lá para ter uma visão aprofundada de como classificamos organismo em biologia. Mas para entender os conceitos gerais, podemos simplificar da seguinte forma:

  1. Classificamos organismos segundo suas características compartilhadas.
  2. Em um contexto evolutivo, características compartilhadas são explicadas por descendência comum. Organismos com as mesmas caracteristicas as possuem por terem-nas herdado de seus ancestrais.*
  3. Um organismo nunca abandona sua descendência. Uma vez que um organismo é membro de um grupo, todos os seus descendentes também vão ser membros daquele exato grupo.

*Nota aos puristas: sim, isso é uma simplificação.

Esse ultimo ponto pode parecer estranho. Afinal criacionistas vivem dizendo que “evolução é quando um cachorro dá a luz a um gato” ou algo assim, mas isso é uma concepção equivocada. Um cachorro sempre dará luz a um outro cachorro, e nunca a uma outra linhagem existente. E mesmo que esse animal se modifique muito, mesmo assim ele continuará membro daquela linhagem.

De novo, cachorros são ótimos exemplos disso. Abaixo vocês podem ver uma representação gráfica de variação da forma do crânio de cachorros domésticos, em comparação com a variação da forma do crânio de diversos grupos naturais de Carnivoros (a ordem na qual os cachorros estão inseridos).

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Representação esquemática da variação da forma do crânio em Carnivora e em cachorros domésticos. Os esquemas na direita explicam como se dá a variação: eixo x dá a variação de crânios com focinho achatado para o lado negativo e compridos para o lado positivo; o eixo y dá a diferença entre crânios achatados dorso-ventralmente para o lado negativo e altos para o lado positivo. Em verde temos a variação dentro de cachorro e em azul vemos a variação em toda a Ordem Carnivora, exceto cachorros.

Nota-se que sua variação é vastamente superior à vista entre espécies de grupos naturais. Mas em nenhum momento um cachorro, por mais diferente que ele seja, deixou de ser cachorro. Ele sempre é e será cachorro, apesar de agora se inserir em outras categorias hierárquicas, como chihuahua, ou bulldog, etc.

Esses conceitos podem ser vistos na forma de gráficos que representam a história das linhagens, chamadas “árvores filogenéticas”. Essas árvores apresentam o seguinte padrão:

Na figura acima, A e B são ditas espécies “irmãs”, ou seja, que descendem do mesmo ancestral hipotético, representado por “x“. O grupo composto por A e B engloba não apenas essas duas espécies, mas também seu ancestral “x“, que necessariamente irá possuir as mesmas características compartilhadas por A e B. Similarmente, quando olhamos as espécies C, D e E, vemos que elas apresentam um ancestral comum “y” que necessariamente apresenta todas as características compartilhadas por C, D e E. Então se C e D são membros de um grupo, então E também é, pois terá recebido todas as características necessárias para pertencer àquele grupo por descendência de “y“.

Parabéns, Jeff! Agora faça isso para 10 milhões de organismos para 10 milhões anos. Diga para sua familia que você só volta no natal.

Hoje em dia comumente avaliamos essas relações de parentescos baseadas em caracteres compartilhados através de biologia molecular. O principio é o mesmo que o usado em testes de paternidade: se você compartilha metade de seus genes (ou marcadores genéticos) com uma pessoa, você muito provavelmente tem relação de parentesco com ela. O que se faz em biologia evolutiva é a mesma coisa. Só que para populações inteiras. Ao longo de milhões de anos. É…

O resultado de uma dessas análises mais recentes pode ser visto abaixo, em forma de árvore de parentesco:

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Modificado de Perelman e colaboradores (2011).

A seta vermelha indica a posição de nosso gênero Homo, que se insere no grupo Hominidae (incluindo chimpanzés, gorilas e orangotangos), associado ao grupo dos gibões, ou Hylobatidae. Em conjunto, esses grupos são chamados de “apes” ou grandes primatas (ver aqui uma discussão ótima do Eli Vieira, que também tangencia esse mesmo assunto).

Nas caixas vermelhas vemos outros dois grupos: os Platyrrhini, chamados também de “Macacos do Novo-Mundo”, sendo o “Novo-Mundo” as Américas; e os Cercopitecidae, ou  “Macacos do Velho-Mundo”, ou seja da Ásia e da Africa. Agora, se o agrupamento que chamaremos de “macacos” é para ter qualquer sentido biológico, então ele deve englobar tanto os macacos do novo quanto do velho mundo.

Porém isso traz um problema: ao agrupar ambos os grupos de macacos, notamos que o seu ancestral hipotético, que contém todas as características que definem os macacos (sendo ele mesmo um macaco), também é ancestral comum dos grandes-primatas, grupo no qual os humanos estão inseridos. E visto que uma linhagem não pode evoluir “para fora” de sua ancestralidade, então os grandes-primatas, assim como os humanos, descendem do ancestral comum de todos os macacos. Assim, por descender de um ancestral macaco, eles compartilham todas as caracteristicas que colocam outras espécies no grupo  “macacos”. E se quisermos ser sistemáticos e não-arbitrarios, devemos inserir esses animais: gorilas, chimpanzés e, sim, nós humanos, nesse grupo chamado “macacos”.

Isso não significa que somos idênticos a outras espécies do grupo. Nenhuma espécie é igual a outra. Somos obviamente distintos: temos postura ereta, ausência de pelos e somos mais inteligentes que outros macacos, o que nos possibilita realizar feitos fantásticos, como construir espaço-naves, escrever poesia e descobrir o mundo natural a nossa volta. Talvez um dia, a soma de todas essas realizações nos permita eliminar de uma vez por toda o tribalismo e sectarismo que alimentam nossa xenofobia, nossa homofobia e nosso racismo.

Quem sabe.

O melhor argumento para o “Evolucionismo Teísta”

No post anterior eu argumentei que a evolução convergente de peixes cegos de caverna é um tanto esquisita, se avaliada a luz da evolução teísta, visto que seria necessário postular um deus caprichoso ou enganador para se conformar com as observações. A solução seria, então, propor um designer interventor que produzisse um efeito no mundo natural puramente indistinguível de processos materiais. Como isso pode ser feito?

Ao meu ver, a melhor proposta para como solucionar isso é a defendida por Elliott Sober:

A idéia pode ser resumida da seguinte forma: Deus interfere na evolução manipulando algumas mutações genéticas. Quantas, você pergunta? Bem, o suficiente para serem imperceptíveis.

Uma analogia pode ajudar a entender. Suponha que você tem um número muito grande de eventos aleatórios como, digamos, lançamentos de uma moeda não-viciada. De todos os lançamentos, aproximadamente 50% deram cara e 50% deram coroa. O evolucionismo teísta seria o equivalente a chegar na 457o lançamento, que deu por acaso coroa e dizer “Deus fez com que esse lançamento desse coroa”. Ou seja, uma mutação ou outra é causada por Deus, como por exemplo a que causou o surgimento dos tetrápodes, ou que me de um esmalte dentário praticamente imune a caries.

