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Em meio a tantas crises a esperança persiste

Em meio a tantas crises a esperança persiste

Um dos assuntos mais comuns quando falamos de meio ambiente é a existência de uma crise ambiental. Segundo este ponto de vista, vivemos uma crise ambiental sem precedentes na história da humanidade.

A crise ambiental seria a responsável por comprometer os recursos naturais, extinguir espécies da fauna, flora levando ao fim as condições necessárias para a vida. Mas será que vivemos mesmo uma crise ambiental?

Em um primeiro momento vamos pensar no que significa uma crise ambiental. De modo geral, o termo crise é usado para tratar da evolução de alguma doença ou algum distúrbio funcional e se refere a uma mudança brusca e repentina. Crise de ansiedade, crise respiratória, crise estomacal, etc. Daí que os significados de crise acabam sendo usados em outros contextos que não só o da saúde. Por exemplo, em contextos sociais como na crise de 1929 e, da mesma maneira, é comum ouvirmos que hoje no Brasil vivemos uma crise econômica originada por uma crise política.

Mas será mesmo que vivemos uma crise ambiental? Como é esta crise? Houve um agravamento das condições do ambiente? Quando e porque ocorreu este agravamento? Por acaso, tudo estava indo bem até que um belo dia a natureza resolveu se comportar de outra maneira?

Alguns dos defensores da ideia de que vivemos uma crise ambiental atribuem suas origens ao fenômeno da economia e no modelo de desenvolvimento. Em um mundo marcado por uma perspectiva econômica com base na ideia de que as necessidades dos seres humanos são infinitas enquanto os recursos necessários para satisfazer estas necessidades são limitados a capacidade de lidar com recursos em permanente escassez nos leva a reconhecer que há um constante agravamento e deterioração das condições ambientais. Da mesma forma, como os recursos são limitados, a distribuição acontece de maneira a gerar uma desigualdade no acesso não só dos recursos mas de todos os bens que são produzidos a partir deles. Assim, estaria em jogo uma crise ambiental que se aprofundará com o tempo, já que cada vez teremos menos recursos para satisfazer as necessidades humanas.

A crise ambiental, em sua dupla articulação com a dimensão social, é resultado direto de um modelo de desenvolvimento, de base capitalista, que se baseia na ideia de crescimento infinito, que acaba gerando concentração das riquezas e exclusão social. Além disso, gera-se também riscos socioambientais de todos os tipos, a fragilização das instituições democráticas e um padrão ético individualista, competitivo e utilitarista. Este modelo se estende por todo o globo e pouco importa a localidade em questão, existe uma tendência a uma uniformização do pensamento.

No plano do pensamento, o modelo de desenvolvimento se impôs à muitas tradições culturais e levou, muitas vezes à força, à destruição completa de modos tradicionais de vida, de cultura e de organização social.

Ainda, haveria uma certa tomada de consciência a respeito de que criamos um modo de vida que gera muitos efeitos indesejados tanto social quanto ambientalmente e, por mais que não seja possível estabelecer um consenso de como devemos enfrentá-la, há esforços de parte da sociedade no sentido de pressionar governos e empresas a tomarem atitudes que visem superar ou ao menos reduzir a dimensão e a gravidade de ambas as crises.

Sendo assim, retomo a questão inicial: há mesmo uma crise ambiental, ou socioambiental? Ao que parece, aquilo que chamamos de crise é a própria forma como as sociedades vem construindo sua existência no mundo.

Por isso, é preciso repensar a ideia de que vivemos uma crise pois não se trata de um momento de agravamento ou de adoecimento das sociedades e sim do próprio modo como nos relacionamos entre nós mesmos seres humanos e com a natureza. É na relação que se estabelece com o outro, a importância a que damos ao outro, seja este outro um ser humano ou o outro como a natureza, que mora a capacidade de superação das crises ambientais e sociais.

Pensar e agir coletivamente, buscando uma atitude responsável e orientada ao bem comum é fundamental neste momento. Mais do que nunca, a reflexão sobre a nossa vida em sociedade se coloca como eixo central da nossa existência.

 

Quer saber um pouco mais?

O livro “Limites do desenvolvimento sustentável” de Guillermo Foladori lançado pela imprensa oficial da Unicamp em 2001 traz muito mais sobre este assunto.