O dia 05 de novembro de 2025 marca os 10 anos do rompimento da barragem de Mariana, cidade em Minas Gerais. Mas… Você se lembra desse fato? Como aconteceu? Quais foram as suas consequências? Nesse texto, iremos relembrar esse acontecimento e mostrar um pouco da situação atual relacionada à esse desastre (ou crime?).
Camila Satie Kurihara e Mariana Olimpio de Aquino
05 de novembro de 2015: um dia que ficou marcado na história
Na tarde do dia 05 de novembro de 2015, na cidade de Mariana (MG), ocorreu o rompimento da barragem do Fundão – uma barragem utilizada para armazenar rejeitos de mineração – de propriedade da Samarco Mineração S/A em parceria com as empresas de mineração Vale e BHP [1].
Esse rompimento despejou cerca de 40 milhões de metros cúbicos – valor próximo ao volume de aproximadamente 16 mil piscinas olímpicas – de rejeitos de minério de ferro, que percorreram um longo caminho, deixando uma enorme destruição [2]. A figura abaixo mostra o trajeto desses rejeitos, os quais atingiram, até mesmo, o oceano atlântico.

Figura 1. Trajeto dos rejeitos.
Fonte: R7 Estúdio; “Tragédia de Mariana: sete anos de espera”. Portal R7, 2022 [11].
Essa lama soterrou parte do subdistrito de Bento Rodrigues, além de ter afetado localidades rurais, destruído a cobertura vegetal de áreas ribeirinhas, depositado rejeitos em rios, soterrado a vegetação aquática e terrestre, causando a destruição de habitats e matando organismos. Após percorrer cerca de 22 km no rio do Carmo, os rejeitos alcançaram o rio Doce e, ao deslocar-se pelo seu leito, chegaram até o litoral do Espírito Santo e desaguaram no Oceano Atlântico [1,2].
Esse é considerado o maior desastre ambiental do Brasil e um dos maiores do mundo, por causa da quantidade de rejeitos liberados e da grande área afetada. Essa tragédia causou a morte de 19 pessoas, deixou centenas desabrigadas, afetou municípios de Minas Gerais e do Espírito Santo, atingiu reservas indígenas, destruiu uma grande área de mata atlântica, ocasionou a morte de toneladas de peixes, afetou a fertilidade do solo, além de muitos outros problemas que até hoje persistem no ambiente [2].
Contra fatos, não há argumentos
A barragem que se rompeu era utilizada para armazenar rejeitos de mineração. Mas o que isso significa?
O minério de ferro é utilizado como matéria prima para a fabricação de diversos produtos e ele é encontrado na natureza em rochas, que precisam passar por um conjunto de processos, que separam esse minério do material sem valor agregado, chamado de beneficiamento. O material que não possui valor comercial e não será utilizado se chama rejeito e deve ser armazenado em algum local para não causar danos ao ambiente (existem alguns estudos que mostram a possibilidade da utilização desse rejeito em áreas relacionadas à construção civil, por exemplo [12]). O material de rejeito tem um conjunto de outros metais livres (na forma de íons) ou associados como alguns sais que podem ser prejudiciais à saúde humana e aos demais seres vivos.
E era isso que era feito pela empresa, ela armazenava os rejeitos de mineração na barragem, ou seja, em uma espécie de aterro sanitário específico, um reservatório que vai sendo preenchido e, conforme atinge seu limite, novas camadas de barragem são construídas, em um processo chamado de alteamento [3].
Sabe-se que o tipo de alteamento utilizado na barragem do Fundão, o chamado alteamento a montante, é considerado por alguns especialistas o mais econômico, o menos seguro e o menos recomendado; “É o menos seguro… (…) Uma estrutura que embute um risco não deveria nem ser cogitada”, afirma Carlos Barreira Martinez, pesquisador da UFMG e especialista em engenharia hidráulica [4,13].
Além disso, o Ministério do Trabalho e da Previdência Social, ao investigar o ocorrido, publicou em 2016 um relatório que apontava as causas do rompimento. Nesse relatório foram examinados elementos da estrutura, do funcionamento e da manutenção da barragem e foi verificado que diversos eventos anormais de seu funcionamento já teriam acontecido desde o início de sua operação [2,4].
Foram encontrados problemas envolvendo acúmulo de água, trincas, falhas em instrumentos de monitoramento, etc. Ao longo do período de existência da barragem, alguns problemas foram identificados pela Samarco e por empresas de consultoria, além de órgãos governamentais de fiscalização, entretanto as medidas que foram tomadas se mostraram insuficientes e ineficientes para evitar esse desastre [4].
10 anos depois: em que pé estamos?
Uma década depois do maior desastre ambiental do país e a população ainda sofre as consequências de um trágico acontecimento. Em 2023, o novo Bento Rodrigues, um distrito construído pela Fundação Renova para realocar os moradores que perderam as suas casas no desastre, começou a ser populado. Hoje, em 2025, todas as construções previstas estão prontas. Apesar de os moradores ainda sentirem saudade das suas antigas casas, podem, agora, recomeçar a vida em novos lares [5,6].
Em relação à biodiversidade, a pesca ainda é proibida em diversos pontos do Rio Doce, pois ainda há a presença de metais na bacia: foram encontradas tartarugas, aves, peixes e até baleias contaminadas. O reservatório da Usina Hidrelétrica de Risoleta Neves, conhecida popularmente como Candonga, ainda retém mais de 9 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração. Essa lama pode contaminar ainda mais a bacia do Rio Doce, o que a torna a remoção desses rejeitos urgente [7,8].