A parte boa da ideia, é que é completamente infalseável, como qualquer boa ideia religiosa deve ser para não cair nas garras da “ciência materialista” (sic). A parte ruim é que a intervenção divina é totalmente irrelevante para entender qualquer padrão geral e, de quebra, torna Deus impotente frente as forças materialistas que geram todo o resto das mutações. Deus pode ter sido responsável por criar uma mutação benefica que foi varrida de uma população por deriva, ou mesmo que uma mutação puramente natural foi melhor do que mutação causada divinamente. Lembrando que Deus não poderia fixar uma mutação desvantajosa (isso seria contra a seleção natural e distinta da evolução materialista) ou causar uma pletora de mutações improváveis para criar uma estrutura complexa (isso seria Design Inteligente e fácil de diagnosticar).

A única “contribuição” dessa ideia é permitir aos seus defensores dizer que, em algum momento da história da vida na terra, Deus pode ter interferido através de uma mutação. Talvez. Ninguém pode saber ao certo.

Agora, Sober não é nenhum tonto: ele é um dos mais importantes filósofos contemporâneos da evolução, mas eu acho que ele está numa empreitada quixotesca nesse ponto, e pelos motivos errados. E os motivos não são nem sequer religião, visto que Sober é ateu. O problema dele é com os “novos ateus” e sua retórica. Especificamente, com o fato deles afirmarem (ou darem a entender) que religião e evolução são incompatíveis ou, mais especificamente, que uma concepção neo-darwinista da evolução implica na inexistência de um designer capaz de guiar as mutações.

O argumento que Sober tenta rebater é o seguinte:

P1) Até onde os cientistas puderam observar mutações são aleatórias.
P2) Mutações aleatórias não podem ser mutações guiadas.
P3) Temos modelos deterministicos de todos os outros fatores envolvidos na evolução das espécies
C) Não é possível ter mutações guiadas, ou não é possível que Deus esteja intervindo na evolução através de mutações.

Sober argumenta que tal linha de raciocínio é falaciosa, se baseando na equivocação da palavra “aleatória”. Quando um biólogo fala de mutação como sendo aleatória, ele não quer dizer que as mutações são não-causadas, mas sim que a probabilidade de uma mutação ocorrer é independente de se ela é benéfica ou deletéria. Então quando um teólogo diz que deus guiou a evolução por mutações aleatórias, os termos “guiada” e “aleatórias” não estão em contradição pelo simples fato de que elas não são ideias opostas nesse contexto.

E ele está absolutamente correto nesse ponto: a teoria evolutiva moderna não implica a inexistência de forças guiadoras conscientes, apenas limita seu escopo à quase irrelevância (quaisquer que sejam elas). O teísta ainda pode tentar enfiar seu deus em alguma dessas mutações aleatórias (mas não em todas) se ele quiser.

Nada disso, claro, é um argumento realmente a favor do evolucionismo teísta: afirmar que deus fez X ou Y durante a evolução ainda continua sendo um argumento de ignorância similar aos proponentes do Design Inteligente (e para esse ponto, volto a indicar o post do Giuliano). O que Sober está fazendo é apenas apontar como Evolução e intervencionismo divino são compatíveis. As evidências para isso ainda são zero.

Devolvendo a visão aos cegos, Mendel-style!

ResearchBlogging.orgA evolução dos peixes-cegos me fascinou desde o primeiro ano de faculdade. A história é a seguinte: sabe-se que populações de peixes de caverna ao redor de todo o mundo apresentam fenótipos (características morfológicas) similares que incluem redução ou ausência de aparato visual (A.K.A. eles são cegos) e perda da pigmentação da pele. Tais alterações não são uma simples consequência da ausência de luz nesses ambientes, como no caso do “bronzeado de escritório”. Esses animais são incapazes de produzir olhos e coloração “selvagem” (a cor vista em populações de superfície) mesmo na presença de luz, e tais ausências são transmitidas através das gerações. Ou seja, elas são genéticas.

Tal fenômeno – o de diversas populações de organismos apresentarem um fenótipo similar, geneticamente codificado, de forma independente uns dos outros – é chamado de “convergência”, e normalmente está associado ao processo de seleção natural. A idéia é simples: os organismos apresentam as mesmas características porque os ambientes no qual eles estão privilegiam tais características, e a seleção natural se encarrega em fixar tais alterações, produzindo o que chamamos de “convergência adaptativa”.

Porém, o xis da questão aqui é: como é que tais populações apresentam exatamente as mesmas mutações, nos mesmos genes, de forma a gerar tal convergência? Parece um absurdo propor que algo assim tenha surgido por processos aleatórios e, ao meus olhos de recém ingressado no curso de biologia, parecia uma grande dificuldade para a noção de uma evolução não-guiada materialista. Nesse ponto, então, discordo com a colocação do Giuliano (ver post anterior) de que a ideia de um designer inteligente operando “uma sequência correspondente de mutações que resultaria na redução do aparato visual” é ridícula. Na verdade, ela é bastante plausível, se imaginarmos que tais populações são, de fato, independentes. No mínimo, isso diminuiria em muito a plausibilidade de uma evolução puramente materialista como nós a entendemos. Porém as coisas não são exatamente tão simples assim, como pode ser visto no exemplo dos Tetras.

Astyanax mexicanus, ou o Tetra-cego, é um peixe muito interessante. Ele é natural do nordeste do México, e está distribuído em uma variedade de cavernas na região, assim como também apresentam populações na superfície. As populações de cavernas são extremamente modificadas, apresentando diferentes graus de redução de olhos (até completa ausência), enquanto as populações da superfície lembram peixes comuns.

Tetras da superfície (A) e de diferentes populações de cavernas (B-F).

O mais interessante dessa história toda é o fato de que todos esses peixes são da mesma espécie, o que significa que eles podem ser cruzados uns com os outros, possibilitando a realização de experimentos clássicos de genética. E de fato, muitos pesquisadores realizaram diversos experimentos, cruzando populações de caverna com populações da superfície, para ver o fenótipo, especificamente o tamanho dos olhos, das primeiras linhagens de cruzamento (chamadas de F1). Via de regra, quando uma população cega era cruzada com uma população de superfície, a linhagem F1 apresentava um tamanho de olho intermediário entre elas.

A primeira linhagem de cruzamento (F1) entre populações de caverna cegas e da
superfície geram indivíduos com olhos de tamanho intermediário

Até aqui nada de realmente excitante. Porém a diversão começa quando se começou a cruzar indivíduos cegos de cavernas diferentes entre si, especificamente de uma população cavernícula em especial, da caverna Molino, que eram peixes de caverna que apresentavam um olho apenas ligeiramente reduzidos. Diferente do que acontecia com o cruzamento com as populações da superfície, as F1 entre as populações de caverna e as de Molino não apresentavam olhos intermediários, mas sim olhos MAIORES QUE OS DE AMBAS POPULAÇÕES DE CAVERNAS. Não apenas eram maiores, como eram comparáveis aos das populações de superfície.

Tamanho do olho das populações de caverna de Piedras e Curva
e das F1 (primeira geração de filhos entre as populações) e F2 (segunda geração) 
entre essas populações e Molino. “B” indica “backcrosses”, cruzamentos para as 
populações originais.
Ou seja, ao cruzar populações com olhos reduzidos, é possível produzir um indivíduo com um olho maior que a de ambas. Como isso é possível? A explicação é bem simples, e remete basicamente à genética mendeliana.

Suponhamos que o tamanho de olhos sejam controlados por 4 genes dominantes (ou seja, a presença de apenas um alelo dominante já acarreta no efeito total no tamanho dos olhos). Lembrando que peixes são organismos diplóides (apresentam duas cópias de alelos para cada gene), e que alelos dominantes são grafados com letras maiúsculas e alelos recessivos são grafados com letras minúsculas. Consideramos ainda que o efeito de cada alelo dominante é de 0,5 mm no tamanho dos olhos, e que o genótipo de uma população de superfície é AABBCCDD, o de qualquer de peixes de caverna seria algo do tipo AAbbccDD, e que a população de Molino apresenta o genótipo AABBCCdd, então temos o seguinte:

Superfície-       AABBCCDD =2,0 mm
Caverna (C)-    AAbbccDD    =1,0 mm
Molino (M)-     AABBCCdd  =1,5 mm
F1 (CxM)-       AABbCcDd   =2,0 mm

A principal sacada disso é que, apesar dos peixes apresentarem convergência na sua morfologia, diferentes cavernas não passaram pelas mesmas mutações para atingir sua morfologia atual. Diferentes populações passaram por diferentes históricos de mutação, em diferentes genes, para apresentar a mesma morfologia.

Mas no que isso influencia a ideia de evolução teísta?

Bem, para que o Designer tivesse criado ambas populações de peixes cegos através dos processos naturais, ele teria feito isso através de mutações diferentes em diferentes populações sem o menor motivo aparente, visto que o mesmo regime de mutações seria eficiente para atingir o mesmo objetivo. Ou seja, o Deus interventor deveria intervir em uma população de uma forma e em outra população de um forma diferente, sem nenhum motivo aparente. Sobraria para o evolucionista teísta aceitar um deus caprichoso, ou simplesmente apelar para Seus “misteriosos caminhos”, ou alguma bobagem similar.

Claro, a maior parte dos evolucionistas teístas não são bobos. Muitos deles se afiliaram a essa ideia na tentativa de conciliação entre uma teologia específica e a teoria evolutiva, coisas que costumam ser prima facie contraditórias. Muitos deles também se preocupam com honestidade e coerência, então qualquer solução para o dilema do evolucionismo teísta não vai ser simples assim.

Da forma que vejo, uma boa solução para a questão do evolucionismo teísta seria propor um deus interventor que produziria uma evolução que não poderia ser empiricamente distinguível de uma evolução puramente materialista. Como fazer isso?

Vamos então ao último post.

WILKENS, H., & STRECKER, U. (2003). Convergent evolution of the cavefish Astyanax (Characidae, Teleostei): genetic evidence from reduced eye-size and pigmentation Biological Journal of the Linnean Society, 80 (4), 545-554 DOI: 10.1111/j.1095-8312.2003.00230.x

Wilkens, H. (2010). Genes, modules and the evolution of cave fish Heredity, 105 (5), 413-422 DOI: 10.1038/hdy.2009.184

Jeffery, W. (2003). To See or Not to See: Evolution of Eye Degeneration in Mexican Blind Cavefish Integrative and Comparative Biology, 43 (4), 531-541 DOI: 10.1093/icb/43.4.531

Peixes cegos, Elliott Sober e “A Farsa da Evolução Teísta”

Quem me conhece sabe que considero a noção de “Evolução Teísta” uma grandessissima bobagem.

A alcunha “evolução teísta” foi popularizado pela Eugene Scott (uma agnóstica até onde sei) da NCSE, uma instituição voltada para a defesa de ciência, especificamente evolução e aquecimento global, por serem ideias as científicas mais politicamente atacadas por motivos ideológicos e religiosos. Em seu artigo, Eugene coloca que evolução teísta seria:

“(…) a posição teológica na qual Deus cria através das leis da natureza”

o que estaria em claro contraste com a evolução ateia (sic) ou puramente materialista, que não contaria com nenhuma intervenção divina. Agora, como essa noção de compatibilização entre evolução e teísmo é possível não foi abordado por Scott. Seu único objetivo é fazer com que o máximo de pessoas aceitem em entendam evolução, mesmo que isso se dê através de aceitação de alguma noção idiossincrática. E eu não tenho nenhum problema com isso: é um motivo nobre, defendido também por instituições religiosas como o Biologos do Dr. Francis Collins. O meu problema começa quando eu vejo os argumentos que defendem essa compatibilidade, e noto que eles são completas bobagens. Por exemplo, o teólogo e bioquímico Alister McGrath, ao discutir a posição de Santo Agostinho sobre o Gênesis, afirma que

“Para Agostinho, Deus trouxe tudo à existência, em um único momento de criação. No entanto, a ordem criada não é estática. Deus dotou-a com a capacidade de se desenvolver. Agostinho usa a imagem de uma semente adormecida para ajudar seus leitores compreender este ponto. Deus cria sementes, que irão crescer e se desenvolver no tempo certo. Usando uma linguagem mais técnica, Agostinho pede a seus leitores para pensar na ordem criada como contendo causalidades divinamente embutidas que surgem ou evoluem em um estágio posterior.”

Como isso é uma posição sobre “evolução” (fala sobre origem do universo) e teísmo (tá mais para deísmo), me foge completamente! Agora, meu desprezo mais profundo por essa concepção vem da premissa implícita de que existe alguma distinção entre a teoria evolutiva moderna, como aceita por um materialista, e a teoria evolutiva como aceita por um teísta. Porque se existe, um dos dois está errado. E adivinha qual é a teoria aceita pela comunidade científica e quantas vezes ela se vale de um deus teísta?

