“Mais arte do que ciência”: O discurso científico em Rick and Morty. – Parte 1

Séries e TV

A SÉRIE

Escrita por Dan Harmon e e Justin Roiland, a serie de animação “Rick and Morty” foi lançada em 2013 pelo canal Adult Swin e posteriormente pela Netflix. Recheada de sarcasmo, piadas escatológicas e politicamente incorretas, a série é um sucesso de público, chegando a atrair 2 milhões e 600 mil espectadores em um único episódio.

A trama é focada em “Rick Sanchez”, um cientista e inventor niilista e alcoólatra cuja inteligência e recursos tecnológicos chegam a extremos tão absurdos que poderiam ser comparados aos poderes de super heróis ou figuras mitológicas. E para perseguir seus objetivos, Rick se envolve em uma infinidade de “aventuras sem-sentido envolvendo altos conceitos de ficção científica” (segundo o próprio personagem), arrastando consigo outros membros da família, principalmente seu neto mais novo Morty.

Em suas aventuras, não apenas viajam para o espaço sideral ou para outros planetas, mas também cruzam os limites de outros Universos paralelos (que são a base de várias situações de humor absurdista), alteram a passagem do tempo e chegam mesmo a explorar o interior do corpo humano. Com isso, as três temporadas da série fornecem uma grande diversidade de situações nas quais podemos apresentar a textualização da ciência e seu discurso científico, contudo a pergunta que pretendemos responder nesse texto é se Rick e Morty realiza, de fato, divulgação científica?”

Mas, para que possamos responder a este questionamento precisamos entender como a ciência é textualizada na série.

Uma vez que a série é destinada a um público adulto e disponibilizada em canal pago, a Adult Swin, há uma preocupação em criar empatia e suprir as deficiências de entendimento que o seu público possa vir a ter, sendo assim, a série se propõe a trabalhar em quatro grandes linhas de referências, já previamente conhecidas por fazerem sucesso com o público deste canal – Cultura Pop, da Família, da Filosofia e da Ciência.

  • A cultura pop está presente na série desde sua criação: “De Volta para o Futuro” foi um grande sucesso dos anos 80 e o filme no qual a série foi baseada. Outros exemplos dos anos 80 e 90 são Jurassic Park, Mad Max e A Hora do Pesadelo. A série também se utiliza de referências recentes, como internet, filmes, outras séries (Game of Thrones), figuras públicas (Steve Jobs e Mark Zuckerberg) e marcas (Mcdonald’s), dentre outras. Esse artifício está inserido em todos os episódios, através dos títulos, cenários ou em diálogos entre os personagens. Dessa forma, a série cria uma prévia relação com o público que já consome esse tipo de conteúdo.
  • A típica família americana e seus problemas comuns e reais conferem à série a identificação com as sitcom (comédia de situação) famosas na televisão desde 1960, colocando os personagens vivenciando suas histórias de humor encenadas em ambientes comuns. Este formato se mantém, sendo um sucesso até os dias de hoje. Dentre os exemplos de grande audiência e tempo no ar são: I Love Lucy, A Feiticeira, Friends, The Big Bang Theory, Os Simpsons, Chaves, entre outros. Através da Família, o discurso científico apresenta marcas significativas. Em Rick e Morty, os problemas familiares são, normalmente, solucionados ou potencializados pelo uso da ciência. Rick, muitas vezes provoca a situação de conflito familiar, impulsionado por uma atividade científica urgente e pertinente ao seu ver e/ou por motivos egoístas. Essas atividades devem ser supridas imediatamente, a qualquer custo, prejudicando algum familiar ou até um planeta inteiro. O abandono dos princípios morais e a insistência em colocar a ciência acima de tudo perpetua a ideia de falta de empatia do cientista e a de que as inovações científicas são mais importantes do que a ética.
  • Os conceitos filosóficos permeiam os discursos dos personagens como forma de discussão dos problemas enfrentados na trama, apesar da série utilizar da perspectiva existencialista, muitas outras filosofias são referenciadas como: o determinismo, o niilismo e, até, Friedrich Nietzsche. Nas discussões filosóficas a imagem do cientista indiferente é reforçada, a frequente desvalorização da morte, do sentido da vida e da insignificância do ser humano é demonstrada por inovações tecnológicas que continuamente extinguem populações inteiras e até a própria família do Rick, e pelo fato de que este muda de realidade para obtê-la novamente, como se nada tivesse acontecido.

E quanto à ciência? Confira na segunda parte:

“Mais arte do que ciência”: O discurso científico em Rick and Morty – Parte 2 

3 thoughts on ““Mais arte do que ciência”: O discurso científico em Rick and Morty. – Parte 1

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *