Deus, hidroxicloroquina e unicórnios: é impossível demonstrar um negativo?

Quem está habituado à discussão teológica está familiarizado com a afirmação de que seria “impossível demonstrar uma negativa”. Ela é rotineiramente usada por crentes e apologetas para argumentar que, “segundo a lógica”, é impossível dizer que Deus não existe, mesmo na total ausência de evidências da sua existência. Logo se você crê em Deus por fé apenas (sem evidencia), você não estaria sendo irracional ou ilógico. Esse argumentos sempre me soou estranho, mas eu honestamente não havia pensado nele por anos até que me deparei com alguns debates recentes na internet envolvendo a hidroxicloroquina e sua eficácia. A discussão segue mais ou menos assim:

Crítico da hidroxicloroquina – Foi demonstrada a ineficácia da hidroxicloroquina

Defensor da hidroxicloroquina – Não foi demonstrada sua ineficácia, porque é impossível demonstrar uma negativa.

O que para mim o curioso nessa história toda é que a frase de efeito, ou truísmo, usado para corroborar esse raciocínio, de que  “é impossível demonstrar uma negativa” é obviamente falso. É completamente lógico derivar um argumento formal no qual a conclusão é a inexistência de algo. Por exemplo, digamos que estejamos argumentando sobre a existência de unicórnios. Eu poderia montar o seguinte argumento

  • P1 – Se unicórnios existem, deveria haver alguma evidencia deles no registro fóssil.
  • P2 – Não existe evidencia de unicórnios no registro fóssil.
  • Conclusão- Unicórnios não existem.

Esse é um argumento logicamente válido no qual a conclusão (uma negativa) é a consequência lógica das premissas. Proposições negativas são tão demonstráveis quanto proposições positivas.

“Mas, calma lá”, você pode pensar “o registro fóssil é notoriamente incompleto. Espécies podem simplesmente não estar representadas sem que isso signifique que elas nunca existiram”.

Esse argumento remete ao problema da indução, que diz basicamente que nenhuma generalização baseada em observações limitadas pode ser bem sucedida. O exemplo clássico é a ideia de que, não importa quantos cisnes brancos você encontre na natureza, você nunca vai poder dizer que todos os cisnes são brancos, visto que você ainda pode encontrar um cisne negro que refute essa generalização. É importante ressaltar que, enquanto isso não invalida a ideia que proposições negativas são demonstráveis, isso parece levantar um problema sério para premissas que sustentem supostas inexistências.

Porém, nem todas proposições são iguais. Imagine que, ao invés de você estar buscando cisnes negros, você que saber se um gene X está associado com a cor das penas em cisnes negros. Uma prática em genética para entender o funcionamento de um dado gene é exatamente deletar esse gene de um embrião, ou “nocautear” o gene. Se o gene era associado com a cor das penas, você espera que o embrião com o gene nocauteado desenvolva penas brancas (ou não-negras). Se o embrião continua desenvolvendo penas negras, você pode afirmar que o gene X não tem efeito sob a coloração negra das penas. Em forma de argumento formal:

  • P1- Se o gene X determina a cor negra da pena, sua remoção produziria penas sem essa coloração
  • P2- A remoção do gene não afeta a cor da pena
  • Conclusão- O gene X não afeta a cor da pena.

Nesse caso não há ambiguidade alguma: uma vez que o mecanismo é proposto e testado, a ausência de um efeito implica que sua hipótese foi refutada: o mecanismo, como designado, não existe. A diferença é que, quanto mais específica é sua premissa inicial, mais certeza você pode conferir à sua conclusão.

O caso de medicamentos tem mais a ver com o encontrar um mecanismo genético do que buscar unicórnios no registro fóssil: a ação de um remédio depende de que um mecanismo proposto seja verdadeiro, ou potencialmente verdadeiro. O que nos trás à hidroxicloroquina.

Presidente Jair Bolsonaro no jardim do Palácio da Alvorada alimentando as emas e mostrando a caixa do remédio cloroquina para as emas, a mesma caixa que mostrou para os apoiadores no ultimo domingo 19/07. Sérgio Lima/Poder360. 23.07.2020

Querida de três em cada três líderes com tendências autoritárias no continente americano (Trump, Bolsonaro e Maduro), a hidroxicloroquina foi alardeada com um possível tratamento ao COVID19 com base em um estudo feito em células in vitro (em placas de petri; aqui e aqui). Esse estudo demonstrou que a hidroxicloroquina em conjunto com azitromicina era capaz de prevenir a entrada do vírus em células vivas. Em investigações sobre a eficácia de medicamentos, a existência de algum tipo de efeito in vitro é considerado premissa básica para que mais estudos sejam realizados, para observar se um remédio pode ter efeito em seres vivos e, em última analise, humanos. De qualquer maneira, esse estudo deu o pontapé inicial à investigação sobre a eficiência da hidroxicloroquina contra o COVID19, resultando em diversos trabalhos que buscaram encontrar um efeito da droga em seres humanos infectados.

Nada disso seria particularmente problemático se políticos não tivessem tomado para si o papel de decidir, com base em evidencias problemáticas, quais são os tratamentos que devem ser seguidos. O que temos agora é a pior situação possível: enquanto a ciência demonstra a total ineficácia da hidroxicloroquina no tratamento de COVID19 (ver aqui e aqui, por exemplo), políticos e entusiastas destes mesmos governantes se veem na posição de ter que defender pseudociência por motivos meramente ideológicos. E é nesse momento que vemos as pessoas se agarrarem cada vez mais desesperadamente à argumentos falaciosos para defender sua posição. No caso da hidroxicloroquina, como coloquei anteriormente, surge essa ideia de que seu efeito positivo não pode ser negado, pois seria impossível demonstrar uma negativa. Como já argumentei, essa afirmação é falsa (é incrivelmente simples demonstrar um negativo). Mas seria esse o caso da hidroxicloroquina?

Pra entender isso, precisamos entender um pouco como supostamente a hidroxicloroquina deveria funcionar. Para entrar nas células animais, o coronavírus pode se valer de dois mecanismos. O primeiro é se ligando a receptores de superfície das células do hospedeiro para introduzir o seu material genético diretamente no interior da célula. No segundo mecanismo, o vírus é absorvido por invaginações da membrana celular (endossomos) e invadem o citoplasma celular a partir daí. Esse segundo mecanismos, o realizado por endossomos, necessita de uma proteína funcional chamada catepsina L, que necessita de um meio ácido para funcionar. Nesse contexto, a hidroxicloroquina atua diminuindo a acidez do meio intracelular, impedindo a ação da catepsina L, impedindo a entrada do coronavírus na célula. Para voltar para nossas preposições, podemos descrever a atuação da hidroxicloroquina da seguinte forma:

  • P1- Para a hidroxicloroquina funcionar no combate a COVID19 ela necessita prevenir a entrada do coronavírus nas celulas pulmonares humanas.
  • P2- Hidroxicloroquina diminui a acidez intracelular, afetando o funcionamento da catepsina L.
  • P3- Catepsina L é usada pelo coronavírus para entrar na célula.

Segundo essa lógica – e essa era a lógica que poderíamos aceitar no começo do ano – a hidroxicloroquina (potencialmente) funcionaria no combate a COVID19. Mas o diabo mora nos detalhes. As células usadas inicialmente para demostrar que a hidroxicloroquina funciona in vitro eram culturas de células de rins de macacos. Essas células normalmente apresentam resultados bons o suficiente para a maior parte dos fármacos, porém no caso do coronavírus a coisa parece ser mais complicada. Enquanto é verdade que em células de rim a Catepsina L é essencial para a ação de entrada do vírus, células pulmonares humanas não apresentam essa enzima em grandes quantidades. Ao invés, o mecanismo de entrada do coronavírus na célula é mediada por uma enzima chamada TMPRSS2. O problema é que, diferente da Catepsina L, o funcionamento da TMPRSS2 não é afetado pela alteração da acidez do meio celular. De fato, um estudo recente em células pulmonares humanas demonstrou que a hidroxicloriquina é incapaz de impedir a invasão das células pelo coronavirus. Assim, podemos atualizar a descrição da atuação da hidroxicloroquina da seguinte forma:

  • P1- Para a hidroxicloroquina funcionar no combate a COVID19 ela necessita prevenir a entrada do coronavírus nas celulas pulmonares humanas.
  • P2- Hidroxicloroquina diminui a acidez intracelular, afetando o funcionamento da catepsina L.
  • P3- Catepsina L é usada pelo coronavírus para entrar em células de rim.
  • P4- TMPRSS2, que é usada pelo coronavirus para entrar em células pulmonares, não é afetada pela hidroxicloroquina.

E disso segue que

  • C- Hidroxicloroquina não funciona no combate a COVID19 através do mecanismo proposto.

O que mostra que é plenamente lógico afirmar que a hidroxicloroquina não funciona.

Óbvio que isso não vai satisfazer os defensores da droga, pois inúmeros outros mecanismos podem ser propostos, inclusive mecanismos sem o menor respaldo científico, como foi o caso da “pílula do câncer”, uma droga sem efeito também defendida pelo presidente da república.

Eu acredito que a luta pela hidroxicloroquina vai durar muito mais tempo depois que sua discussão acadêmica estiver de fato encerrada. Estamos entrando em um caminho onde teorias conspiratórias, pseudociência e pseudofilosofia estarão intrinsecamente ligados com a política nacional. Vai ser um caminho tortuoso. Boa sorte a todos nós.

*Para os nerds: sim, eu estou mais que ciente das problematicas sobre o grau de confiabilidade em resultados experimentais e estatísticos. Você pode transformar todos esses argumentos em probabilísticos e chegar a conclusão que a hidroxicloroquina muito provavelmente não funciona (o que é basicamente a mesma, visto que a unica “certeza” que podemos ter em termos científicos são aquelas referentes à altas probabilidades).

Deus é o ovo

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Cientificismo, segundo o filosofo Tom Sorell, é a “demasiada valorização da capacidades da ciência natural em comparação com outros ramos do aprendizado ou cultura”. Em outra palavras, é o uso inapropriado da ciência e das teorias científicas para explicar fenômenos que normalmente não são da alçada de uma área de conhecimento específica.

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“Hey, bob. Que tal a gente elaborar um construto social elaborado, com relações complexas com mitos de nossa cultura para que a gente possa, eventualmente, comer um bifão?”

Stephen Jay Gould deu um exemplo disso em seu artigo sobre o “adaptacionismo” nas ciências biológicas, que é a tentativa de explicar todo e qualquer fenômeno nos organismos vivos como sendo produto de seleção natural. Em seu artigo co-autorado por Richard Lewontin entitulado “The Spandrels of San Marco and the Panglossian Paradigm: A Critique of the Adaptationist Programme” de 1979, Gould exemplifica a questão quando critica a sugestão de E. O. Wilson, pai da sociobiologia, de que o consumo de carne humana (canibalismo) em culturas astecas poderia ser um reflexo de uma falta crônica de proteína animal, ignorando toda uma literatura antropológica avaliando o significado e as possíveis causas culturais de tal fenômeno.

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O que acontece com um paleontólogo ao escutar que dinossauros são uma construção social.

 

Usualmente a acusação de “cientifismo” é aplicado ao uso de ciencias naturais (química, física, biologia, geologia, etc) em outras áreas, usualmente humanas. Mas não há nenhum motivo para que o emprego do termo seja assimétrico: muito do chamado “pós-modernimo” é o emprego de técnicas e conceitos provenientes das humanidades, principalmente crítica literária, em outras ciências. Nesses casos a validade de uma teoria científica deixa de ser avaliada de acordo com sua adequação às evidências empíricas (marca fundamental das ciências) e passa a ser avaliado quanto a sua adequação à ideologias e processos sociais. A validade da evolução deixa de ser seu escopo explicativo, mas um julgamento da cultura que permitiu o surgimento dessa teoria (européia, renascentista, branca e machista), e o significado dessa ideia para a sociedade.

Acusações de cientificismo também são comumente usadas por alguns religiosos e teólogos ao acusar cientistas de tentar “opinar” em assuntos religiosos do ponto de vista científico. Por exemplo, Victor Stenger, no seu livro “The Fallacy of Fine-tunning” afirma que

“(…) as observações da ciência e dos nossos sentidos não apenas mostram a ausência de evidencias para [a existência] de Deus mas também dão evidencias para além da qualquer dúvida razoável de que um Deus que tem um papel tão importante e cotidiano no universo como o Deus Judaico-Cristão-Islamico não existe”

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“Meus super-sentidos não detectam a presença de nenhuma entidade omnipontente, omniciente e omnibenevolente no universo. Parece que sou a única divindade solar por aqui mesmo…”

Segundo alguns religiosos, usar a ciência para analisar afirmações sobre o supernatural e o divino são exemplos de cientificismo, visto que é a utilização da ciência (natural, normalmente) em uma área na qual ela não se adequa, que seria a teologia.

Visto que a acusação de cientificismo é tão rotineiramente utilizada por intelectuais religiosos para defender sua fé de intelectuais ateus, me soa particularmente irônica a utilização de achados científicos como base para afirmações de fé. Um exemplo claro disso é no chamado “Argumento Cosmológico para a Existência de Deus”. O argumento tem a seguinte forma:

  • [P1]- Tudo que que começa a existir tem uma causa
  • [P2]- O universo começou a existir
  • [C]- o universo tem uma causa (que é Deus, por sinal)

A validade da conclusão depende da validade das premissas, e o que é usualmente utilizado para corroborar a segunda premissa, é a teoria do Big-Bang, que afirma que o universo visível atual teve uma origem em um ponto específico de nosso passado, aproximadamente a 15 bilhões de anos atrás.

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Bom, acho que isso explica o período inicial de inflação cósmica…

 

Obviamente eu não estou sugerindo que teólogos não deveriam se basear em ciência e fatos conhecidos para tirar suas conclusões sobre o universo. Porém essa empreitada é fútil quando todos os argumentos baseados em ciência são necessariamente provisórios e tentativos, o que está em claro desacordo com a necessidade do teólogo de se comprometer com uma conclusão específica.

Robert M. Price brilhantemente exemplificou essa questão durante durante um debate com o filosofo e apologeta cristão William Lane Craig sobre a existência da figura histórica de Jesus Cristo:

Historiadores críticos não estão engajando em epistemologia metafísica como se eles pudessem saltar em uma máquina do tempo e pontificar “‘A’ não aconteceu, ‘B’ sim!”. De novo, Craig e seus irmãos estão apenas projetando. São eles, e não os historiadores críticos que querem poder apontar para resultados absolutos. Imagine um credo “Se tu confessar da tua própria boca ao Senhor Jesus e acreditar em seu coração que Deus provavelmente ressuscitou-o dos mortos, tu provavelmente serás salvo”. Na cara de quem está a piada aqui?

No caso do Big Bang e do argumento cosmológico, a piada é mais óbvia ainda. Quando em 1951 o papa Pio XVII quis alardear que o Big Bang era comprovação de que o catolicismo era verdade (justamente pelo Argumento Cosmológico), Georges Lemaître, o primeiro proponente desse modelo cosmologico e padre o impediu, afirmando que sua teoria era neutra a respeito da existência de Deus. E ele obviamente deveria ter que fazer isso. Caso o contrário, se Deus fosse uma conclusão com base em um modelo científico, se tal modelo cai, Deus cai também. E visto que Lemaître (assim como qualquer outro católico e cristão no mundo) provavelmente não estava preparado para abandonar a crença em um Deus apenas pela refutação de uma teoria científica, ele argumentou contra a associação de ambos. Defensores do Design Inteligente e criacionistas não tem essa clareza: uma vez que suas hipóteses foram refutadas (e todas elas foram), tudo o que lhes resta é negar a ciência. É o cientificismo levando ao anti-intelectualismo.

Mas caso nada disso tenha ficado claro, aqui vai um exemplo mais simples: sabe aquela história de que em uma semana os médicos e pesquisadores afirmam que ovo faz mal, e em outra eles afirmam que ele faz bem, nunca chegando a um consenso, se contradizendo e refutando um ao outro recorrentemente?

Imagina que Deus é o ovo.

Qual é o dano em chamar negros de “macacos”?

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Seguindo um dos meus ultimos posts, muitas pessoas me apontaram o texto do Negro Belchior como uma outra perspectiva sobre a controvérsia da campanha #somostodosmacacos. Ironicamente, ler esse texto foi o que me incentivou a escrever o meu. Não é porque eu discorde do texto do Belchior, pelo contrário. Acho que ele dá bons motivos pelos quais é contrário à campanha. Porém, em momento algum ele parece realmente ser contrário as evidências biológicas de que somos, de fato, macacos, mas critica a tentativa de usar o termo positivamente. E foi para oferecer uma justificativa biológica ao uso do termo que resolvi escrever meu post, e de quebra ensinar algo sobre a lógica da evolução.

Mas como isso é mais uma questão ética do que científica, resta a pergunta: Qual é o real dano de chamar negros de “macacos”?

Respostas comuns

Uma das respostas mais comuns que vi por ai é que isso ofende as pessoas. Eu obviamente não nego que as pessoas se sintam ofendidas com isso, mas pode-se argumentar que elas estão sendo irracionais ao se sentirem ofendidas. Por exemplo, a defesa da evolução como a única teoria que explica a diversidade na Terra ofende criacionistas, homofóbicos se sentem honestamente ofendidos por gays, homens se ofendem com críticas feministas, etc. O ponto é: que alguém se ofende com algo não é argumento contra o que foi dito, ou mesmo argumento para não dizer aquilo. E céticos e ateus basicamente estão no trabalho de contestar opiniões fortemente arraigadas. Ofensa não me impressiona nem me motiva.

Outro argumento comum é que isso reforça o racismo. Isso pode ser verdade, mas me parece que o que importa mais é o padrão de uso de um termo do que o próprio uso. Afinal, foi isso que o movimento GLBT fez com o termo “gay” e, em menor medida o que as mulheres fizeram com “vadia”. Ostentação com orgulho de certos termos pejorativos já foi usado contra preconceito. Ou seja, mudar o padrão de uso não é impossível e o reforço parece ocorrer em um contexto social especifico, que pode mudar.

O problema comum dessas respostas (e de outras também) é que elas partem de uma premissa um tanto discutível: que todos os seres humanos são capazes de ter empatia com outros membros da sociedade de forma irrestrita. Eu, por exemplo, tenho grandes dificuldades de estabelecer relação empática com os problemas que negros enfrentam, apesar de achar que consigo fazer isso em maior escala com o que gays e mulheres sofrem. Para pessoas como eu, uma medida clara e objetiva dos danos e benefícios de uma prática ou política social tem um enorme valor quando estamos tomando decisões morais. E, na minha opinião, ciência é a melhor ferramenta para descobrir que tipos de consequências certas ações podem ter.

Então, o que a ciência tem a dizer sobre esse caso específico?

Uma medida objetiva do dano

Esse é o professor Phillip Atiba Goff, da UCLA. Ele é um psicólogo social interessado na relação entre fatores ambientais/sociais na geração de respostas comportamentais discriminatórias raciais. Ou seja, ele quer saber o que causa comportamentos discriminatórios, ou qual é a consequência de certos comportamentos tidos como discriminatórios. Eu cruzei com a página dele, quando procurava artigos que validassem o histórico que o Negro Belchior deu em seu site sobre a associação de negros e macacos. Meu principal incomodo nisso foi a associação indireta entre evolução e nazismo, um ponto que está errado, mas isso é assunto para outra análise.

No meio do currículo do Dr. Goff eu achei uma publicação bastante interessante, que pode ser traduzida como “Não tão humano: Conhecimento Implícito, desumanização histórica e consequências contemporâneas”. Confesso que a leitura desse paper foi como um conto de terror: a cada página uma surpresa desagradável.

O trabalho consiste em 6 estudos distintos baseados em uma metodologia muito simples: apresentar diversas imagens à um conjunto de voluntários e medir a resposta deles em diferentes tarefas simples. Cada um dos estudos é importante em si só, então abaixo tentarei fazer um resumo breve, apresentando o resultado principal de cada um. Mas para quem quiser ir direto ao assunto, sugiro olhar o estudo 5 e a conclusão.

 

Estudo 1

Esse estudo tem objetivo de averiguar se os voluntários apresentam um viés implícito em associar macacos à negros. Na primeira parte do experimento os voluntários eram apresentados à uma imagem aleatória de um rosto humano de diferentes etnias. Em seguida era apresentado ao indivíduo uma figura de um animal, e se media o tempo necessário para que ele reconhecesse o animal.

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Os resultados indicam que indivíduos que foram apresentados faces negras ou brancas eram igualmente rápidos para identificar imagens de outros animais. Porém quando se tratava de macacos, aqueles que foram previamente apresentados com uma face negra eram significativamente mais rápidos do que aqueles que não haviam visto face alguma (controle) e daqueles que haviam visto faces brancas.

 

Estudo 2

Esse estudo averiguou se os voluntários que visualizavam inicialmente uma face de um macaco desviam sua atenção mais rapidamente para face de negros em seguida. Isso foi medido apresentando a imagem de um macaco e logo em seguida apresentando faces de duas pessoas na tela. Em seguida as faces desapareciam e um ponto aparecia na posição de uma das faces. O voluntário tinha que identificar em que lado esse ponto estava. O tempo tomado para achar o ponto é uma medida do desvio de atenção do indivíduo. Os voluntários nesse estudo eram todos estudantes brancos/caucasianos.

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O resultado mostra que aqueles que visualizavam um macaco antes tinham a atenção fortemente voltada para a face negra, identificando o ponto como estando na posição desse tipo de face mais rapidamente do que o tempo tomado para identificar o ponto na posição da face caucasiana. É valido notar que, na ausência da foto de macaco, a atenção dos voluntários se desviava para a face caucasiana, provavelmente por conta da identificação de grupo.

Estudo 3

Esse estudo foi similar ao anterior, substituindo a imagem da face caucasiana por uma asiática. Isso foi feito para remover qualquer viés para identificação de grupo. Adicionalmente, foram removidas as cores das imagens originais, deixando apenas traços faciais, controlando também para a influencia da cor da pele na análise.

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Os resultados corroboram o estudo anterior, mostrando que indivíduos que foram visualizaram a imagem de macaco foram tiveram sua atenção significativamente desviada para as faces negras, mesmo com a cor estando ausente na análise. Nos casos que não foram apresentadas imagens de macacos, os voluntários tiveram a tenção igualmente distribuída entre as faces de diferentes grupos.

Estudo 4

Esse foi um estudo do tipo “Teste de Associação Implícita”. O objetivo desse tipo de teste é tentar extrair algum tipo de associação entre palavras e sentimentos/sensações/julgamentos por parte dos voluntários. Foram realizados dois tipos de testes. O primeiro tentava ver a associação de nomes classificados como esteriotipicamente “brancos” ou “negros” como sendo relacionado à sentimentos bons ou ruins. Isso era feito pedindo ao voluntário que classificasse os nomes como branco ou negro e depois era requisitado que ele classificasse palavras neutras, culturalmente valorizadas (como “aniversario” e “flores”) ou desvalorizadas (como “vómito” ou “lixo”) como boas ou ruins. Isso era feito usando os mesmos botões usados para classificar os nomes como “brancos” ou “negros”, permitindo assim a associação indireta entre as identificações de raças com julgamentos de valores.

O segundo teste foi feito seguindo o mesmo protocolo, porém usando usando animais que caiam em duas categorias- grandes primatas (macacos) ou grandes gatos- ao invés de palavras. Isso foi feito para investigar se a associação entre negros e macacos era indiretamente influenciada pela associação de macacos com “violência” ou com “Africa”, visto que grandes gatos também são animais tidos como violentos e africanos.

Os resultados mostraram que os voluntários eram mais rápidos em classificar palavras como sendo “negro-ruim” do que como “negro-bom”, assim como eram mais rápidos em associar animais como “negro-macaco” do que como “negro-grandes gatos”, mostrando que a associação negativa não parece ser influenciada indiretamente pela associação com Africa ou com violência.

Estudo 5

Esse estudo teve como objetivo averiguar quais são as consequências materiais da associação entre negros e macacos. Para isso, foram apresentadas palavras associadas tanto a grandes primatas, quanto a grandes gatos aos voluntários. Em seguida foram apresentada uma filmagem de um suspeito sendo agredido por policiais e era sugerido ao voluntário indiretamente que o indivíduo era negro ou branco. Em seguida era dado ao voluntário um questionário com o objetivo de medir o quão justificado ele achava a agressão policial.

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Os resultados mostraram que os voluntários que visualizaram palavras associados à macacos eram mais inclinados a considerar a agressão policial justificada quando o suspeito era negro. Não apenas isso, os indivíduos que eram apresentados com palavras associadas à grandes gatos não apresentavam viés significativo na sua justificativa da agressão, independente da cor da pele do suspeito.

Estudo 6

Esse ultimo estudo foi um estudo não controlado que buscava investigar associação entre a representação de suspeitos na mídia e a probabilidade deles serem condenados à morte por seus crimes. O resultado foi bastante simples: quanto mais o indivíduo era associado à macacos na mídia, era mais provável que ele fosse condenado à morte, se ele fosse negro.

Conclusão

Os estudos compilados no artigo de Goff e colaboradores são, ao meu ver, bastante diretos: Há uma associação implícita entre negros e macacos (Estudos 1, 2 e 3), que quando evidenciada leva a uma associação de valores negativos à negros (Estudo 4), podendo justificar culturalmente a violência policial contra esse grupo (Estudo 5), possivelmente facilitando a execução legal de prisioneiros negros (Estudo 6).

E se essas não são consequências horrendas que justificam parar de reforçar ou evidenciar tal associação, eu não sei o que são.

Castrar um hipopótamo não é tão fácil quanto parece (e não parece nem um pouco fácil)

O problema é simples: temos um dos animais mais agressivos e mortais da terra e queremos mantê-los em zoológicos, sem risco para a vida de tratadores. Solução? Oras, castração! Afinal, se funciona com animais domésticos, deve funcionar com outros animais.

Porém as coisas não são tão fáceis. Como se castrar um animal de mais de 3 toneladas não fosse um problema, os testículos dos hipopótamos são móveis, e tem-se mostrado um grande desafio para os cientistas da castração animal (aparentemente ¬¬).

Isso levou a um desenvolvimento de um procedimento original por um time de cientistas liderados por Christian Walzer, da universidade de Vienna. Esse novo procedimento, adaptado do utilizado em cavalos, permite a localização e remoção dos testículos dos animais. Yei, Science!

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O pior dia da vida de um jovem hipopótamo

Viu, fácil. Agora você só precisa de um guindaste, quantidades obscenas de tranquilizante e uma tesoura.

É, eu sei. De nada.

O porque dos testículos desses animais se movem, como que fugissem de dedos gelados de um urologista, é um mistério. Mas o Walzer tem uma teoria:

Hipopótamos machos realmente brigam- não é apenas uma bravata quando eles bocejam e abrem suas bocas- eles podem atacar o testículo dos rivais com seus dentes.

Agora, nunca vi evidência de que hipopótamos atacam os testículos uns dos outros, mas tanto faz, parece uma ótima ideia! Próximo passo: identificar genes envolvidos para aplicação “biomédica” em humanos.

Já!

O cristianismo ajudou a fundar a ciência moderna?

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Um tipo de afirmação que vejo constantemente sendo jogada por ai é a de que, sem o cristianismo, a ciência moderna não teria existido. Isso comumente faz parte de uma linha apologética chamada “pressuposicionalismo” que consiste basicamente em dizer que sem os pressupostos do cristianismo, a ciência moderna (ou moralidade, ou qualquer outra coisa) não são logicamente coerentes. Ou seja, sem um Deus propondo leis regulares na natureza, não faz sentido pensar numa ciência que funciona.

É uma estratégia interessante mas altamente discutível. Afinal, classicamente, a uniformidade da natureza foi vista como um potencial impedimento para a teologia cristã, visto que impedia a ocorrência de quebras da ordem natural das coisas através de milagres. Sem milagre, sem ressurreição, sem cristianismo.