Giuliano Thomazini Casagrande

Talvez motivado por um similar desprezo, Giuliano Thomazini Casagrande, do blog “Materialismo-Filosofia”, publicou um fantástico post intitulado “A Farsa da Evolução Teísta”, no qual ele ataca de forma voraz a idéia. Sugiro a leitura. O Giuliano tem uma erudição impressionante e uma língua ferina que não poupa ninguém:

O exemplo da produção de variedades domésticas é bastante esclarecedor. As mutações aleatórias fornecem aos criadores de plantas e de animais a matéria bruta para a elaboração de uma imensa variedade de novas linhagens. O método utilizado – de forma consciente ou inconsciente – pelos criadores é a seleção cumulativa, durante sucessivas gerações, de ligeiros desvios anatômicos ou comportamentais de natureza hereditária. Ora, as mutações que surgem aleatoriamente nada têm de milagrosas: um focinho um pouco mais curto, uma pelagem mais densa, um temperamento mais dócil, flores mais vistosas etc. A prática dos cruzamentos seletivos, ao longo de séculos ou de milênios, permitiu aos criadores, por exemplo, a transformação do lobo (Canis lupus) em centenas de raças caninas tão diferentes quanto o chihuahua, o são-bernardo e o buldogue. Quanto à maioria das plantas domesticadas, um leigo não faz ideia das diferenças que as separam de suas ancestrais selvagens. Em poucos séculos, os horticultores obtiveram, por exemplo, variedades como o repolho doméstico, o brócolis, a couve-flor e a couve-de-bruxelas a partir de um único ancestral, o repolho selvagem (Brassica oleracea); e somente um idiota diria que essas variedades foram produzidas por Deus.

Darwin observou que, em estado natural, as pressões ambientais desempenham o papel dos criadores humanos. No notório caso das Ilhas Galápagos, prosperaram as mutações aleatórias que conferiam aos tentilhões (migrados do continente sul-americano) um incremento adaptativo a condições de vida distintas: bicos de diversos tamanhos e formatos, úteis para as dietas mais variadas.

De modo análogo, peixes não relacionados de diferentes regiões do globo são isolados em cavernas e apresentam as mesmas respostas adaptativas (evolução convergente): uma progressiva atrofia do aparato visual, por exemplo. O cenário proposto pelos acomodacionistas é ridículo. A cada vez que uma população de peixes fosse isolada num ambiente trevoso, um designer inteligente operaria uma sequência correspondente de mutações que resultaria na redução do aparato visual. Com a mesma razão um teólogo poderia afirmar que Deus está por trás de um fenômeno como a deriva continental. Na Antiguidade, relâmpagos e trovões eram atribuídos a Zeus, e terremotos, à fúria de Posídon. Isso faz pensar que o discurso “sofisticado” de um Plantinga não passa de superstição ancestral apresentada sob a cobertura de ouropel de um jargão acadêmico embolado.

ouch!

Mas, claro, nenhum evolucionista teísta de fato liga para espécies insulares, ou para raças de cachorro, repolhos ou peixes cegos. O que importa somos nós -seres bípedes, de telencefalo desenvolvido- e como nos encaixamos no plano divino, qualquer que seja ele. Mas para alcançar o status da evolução materialista, a evolução teísta tem que tratar também desses fenômenos. E quando fazemos isso, evidenciamos a futilidade da empreitada.

Agora, eu acho que o Giuliano deu pouca atenção para o que eu considero talvez o melhor argumento “evolucionista teísta” que, não coincidentemente, é o que parece estar menos presente na cabeça dos advogados dessa ideia. Queria também explorar um pouco mais o exemplo sobre peixes cegos, um assunto que considero fascinante.

Visto que isso ficaria longo demais para um único post eu dividi o assunto em 2 posts a serem colocados a seguir, um tratando sobre peixes de cavernas e outro sobre as visões de Elliott Sober sobre essa questão. Ambos podem ser tomados como posts independentes sobre esses assuntos.

1o Post: Devolvendo a visão aos cegos, Mendel-style!

2o Post: O melhor argumento para o “Evolucionismo Teista”

Seleção natural não é uma tautologia

Ann Coulter, o sonho molhado de todo conservador Norte-Americano.
É a da direita, eu suponho…

Um dos argumentos que considero mais irritante utilizado por detratores da síntese evolutiva moderna é que a a seleção natural seria uma tautologia. Tal argumento foi colocado pela “pensadora” conservadora norte-americana Ann Coulter em seu livro “Godless: The Church of Liberalism” da seguinte forma:

A segunda parte da “teoria” de Darwin é geralmente nada mais do que um argumento circular: Através do processo de seleção natural, o mais “apto” sobrevive. Quem é o mais “apto”? O que sobrevive! Oras, veja – acontece toda vez! A “sobrevivência do mais apto” seria uma piada, se não fosse parte de um sistema de crença de um culto fanático infestando a Comunidade Científica. A beleza de ter uma teoria cientifica que é uma tautologia, é que ela não pode ser testada.

É interessante notar que quem se vale desse argumento, não nega a existência da seleção natural, pelo contrário: afirma a sua existência como uma verdade inescapável. Quanto falamos de uma tautologia, estamos falando de uma proposição, a qual assume a seguinte forma:

A apresenta as propriedades de A

Por trás da circularidade e obviedade da preposição, está o fato de que uma tautologia é uma verdade necessária. Afirmar que “A não apresenta as propriedades de A” significaria dizer que existe alguma propriedade de A que não é propriedade de A, ou que A não apresenta todas as propriedades de A, sendo que ambas são absurdos lógicos. Em nenhum caso tal afirmação (ou qualquer outra tautologia) pode ser falsa sem simplesmente fazer uma contradição que fere as leis da lógica (o que as tornam logicamente necessárias). Então, nesse ponto, Coulter está correta: uma tautologia não pode ser falseada, pois ela é uma necessidade lógica. Mas seria a teoria da seleção natural uma tautologia de fato?

“Sobrevivência do mais apto”

Uma das primeiras coisas que devemos notar é que “sobrevivência do mais apto” não é exatamente uma das descrições mais adequadas da Seleção Natural. Mas em primeiro lugar, temos que deixar bem claro um conceito que é comumente confundido, que é o de “aptidão”, “aptidão darwiniana” ou “fitness” em inglês.

A aptidão, em biologia evolutiva, é definida como a contribuição média de um genótipo para o pool gênico da geração seguinte. Por exemplo, se tenho uma bactéria (haplóide) com um dado genótipo que apresenta fitness=1.47, então a presença do genótipo na geração seguinte será 47% maior do que na geração anterior. Se o fitness=0.91, então aquele gene terá uma presença 9% menor na geração seguinte e por ai vai.

Note que em nenhum momento precisamos falar de sobrevivência. Afinal, o que seria “sobrevivência” no caso de bactérias que simplesmente se dividem? Faz algum sentido falar que a bactéria da esquerda é a que “sobreviveu”, e não a da direita?

Uma historia de amor melhor que Titanic

O ponto é que um organismo não precisa morrer para ter um fitness baixo. Um organismo pode muito bem ter uma baixa fecundidade, sem nunca precisar “deixar de sobreviver” ou, como no caso das bactérias, sobrevivência é irrelevante visto que todos organismos originais deixam de existir após a reprodução. Outro exemplo são algumas espécies de salmão e polvos, que morrem após o acasalamento, louva-deuses e aranhas que consomem os seus machos, ou ainda algumas espécies de ácaros que explodem ao dar luz aos filhotes. Aptidão não tem a ver com sobrevivência.

– Tira esse hectocótilo daí, João!
Esse papo de sexo vai acabar nos matando…

Então, fica bem claro que “sobrevivência do mais apto” não é uma tautologia, pelo simples fato de que “sobrevivência” não é estritamente igual (apesar de poder influenciar) “aptidão”.

Isso tudo é apenas para demonstrar que o argumento original utilizado está errado. Porém os mais rápidos vão notar que isso não refuta a proposição de que “seleção natural é uma tautologia”: apesar do argumento dos detratores/criacionistas estar equivocado, ainda poderíamos transformar a proposição original em algo próximo a o que seleção natural realmente significa, produzindo assim uma tautologia. Mas como seria isso?
Aptidão como taxa
Se “sobrevivência do mais apto” está equivocado, então como poderíamos frasear a ideia original da melhor maneira possível?

Sobrevivência do melhor sobrevivênte“?

É claramente uma tautologia, uma verdade trivial, mas não parece ser exatamente o que temos em mente quando pensamos em “seleção natural”. Poderíamos pensar em algo na linha de

Capacidade superior de contribuir para o pool gênico da geração seguinte do genótipo (ou fenótipo) mais apto

Bom, essa parece mais próxima da ideia original, mas ela dificilmente é uma tautologia. O motivo é muito simples: ela é falsa. Isso pode ser ilustrado facilmente com uma analogia: a adaptação é uma taxa de variação da frequência de alelos, assim como aceleração é a taxa de variação da velocidade. Se fossemos formular uma proposição análoga para aceleração, teríamos algo similar à

A maior velocidade do que mais acelera

Isso é falso pelo simples motivo de que o que mais acelera pode ser o mais devagar, enquanto o mais rápido pode acelerar menos, mas manter uma velocidade superior pelo simples fato de inicialmente já apresentar uma velocidade superior.
O gráfico abaixo ilustra isso para uma população de organismos haplóides que apresentam dois genótipos, sendo que A2 apresenta uma aptidão duas vezes maior do que A1. q’ é a frequência genotípica após a seleção e q1 é a frequência genotípica de A1 antes da seleção (sendo que a frequência de A2 fica definida como 1-q1).
Assim, fica fácil verificar que, mesmo A2 tendo uma aptidão duas vezes maior, ele não consegue ser o maior contribuidor para o pool gênico na geração seguinte quando sua frequência inicial é muito baixa (ou quando a frequência de A1 é muito alta, no canto direito do gráfico). Moral da historia: aptidão sozinha não determina sucesso evolutivo na geração seguinte.

Um detrator mais perseverante pode argumentar que, se dermos tempo o suficiente (em outras palavras, um numero muito grande de eventos de seleção ou gerações), o genótipo mais apto irá se fixar, não importando sua frequência original, e ele estaria certo ao dizer isso. Mas note que a premissa “dado muito tempo” precisa ser introduzida para que torne a afirmação verdadeira. Essa premissa pode tanto ser ou não verdadeira (da mesma forma que carros e trens não aceleram indefinidamente), o que torna a proposição condicional, não uma verdade necessária e, logo, a proposição não é uma tautologia.

Mas isso tudo gera um impasse. Todas as proposições – tanto as originais, tanto as que tentam se aproximar do significado verdadeiro dos termos no contexto da síntese evolutiva – se mostraram falsas. Seria possível elaborar uma proposição que seja precisa (represente a ideia da seleção natural) e que seja colocada de forma lógica?

Seleção natural como silogismo

Em primeiro lugar, devemos entender como seleção natural ocorre. Não, não estou falando apenas daquele velho e batido exemplo do passarinho comendo os besouros que são mais chamativos, mudando assim a composição da população:

-Na verdade eu enxergo todos os besouros, mas meu médico disse que uma refeição colorida é uma refeição divertida

Esse é um ótimo exemplo para mostrar como seleção natural pode levar à evolução de um fenotipo de forma direcional (existem mais besouros marrons no final do que no começo), mas existem sistemas mais complexos de seleção que não levam a uma mudança nesse sentido. O exemplo mais claro é o da interação da anemia falciforme e malaria, no qual são mantidos indivíduos com genótipo não-letal da anemia na população. Não há mudança, mas há seleção.
Então, como poderíamos definir seleção natural? Na introdução do Origem das Espécies, Darwin resume brevemente como seria o mecanismo:

Como nascem muitos mais indivíduos de cada espécie, que não podem subsistir; como, por conseqüência, a luta pela existência se renova a cada instante, segue-se que todo o ser que varia, ainda que pouco, de maneira a tornarse-lhe aproveitável tal variação, tem maior probabilidade de sobreviver, este ser é também objeto de uma seleção natural. Em virtude do princípio tão poderoso da hereditariedade, toda a variedade objeto da seleção tenderá a propagar a sua nova forma modificada.

Nesse resumo, ele coloca os 3 principais componentes necessários para que ocorra seleção natural (que eu gentilmente sublinhei, para seu conforto): variação em uma caracteristica, diferenças de aptidão (ele fala de sobrevivencia, mas sabemos que isso não é a única variável) ligadas a variação nessa característica, e hereditariedade dessa característica.

Note que, se uma população apresenta variação em uma característica, mas essa não apresenta nenhuma ligação com aptidão, então a “seleção” de organismos é completamente aleatória em relação a aquele caractere (não sendo seleção natural). Agora, se o caractere é ligado com aptidão, mas não é herdado, então mesmo que organismos com uma dada característica seja selecionada, ele não vai passar tal característica para a geração seguinte. Esses componentes são necessários (todos precisam estar presentes) e suficientes (nenhum outro componente precisa estar presente) para que ocorra seleção natural, apesar de outros fatores influenciarem a dinâmica de seleção.

Sendo assim, podemos definir seleção da seguinte forma:

[P1.] Existe variação entre indivíduos para uma dada característica;
[P2.] Tal variação está ligada entre progenitores e prole através de uma relação de herança, e que seja parcialmente independente dos efeitos ambientais;
[P3.] Existe uma correlação dessa característica com a habilidade reprodutiva, fertilidade, fecundidade e/ou sobrevivência (ou seja, diferenças em aptidão);

Se tais condições são satisfeitas para uma dada população natural, então:

[C1.] Diferenças na frequência das características ligadas à aptidão na geração subsequente vai ser serão diferente daquela vista nas populações parentais.

(Modificado de Lewontin, 1970, 1982; e Endler, 1986)

Se as premissas são corretas, então a conclusão segue logicamente. Isso torna a seleção natural, expressa dessa forma, um silogismo, ou uma conclusão dependente das premissas estabelecidas, e não uma tautologia.

Note que para testar cientificamente (no caso, falsear) a hipótese de que uma população está sob seleção natural, um pesquisador pode testar qualquer uma dessas proposições. Afinal, se C1 é falso, então obviamente a população não está sob seleção, mas isso não implica necessariamente que a população está sendo selecionada: uma mudança ambiental pode estar influenciando aspectos dessas características diretamente nos indivíduos, como pele morena em quem toma muito sol. Se os filhos tomam mais sol, eles terão a pele mais escura, sem que isso seja seleção natural. Por esse motivo, é necessário averiguar o quão herdável é uma característica (P2) e se a variação (P1) está ligada a aptidão (P3). De forma geral, é isso que os estudantes de seleção natural fazem, e é a síntese evolutiva moderna que proporciona o arcabouço matemático que nos permite gerar previsões teóricas de como um caractere deve se comportar sob o efeito de seleção (dado que ele apresenta algum tipo de herança mendeliana).

