Conhecendo Carreiras de Biológicas: a Biologia
Um profissional de biologia pode atuar na educação, na indústria, em laboratórios clínicos, na área ambiental, na pesquisa e desenvolvimento e até na gestão pública.
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Este especial é destinado às alunas e alunos que estão decidindo qual carreira seguir e àqueles que têm curiosidade em conhecer diferentes áreas. Você gosta de estudar sobre a natureza? Ciência? Animais? Plantas? Talvez a Biologia seja a sua carreira!
“Escolhi cursar biologia porque sempre achei incrível e fascinante o funcionamento dos seres vivos, desde células e moléculas do nosso organismo até o funcionamento de sistemas de grandes animais. Me parecia o curso mais certo a se fazer (…) Minha maior satisfação com certeza são as práticas, desde olhar no microscópio e ver as células e microorganismos até as aulas de anatomia com as peças anatômicas expostas para o estudo.” Milena Piccart Gutierrez, 21 anos, estudante do 3° ano de biologia da Unicamp.
“Desde criança sempre tive muito contato com ambientes naturais, desde a Mata Atlântica paulista até o Cerrado do interior de Minas Gerais. Foram diversas as oportunidades de interação com esses meios e diante de um mundo de fauna, flora, seres bióticos e abióticos fui me encantando cada vez mais com aquele contexto, com as mais diversas relações ecológicas e sem perceber já estava de certa forma envolvida com a temática ambiental. Nessas interações despertei um olhar de admiração, respeito e muitas vezes de curiosidade sobre aqueles seres não humanos e na busca para melhor entendê-los, escolhi a carreira de bióloga como profissão.” Gabriela Tibúrcio, Mestra em ciências ambientais.
Por que escolher a biologia?
A escolha de carreira é uma fase bem difícil para qualquer aluno e, é normal, pois além de ser difícil saber o que realmente quer, também existem inúmeras opções de carreiras. Normalmente, os alunos de biologia entram no curso com uma visão bastante restrita das possibilidades que a biologia oferece, acabando por mudar de ideia no decorrer do curso.
“Eu imaginava que enquanto bióloga eu teria uma atuação mais voltada para o campo da pesquisa, do trabalho de campo, de coleta de dados etc. Em 2009 ingressei na Unesp de Rio Claro, certa de que me envolveria com o campo da zoologia ou da ecologia e logo no primeiro ano dei início a uma iniciação científica junto ao laboratório de herpetologia, para estudar sobre anfíbios. Apesar do envolvimento nessa área, no ano seguinte, 2010, comecei a repensar os caminhos que eu gostaria de trilhar ao longo da graduação e fiquei maravilhada com as possibilidades de atuação da educação ambiental. A partir deste momento, busquei me aproximar da área da educação, participando de projetos de extensão da universidade e estou até hoje, 10 anos depois, engajada no campo da educação ambiental.” Gabriela Tibúrcio, Mestra em ciências ambientais.
“Eu entrei no curso de biologia querendo trabalhar com engenharia genética de plantas para a agricultura. No decorrer do curso, me descobri como microbiologista. Me encantei com as diversas possibilidades de aplicar os microrganismos na produção industrial desde a área de alimentos, fármacos, cosméticos e químicos. Acabei deixando as plantas de lado e atualmente trabalho com pesquisa, buscando microrganismos que sejam capazes de fazer a produção de químicos e combustíveis mais sustentáveis.” Regiane Oliveira, Doutora em Ciências.
“Sempre fui apaixonada pela diversidade da vida, desde criança vivi cercada por plantas e animais, tinha uma paixão especial por caramujos de jardim. Quando eu tinha cinco anos, enquanto assistia a um documentário sobre peixes com meu avô, perguntei a ele quem eram aquelas pessoas que estudavam os bichos, e ele me contou que eram biólogos. Pronto, decidi que eu queria ser um deles. Como eu decidi ainda criança, eu imaginava a biologia como estudo das plantas e dos animais. Apesar de ter aprendido muitas coisas sobre genética durante o colegial eu entrei na faculdade ainda com a ideia de que eu seria uma bióloga que estudaria os animais, em especial os moluscos. Quando eu entrei na faculdade eu descobri muitas áreas que eu nem imaginava que existiam e então a minha expectativa foi superada pela realidade pois a biologia era muito maior do que eu imaginava. Tantas eram as novidades que eu acabei decidindo depois seguir pela área de evolução molecular que era algo que eu nem imaginava que existia antes de entrar na faculdade. Em seguida ainda enveredei para a área de biotecnologia e bioinformática, outras áreas que descobri já na pós-graduação.” Juliana José, Doutora em Biologia.
Como é o curso de biologia?
O curso de biologia tem modalidade de licenciatura ou bacharelado, a grande diferença é que a licenciatura forma biólogos aptos para dar aulas de Biologia no ensino fundamental, ou médio, apesar de não se limitar a essa atuação. Já o bacharel pode atuar como cientista em diversas áreas como biologia molecular, genética ou biotecnologia, além de se dedicar à docência. Pesquisas mostram que 70% dos formandos em ciências biológicas optam por licenciatura [1].
“Claramente as oportunidades que mais aparecem são na área da educação, dando aulas particulares e também plantões em escolas particulares e cursinhos. Mas também há oportunidades em outras áreas.” Milena Piccart Gutierrez, 21 anos, estudante do 3° ano de biologia da Unicamp.
O curso tem como objetivo principal estudar os seres vivos e analisar as principais características das formas de vida, o desenvolvimento na natureza e a interação com outros seres vivos. A duração é em média de 4 anos, mas há universidades que formam biólogos em 3 ou 5 anos.
O que vou estudar se escolho biologia?
As disciplinas variam entre as universidades, mas no geral, o aprendizado é dividido entre áreas como Ciências Exatas, Matemática, Estatística, Física e Química Orgânica, além de possuir algumas matérias específicas como Botânica, Genética e Zoologia, e uma carga considerável de disciplinas de laboratório. O curso pode também receber diferentes nomes como: Ciências Biológicas, Biologia Vegetal, Biologia Aquática e Ciências (ênfase em biologia) [2].
“A biologia é um campo enorme de possibilidades de estudos e eu acabei me identificando mais com as disciplinas de ecologia e botânica nos primeiros anos e depois pelas disciplinas de educação, na licenciatura. Mas arrisco dizer que boa parte das coisas interessantes da universidade não acontece dentro de uma sala de aula. Participei de diversos projetos e grupos ao longo da graduação, como projetos de extensão, conselhos de curso, centro acadêmico, movimento estudantil e foi principalmente nesses espaços que pude construir pontes mais firmes entre o conhecimento científico produzido na universidade pública e as demandas da sociedade como um todo.” Gabriela Tibúrcio, Mestra em ciências ambientais.
Neste vídeo, o biólogo Samuel Cunha, explica o que ele estudou na faculdade.
Quais são as áreas de atuação de uma pessoa formada em biologia?
O curso de biologia proporciona ao aluno uma ampla gama de áreas de atuação, dependendo do seu interesse. Entre as principais áreas, destacam-se:
- Educação: o profissional atual desde a educação básica até a pós graduação, sendo ainda bastante requisitado para projetos de educação ambiental.
“Sou professora de ensino fundamental, médio e graduação (ministro as disciplinas de Biologia celular, Histologia e Embriologia). Por isso, estou em constante aprendizado buscando me atualizar e oferecer informação de qualidade para meus alunos. Acesso sites que trazem informação baseada em pesquisa científica, além de livros referências e artigos (…) Minha maior satisfação é poder disseminar informação relevante e de qualidade para a vida dos meus alunos.” Laryssa Sakayanagi, Mestra em Biologia.
- Indústria: o profissional pode atuar nas áreas de desenvolvimento de produtos, controle de qualidade, controle microbiológico, controle sanitário, entre outras.
- Laboratórios clínicos: análise de amostras biológicas para exames clínicos, biópsias, análises sanitárias (como por exemplo de amostras de água), além de atuação na área de biologia forense.
- Área ambiental: monitoramento ambiental, projetos de conservação ambiental, levantamento de fauna e flora, monitoramento de impactos ambientais de indústrias, agropecuária e instalações urbanas, entre outras.
“Hoje atuo como educadora ambiental junto à equipe do programa de Educação para Sustentabilidade do Sesc Bertioga e tenho uma rotina de trabalho que se distribui entre horas dedicadas a pesquisas, leituras, trabalhos administrativos, planejamento etc. e horas de desenvolvimento de atividades educativas não formais em diversos formatos (visitas mediadas, oficinas, vivências, etc) para abordar a temática socioambiental com um público bem diverso (de crianças a pessoas idosas, com deficiência, grupos escolares, famílias etc). Também desenvolvemos diversos projetos em parceria com grupos e coletivos da cidade, como trilhas em unidades de conservação da cidade, feira de alimentos orgânicos, festivais para falar do bioma Mata Atlântica e das inúmeras possibilidades de geração de renda aliadas a manutenção da floresta em pé, etc. Por Bertioga ser um município que tem quase 90% de seu território como área protegida, não tem como não tratar desse tema da biodiversidade no dia-a-dia.” Gabriela Tibúrcio, Mestra em ciências ambientais.
- Pesquisa: nas mais diversas áreas do conhecimento da biologia, incluindo pesquisa básica e aplicada, em setores públicos e privados.
“Hoje eu sou pesquisadora de pós doutorado no laboratório de genômica e bioenergia da Unicamp, e eu trabalho com análises computacionais de genomas. Apesar da minha rotina ser em grande parte no computador, ela é muito diversa. Com os conhecimentos que eu acumulei sobre evolução biológica e genômica, eu participo de diversos projetos, desde o estudo da evolução de um fungo patógeno do cacaueiro para desenvolver métodos para combatê-lo, até entender como a evolução de leveduras pode nos ajudar a melhorar o processo industrial de produção de etanol de segunda geração no Brasil. Minha maior dificuldade com biologia foi o estigma de que o pesquisador biólogo que gosta da área ambiental precisa ser a pessoa que vai pro campo sempre, tipo Indiana Jones. Como deficiente física, essa era uma impossibilidade pra mim. Apesar de eu gostar tanto de ecologia quanto de genética, a minha escolha inicial da pós-graduação para genética foi devido à ecologia ter uma matéria de campo obrigatória, apesar de eu ter passado para os dois cursos de pós-graduação, e ter cursado todas as disciplinas teóricas da pós da ecologia junto às da genética.” Juliana José, Doutora em Biologia.
- Gestão pública: Atuação em órgãos governamentais desde municípios até a federação, além de hospitais e destacamentos da polícia civil e federal.
Em várias dessas áreas a profissão de biólogo pode ainda se sobrepor com profissionais das áreas de biotecnologia, biomedicina, ecologia, engenharia ambiental, engenharia biotecnológica ou de bioprocessos, veterinária, agronomia, entre outros. Devido à grande quantidade de opções, o biólogo se caracteriza por um profissional versátil e com grande capacidade de adaptação à diversos cenários.
Onde estudar biologia?
Há diversas opções de universidades que oferecem o curso de Biologia, em todos os estados brasileiros. Em planilha disponibilizada pelo Ranking Universitário Folha 2019 [3], são listadas 377 instituições de ensino superior, com maioria de universidades privadas, seguidas das federais, e concentradas na regiões Sul, Sudeste e Nordeste.
Fonte: Autoras, adaptado de [3]
De acordo com o ranking, as universidades brasileiras mais bem conceituadas em relação ao curso de Biologia são a Universidade de São Paulo, a Universidade Estadual de Campinas e a Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Porcentagem de mulheres na biologia
O curso de biologia é um dos que têm maior representatividade feminina. Um estudo da Unicamp [4] mostra que o curso na modalidade diurno tem 63,5% de mulheres. Um outro estudo mostrou, que mesmo o curso tendo maior representatividade feminina, ainda existe preconceito de gênero durante a carreira de cientista, e uma resistência masculina ao sucesso feminino. Nesta pesquisa foram realizadas entrevistas de diferentes perfis de mulheres para identificar as diferentes barreiras que existem, vale a pena conferir [5].
Por isto, cada mulher precisa se empoderar e escolher o que quer ser, rompendo essa barreira do preconceito e buscando aumentar a representatividades feminina em todos os campos.
Por mais mulheres biólogas!
Agradecimentos
Agradecemos às biólogas pela disposição para responder a nossa entrevista:
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Autoras: Regiane Alves Oliveira, Gabriela F. Ferreira, Luisa Fernanda Ríos Pinto, Carolina Filipini Ferreira, Mônica Morais Lima.
Referências
[3]https://ruf.folha.uol.com.br/2019/ranking-de-cursos/biologia/
[4]https://www.scielo.br/pdf/cpa/n32/n32a08.pdf
[5]https://periodicos.utfpr.edu.br/cgt/article/download/8243/5352