Outra linha de argumentação sobre a influencia do cristianismo na origem da ciência é a ideia de que a ciência moderna surgiu no mundo cristão, e não na Índia, ou na China, por exemplo. Isso é, evidentemente verdade: é no Renascimento que encontramos as bases da ciência moderna, um movimento que se deu essencialmente na Europa cristã. Entretanto, o Renascimento foi uma revitalização dos princípios clássicos  gregos e romanos, e uma quebra com a teologia dos séculos anteriores. Richard Carrier – historiador da ciência, que tem mais títulos do que eu posso colocar em um aposto- coloca isso de forma precisa:

Entretanto, em tudo isso a afirmação que não se sustenta é que o cristianismo encorajou a ciência. Se esse tivesse sido o caso, então não teríamos quase mil anos (de aproximadamente 300 a 1250 AD) com absolutamente zero avanços significativos na ciência (exceto alguns poucos e as contribuições minoritárias de hindus e muçulmanos), em contraste com os mil anos anteriores (de aproximadamente 400 AC a 300 AD), que testemunharam incríveis avanços nas ciências em continuada sucessão a cada século, culminando em teóricos cujas ideias se aproximaram tentadoramente da revolução cientifica no 2o século AD (especificamente, mas não exclusivamente, Galeno e Ptolomeu). Você não pode propor uma causa que falhou em produzir um efeito, a despeito de estar constantemente presente por mil anos, especificamente quando, na sua ausência, a ciência fez muito mais progresso. A ciência retomou em 1200 precisamente onde os antigos [gregos e romanos] deixaram ela, redescobrindo seus achados, métodos e valores epistêmicos, e continuando o processo que eles haviam iniciado.

(Grifo meu)

Claro, mesmo se fosse verdade que a ciência moderna tem sua origem no cristianismo, nada disso advoga em favor de qualquer doutrina religiosa. Pode ser muito bem verdade que a química moderna tem origem na alquimia. Mesmo assim, alquimia continua errada.

Sugiro a leitura do post de Carrier sobre o assunto: Science and Medieval Christianity

Justificando a Pesquisa Básica

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CIÊNCIA pode te dizer como clonar um Tyranossaurus Re
HUMANIDADES pode te dizer o porque disso ser uma má idéia.

Em resposta ao meu último post, algumas pessoas afirmaram que a aquisição de conhecimento básico não precisa ser justificado além da própria aquisição de conhecimento. Apesar de eu concordar que a justificativa deva se afastar do utilitarismo raso que normalmente é exemplificado na forma de acumulo de tecnologias ou financeiro, não acho que a questão se resolva tão facilmente assim.

Afinal, mesmo que as pessoas não sejam (salvo raras excessões) contra a aquisição de conhecimento, existem prioridades “estratégicas” que podem levar órgãos de fomento a excluir áreas que não tem sua utilidade pública claramente justificadas. E se acham a possibilidade muito abstrata, se pergunte: porque será que as Ciências Humanas foram excluídas do Ciências sem Fronteiras, um programa que “busca promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira”? Talvez não tenha ficado claro para o governo/sociedade qual é o valor das áreas humanas para o avanço científico, e porque isso conta. E garanto: qualquer lógica empregada para a exclusão de ciências humanas pode ser igualmente aplicada em diversas áreas da pesquisa básica, por mais hard que seja a ciência.

Então, como poderíamos justificar a pesquisa básica? Creio que a melhor resposta para isso foi dada no contexto da construção do primeiro acelerador de partículas do Fermilab. O Fermilab é um laboratório de investigação física experimental e na época o seu primeiro diretor, R. R. Wilson, foi convocado para uma audiência frente ao comitê de Energia Atômica para conseguir autorização governamental para o projeto:

SENADOR PASTORE. Existe qualquer coisa conectada a este acelerador que envolva a segurança nacional desse país?

DR. WILSON. Não, senhor. Não creio que exista.

SENADOR PASTORE. Nada mesmo?

DR. WILSON. Não, nada.

SENADOR PASTORE. Ele não tem nenhum valor nesse aspecto?

DR. WILSON. Ele apenas diz respeito a o que consideramos uns pelos outros, pela dignidade dos homens, nosso amor pela cultura. Tem a ver com essas coisas.

Não tem nada a ver com o exercito. Sinto muito.

SENADOR PASTORE. Não sinta.

DR. WILSON. Eu não sinto, mas eu não posso honestamente dizer que ele tem esse tipo de aplicação.

SENADOR PASTORE. Tem algo nesse projeto que nos projeta em uma posição de competitividade com Russos, no que diz respeito a essa corrida?

DR. WILSON. Apenas da perspectiva de longo prazo, de um desenvolvimento tecnológico. Fora isso, tem a ver com: Somos bons pintores, bons escultores, grandes poetas?  Eu quero dizer todas as coisas que nós realmente veneramos e honramos em nosso país (…).

Nesse sentido, esse novo conhecimento tem tudo a ver com honra e nação mas não está diretamente ligado à defesa de nosso país, exceto pelo fato de o fazer digno de ser defendido.

E eu creio que seja por ai. Tais pesquisas se justificam no contexto de nossos valores como sociedade. Se você acredita que somos nós que conferimos significado para nossa existência, então deve ser evidente que a busca pelo conhecimento, seja em ciência ou literatura, nos oferece uma fonte de significado e sentido muito maior do que qualquer outra coisa que podemos encontrar por ai. Uma sociedade que valoriza a busca pelo conhecimento como forma de se reconstruir, é uma sociedade que valoriza a ciência. Tecnologia e desenvolvimento econômico deveriam ser casos particulares dessa busca, e não o objetivo da busca em si.

Eu ainda adicionaria que uma base ética secular e humanista implica, necessariamente, na valorização da busca pelo conhecimento, mas isso é uma outra história.

Aranhas, Beagles e as Mentiras que os Cientistas contam.

Meu primeiro estágio em pesquisa científica foi no Instituto Butantan, pesquisando o comportamento de caça de um gênero muito curioso de aranhas, as Scytodes. Esse gênero é diferente de todas as outras aranhas por uma modificação anatômica muito curiosa: diferente das outras aranhas que apresentam glândulas de veneno, os animais desse gênero apresentam enormes glândulas cefálicas que produzem uma substância pegajosa, que a aranha é capaz de ejetar sobre sua preza, capturando-a a distância:

[youtube_sc url=”http://youtu.be/9PJlfzc4SiE?t=2m20s”]

*A ejeção de cola é rápida demais para ser vista em vídeos normais. Clique aqui e aqui  para ver algumas imagens em close das queliceras.

Esse tipo de habilidade não vem sem um custo: as quelíceras, provavelmente por serem muito modificadas para “cuspir”, não são muito poderosas. Isso faz com que esses animais tenham que caçar animais de exoesqueleto frágil, principalmente aranhas. O fato das Scytodes poderem capturar animais à distância faz com que elas se deem bem contra outros predadores perigosissímos, como a aranha marrom, e até mesmo as espertas e Salticidae.

 

“Glup… ela já foi embola?”

Para desenvolver essa pesquisa eu pedi uma bolsa de iniciação científica para a FAPESP. Para quem nunca teve a experiência, uma das requisições dessa agência para a concessão da bolsa é que precisa estar devidamente justificado o mérito do projeto. Na época isso não ficou muito claro para mim… que tipo de mérito eles queriam? Porque valia a pena pesquisar essas aranhas? “Oras, porque elas são fascinantes!” não me parecia uma resposta muito profissional. Na época o meu orientador me instruiu a descrever os potenciais benefícios para nós, seres humanos, desse estudo.

Meu raciocínio foi simples: aranhas marrons podem ser um problema, eu ia estudar um bicho que come aranhas marrons e SHAZAM… por motivos não explicitados isso soava como uma ótima aplicação prática desse tipo de estudo. “Potenciais aplicações práticas para controle de aranhas marrons” ou coisa que o valha.