Então… da próxima vez que alguém dizer que evolução é uma tautologia, você pode dizer: “Não, não é. É um silogismo Quod erat demonstrandum, bitches!”.

Referencias

Lewontin, R. (1970). The Units of Selection Annual Review of Ecology and Systematics, 1 (1), 1-18 DOI: 10.1146/annurev.es.01.110170.000245

Porque existem tão poucos evolucionistas negros?

Recentemente me deparei com o canal do youtube “Evolution: This View of Life” (A.K.A. EvolutionTVOL) comandado pelo David Sloan Wilson (que também tem um blog no ScienceBlogs). Aparentemente o canal consiste de entrevistas com pesquisadores da área de biologia evolutiva e exibe um formato muito interessante. A entrevista que mais chamou atenção foi a intitulada “O mito da Raça, diferenças raciais em saúde e porque temos tão poucos evolucionistas negros“, com o biólogo evolutivo Joseph L. Graves.

Greves trabalha em uma área da biologia evolutiva muito interessante, tentando responder porque organismos envelhecem. Fora isso, ele também apresenta um interesse muito grande na interface de questões raciais e biologia evolutiva. Durante a entrevista Graves esclarece o porque ele acredita que raças humanas são um mito (basicamente porque temos pouquíssima divergência genética entre grupos) e explica brevemente sobre as causas evolutivas de problemas de saúde ligadas a adaptações alimentares de nossos antepassados (basicamente que quanto mais próxima é sua alimentação da dos seus antepassados, melhor para você).

Joseph L. Graves, primeiro PhD em biologia evolutiva
Negro dos Estados Unidos

Mas o que me chamou muita atenção foi a última questão, brevemente respondida no fim da entrevista, que é: Porque existem tão poucos biólogos evolutivos negros? De fato, em toda minha vida acadêmica só me recordo de ter conhecido um biólogo evolutivo negro (um pesquisador de Harvard, que não me recordo o nome). Graves, que foi o primeiro norte-americano negro a receber o PhD na área, estima que não existam mais do que 10 biólogos evolutivos negros nos EUA, e que biologia evolutiva é, de fato, a área acadêmica na qual os negros são menos representados.

Mas então, qual é a resposta para a questão? Bem, religião. Segundo Graves (que é religioso, por sinal), a comunidade negra norte-americana adotou o cristianismo de uma forma muito mais intensa e fervorosa do que os brancos. Especificamente, que eles adotaram uma perspectiva literalista e fundamentalista da bíblia, o que claramente contradiz os achados da biologia evolutiva.

Graves não deixa muito claro se essa é sua opinião ou se ele tem algum tipo de evidencia para corroborar esse cenário. Ele cita sua experiência pessoal lecionando para alunos negros, e o reconhecimento que eles rejeitam diversos achados da ciência por estes confrontarem com sua fé. Isso é de fato consistente com algumas evidencias sobre a influencia da religião no conhecimento científico (aqui e aqui), então me parece um cenário razoável. Graves ainda coloca que enquanto não reconhecermos essa fonte de conflito não poderemos resolver essa e outras questões relacionadas de forma satisfatória.

Eu confesso que essa talvez seja a minha maior bronca com os que afirmam que ciência e religião são compatíveis: na sua vontade de provar o seu ponto, eles convenientemente ignoram os casos onde o conflito é evidente. Ao argumentar sobre o que é possível, eles deixam de lado o que de fato é realidade. Afinal, sabemos que teológos são muito bons em inventar cenários que tornam a Biblia compatíveis com qualquer coisa, até com física quantica! Mas para cada tese teológica maluca existem centenas de milhares de crentes que acreditam na literalidade do Gênesis.

Então, onde deveríamos estar focalizando nossa atenção?

Evolução não é um fato. Parte 1: Parentescos

Então, tanto Dawkins quanto Gould parecem acreditar que evolução, além de ser uma teoria, é um fato, e que um bom exemplo desse fato são nossas relações de parentesco e ancestralidade com outros primatas.

Ok, então evolução é um fato. Mas, o que é um fato?

Fatos podem ser entendidos como aquilo que torna uma afirmação verdadeira, e se relaciona de alguma alguma forma a algum aspecto da realidade. Por exemplo, quando afirmo que “Elefantes possuem trombas”, tal afirmação apenas é verdadeira, se elefantes apresentam um nariz modificado em um apêndice longo, o qual chamamos de “tromba”.

Então fica a pergunta: qual é exatamente o fato “evolução”, e a qual afirmação que ela se refere? Muitas vezes não está exatamente claro o que o fato “evolução” exatamente é. No caso da passagem do Gould e do Dawkins, o que é chamado de “fato” são as relações de parentesco entre humanos e chimpanzés, enquanto a Teoria Evolutiva seria o que explica como tais grupos se diferenciaram e quais forças evolutivas atuaram para diferencia-los (ex: seleção natural, deriva genética, etc). A principio parece tudo OK do ponto de vista científico, pois temos um fato que é tentativamente explicado por um modelo teórico (uma teoria). Porém, quando tentamos elaborar uma afirmação verdadeira que faz referência ao fato da ancestralidade comum entre chimpanzés e humanos, encontramos um problema: qual é o fato que torna “chimpanzés e humanos são parentes” uma afirmação verdadeira?

O primeiro a abordar essa questão de maneira sistemática foi Carl Linnaeus, o cara que inaugurou o esforço moderno de classificação da biodiversidade. Avaliando as características de humanos e outros animais, Linnaeus chegou a conclusão de que humanos pertencem à mesma classe de animais que os grandes primatas sem rabo. Desde então, os avanços da biologia molecular tem reforçado a idéia de que humanos são intimamente relacionados com os grandes primatas, especificamente, os chimpanzés.

Porém a questão aqui se complica. A área acadêmica que estuda as relações de parentesco entre espécies   (a sistemática filogenética) não é um mero exercício de diagnose de fatos*: existem diversas linhas concorrentes que disputam qual seria a melhor maneira (se é que ela existe) de se reconstruir as relações de parentesco entre as espécies, sendo que algumas delas (ou todas elas) partem de premissas biológicas explicitamente evolutivas. Em outras palavras, se a relação de parentesco entre humanos e chimpanzés é um “fato”, tal “fato” é fortemente dependente de premissas teóricas.

E não apenas isso: as relações observadas estão longe de ser inequívocas.