Sobre o processo, ninguém foi responsabilizado sobre o desastre. Em 2016, 22 pessoas e 4 empresas foram denunciadas pelo Ministério Público Federal sob diversas causas como homicídio qualificado, inundação, desabamento, lesões corporais graves, crime ambiental e laudo ambiental falso, mas com o passar dos anos, muitas pessoas que haviam sido denunciadas tiveram a ação penal trancada. No final de 2024, todos os réus foram inocentados, sob a alegação de que não havia provas suficientes. Para a reparação dos danos, as empresas envolvidas (Samarco, Vale e BHP Billiton) assinaram um acordo que destina R$132 bilhões para ações de reparação e compensação. Desse valor, R$100 bilhões serão destinados para projetos ambientais e socioeconômicos, e R$32 bilhões para reparos ambientais, pagamento de indenização e reassentamento da população [9,10].
Hoje em dia, “parece que as empresas relacionadas ao ocorrido fazem o que podem para ajudar a população” e a reconstrução das áreas afetadas a fim de consertar os erros cometidos. Tudo isso por conta de uma negligência com a barragem, um erro, que foi literalmente se construindo, até que chegou ao que chamamos, comumente, de “acidente”, mas que, podemos concordar, não teve nada de acidental. A justiça, como mencionado acima, não encontrou culpados, apesar de termos sujeitos e empresas terem, conscientemente, construído uma barragem da forma menos segura possível. Hoje, 10 anos depois, as empresas tentam reconstruir a sua reputação e as pessoas tentam reconstruir as suas vidas.
Referências Bibliográficas:
- Vale chega a acordo definitivo de R$ 170 bi com autoridades por Mariana. CNN Brasil. 25/10/2024. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/vale-chega-a-acordo-definitivo-de-r-170-bi-com-autoridades-por-mariana/. Acesso em: 18 out. 2025.
- Caso Samarco. MPF Ministério Público Federal. Disponível em: https://www.mpf.mp.br/grandes-casos/caso-samarco/o-desastre. Acesso em: 18 out. 2025.
- Entenda o que é o minério de ferro, rejeito e barragem. G1. 30/01/2019. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/01/30/entenda-o-que-e-minerio-de-ferro-rejeito-e-barragem.ghtml. Acesso em: 18 out. 2025.
- Lacaz, Francisco Antônio de Castro; Pinheiro, Tarcísio Márcio Magalhães; Porto, Marcelo Firpo de Sousa. Tragédias brasileiras contemporâneas: o caso do rompimento da barragem de rejeitos de Fundão/Samarco. RBSO Revista Brasileira de Saúde Ocupacional. 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbso/a/5K38Dp8mVGv6jygHLGzPNGG/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 18 out. 2025.
- Sem condenação dos responsáveis, tragédia em Mariana completa 8 anos e famílias esperam reparação: “Será que vou estar vivo para ver?” | Minas Gerais | G1. Disponível em: <https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2023/11/05/sem-condenacao-dos-responsaveis-tragedia-em-mariana-completa-8-anos-e-familias-esperam-reparacao-sera-que-vou-estar-vivo-para-ver.ghtml>. Acesso em: 19 out. 2025.
- Sem condenação dos responsáveis, tragédia em Mariana completa 8 anos e famílias esperam reparação: “Será que vou estar vivo para ver?” | Minas Gerais | G1. Disponível em: <https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2023/11/05/sem-condenacao-dos-responsaveis-tragedia-em-mariana-completa-8-anos-e-familias-esperam-reparacao-sera-que-vou-estar-vivo-para-ver.ghtml>. Acesso em: 19 out. 2025.
- Mariana, 9 anos após desastre: famílias sem casa, pesca proibida, ninguém punido; 9 pontos para entender a tragédia. Disponível em: <https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2024/11/05/mariana-9-anos-apos-desastre-familias-sem-casa-pesca-proibida-ninguem-punido-9-pontos-para-entender-a-tragedia.ghtml>. Acesso em: 19 out. 2025.
- EM 26/03/2025 17H32, Publicado. A caminho da recuperação ambiental de Mariana (MG), Ibama realiza vistoria técnica. Ibama. Disponível em: <https://www.gov.br/ibama/pt-br/assuntos/noticias/2025/a-caminho-da-recuperacao-ambiental-de-mariana-mg-ibama-realiza-vistoria-tecnica>. Acesso em: 19 out. 2025.
- Novo acordo de Mariana é homologado pelo STF. Planalto. Disponível em: <https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/noticias/2024/11/novo-acordo-de-mariana-e-homologado-pelo-stf>. Acesso em: 19 out. 2025.
- Da denúncia por homicídio à absolvição: entenda o processo criminal da tragédia da Samarco em Mariana. G1. Disponível em: <https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2024/11/15/entenda-processo-criminal-da-tragedia-da-samarco-em-mariana.ghtml>. Acesso em: 19 out. 2025.
- Nascimento, Pablo. Tragédia de Mariana: sete anos de espera. Portal R7. 05/11/2022. Disponível em: https://estudio.r7.com/tragedia-de-mariana-sete-anos-de-espera-13122022. Acesso em: 03 nov. 2025.
- Fajardo, Abner Araújo. Estudo da adição de rejeito de minério de ferro para produção de compósitos cimentícios de alto desempenho. Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Engenharia. Programa de Pós-Graduação em Construção Civil. Belo Horizonte, 2023. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/server/api/core/bitstreams/be343cda-9f97-49fa-9156-f7846b9b9b68/content. Acesso em: 25 out. 2025
- Alvarenga, Darlan; Cavalini, Marta. Entenda como funciona a barragem da Vale que se rompeu em Brumadinho. G1. 28/01/2019. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/01/28/entenda-como-funciona-a-barragem-da-vale-que-se-rompeu-em-brumadinho.ghtml. Acesso em: 25 out. 2025.


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