Bem, na época eu ganhei a bolsa, realizei o projeto e, eventualmente publiquei um artigo sobre o assunto. “Codificando caracteres comportamentais para analises cladisticas: usando homologia dinâmica sem parcimônia.” Se você acha que soa hermético e totalmente alienado de qualquer aplicação prática, então você pegou a ideia certa.

Na época um colega me perguntou “como você justifica o uso de dinheiro público para estudar comportamento de aranhas?”.

“Eu não sei. Só espero que nunca descubram”.

Eu não acho que essa minha inépcia nesse ponto seja particularmente fora do padrão. A grande maioria dos pesquisadores que conheço sequer pensa sobre como justificar sua pesquisa frente a sociedade. Talvez a maior evidência disso seja o Projeto Genoma Humano, que gastou 3 bilhões de dólares com a desculpa que ajudaria a curar doenças genéticas, cancer ou alguma porcaria assim, quando na verdade poucos avanços terapêuticos reais vieram dai. Não me entendam mal… o projeto genôma humano foi um grande avanço para a ciência. Assim como o projeto do genôma do Ornitorrinco, mas ninguém nem tentou justificar esse com base nos benefícios terapêuticos para o bichinho.

O ponto é: acadêmicos e cientistas de maneira geral não estão treinados para responder esse tipo de questionamento. Me recordo quando, em uma mesa redonda sobre Direitos Animais, o neurocientista Sidarta Ribeiro ficou simplesmente sem ação quando veganos na plateia lhe perguntaram se ele era a favor do uso de animais em pesquisa. “Sim”, ele disse, e isso foi o suficiente para levar a plateia aos gritos.

O que me trás aos beagles… A não ser que você tenha estado debaixo de uma pedra nos últimos dias, você sabe que houve uma invasão ao Instituto Royal, e cerca de 150 beagles que estavam sendo usados para testes farmacêuticos foram libertados. Rapidamente, muitos cientistas vieram repudiar a ação, algo que foi bem exemplificado pelo pronunciamento da ABC e da SBPC sobre o assunto. Muitos de meus colegas no meio acadêmico ficaram boquiabertos. Afinal, uso de animais em pesquisas científicas é algo justificadamente importante, e seria inconcebível imaginar como alguém racional e instruído poderia ser contra o uso (consciente e dentro das normas, que fique bem claro) de animais em laboratórios, certo? Certo???

Bem, eu não acho que seja bem por ai. Acho sim que a questão de uso de animais em pesquisas e testes é algo que sim deve ser colocada em discussão, e que está longe de ser evidente. Mas não quero argumentar contra ou a favor da ação dos ativistas, nem defender ou atacar o uso de animais em pesquisas, muito menos mais testes laboratoriais. Quero apenas fazer uma pergunta para meus amigos da academia: podemos dizer com cara limpa que nós fizemos direito o trabalho de expor e justificar nossa pesquisa frente a sociedade ao ponto que toda a opinião contrária ao uso de animais em experimentação científica seja associado ou a fundamentalismo fanático ou ignorância?

Será?

Aquecimento Global: e que tal essas evidências, Dr. Felicio?

No final do ano passado aconteceu um debate no Jornal da USP (primeiro artigo e replica) sobre aquecimento global. A dança seguiu como de costume: defensores do Aquecimento Global Antropogênico (AGA) falando que os negacionistas não contribuem em nada para a ciência (o que é verdade) e os céticos do AGA (e eu uso o termo “céticos” de forma ampla aqui) acusando os defensores do AGA de não oferecerem provas o suficiente para comprovar o aquecimento.

A discussão teve presença inevitável do nosso amigo Dr. Ricardo Felício, notório cria… oups… “cético”, no artigo de réplica. Depois do meu escrutínio anterior do seu discurso delirante, eu elevei o Dr. Felício ao título de “Saco de Batatas com orelhas”. Ele não tem nada para contribuir, e eu não tenho a menor vontade de voltar a abordar seus argumentos. Entretanto, esse artigo de réplica foi assinado primariamente por um Dr. Kenitiro Suguio. Agora, mais de um paleontólogo colega meu afirmou que o Dr. Suguio é uma referencia na sua área (presumidamente algo a ver com sedimentologia do quaternário) e, diferente do Dr. Felício, parece merecer algum respeito acadêmico. Ok, então ao texto vamos!

A primeira coisa que me saltou aos olhos foi a total ausência de qualquer negação do aquecimento global. Sério, no duro. Vá lá e veja por si mesmo. Em momento algum o Dr. Suguio e companhia negam que existe aquecimento, se limitando a afirmar que

(…) não há qualquer evidência observada no mundo real que permita qualificar como anômalas as variações dos parâmetros climáticos (por exemplo, temperaturas atmosféricas e oceânicas) ou influenciados pelo clima (por exemplo, nível do mar)

O que é uma posição, digamos, muito mais cientificamente conservadora do que negar a existência do aquecimento global. Claro, a afirmação de que os padrões atuais de alteração climática não são anômalos são um tanto… ousada, mas passível de debate. Acho que já abordei isso de forma exaustiva (e você também pode checar os posts no GeneReporter sobre o assunto), então não vou entrar nesse mérito. Mas o que impressiona mesmo é ver o Dr. Felício assinando um texto desses. Afinal, é ele o mesmo que negava explicitamente que a temperatura sequer está aumentando! Não sei, mas algo aqui me cheira muito similar a o que alguns famosos criacionistas fazem ao defender o Design Inteligente como uma versão mais “intelectualmente aceitável” do que sair dizendo que Noé colocou um bando de animais em um bote e fez o pior Big Brother da história. Talvez… quem pode saber?

Digressões a parte, o texto de forma geral gira em torno de um argumento central:

(…) em lugar de evidências físicas, os proponentes do AGA se limitam a oferecer projeções de modelos matemáticos da dinâmica climática e uma exagerada importância atribuída às concentrações atmosféricas de dióxido de carbono (CO2)

Mesmo? É isso tudo que os defensores do AGA fazem? Porque eu sei que os dados climáticos estão por ai, assim como informação sobre emissão de poluentes, e não seria nada impossível simplesmente ver se tais variáveis estão correlacionadas ao longo do tempo. E se tem uma das coisas que eu aprendi na área acadêmica é: toda vez que você tem uma boa idéia, alguém já fez antes e melhor que você.

Teria por acaso alguém que tentou investigar a influencia das emissões na temperatura, e de quebra abordando as principais críticas dos céticos, como coleta de dados mal feita e utilização de metodologias falhas? Então sem mais delongas, com vocês, Dr. Richard A. Muller.

De cético a crente



Dr. Richard A. Muller é um físico da Universidade da California, Berkeley. Em 2004, Muller entrou na dança do Aquecimento global, do lado dos céticos. Aparentemente Muller havia visto a crítica de McIntyre e McKitrick (sobre a qual falei no meu post anterior) e tinha achado as colocações deles válidas:

McIntyre e McKitrick obtiveram uma paste do programa que Mann [famoso autor do gráfico hockey stick) usou, e eles acharam alguns problemas sérios. Não apenas o programa não usa o PCA convencional [uma técnica estatística], mas ele se realiza a normalização dos dados de forma que só pode ser descrita como equivocada. (…) Essa forma inapropriada de normalização tende a enfatizar os dados que tem a forma de hokey stick, e suprime todos os dados contrários. Para demonstrar esse efeito, McIntyre e McKitrick produziram dados que, em média, não tinha padrão. (…) Quando McIntyre e McKitrick deram esses dados para o protocolo de Mann, ele produziu um gráfico de hockey stick. (…) Essa descoberta me atingiu como uma bomba, e eu suspeito que está tendo o mesmo efeito em muitos outros. De repente o hokey stick, o garoto-propaganda ddo aquecimento global é, na verdade, um artefato de matemática ruim. Como isso poderia acontecer?