Recentemente Grehan & Schwartz (2009) publicaram uma análise que, ao contrário da maioria dos trabalhos atuais, colocava humanos como parentes mais próximos de Orangotangos, e não de Chimpanzés. A conclusão é claramente um absurdo pois viola quase tudo o que sabemos sobre a genética dessas espécies. Porém os autores foram cuidadosos o suficiente para fazer um arranjo metodológico tão fechado, que a conclusão das analises era inequívoca, e a publicação do trabalho não poderia ser recusada, mesmo que violasse o que toda a comunidade científica acreditava sobre o assunto.

Isso mostra duas coisas. Primeiro – e isso é uma digressão – que o mimimi de criacionistas e proponentes de Design Inteligente (um famoso exemplinho aqui) de que são incapazes de publicar em periódicos científicos por causa do lobby materialista é pura bobagem. Trabalhos bem feitos, honestos e rigorosos podem sim ser publicados, independente das ideologias ou opiniões de revisores. Criacionistas não conseguem publicar simplesmente por serem incompetentes, ou porque não sabem/querem fazer ciência. Fim da digressão.

O segundo ponto, voltando ao assunto, é que tal reconhecimento de “fatos” (e.g. o “fato” do parentesco entre chimpanzés, humanos e lesmas) está longe de ser a prova de falhas e inequívoco, precisamente porque tal parentesco não é fato, mas uma hipótese. E se alguem continuar insistindo que as relações de parentesco são fatos, pergunte: quais são os fatos que tornam essa afirmação verdadeira. Aposto que rapidamente serão mencionadas montanhas de dados, desde evidência morfológica, registro fóssil e dados moleculares (aqui para uma lista simplificada). Mas nenhum desses fatos (e aqui são fatos mesmo) é o grau de parentesco (ou “evolução”, como usado por Gould e Dawkins), mas sim eles sustentam uma dada hipótese de parentesco.

Nada disso é controverso. Pesquisadores da área não se referem às relações de parentescos como fatos, mas sim como hipóteses, mais especificamente, hipóteses filogenéticas. Tais hipóteses são constantemente modificadas e refinadas, muitas vezes sendo radicalmente reformuladas pela descoberta de uma nova fonte de dados moleculares ou fósseis, por exemplo. E o ponto é: isso acontece exatamente porque relações de parentescos entre espécies não são fatos, mas sim conclusões dependente de teorias e de fatos. O acumulo de evidências que contrarie um certo cenário evolutivo pode derrubar tal cenário em favor de outro, como acontece com qualquer hipótese científica.

Resumindo: dizer que parentesco entre espécies é um fato é cometer uma falácia de equivocação, chamando uma hipótese (filogenética) de fato.

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* Existem sim pesquisadores que acreditam que sistemática filogenética é apenas isso, mas isso é outra discussão.

Referência Grehan, J., & Schwartz, J. (2009). Evolution of the second orangutan: phylogeny and biogeography of hominid origins Journal of Biogeography, 36 (10), 1823-1844 DOI: 10.1111/j.1365-2699.2009.02141.x

Evolução não é um fato. Preâmbulo

Certo dia eu me deparei com o seguinte tweet do Dawkins:

Nós não vamos explicar “teoria” a eles, então vamos parar de tentar. Evolução é um FATO. É um FATO que somos primos de lesmas e chimpanzés.

Após ler isso, me lembrei imediatamente de um post no Bule Voador, no qual o autor citava* Gould:

“[…] a evolução é uma teoria. Mas também é um fato. E fatos e teorias são coisas diferentes, e não estágios de hierarquia de certeza crescente. Fatos são dados do mundo. E teorias são as estruturas de ideias que explicam e interpretam os fatos. Os fatos não desaparecem enquanto os cientistas debatem teorias rivais que tentam explicá-los. A teoria gravitacional de Einstein substituiu a de Newton, mas as maçãs não ficaram pairando no ar, à espera da definição. E os seres humanos evoluíram a partir de ancestrais parecidos com símios, quer através do mecanismo proposto por Darwin, quer através de qualquer outro ainda por descobrir”

Então, tanto Gould quanto Dawkins acreditam que evolução, além de ser uma teoria, é um fato. Obviamente Gould e Dawkins não estão sozinhos em afirmar isso. Como fui lembrado por um post do I Fucking Love Science no Facebook, Donald Johnson, o descobridor do australopitecínio mais famoso da história, Lucy, afirmou que:

“Eu não ‘acredito’ em evolução tanto quanto não ‘acredito’ em gravidade. É um fato”

Tal visão não é única apenas no discurso popular de pesquisadores. Barnosky e Kraatz (2007) igualmente afirmam que

“Apesar de toda a discussão a respeito de semantica, evolução é um fato”.

Isso me deixa em uma situação complicada pois, diferente de grandes biólogos como Dawkins e Gould, eu não acredito que evolução seja um fato. Não apenas isso, acredito que dizer que ela é um fato é, ou retórica vazia, ou denota um desentendimento de como estudamos evolução. Por esses motivos, nos próximos posts dessa série eu tentarei abordar brevemente as principais colocações sobre o assunto, colocando o porque de eu acreditar que elas estão erradas.

Os links ficarão disponíveis a medida que os posts estiverem prontos.

1a Parte: Relações de Parentesco
2a Parte: Registro Fóssil
3a Parte: Dinâmicas Populacionais
4a Parte: Seleção Natural

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* Apesar dessa passagem ser uma citação Ipsis Litteris de um artigo do Gould, ela não está destacada como tal no texto do Bule. Na verdade, esse mesmo post está recheado de passagens similares, que foram citadas na integra, porém não foram referenciadas como tal. Tentei deixar um comentário no post apontando isso, mas ele me parece bloqueado para comentários no momento. Achei que era relevante apontar isso em algum momento.

Porque a síntese evolutiva não é uma festa do pijama – Uma resposta zangada a um anti-darwinista

Bom, eu já havia previsto que isso iria acontecer em algum momento.

Já a alguns meses venho acompanhando uma discussão no Research Gate (link para me seguir lá aqui) sobre as alternativas ao neo-darwinismo para a compreensão da evolução biológica. Como esperado, essa pergunta foi um imã de criacionistas, com a participação especial do nosso querido Enésio, falando o que ele sempre fala: em algum momento no futuro não-tão distante será lançada uma nova síntese evolutiva, que não será “selecionista” e blablabla. Só faltou a distinção entre fato, Fato e FATO, ou seja lá qual é o chavão que ele sempre usa.

Mas esse não é exatamente sobre o que quero falar no momento. Meu problema principal com essa discussão tem sido com o Dr. Emilio Cervantes, que até onde pude notar é um pesquisador daqui da Argentina, que parece ser algum tipo de botânico*. Desde o começo da discussão, ele tem batido na mesma tecla: neo-darwinismo está errado porque se baseia em um “fantasma semântico”, que é seleção natural. E o porque isso, exatamente? Oras, porque a natureza não tem uma mente para selecionar, logo o termo é contraditório. Obviamente, os criacionistas de plantão bateram palma, sem notar que a ausência de uma mente selecionadora na natureza não é lá uma coisa muito boa para o criacionismo. Ademais, segundo o Dr. Cervantes, Darwin confundiu criação de variantes domesticadas com o que acontece na natureza, e isso fere mais ainda a ideia de seleção natural como tendo qualquer significado.

