O prêmio Nobel foi concedido a três pesquisadores que fizeram contribuições decisivas para identificação da hepatite C. Ela é uma das maiores doenças globais e causa comum de cirrose e câncer de fígado.
Mas afinal, qual a causa da hepatite?
As hepatites são inflamações do fígado que podem ter diferentes causas, como abuso de álcool, toxinas ambientais e doenças autoimunes. No entanto, a causa mais comum são as hepatites virais.
As três formas mais comuns de hepatites virais são a hepatite A, hepatite B e a hepatite C.
Já na década de 1940, os cientistas já conheciam dois tipos de hepatite viral, a causada pela hepatite A e uma outra, que era transmitida por meio de contato de sangue e fluidos corpóreos contaminados.
Na época, eles descobriram que a transmissão da hepatite A acontecia por meio de água e alimentos contaminados. Enquanto, geralmente, a hepatite A não tem impacto a longo prazo no paciente, o outro tipo descoberto causa maiores danos como cirrose e câncer de fígado. Ademais, o outro tipo estava relacionado a uma doença silenciosa, ou seja, a pessoa contaminada pode não ter sintomas por longos anos.
Só mais tarde, na década de 1960, um dos agente etiológicos (causador) relacionado ao “outro tipo” foi descoberto. O vírus foi chamado de hepatite B e rendeu o prêmio Nobel em Fisiologia e Medicina de 1976 para Barush S Blumberg.
E a hepatite C?
Mas ainda havia outro agente etiológico (causador da doença) que causava hepatite. Uma das primeiras pistas surgiram a partir das observações de Harvey J. Alter e seu grupo de pesquisa sobre pacientes que receberam transfusão de sangue, que mesmo negativo para hepatite A e hepatite B, ainda desenvolveram uma forma de hepatite crônica.
Tanto a hepatite B quanto a hepatite C são transmitidas por meio de contato com sangue contaminado, relaçoes sexuais sem proteção, uso inadequado de equipamento medico sem esterilização, como
A equipe de Alter também mostrou que a infecção era causada por vírus, na época chamado de hepatite não-A, não-B.
Michael Houghton e seu grupo de pesquisa foram responsáveis por isolar e identificar a sequência genética do vírus da hepatite C. O caminho usado para entender essa descoberta foi avaliar a presença de anticorpo relacionado a forma desconhecida de hepatite, entender que fragmento de proteína esses anticorpos reconheciam e a partir daí identificar a sequência genética associada ao vírus. Eles finalmente identificaram uma nova sequência de RNA viral associada ao vírus da hepatite C.
Mas será que o RNA do vírus recém descoberto poderia levar a hepatite? Charles M. Rice e seu grupo de pesquisa confirmou que ao injetar o RNA do vírus da hepatite C em modelo animal, o vírus era detectado no sangue. Os pesquisadores também encontraram mudanças patológicas, lesões, no fígado do animal infectado.
Qual o impacto?
Entender as diferenças entre as formas de hepatite foi essencial na produção de testagem para os tipos diferentes de hepatite. Assim como o desenvolvimento da vacina contra a hepatite B. Até o momento não há uma vacina eficaz contra a hepatite C.
A hepatite B não tem tratamento específico e cura. Por esse motivo, a vacinação é extremamente importante para a erradicação da hepatite B. Desde 1998, o Programa Nacional de Imunizações, do Ministério da Saúde, recomenda a vacinação de crianças contra hepatite B (Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, 2006). No Brasil, a primeira dose da vacina contra a hepatite B é ministrada ainda na maternidade, nas primeiras 12 horas de vida do recèm-nascido. Além dessa dose inicial, outras doses são necessárias depois (SBIm)
As principais complicações da hepatite B e hepatite C são a cirrose e câncer hepático (de fígado), também podem ocorrer formas de hepatite e infecções. Em 2006, uma estimativa da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo apontou que 25% dos recém-nascidos portadores da hepatite B iriam desenvolver cirrose ou câncer hepático (Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, 2006).
Hepatite C no mundo
Em 2020, a Organização Mundial de Saúde estima que 71 milhões de pessoas tenham uma infecção crônica por hepatite C. Dessas, um número significativo vão desenvolver cirrose e câncer de fígado (WHO).
No Brasil, a hepatite C é a primeira causa mais comum de hepatite viral (253 307 casos), seguido pela hepatite B (247 890 casos), hepatite A (168036 casos) e hepatite D (4156 casos), entre os anos de 1999 e 2019 (Ministério da Saúde, 2020).
No Brasil, a mortalidade por hepatite C é de 76,1% do total de 74 864 óbitos associados às hepatites virais do tipo A, B, C e D (Ministério da Saúde, 2020).
Ainda não há vacina eficaz contra a hepatite C, mas ela tem tratamento. A hepatite C é uma doenças em que a maioria das pessoas infectadas não apresenta sintomas nos anos iniciais. Por isso, é importante a prevenção.
Formas de transmissão
As hepatites B e C são transmitidas pelo contato com sangue contaminado. Para se evitar essas hepatites é importante que:
- Há transmissão pela via sexual, esperma e secreção vaginal, (hepatite B) e contato com sangue contaminado (hepatite B e hepatite C). Previna-se quando for fazer sexo. Use camisinha.
- Não compartihe objetos como agulhas, alicates de cutícula e aparelho de barbear.
- Uma das fontes de contaminação são aparelhos medicos reutilizados ou inadequadamente esterilizados. Se for colocar um piercing ou fazer tatuagem, escolha um local em que as condições sanitárias são seguidas e que garanta o uso de materiais esterilizados e descartaveis no procedimento.
- Há possibilidade de uma mãe infectada transmitir hepatite para o filho no momento do parto. É importante o cuidado no pré-natal.
Dicas
Procure a Unidade Básica de Saúde para vacinação contra a hepatite. Lembre-se de levar a sua caderneta de vacinação. Lá também, você consegue orientação sobre testes rápidos ou sorologia para as hepatites B e C.
É manicure e quer garantir a segurança do seu cliente? O Ministério da Saúde criou a cartilha Meu salão livre das hepatites: Manual de prevenção para manicures e pedicures.
Referências
Ministério da Educação. EBSERH. Especialista da Rede EBSERH fala sobre hepatites virais, prevenção e tratamento.
Ministério da Saúde (2012) Atenção ao pré-natal de baixo risco.
Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.(2006) Vacina contra a hepatite B. Rev. Saúde Pública.
SBIm – Sociedade Brasileira de Imunização. (2020) Vacina Hepatite B.
Stanislas Pol, Sylvia Lagaye. The remarkable history of hepatitis C virus. Microbes and Infection (2019). https://doi.org/10.1016/j.micinf.2019.06.008
The Nobel Assembly at Karolinska Institutet. The Nobel Prize in Physiology or Medicine 2020.
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