(tradução porca e ênfase minhas)

Mas Muller, diferente dos céticos padrão, não simplesmente sentou em um canto escrevendo posts zangados na internet (sim, eu sei… hipócrita), e resolveu colocar a mão na massa: arrecadou fundos e fundou o BEST – Berkeley Earth Surface Temperature – com o objetivo principal de arrecadar dados que eles consideram confiáveis sobre o clima, de uma perspectiva inicialmente cética.

E Muller enfrentou muita critica nesse ponto: dizer que não confia na capacidade de coleta de dados dos outros e que irá fazer tudo do zero é mandar o dedo médio para uma comunidade científica inteira (comunidade que ele, como físico, não fazia parte). Mas… e daí? Os climatologistas podem se sentir o quanto ofendidos eles acharem certo. Isso não muda o fato de que verificação independente é um dos pilares centrais da ciência. Muller estava certo de agir sob seu ceticismo, que é algo que não pode ser dito da maioria dos céticos do AGA.

Então, Muller lançou o BEST para resolver tudo, desde a coleta, sumarização, elaboração de novas metodologias e analise dos dados. E o que ele achou?

Estimativas da temperatura anual (esquerda) e por decada (direita) atuais e até 3 séculos atrás. Estimativas do BEST em preto, intervalos de confiança em cinza. Estimativas de outros estudos em outras cores.
Em primeiro lugar, nota-se que as estimativas do BEST correspondem muito com as geradas por outros estudos, para o período que eles coincidem, corroborando assim os estudos anteriores. Adicionalmente, eles conseguiram ampliar a janela temporal, estendendo as estimativas até o ano de 1750.
Tudo é bastante impressionante, principalmente porque, com uma janela de dados dessa magnitude, Muller e colegas resolveram testar diversas hipóteses, incluindo a influencia da emissão de poluentes na temperatura média, mas também dos ciclos solares e de eventos vulcânicos, duas criticas comuns dos céticos. Os resultados eu acho falam por si só:
Em vermelho, temperatura média esperada em decorrência da influência das emissões de CO2 e emissões vulcânicas (que são as quedas mais abruptas de temperatura, antes de 1850). Emissões de radiação solar não influenciaram significativamente as estimativas.
Resumindo: o aumento de temperatura parece estar principalmente ligado à emissão de CO2, irradiação solar não parece influenciar os padrões atuais e eventos vulcânicos tem uma influencia no clima, mas não explicam nenhuma tendencia atual. Dr. Muller foi bastante não-ambíguo em relação a esses resultados:

Eu conclui que o aquecimento global é real e as estimativas anteriores estavam corretas. Agora eu estou indo um passo além: Humanos são quase que inteiramente a causa.

Claro, a analise não é desprovida de falhas: em primeiro lugar os autores não puderam diferenciar a influencia do CO2 da influencia de outros gases, basicamente porque o aumento nas taxas de emissão estão muito correlacionadas entre si. Em segundo lugar, a analise é muito simplista, então eu não descartaria a possibilidade de uma influencia moderada de radiação solar. Mas é válido notar que os autores sabem dessas limitações e decidiram usar uma analise simples (uma análise de regressão simples) exatamente para limitar qualquer crítica metodológica.

E, de qualquer forma, o BEST disponibiliza todos os dados em seu site. Ou seja, qualquer um pode baixa-los, e analisá-los por si mesmo. Então, Dr. Richard A. Muller, por ser um verdadeiro cético com compromisso com a metodologia científica e transparencia acadêmica: cookie points para você. Pontos extras por me fazer poder afirmar confortavelmente que a AGA parece ser a melhor explicação para os dados que temos, e que devemos aceita-la para elaboração de políticas publicas.

Não me entendam mal: meu lado ambientalista anda bastante pessimista, até mesmo no que tange a conservação das espécies. O máximo que quero agora é que consigamos a maior quantidade de informações sobre a biologia das espécies atuais antes que a paleontologia se torne o principal ramo da biologia. Então eu realmente não ligo para o que vai ser feito com essa informação sobre o aquecimento. Seria ótimo que isso fosse utilizado para regulamentar a emissão de gases e para melhorar nossa qualidade de vida, mas não tenho esperanças nisso.

Então… aparentemente sobra a pergunta para Dr. Felicio, Dr. Conti e Dr. Suguio: que tal essas evidências físicas do Aquecimento Global Antropogênico?

Referência
Robert Rohde, Richard A. Muller, Robert Jacobsen, Elizabeth Muller, Saul Perlmutter, Arthur Rosenfeld, Jonathan Wurtele, Donald Groom, & Charlotte Wickham (2012). A New Estimate of the Average Earth Surface Land Temperature Spanning 1753 to 2011 Geoinformatics & Geostatistics: An Overview, 1 (1) : 10.4172/gigs.1000101

Porque você acha que seu chefe é idiota



via diogro


Já teve a sensação de ser mais competente que seu chefe? É uma sensação incrivelmente comum, porém completamente contra-intuitiva. Afinal, espera-se que que um chefe tenha atingido seu posto na hierarquia de uma empresa após demonstrar competência, e por trazer benefícios à instituição. Como poderia alguém que foi considerado tão competente por outrem ser aos seus olhos tão estúpido, ou, mais especificamente, menos competente que você? Afinal, se você é mais competente que seu chefe, você não deveria estar no cargo de chefia?


Esse sentimento foi imortalizado nos quadrinhos Dilbert, no personagem do Chefe: um individuo ignorante, incompetente e totalmente alienado da realidade da empresa (e, em alguns casos, do mundo)




-Nós precisamos de mais programadores
-Use  métodos ágeis de programação
-Programação ágil não significa apenas que famos fazer mais trabalho com menos pessoas
-Então me ache alguma palavra que signifique* isso e me pergunte novamente.

*[haeck]: Ha, notaram o que eu fiz? De novo a coisa toda de significado.

Para investigar essa questão, Plushino e colegas recorreram a uma solução criativa: eles retomaram um princípio proposto pelo psicólogo canadense Laurence J. Peter nos fins dos anos 60. Segundo Peter: 

‘Cada novo membro em uma organização hierárquica sobe na hierarquia até que ele/ela atinja seu nível de máxima incompetência’


Ou seja, segundo este princípio, quanto mais alto um individuo avança na escala hierárquica de uma empresa, mais incompetente ele se torna, até atingir o ponto mais alto, onde sua incompetencia será igualmente maior.


Representação esquemática de uma organização hierárquica. Quanto mais escuro o individuo, maior o seu nivel de competência. À esquerda temos os valores médios de competência para cada nivel, que vai aumentando na medida que subimos na hierarquia. Esse exemplo representa nossa ideia intuitiva de progresso hierárquico, onde o melhor individuo de uma camada inferior é escolhido para compor a camada superior, e assim sucessivamente. De Plushino et al.