Enfim, não entrarei em detalhes do resto da discussão, mas colarei abaixo minha última resposta. Em seu comentário anterior, depois de ignorar minhas respostas ou responde-las com ad hominem, Dr. Cervantes alega que é necessário testar a evolução de grupos caso-a-caso, e que não existe uma teoria que explica tudo em biologia. Eu concordo com esses pontos, mas discordo do discurso que ele apresentou. Acho que a minha resposta em si explica muito do que eu penso sobre o assunto e talvez resuma minhas impressões do debate, e da posição anti-darwinista do Dr. Cervantes.

Sem mais delongas:


Bom, eu na verdade concordo com isso, mas por motivos completamente diferentes.

A síntese evolutiva não foi uma festa-do-pijama entre paleontologos, taxonomistas e geneticistas, onde eles calharam de deixar os embriologistas de fora porque eles eram meio estranhos, e na qual eles decidiram “Puxa vida! Vamos apenas dizer que tudo funciona bem em conjunto e ver se cola”.

Ela foi uma unificação precisa de duas teorias (genética mendeliana e neo-darwinismo, sensu Weismann) através dos desenvolvimentos teóricos de genética de populações, e o entendimento de que essas teorias eram consistentes com o que se observa na natureza (incluindo o registro fóssil). Ela não é uma coleção de narrativas adaptacionistas não-testadas, como muitos dos críticos E defensores da síntese costumam acreditar.

O outro lado da moeda é que, sendo um corpo de conhecimento teórico especifico, ele só se aplica em casos nos quais suas premissas são verdadeiras. Então, ela não é onipotente, e todo mundo que usa esse arcabouço teórico sabe para que ele serve, como testar previsões com ele e que tipo de dado é necessário para que ele possa funcionar. Quando premissas e demandas teóricas falham, o mesmo ocorre com a teoria.

E é verdade que provavelmente não existe uma teoria unificadora em biologia. Por exemplo, qualquer teoria de ontogenia não vai se aplicar a organismos sem ontogenia, como bactérias. Mas isso não significa que teorias ontogenéticas são desprovidas de valor, longe disso. Ela explica o que ela pode de fato testar em cenários que se adequam à suas premissas.

O poder da síntese é ter premissas gerais como “herança genética mendeliana”, algo que é verdade para bactéria e para humanos. Mas fora isso, esses dois grupos diferem em quase tudo (ex: bactéria tem consideravel transferencia genética horizontal, humanos são diploides, etc) o que nos faz reconhecer que talvez existam mais premissas que podem ser incluidas em nossos modelos para melhorar seu poder explanatório.

Geralmente, todos os proponentes da síntese estendida não estão chamando por uma rejeição da síntese evolutiva. O que eles estão fazendo é chamar para a inclusão de mais fenômenos que não se adequam aos modelos clássicos. Essa inclusão não é apenas “vamos simplesmente colocar tudo nos livros texto e encerrar o dia”, mas o desenvolvimento teórico que está voltado à integração da síntese com esses fenômenos  Alguns são relativamente fáceis de integrar, como topologias adaptativas multidimensionais e construção de nicho, outras não são tão fáceis, como ontogenia. Se isso mudar nossas equações e previsões teóricas, que assim seja! Mudança baseada em evidencia é melhor que estagnação por negação de evidencias. Conscientização para essas questões é importante, iconoclastia má-orientada não.

E, não importa o que façamos, qualquer teoria vai ser necessariamente limitada. Mesmo que nós achemos um modelo que seja útil para todas as espécies que tenhamos estudado, existem potencialmente centenas de milhares mais que ainda não descobrimos, muito menos estudamos. As recentes estimativas são que conhecemos apenas 13% da biodiversidade presente. Jogar fora qualquer teoria biológica porque ela tenta ser ampla e defender o estudo de casos isolados é, na melhor das hipóteses, contraditório no presente contexto.

Mas, se o ponto é mesmo que “seleção natural” é um conceito vazio, então eu sugeriria direcionar a sua análise semântica para temos como “buracos negros” (que não são nem buracos, nem negros), o uso de “evidente” em matemática (nada que é evidente precisa de demostração) e “afinidades” em química (elementos não tem preferências). Na verdade, esse ultimo exemplo foi levantado por Darwin, quando a mesma objeção que você levantou chegou a ele: que seleção natural era contraditória, porque apenas criadores podem selecionar. Palavras podem ter mais de um significado e, sim, isso pode ser confuso (veja a ambiguidade do termo “singularidade” e “Big Bang” em cosmologia). Isso é tudo verdade. Mas dizer “por isso elas estão erradas”, é falacioso.

Darwin também apontou que sua idéias foi derivada da observação de criadores, mas ele dispendeu uma grande quantidade de páginas explicando como isso poderia ser atingido na natureza, e é ai que dinâmicas Maltusianas entrem na jogada. A relação entre seleção natural e artificial é, para mim, evidente partindo de uma leitura do Origens das Espécies. É uma relação de analogia, e não de identidade. Os principais filósofos da evolução parecem concordar comigo.

Nós podemos ter uma discussão produtiva sobre o uso de termos, e quais seriam os melhores de serem usados. Isso é difícil, pois linguagem é uma coisa complicada. Ela evolui por si próprio. Mas nós tivemos sucessos moderados com termos como “macaco” e “mais evoluído”. Mas termos e teorias são coisas diferentes.

Resumindo, sim, nós devemos ser específicos sobre o que nós estamos falando e tornar bem claro o que a teoria sintética é, o que ela deve explicar e o como ela faz isso. Na prática, isso deve levar a mais cautela no pronunciamento de afirmações não-substanciadas sobre adaptação (ou sobre qualquer outra coisa), e isso é bom. Pelo menos é isso que espero.


* Quando comentei o caso para um colega, que permanecerá inominado, ele comentou “aposto meu pinto que ele é ecologo ou botanico“. Não é preciso dizer que ele manteve o pinto dele.

Referência

Mora, C., Tittensor, D., Adl, S., Simpson, A., & Worm, B. (2011). How Many Species Are There on Earth and in the Ocean? PLoS Biology, 9 (8) DOI: 10.1371/journal.pbio.1001127

Toda palestra sobre biologia evolutiva…

Original: DarwinEatsCake
Todo seminário sobre Teoria Evolutiva começa da mesma forma:
“A Teoria Evolutiva padrão assume , mas eu irei mostrar que  utilizando uma técnica matemática emprestada da que vocês nunca ouviram falar, chamada .”
É da mesma forma que hipsters começam conversas condescendentes sobre uma nova banda indie que eles acabaram de descobrir, na qual a banda é na verdade Coldplay.

Haeck: Que bom! Agora já sei como começar as minhas palestras.