Os autores colocam no resumo:


Apesar de não aparentar razoável, esse principio agiria realisticamente em qualquer organização onde o mecanismo de promoção recompensa o melhor membro e onde a competência no nível atual não depende da competência que ele possuía em níveis anteriores, usualmente porque a tarefa nos diferentes níveis são muito diferentes umas das outras.


Ou seja, um padeiro, por melhor que ele seja em fazer pães, não precisa saber muito sobre administrar uma padaria. Ou seja, promover o melhor padeiro para administrador pode não ser a melhor jogada.


Para investigar a possível influência do Princípio de Peter em uma organização hierárquica, os pesquisadores produziram um modelo bem simplificado, no qual eles simulavam os diversos individuos da hierarquia como apresentando apenas duas características: competencia global e idade. A seguir, eles distribuíram os individuos nas diversas hierarquias, e iniciaram as rodadas da simulação. Cada rodada consistia na avaliação da competencia global do indivíduo e sua subsequente demissão ou promoção, sendo que individos acima de 60 anos se aposentavam. Eles também testaram dois diferentes cenários: no primeiro, chamado de “Hipótese de Peter”, os indivíduos, quando movidos para uma hierarquia superior, ganhavam um novo valor de competencia (pois, afinal, administrar tem pouco a ver com fazer pães). No segundo cenário, chamado de “Hipótese do Senso-Comum“, os individuos mantinham sua competencia quando subiam na hierarquia. Adicionalmente, os pesquisadores investigaram a influencia de 3 diferentes estratégias de promoção nesses dois cenários diferentes: a primeira é quando o melhor funcionário é promovido para a hierarquia superior (“The Best“), a segunda é quando o pior é promovido (“The Worst“) e a terceira os funcionários são promovidos aleatoriamente (“random“). Eles então mediram a eficiência global da organização, para ver o efeito das hipóteses e das estratégias de promoção em uma organização.


Os resultados são bem curiosos:


De Plushino et al.

As linhas representam a evolução da competencia global da instituição nas diferentes hipóteses: em vermelho vemos a Hipótese de Peter e em preto temos a Hipótese do Senso Comum. As diferentes linhas de uma mesma cor representam as diferentes estratégias de promoção.

Ou seja, segundo essa simulação, se uma organização na qual o Princípio de Peter não atua (Senso Comum) a promoção de individuos competentes leva a um aumento global na performance da instituição, enquanto promover o pior indivíduo piora a performance da instituição. Promoções aleatórias são intermediárias, como esperado. Agora, em uma organização onde o Princípio de Peter atua, o resultado é oposto: promover os indivíduos melhores piora mais a performance de uma instituição do que promover os piores individuos de uma instituição sem o Princípio. A solução que aparentemente melhora a produtividade média da instituição é a promoção dos indivíduos piores. Novamente, a promoção aleatória apresenta valores intermediários de competencia global.


A partir disso, os autores concluem:


Nosso estudo computacional do Princípio de Peter aplicado a uma organização prototípica com uma hierarquia piramidal mostra que a estratégia de promover os melhores membros, no cado da Hipótese de Peter induz um rápido decréscimo de eficiencia.


Eles ainda adicionam que a estratégia de promoção mais segura para a organização, seria a promoção aleatória, que no pior dos casos, não implicaria em um decréscimo da eficiencia global de uma organização.


Agora, eu não faço a menor ideia de o quanto o Princípio de Peter é empiricamente verificado. Me parece complicado conseguir medir “competência” de forma objetiva, principalmente quando estamos comparando entre ocupações muito diferentes (como presumidamente elas precisam ser para o princípio de Peter ser válido). 


Mas, supondo que seja verdade, o que isso faz com as nossas noções de “meritocracia”, até mesmo no contexto acadêmico? O quanto a eficiencia de um estudante é determinante para o seu sucesso universitário ou profissional? O quanto nossas avaliações de mérito acadêmico refletem de fato o que se espera da pessoa, a partir do momento que ela ganha a “promoção” (passa no vestibular, conclui a graduação, etc)? Isso explicaria talvez o fato de que alguns cotistas apresentam desempenho acadêmico melhor ou igual aos não-cotistas, mesmo tendo notas mais baixas no vestibular?


Referência

Pluchino, A., Rapisarda, A., & Garofalo, C. (2010). The Peter principle revisited: A computational study Physica A: Statistical Mechanics and its Applications, 389 (3), 467-472 DOI: 10.1016/j.physa.2009.09.045

Ciência é que nem salsicha


Rigor metodológico sempre foi um dos principais méritos da Ciência. A delimitação e exposição honesta da metodologia de um trabalho científico é o que permite que outros pesquisadores e estudantes repliquem seus achados de forma a valida-los ou refutar suas conclusões.

Bem, isso na teoria.

Na prática, ciência é muito parecida com qualquer outro trabalho: muitas vezes temos que cumprir protocolos e resolver problemas em condições sub-ótimas, em contextos alucinados, em meio a problemas pessoais e profissionais. Ou seja, é uma zona.

Motivado por esse contexto caótico, ontem estourou um hashtag #OverlyHonestMethods no twitter, que seria melhor traduzida como “Métodos Honestos Demais” (“Métodos” faz referência à parte de um artigo científico onde está delimitado o protocolo experimental que foi seguido). Milhares de cientistas e estudantes manifestaram de forma bem humorada situações da parte humana do cotidiano acadêmico.

Eu obviamente me deleitei (e ainda estou me deleitando) com essa HT (que, segundo o Igor Santos, “é como a galera legal cita hashtag a partir de agora”). O Bernardo Esteves da Piauí fez uma compilação e tradução de algumas, mas para os que entendem ingles sugiro visitar aqui e aqui para listas bem maiores e melhores. Mas como os twits não param, aconselho seguir a HT. A diversão é garantida.

Agora, como sou levemente egomaníaco, abaixo vou compilar traduções dos meus twits. Talvez não sejam os melhores (os biólogos moleculares parecem ficar com metade da diversão), mas eles refletem muito do que é a minha vida acadêmica. Obviamente existem hipérboles e sátiras, mas algumas passagens são bastante literais. Deixo para vocês descobrirem quais são quais.

(twits originais estão no link entre parênteses)

“O tempo de duração das gravações variou entre 30-50min. Esse era normalmente o quanto durava minha soneca pós-almoço.” (link

“Nós desenvolvemos uma nova métrica para excluir todos os parâmetros que precisariam ser medidos através de trabalho de campo árduo” (link

“Nós apenas correlacionamos a porra toda e então achamos algumas racionalizações engenhosas na literatura”  (link

“Código está disponível através de pedido, porque nós conseguimos programar em C, mas não temos a menor ideia de como construir uma página da internet”  (link

“Todos os nossos resultados foram não-significantes no nível de alfa=0.05, então nós começamos a aprender estatística bayesiana”  (link

“Nós diminuímos a variância residual em nossa regressão linear aumentando o tamanho dos pontos”  (link

“Por sorte, a curva de acumulo de espécies estabilizou quando um morcego raivoso mordeu minha mão” (link

“As redes de neblina foram abertas das 8pm até 11pm porque a siesta durou um pouco mais naquele dia” (link)  

“O revisor sugeriu um teste de normalidade para o uso de estatísticas não-paramétricas, mas SÉRIO cara, os caracteres tem apenas 2 malditos estados!” (link

“Nós transcendemos a epistemologia Popperiana porque nos demos conta de que nosso trabalho era infalseável”  (link)